CAPÍTULO 03

HECTOR

Desde o momento em que vi aquela mulher, soube que ela não era uma mulher comum. Meu lobo sentiu seu cheiro, o aroma de pêssego, a quilômetros de distância. Fiquei surpreso ao vê-la ao lado do meu irmão, pois o ciúme que senti foi descomunal.

Quando a mandei ficar longe dele, não foi com medo do que ela poderia fazer com ele, mas sim do que eu poderia fazer com os dois. Estava sendo difícil conter meu lobo. Ele queria se apresentar a ela, desejava marcá-la como sua.

Não podia acreditar que ele havia escolhido justamente aquela mulher para si. Ela nem parecia ser daqui, mas meu lobo rugia desejosamente dentro de mim.

Minha” — Era o que ele afirmava, sem parar.

Ela estava praticamente nua, e eu conseguia imaginar todo o seu corpo sob aquele vestido rasgado. Estava sendo difícil me controlar, estando eu mesmo despido. 

Normalmente, quando nos transformávamos, as roupas eram perdidas, e quando senti que meu irmão precisava de ajuda, não pensei duas vezes em vir até ele.

Decidi concentrar minha atenção em meu irmão primeiro e, quando estivesse mais controlado, lidaria com ela. Por ora, eu a ignoraria completamente e a manteria distante de mim, visando sua própria segurança.

Meu irmão estava encantado por aquela mulher, não de forma romântica, mas pelo gesto altruísta com o qual ela o tratou quando imaginou que ele poderia morrer devido ao ferimento, mesmo sem o conhecer.

Liam ficou completamente indignado quando a deixei na entrada da caverna, mas aquela foi a escolha dela, não minha. Eu a havia alertado sobre os lobos, e mesmo assim, ela optou por permanecer lá.

Após algumas horas, meus pais pediram que eu a verificasse, e antes mesmo desse pedido, eu já estava indo fazer isso. Para minha surpresa, ela havia conseguido fazer fogo, mas não sobreviveria aos lobos, nem ao frio que estava se intensificando.

Bastaram os lobos sentirem minha presença para se afastarem rapidamente. Quando seu corpo encostou no meu, uma poderosa energia me percorreu. Senti o cheiro do seu medo misturado ao pêssego, no entanto, não me renderia a ela tão facilmente.

— Você não sobreviveria sozinha uma única noite nessa floresta. — Falei irritado pela idiotice dela em querer ficar sozinha, sem sequer saber como se defender. — Onde conseguiu essa faca? — Perguntei.

Meus olhos a identificaram antes que ela pudesse me ferir acidentalmente. Aquela faca era de prata. Eu não poderia simplesmente pegá-la.

— Com seu irmão. — Ela respondeu, embora não conseguisse me enxergar claramente. O fogo iluminava apenas parcialmente a caverna, e ela parecia bastante assustada.

— Me dê essa faca antes que cause um acidente. — Tirei minha blusa e a envolvi na faca. Pegá-la diretamente me causaria uma queimadura grave. Agora eu entendia por que o Liam ainda não havia se curado. — Está disposta a me acompanhar agora? — Perguntei rudemente.

Nem sei por que estava com raiva. Talvez fosse pelo simples fato de ela ter se exposto ao perigo daquela forma. Ela apenas acenou com a cabeça, concordando.

Segurei sua mão e a arrastei comigo, não me preocupando com a fogueira lá fora. Com a chuva que estava prestes a cair, ela se apagaria rapidamente. Não precisava de iluminação, pois com minha visão de lobo conseguia enxergar muito bem cada pedacinho daquele local.

Assim que atravessamos aquela caverna, saímos em outra parte da floresta, e ela conseguiu enxergar nossa imensa casa. Suas lareiras estavam acesas, mas era algo que não precisávamos. 

O sangue correndo em nossas veias aquecia nossos corpos como um aquecedor natural. Nesse momento, ela me olhou incrédula enquanto firmava seus pés no chão, nos parando.

— Você realmente me deixou naquela caverna, com uma casa desse tamanho? — Ela perguntou. O que era aquilo refletido em seu olhar? Raiva? Aquilo quase me arrancou um riso.

— Não a forcei a ficar lá. Lembra que foi uma escolha sua? — Retruquei, erguendo uma sobrancelha.

— Mas eu fiquei lá porque pensei que vocês morassem na caverna. — Ela respondeu, ainda mais irritada.

— Não é culpa minha que você tenha pensado sermos primitivos. Embora você não esteja totalmente errada. — Respondi.

Assim que entramos na casa, meus pais já nos esperavam na sala, porém lançaram olhares curiosos para a roupa que ela estava usando.

— Eu disse que provavelmente ela não era daqui. — Falei, e minha mãe foi a primeira a se aproximar, abraçando-a.

— Bem-vinda, querida. Ficamos sabendo o que você fez pelo Liam, e estamos muito gratos pela sua generosidade. — Minha mãe disse. 

— Não foi nada de mais. Como ele está? O levaram para um hospital? — Aquela mulher perguntou e pude notar sua preocupação, o que irritou meu lobo.

— Não foi necessário. Temos um médico particular que nos atende em casa. — Meu pai a respondeu. Ela nos olhou com surpresa.

— Posso ver o Liam? É esse o nome, correto? — Ela perguntou e minha mãe sorriu, assentindo com a cabeça.

— Por que você quer ver meu irmão? — Perguntei de forma ríspida, enquanto meus pais me olhavam sem entender minha reação. 

— E qual é o problema em vê-lo? — Ela me desafiou com o olhar e travamos um breve duelo visual. Minha mãe, notando minha tensão, interveio prontamente.

— Querida, que tal você tomar um banho primeiro e se aquecer? Percebo que está tremendo. O Liam está descansando agora, mas tenho certeza de que você o verá em breve. Você está com fome? — Minha mãe perguntou.

Aquela mulher tinha agora um sorriso encantador no rosto, e meu lobo estava ainda mais fascinado por ela.

— Na verdade, estou faminta! — Ela disse à minha mãe, que a segurou pelo ombro e a conduziu para providenciar seu banho e comida. Notei que meu pai me lançou um de seus olhares questionadores.

— Essa garota mexeu com seu lobo, não é? — Ele perguntou e, em seguida, começou a sorrir. — Não vai ser tão fácil, meu filho, ela é arisca demais.

Olhei para ele e saí da sala, retornando à floresta noturna. Meu lobo precisava de um pouco de liberdade, como se não tivesse passado muito tempo livre hoje. Meu irmão foi ferido mais uma vez devido às invasões de humanos em nossa terra.

Eles buscavam cada vez mais, nunca ficando satisfeitos com o que já havíamos cedido, acreditando poderem se apropriar do que era nosso sem enfrentar consequências. 

Um nobre que desejava tomar posse de nosso território incentivava cada vez mais essas invasões, e agora éramos caçados por humanos idiotas em busca do que nos pertencia.

Minha mente retornava àquela mulher, provavelmente trazida pela árvore sagrada. No entanto, em algum momento, ela poderia decidir partir, mesmo sabendo que pertencia a nós — a mim e ao meu lobo.

Precisava descobrir por que a árvore a trouxe. A árvore não trazia sem um motivo. O desejo precisava ser muito verdadeiro para isso. O que será que ela desejou para vir parar aqui?

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