CAPÍTULO 02

Ouvi alguns gemidos de dor, o que me fez pensar que alguém estava ferido nas proximidades. Ainda assustada, comecei a procurar a origem daqueles sons e, para minha surpresa, deparei-me com um homem totalmente nu, sentado e apoiado no tronco de uma das árvores.

Fui me aproximando dele lentamente, questionando-me sobre o que teria acontecido para ele estar sem roupas. Mesmo a uma distância considerável, ele percebeu minha aproximação.

Ele me lançou um olhar estranho, algo ameaçador que me deixou temerosa. No entanto, consegui visualizar, de alguma forma, o ferimento em seu ombro, que sangrava bastante. Meu instinto profissional entrou em ação rapidamente.

Embora ele tenha tentado se levantar, consegui agir mais rapidamente, colocando minha mão em seu ombro ileso e o instruindo a permanecer sentado. Surpreso, ele me encarou em silêncio. Procurei algo que pudesse usar para rasgar uma parte da minha roupa e usar para estancar o sangramento de seu ombro.

Logo ao lado dele, encontrei uma faca. Por um momento, hesitei, perguntando-me se ele poderia ser um agressor, mas no campo da medicina, não podemos julgar um ferido dessa maneira. Peguei a faca e, automaticamente, ele segurou minha mão em um aperto forte.

— Eu não vou te machucar. Preciso usar a faca para cortar o tecido. — Apontei para meu próprio vestido, e ele me observou antes de soltar minha mão.

Peguei a faca e notei como ela estava afiada, além de ser mais pesada do que o comum para uma faca. Cortei um pedaço considerável de tecido da parte de baixo do vestido, dobrei-o e coloquei sobre o ferimento. Ele gritou de dor quando pressionei o tecido contra o corte.

— Me perdoe, mas preciso estancar o sangramento, caso contrário, você poderá morrer de hemorragia.

Pedi a ele que segurasse o pano contra o ferimento, enquanto cortava a outra parte do vestido. O pano que ele segurava já estava encharcado de sangue, mas notei que o sangramento havia diminuído um pouco.

Com o pano limpo em mãos, segurei o que estava cobrindo o ferimento e o retirei para analisar a lesão. Era um corte profundo, possivelmente causado pela própria faca que estava ali, e quando ele a removi, isso causou a hemorragia. Ele observava meu rosto atentamente.

— Você vai precisar de pontos. Precisa de um hospital. Você conhece algum nas proximidades para onde eu possa te levar? — Ele me olhou como se eu estivesse falando em uma língua estranha e ele não entendesse nada do que eu dizia. — Você entende o que estou falando? Conhece o meu idioma?

— Afaste-se dele, a menos que queira provar da minha ira! — Escutei uma voz ameaçadora vindo de trás de mim.

Aquela voz enviou calafrios pela minha espinha, pois de alguma forma sabia que cada palavra era verdadeira. Eu estava de costas e não vi ninguém se aproximar.

Peguei a mão do homem ferido e a coloquei sobre o curativo de pano, enquanto estendia minhas duas mãos para mostrar que não representava ameaça.

Em seguida, me levantei e me afastei do homem que estava no chão. Observei que o outro homem também estava completamente nu, e me perguntei em que lugar estava para que eles estivessem andando pelados como se fosse algo plenamente normal.

— Irmão, ela estava apenas me ajudando. — O recém-chegado me examinou dos pés à cabeça, como se eu fosse uma espécie de peça de exposição. No entanto, seu olhar incisivo me queimava por dentro, despertando sensações que eu nunca havia experimentado antes.

— O que aconteceu? — Perguntou o homem recém-chegado.

O rapaz ferido encarou o recém-chegado como se estivessem compartilhando um segredo, algo que apenas eles compreendiam. O homem mais alto aproximou-se do ferido e auxiliou-o a levantar-se, apoiando o braço ileso em seu ombro.

Realizei uma análise rápida do homem ferido, e quando ele tentou ficar de pé, soltou um grito agudo, surpreendendo o outro homem, que o observou sem compreender.

— O pé dele está machucado, provavelmente torcido ou fraturado. Ele não conseguirá andar com o pé nessas condições. Se vocês estão fugindo de alguém, eu aconselho que encontrem outra maneira de carregá-lo. — Disse.

Ele me olhou e, em seguida, trocou um olhar com o outro homem, como se estivessem compartilhando alguma informação em segredo.

Enquanto eu estava distraída, olhando ao redor em busca de uma possível saída para mim, o segundo homem se abaixou e levantou o homem ferido, carregando-o nos ombros como se fosse um saco de batatas.

Se o homem ferido tivesse alguma lesão interna, aquilo poderia ser fatal para ele. Eu me perguntava em que lugar estranho e desconhecido eu havia parado.

— Você não pode carregá-lo desse jeito, pode piorar a lesão dele! — Quase gritei para o homem mais alto. Ele me encarou com uma expressão que me fez ficar em silêncio, então começou a se distanciar, enquanto eu fiquei ali parada, observando.

— Acredito que seja melhor nos acompanhar se quiser sobreviver aqui, mulher. — Ele disse rudemente, enquanto já estava a alguns metros de distância. Sem muita escolha, tentei acompanhá-lo.

Após caminharmos bastante pela floresta, eles entraram em uma caverna. Só poderiam estar loucos se pensassem que eu entraria lá. Quando o homem maior percebeu que não o estava seguindo, ele me lançou um olhar.

— Não vou entrar nessa caverna, não faço ideia que tipo de bicho pode estar lá, e não sou muito adepta de lugares escuros. Aposto que você nem enxerga a um palmo do seu rosto. — Disse, justificando-me.

— Espero que você saiba acender uma fogueira, pois esta região tem muitos lobos, e eles não são tão amigáveis quanto nós. Quanto à minha visão, ela é excelente no escuro. — Aquele grosseiro respondeu. O rapaz ferido riu, embora eu não entendesse o motivo.

Analisando minhas opções, decidi que tinha uma melhor chance de sobrevivência do lado de fora daquela caverna, onde pelo menos podia enxergar alguma coisa. Simplesmente sentei-me à entrada da caverna, enquanto o rapaz me observava uma última vez antes de seguir seu caminho e me deixar para trás.

Como eu não podia ter amigos na faculdade, passava meu tempo na biblioteca lendo diversos livros, alguns deles sobre sobrevivência. Portanto, eu estava ciente de que, após encontrar água, minha prioridade deveria ser o fogo.

No entanto, eu não tinha nenhum equipamento que me ajudasse a acendê-lo, então teria que tentar de forma primitiva, como o atrito entre dois gravetos. Não tinha certeza se conseguiria, mas precisava tentar.

Fiquei aliviada por ter guardado aquela faca comigo, pois ela seria muito útil naquele momento. Raspei algumas madeiras para criar a palha e escolhi dois gravetos, começando a friccioná-los juntos em um movimento de broca. No entanto, após várias tentativas, meus braços estavam cansados, mas tentei uma última vez, e, com muita sorte, finalmente consegui.

Um grande sorriso se espalhou pelo meu rosto. Aquele homem das cavernas ficaria surpreso comigo agora. Ao lembrar de sua voz, um arrepio percorreu minha pele. Não sairia para procurar nada no escuro. Esperaria amanhecer para avaliar minhas opções.

Após algumas horas ali, percebi o clima esfriando. Fiquei o mais próximo possível do fogo para me manter aquecida. O lugar parecia ainda mais assustador. Não conseguia enxergar nada dentro daquela caverna e, do lado de fora, com as árvores muito próximas umas das outras, não passava muita luz da lua.

Comecei a escutar uivos e as palavras daquele homem começaram a me assombrar. Peguei um pedaço maior de madeira da fogueira e o deixei mais próximo de mim, para me defender se fosse preciso. Comecei a ouvir rosnados e isso me assustou, fazendo meu corpo tremer.

Peguei o pedaço de madeira com fogo em uma mão e a faca na outra. Quando percebi, cinco lobos maiores do que os cães comuns estavam diante da minha fogueira. Quando me notaram, os lobos começaram a rosnar de forma ainda mais ameaçadora.

Comecei a dar passos para trás, tentando me afastar deles e entrando cada vez mais na caverna, mas aquelas criaturas acompanhavam meus movimentos. Um dos lobos tentou me atacar, mas eu empurrei o pedaço de madeira em chamas na direção dele, o que o assustou e o fez recuar.

Como eu iria escapar disso? Eu estava desesperada, sem saber como escapar daquela situação, quando senti meu corpo colidir com alguém atrás de mim. Imediatamente, me virei com a faca em mãos, pronta para enfrentar qualquer agressor.

No entanto, mãos ágeis seguraram as minhas, fazendo a faca cair no chão. Não sabia o que aquele indivíduo havia feito, mas os lobos recuaram rapidamente. Não sabia se meu corpo tremia mais de frio ou de medo.

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