Ouvi alguns gemidos de dor, o que me fez pensar que alguém estava ferido nas proximidades. Ainda assustada, comecei a procurar a origem daqueles sons e, para minha surpresa, deparei-me com um homem totalmente nu, sentado e apoiado no tronco de uma das árvores.
Fui me aproximando dele lentamente, questionando-me sobre o que teria acontecido para ele estar sem roupas. Mesmo a uma distância considerável, ele percebeu minha aproximação.
Ele me lançou um olhar estranho, algo ameaçador que me deixou temerosa. No entanto, consegui visualizar, de alguma forma, o ferimento em seu ombro, que sangrava bastante. Meu instinto profissional entrou em ação rapidamente.
Embora ele tenha tentado se levantar, consegui agir mais rapidamente, colocando minha mão em seu ombro ileso e o instruindo a permanecer sentado. Surpreso, ele me encarou em silêncio. Procurei algo que pudesse usar para rasgar uma parte da minha roupa e usar para estancar o sangramento de seu ombro.
Logo ao lado dele, encontrei uma faca. Por um momento, hesitei, perguntando-me se ele poderia ser um agressor, mas no campo da medicina, não podemos julgar um ferido dessa maneira. Peguei a faca e, automaticamente, ele segurou minha mão em um aperto forte.
— Eu não vou te machucar. Preciso usar a faca para cortar o tecido. — Apontei para meu próprio vestido, e ele me observou antes de soltar minha mão.
Peguei a faca e notei como ela estava afiada, além de ser mais pesada do que o comum para uma faca. Cortei um pedaço considerável de tecido da parte de baixo do vestido, dobrei-o e coloquei sobre o ferimento. Ele gritou de dor quando pressionei o tecido contra o corte.
— Me perdoe, mas preciso estancar o sangramento, caso contrário, você poderá morrer de hemorragia.
Pedi a ele que segurasse o pano contra o ferimento, enquanto cortava a outra parte do vestido. O pano que ele segurava já estava encharcado de sangue, mas notei que o sangramento havia diminuído um pouco.
Com o pano limpo em mãos, segurei o que estava cobrindo o ferimento e o retirei para analisar a lesão. Era um corte profundo, possivelmente causado pela própria faca que estava ali, e quando ele a removi, isso causou a hemorragia. Ele observava meu rosto atentamente.
— Você vai precisar de pontos. Precisa de um hospital. Você conhece algum nas proximidades para onde eu possa te levar? — Ele me olhou como se eu estivesse falando em uma língua estranha e ele não entendesse nada do que eu dizia. — Você entende o que estou falando? Conhece o meu idioma?
— Afaste-se dele, a menos que queira provar da minha ira! — Escutei uma voz ameaçadora vindo de trás de mim.
Aquela voz enviou calafrios pela minha espinha, pois de alguma forma sabia que cada palavra era verdadeira. Eu estava de costas e não vi ninguém se aproximar.
Peguei a mão do homem ferido e a coloquei sobre o curativo de pano, enquanto estendia minhas duas mãos para mostrar que não representava ameaça.
Em seguida, me levantei e me afastei do homem que estava no chão. Observei que o outro homem também estava completamente nu, e me perguntei em que lugar estava para que eles estivessem andando pelados como se fosse algo plenamente normal.
— Irmão, ela estava apenas me ajudando. — O recém-chegado me examinou dos pés à cabeça, como se eu fosse uma espécie de peça de exposição. No entanto, seu olhar incisivo me queimava por dentro, despertando sensações que eu nunca havia experimentado antes.
— O que aconteceu? — Perguntou o homem recém-chegado.
O rapaz ferido encarou o recém-chegado como se estivessem compartilhando um segredo, algo que apenas eles compreendiam. O homem mais alto aproximou-se do ferido e auxiliou-o a levantar-se, apoiando o braço ileso em seu ombro.
Realizei uma análise rápida do homem ferido, e quando ele tentou ficar de pé, soltou um grito agudo, surpreendendo o outro homem, que o observou sem compreender.
— O pé dele está machucado, provavelmente torcido ou fraturado. Ele não conseguirá andar com o pé nessas condições. Se vocês estão fugindo de alguém, eu aconselho que encontrem outra maneira de carregá-lo. — Disse.
Ele me olhou e, em seguida, trocou um olhar com o outro homem, como se estivessem compartilhando alguma informação em segredo.
Enquanto eu estava distraída, olhando ao redor em busca de uma possível saída para mim, o segundo homem se abaixou e levantou o homem ferido, carregando-o nos ombros como se fosse um saco de batatas.
Se o homem ferido tivesse alguma lesão interna, aquilo poderia ser fatal para ele. Eu me perguntava em que lugar estranho e desconhecido eu havia parado.
— Você não pode carregá-lo desse jeito, pode piorar a lesão dele! — Quase gritei para o homem mais alto. Ele me encarou com uma expressão que me fez ficar em silêncio, então começou a se distanciar, enquanto eu fiquei ali parada, observando.
— Acredito que seja melhor nos acompanhar se quiser sobreviver aqui, mulher. — Ele disse rudemente, enquanto já estava a alguns metros de distância. Sem muita escolha, tentei acompanhá-lo.
Após caminharmos bastante pela floresta, eles entraram em uma caverna. Só poderiam estar loucos se pensassem que eu entraria lá. Quando o homem maior percebeu que não o estava seguindo, ele me lançou um olhar.
— Não vou entrar nessa caverna, não faço ideia que tipo de bicho pode estar lá, e não sou muito adepta de lugares escuros. Aposto que você nem enxerga a um palmo do seu rosto. — Disse, justificando-me.
— Espero que você saiba acender uma fogueira, pois esta região tem muitos lobos, e eles não são tão amigáveis quanto nós. Quanto à minha visão, ela é excelente no escuro. — Aquele grosseiro respondeu. O rapaz ferido riu, embora eu não entendesse o motivo.
Analisando minhas opções, decidi que tinha uma melhor chance de sobrevivência do lado de fora daquela caverna, onde pelo menos podia enxergar alguma coisa. Simplesmente sentei-me à entrada da caverna, enquanto o rapaz me observava uma última vez antes de seguir seu caminho e me deixar para trás.
Como eu não podia ter amigos na faculdade, passava meu tempo na biblioteca lendo diversos livros, alguns deles sobre sobrevivência. Portanto, eu estava ciente de que, após encontrar água, minha prioridade deveria ser o fogo.
No entanto, eu não tinha nenhum equipamento que me ajudasse a acendê-lo, então teria que tentar de forma primitiva, como o atrito entre dois gravetos. Não tinha certeza se conseguiria, mas precisava tentar.
Fiquei aliviada por ter guardado aquela faca comigo, pois ela seria muito útil naquele momento. Raspei algumas madeiras para criar a palha e escolhi dois gravetos, começando a friccioná-los juntos em um movimento de broca. No entanto, após várias tentativas, meus braços estavam cansados, mas tentei uma última vez, e, com muita sorte, finalmente consegui.
Um grande sorriso se espalhou pelo meu rosto. Aquele homem das cavernas ficaria surpreso comigo agora. Ao lembrar de sua voz, um arrepio percorreu minha pele. Não sairia para procurar nada no escuro. Esperaria amanhecer para avaliar minhas opções.
Após algumas horas ali, percebi o clima esfriando. Fiquei o mais próximo possível do fogo para me manter aquecida. O lugar parecia ainda mais assustador. Não conseguia enxergar nada dentro daquela caverna e, do lado de fora, com as árvores muito próximas umas das outras, não passava muita luz da lua.
Comecei a escutar uivos e as palavras daquele homem começaram a me assombrar. Peguei um pedaço maior de madeira da fogueira e o deixei mais próximo de mim, para me defender se fosse preciso. Comecei a ouvir rosnados e isso me assustou, fazendo meu corpo tremer.
Peguei o pedaço de madeira com fogo em uma mão e a faca na outra. Quando percebi, cinco lobos maiores do que os cães comuns estavam diante da minha fogueira. Quando me notaram, os lobos começaram a rosnar de forma ainda mais ameaçadora.
Comecei a dar passos para trás, tentando me afastar deles e entrando cada vez mais na caverna, mas aquelas criaturas acompanhavam meus movimentos. Um dos lobos tentou me atacar, mas eu empurrei o pedaço de madeira em chamas na direção dele, o que o assustou e o fez recuar.
Como eu iria escapar disso? Eu estava desesperada, sem saber como escapar daquela situação, quando senti meu corpo colidir com alguém atrás de mim. Imediatamente, me virei com a faca em mãos, pronta para enfrentar qualquer agressor.
No entanto, mãos ágeis seguraram as minhas, fazendo a faca cair no chão. Não sabia o que aquele indivíduo havia feito, mas os lobos recuaram rapidamente. Não sabia se meu corpo tremia mais de frio ou de medo.
HECTORDesde o momento em que vi aquela mulher, soube que ela não era uma mulher comum. Meu lobo sentiu seu cheiro, o aroma de pêssego, a quilômetros de distância. Fiquei surpreso ao vê-la ao lado do meu irmão, pois o ciúme que senti foi descomunal.Quando a mandei ficar longe dele, não foi com medo do que ela poderia fazer com ele, mas sim do que eu poderia fazer com os dois. Estava sendo difícil conter meu lobo. Ele queria se apresentar a ela, desejava marcá-la como sua.Não podia acreditar que ele havia escolhido justamente aquela mulher para si. Ela nem parecia ser daqui, mas meu lobo rugia desejosamente dentro de mim.“Minha” — Era o que ele afirmava, sem parar.Ela estava praticamente nua, e eu conseguia imaginar todo o seu corpo sob aquele vestido rasgado. Estava sendo difícil me controlar, estando eu mesmo despido. Normalmente, quando nos transformávamos, as roupas eram perdidas, e quando senti que meu irmão precisava de ajuda, não pensei duas vezes em vir até ele.Decidi con
BEATRICEAquela senhora gentil me levou até o andar de cima e me conduziu a um quarto, sem dúvidas, muito elegante. Ela então indicou outra porta, informando ser o banheiro, e me assegurou que eu poderia usá-lo à vontade enquanto providenciaria roupas limpas para mim.Compreendi que ela tinha uma filha quase da minha idade. Perguntei-me se todos aqueles filhos seriam adotados, já que seu rosto parecia tão jovial.Ao entrar no banheiro, notei a presença de um ofurô no ambiente. Ofurô é uma espécie de jacuzzi de madeira. Girei a torneira e pude apreciar a elegância rústica do banheiro, que, assim como o resto da casa, era lindamente decorado.A temperatura da água estava morna e assim que entrei, meu corpo agradeceu imediatamente, mergulhando em uma sensação de relaxamento.Quando terminei o meu banho e entrei no quarto, deparei-me com um vestido deslumbrante sobre a cama. Parecia ser feito de um tecido fino, na cor azul. Ele se ajustou perfeitamente ao meu corpo, como se tivesse sido f
HECTOREu só podia ser muito idiota mesmo. Não entendia o que estava acontecendo comigo. Estava completamente descontrolado por causa daquela mulher. Meu lobo a desejava, mas eu estava com medo de ser rejeitado e lutava contra isso. Nunca me senti assim por nenhuma outra mulher.Quando a ouvi dizer que não queria casar, aquilo me feriu profundamente. Eu conhecia a verdade da Árvore Sagrada e, como meu pai havia ensinado, o pedido precisava ser sincero e vindo de um coração puro para ser atendido. Se ela estava aqui fugindo de um relacionamento, como eu poderia confiar meu coração a ela?Ser rejeitado por ela era uma das maneiras de matar meu lobo. A dor seria excruciante para nós dois. Muitos lobos não sobrevivem a isso. Consequentemente, também me destruiria. Minha alma seria dilacerada. Não poderia arriscar nossa segurança, mesmo quando ele estava certo do que queria, após décadas de solidão.— O que está acontecendo com você, meu filho? — Perguntou meu pai, enquanto minha mãe me ob
Sentir gradualmente o despertar da minha fera quando me aproximei de Beatrice, enquanto caminhávamos sozinhos. Percebi meus próprios batimentos cardíacos acelerando à medida que minha audição se concentrava no pulsar do coração dela e sua respiração alterada.Eu podia sentir que ela estava nervosa. Suas mãos se moviam uma sobre a outra na frente do vestido, e seu cheiro de pêssego se tornava mais evidente para mim. Perguntava-me se seu nervosismo era por minha causa, mas antes que eu pudesse controlar minha língua, essa dúvida se transformou em palavras e saiu da minha boca.— Eu te deixo nervosa, Beatrice? — Perguntei.Ela me olhou por um instante, mas depois desviou o olhar para frente. Notei a cor de sua pele mudando um pouco e percebi que ela não queria que eu notasse aquilo. Naquele momento, meu lobo só ansiava por possuí-la.— Eu apenas não estou acostumada a tudo isso. Nunca tive a companhia de outras pessoas que não fossem da minha família, especialmente do sexo masculino. Viv
BEATRICEAlguns dias se passaram. Nunca imaginei que acabaria em um lugar como este. Quando fiz o pedido sob aquela árvore, que eles chamam de “Árvore Sagrada” aqui, imaginei que um simples sopro de vento pudesse fazer todos esquecerem sobre meu compromisso de casamento.No entanto, a árvore simplesmente me trouxe até aqui. Tenho que admitir que não estou achando isso ruim, mas também não posso ser egoísta ao ponto de dizer que não estou preocupada com minha família. Queria estar aqui, mas, ao mesmo tempo, desejava fervorosamente que todos estivessem bem lá.Mesmo sem me conhecer, aquela família me acolheu de coração, embora eu não saiba por quanto tempo poderei permanecer. Até Hector, que era considerado o único ogro da família, estava se revelando um verdadeiro cavalheiro.Aquele homem mexia comigo de várias formas. Não sei explicar exatamente o que acontecia comigo sempre que estávamos juntos, mas sentia minha pele arrepiar e meu coração acelerar. No dia em que visitamos a aldeia,
Fiquei de pé, andando em círculos. E, como uma louca, continuei a conversar com aquele lobo, como se ele pudesse me entender. Ou talvez, por saber que ele não entenderia, me sentisse à vontade para continuar falando.— Ele foi o cara mais estúpido que conheci quando cheguei aqui, mas não sei por que aquele jeito dele mexia comigo. Fazia meu sangue ferver.Tinha um sorriso bobo no rosto. Tinha certeza disso. E, como em um filme, lembrei-me exatamente do momento quando cheguei aqui.— Lentamente, ele foi me mostrando outro lado, um lado gentil, cavalheiro, atencioso, que me conquistou. E comecei a perceber que tudo que eu desejava antes, comecei a sentir por ele. Isso parece errado? Olhei para aquele lobo enorme que apenas me fitava com atenção, talvez apenas observando meus movimentos, porque tinha certeza de que ele não entendia nada do que eu dizia.— Talvez seja por isso que estou sentindo essa culpa, porque estou me rebelando contra algo que fui ensinada desde pequena a respeitar…
HECTOREstava pronto para contar toda a nossa história para Beatrice. Depois de todas as revelações que ela fez, achando que estava conversando com um lobo que não entendia nada, sabia que não havia motivo para esperar.Só torcia para que ela me aceitasse com todas as revelações que eu precisava fazer. No entanto, não era um segredo apenas meu. Precisava também informar minha família sobre minha decisão.Sabia que chegaria em casa antes dela em minha forma de lobo, mas meus pais haviam organizado uma reunião informal com outras famílias para discutir as invasões em nossas terras. Minha irmã estava preocupada com a reação de Beatrice, então não concordava que eu revelasse tudo.No entanto, deixei claro para ela que meu lobo não aceitaria ficar longe daquela que escolheu. Ele desejava possuí-la e marcá-la, e para isso, Beatrice precisava conhecer a verdade.Como sempre, minha irmã não me deu ouvidos. Ela tinha que se intrometer nos meus assuntos e agir como uma criança. No momento em qu
Dirigi-me à varanda espaçosa do meu quarto, contemplando a vista enquanto retirava minha camisa e desabotoava minha calça, decidido a deixar que tudo fluísse. Beatrice me observou com surpresa, provavelmente não esperando que eu me despisse ali na frente dela. No entanto, ela já tinha me visto nu antes.Meus olhos já haviam mudado, pelos começaram a surgir em meu rosto e corpo, minhas unhas se alongaram, transformando-se em garras capazes de perfurar até mesmo metal, minhas presas se alongaram, e onde antes existia um homem, agora havia um lobo.Percebi claramente sua surpresa, mas senti alívio por ela não ter gritado nem fugido. Com passos decididos, me aproximei dela na minha forma lupina, contornando-a enquanto seus olhos me seguiam atentamente. Depois, retornei à varanda e voltei à minha forma humana, o Hector que ela conhecia.Na transformação, eu me tornava um predador, capaz de despedaçá-la em questão de segundos. No entanto, meu lobo não tinha a menor intenção de lhe fazer mal