CAPÍTULO 04

BEATRICE

Aquela senhora gentil me levou até o andar de cima e me conduziu a um quarto, sem dúvidas, muito elegante. Ela então indicou outra porta, informando ser o banheiro, e me assegurou que eu poderia usá-lo à vontade enquanto providenciaria roupas limpas para mim.

Compreendi que ela tinha uma filha quase da minha idade. Perguntei-me se todos aqueles filhos seriam adotados, já que seu rosto parecia tão jovial.

Ao entrar no banheiro, notei a presença de um ofurô no ambiente. Ofurô é uma espécie de jacuzzi de madeira. Girei a torneira e pude apreciar a elegância rústica do banheiro, que, assim como o resto da casa, era lindamente decorado.

A temperatura da água estava morna e assim que entrei, meu corpo agradeceu imediatamente, mergulhando em uma sensação de relaxamento.

Quando terminei o meu banho e entrei no quarto, deparei-me com um vestido deslumbrante sobre a cama. Parecia ser feito de um tecido fino, na cor azul. Ele se ajustou perfeitamente ao meu corpo, como se tivesse sido feito sob medida.

Nesse momento, ouvi o rosnado da mesma fera que me assustara perto daquela árvore. Dirigi-me até a porta, que julguei ser a da sacada, e a abri. Era como se o animal estivesse me chamando.

Apesar da escuridão lá fora, consegui enxergá-lo claramente. Seus olhos brilhavam como duas pedras de citrino, e ele parecia ser muito maior do que os lobos que me atacaram. Seu pelo era completamente branco. Perguntei-me se aquilo era um lobo. Em que lugar misterioso eu acabei de aterrissar?

O lobo pareceu perceber que estava sendo observado e virou seu olhar na minha direção. Aquilo me assustou profundamente, mas, por algum motivo, não conseguia me mexer. O lobo se aproximou da casa e foi então que percebi estar prendendo a respiração.

Decidi sair da sacada e voltei para a segurança da casa. Tentei acertar o caminho que havia feito anteriormente até chegar à sala, onde encontrei os donos da casa. Foi então que percebi que não tinha me apresentado e, pior ainda, não sabia os nomes deles.

— Querida, vejo que o vestido serviu. ­— Disse a mulher com um lindo sorriso no rosto.

— Sim, muito obrigada! Me perdoem pela minha falta de educação, não disse meu nome nem perguntei o de vocês. — Respondi, enquanto aquela mulher me olhava com gentileza nos olhos. — Me chamo Beatrice Bellucci. — Completei, finalmente me apresentando.

— Nome muito bonito e elegante. Significa a que traz felicidade. — Disse aquele homem. — Beatrice, me chamo Killiam, e esta é minha esposa Aurora. Temos três filhos: Liam, a quem você ajudou, Hector, que te trouxe até aqui, e a mais nova, que se chama Serena.

— Agora que as devidas apresentações foram feitas, vamos até a cozinha para que você possa comer algo. Aqui sempre estamos famintos como lobos. — O que me fez hesitar. Então, ela me olhou preocupada. — O que foi, querida?

— Vi algo lá fora há alguns minutos. Parecia um lobo enorme. Eu não estou em perigo, estou? — Eles se olharam, o que me deu um frio na barriga, até começarem a rir.

— Lobos normalmente não comem pessoas, querida! Eles podem até matá-las, mas você não faz parte do cardápio deles. — Explicou Aurora, retirando algumas bandejas da geladeira e colocando-as sobre a mesa.

Ver aquela bandeja de queijo me deu água na boca e minha barriga roncou, fazendo com que eles sorrissem, no entanto, me deixando completamente envergonhada. 

Naquele momento, nem me lembrei mais do animal que estava lá fora. Aurora serviu um prato de sopa para mim, colocando vários pães na mesa, além dos queijos, presunto e geleias que havia colocado antes.

Acreditei que, naquele momento, era eu que estava faminta feito um lobo, e isso me fez sorrir. Eles também beliscaram um pouco de toda aquela comida e me olhavam satisfeitos.

Algo neles me transmitia segurança. Sei que era estranho pensar assim de alguém que eu acabara de conhecer, mas já me sentia acolhida naquele lugar, o que era estranho, considerando que tinha certeza de que estava longe de casa e em um ambiente completamente estranho para mim.

— Então, querida, como você veio parar aqui? — Perguntou Aurora, enquanto Killiam me observava. Eu sabia que, por algum motivo, eu podia confiar a verdade àquelas pessoas.

— Fiquei sabendo de uma árvore mágica em um local próximo de onde moro. Fui até lá com a intenção de fazer um pedido, e após fazê-lo, pensei que tudo aquilo fosse tolice. Nada aconteceu, até quase cair no rio e tocar na árvore. Quando acordei, estava aqui.

— Seu pedido precisava ser muito verdadeiro para isso acontecer. A árvore sagrada não realiza qualquer desejo. A pessoa precisa ter um coração puro para ser ouvida por ela. — Killiam me olhou e depois deu um leve sorriso. Suas palavras me surpreenderam.

— Você está feliz com o seu pedido? — Aurora perguntou.

— Eu só não queria casar. — Falei, colocando mais um pedaço de pão na boca. Em seguida, ouvi um movimento atrás de mim e, quando olhei, vi aquele arrogante que me trouxe até aqui, Hector, se não me engano.

— O que houve? O príncipe encantado não era suficiente para a princesa? — Ele perguntou enquanto se servia de uma fatia de pão e queijo. Seus pais o olharam com reprovação.

— Não! Eu apenas não queria me casar. — Falei, levantando-me daquela mesa. Pedi licença aos mais velhos e, mesmo sem autorização, fui para o quarto onde estivera antes. Por que aquele homem mexia tanto comigo? E o que fiz para ele ser tão rude?

Entrei no quarto e fui direto para a cama. Por um momento, pensei na minha família. O que será dela agora? Será que condenei meus pais? Sei que eles ficarão desesperados com o meu desaparecimento. Não deixei nenhuma carta, nenhuma explicação, porque nunca imaginei que isso poderia acontecer.

E, por um instante, me senti arrependida por tudo que fiz. Lágrimas rolaram pelo meu rosto, enquanto sentia meu peito doer de culpa. A única coisa que eu queria era não casar sem amor. Isso era pedir muito?

Lamentei profundamente tudo o que poderia ter causado à minha família com a minha atitude egoísta. Os soluços tomavam conta do meu choro, enquanto a falta deles me invadia.

Meus pais não eram ruins. Eles apenas seguiam as normas de uma sociedade cujas regras eu não aceitava e nem entendia. Sendo a filha primogênita, carregava o peso da regra mais importante para eles, a única regra que eu realmente detestava. Foi exatamente essa regra que me trouxe até aqui.

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