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CAPÍTULO DOIS - 3ª PARTE - CASA DE MADAME E AS SEVERINAS

Marta foi morar em uma vaga no puteiro de Madame de Copacabana. Mudou-se definitivamente para essa vaga abandonando as noites das ruas de Copacabana como puta de calçada.  Tinha dezesseis anos e já era bem conhecida nas ruas.  Era prostituta desde os treze anos de idade e se virava no Calçadão.  Foi indicada por um cliente muito rico e influente, frequentador das noites em Copacabana e que se encantou com a beleza da moça ao conhece-la em uma festa. Só assim para conseguir uma vaga na casa de Madame de Copacabana: indicação de freguês vip, esse era o Advogado!

O Advogado conhecia Marta desde seus quatorze anos e era um apaixonado. Se apaixonou pela beleza nordestina de Marta desde a primeira vez que a viu e nunca mais deixou de procurar por ela.  Ficaram amigos.  Ele era moço solteiro, vindo do sul para trabalhar num grande escritório de advocacia.  Esse escritório era famoso por ter os clientes mais ricos da cidade.  Pertencia a família do moço que era também muito rica.  Ele sentia muito em ver uma menina tão nova entregue a prostituição, mas sabia que não podia interferir porque ela não aceitava.

- Também vou ser rica Advogado!  Você vai ver! – Dizia ela.

  Então virou cliente cativo. Providenciou para tirar Marta das ruas!

- Ao menos isso! – pensou assim e fez.

Trabalhar num puteiro em Copacabana e sair das calçadas era evoluir na carreira! 

 E foi nessa que se libertou passando ela mesma a gerir sua vida e a juntar seu dinheiro. Muito inteligente e esperta, entendedora dos números em poucos meses já estava ajudando a cafetina a administrar as finanças. Um ano depois era o braço direito de Madame que a admirava muito.

- Severina de confiança essa aí!

Falava Madame toda orgulhosa de tê-la em sua casa.

 Marta fazia tudo para prosperar e agora com dezoito anos conseguiu a guarda de Laura, foi busca-la no abrigo e arranjou junto a Madame permissão para colocar uma cama e acomodar a irmã em seu quarto.  Em troca a menina ajudaria nas tarefas da casa.  Seu objetivo em cuidar da irmã dava-lhe forças para subir na vida e fazer carreira.  Assim teria situação e respeito e isso para uma puta era o sucesso. Também era sinônimo de prosperidade financeira. Queria ter dinheiro para fazer o que quisesse, pagar suas contas, ser livre, ser feliz.  Queria ser como Madame de Copacabana!  Seu sonho era transformar-se em uma cafetina poderosa.

Assim era Marta!

  Um apartamento de cobertura, muitos quartos, um salão enorme, luxuoso, muito bem cuidado e confortável, cheinho de putas classe A. Dez linhas de telefone, anúncios nos classificados dos jornais mais conhecidos da época faziam a casa lotar todas as noites. Um movimento contínuo onde ricos frequentadores das noites de Copacabana, políticos, artistas, advogados, policiais de alta patente, socialites famosos do Rio de Janeiro enchiam o salão da cobertura.  Madame de Copacabana tinha muitos contatos.

Além do salão e da recepção a cobertura de madame de Copacabana contava com um anexo que tinha um corredor onde ficavam os dez quartos das mulheres que trabalhavam no puteiro, tinha uma cozinha pequena, um banheiro grande e antigo desses com banheira.  Quartos grandes de apartamento antigo, bons e arejados. Eram quatro mulheres em cada quarto.  Nessas vagas não era permitido trazer homens.  Era assim a casa de Madame Severina. A mais chique e bem frequentada de Copacabana. 

  Uma mulher alta e muito magra, esquelética mesmo. Com seus quarenta e poucos anos. Dava medo tamanha magreza! Tinha a pele amarela e de uma palidez opaca, sem bunda e sem seios. Parecia uma tábua! Sua voz era arrastada com um sotaque nordestino forte.  Tinha uma cabeleira ruiva e black que lhe cobria as costas. Em verdade ela era só cabelo! Olhos grandes, amarelos e esbugalhados. Uma bocarra, sempre pintada de vermelho, os dentes amarelos indicavam o quanto fumava.  Paraibana de sotaque forte e arrastado, falava gritando, gritava muito e sempre com aquela piteira de prata com um cigarro aceso pendurada na boca.  Fumava o tempo todo. Mas, não era uma pessoa má1 Era enérgica e não admitia bagunças.  Não aturava crianças, mas Laura, já tinha quase nove e jeito de moça. Muitas entram na vida de puta com dez, onze anos. Não era mais nenhuma criancinha aos olhos de madame.   Olhava-a como mercadoria! Mas respeitava o amor que sua melhor rapariga e braço direito tinha pela menina e admirava a dignidade dela em manter a irmã longe da prostituição. Também, precisava mesmo de alguém que cuidasse da casa já que a velha Chica, negra que a acompanhava desde sempre, diziam a boca pequena que a negra Chica era sua mãe, apresentava dificuldades devido a idade avançada em cuidar da cobertura e precisava de ajuda. Ela economizaria muito!

Laura era boa de serviço. Trabalhou muito no orfanato e no convento.  As freiras ensinaram todo o serviço de casa.  Gostava de manter tudo limpo. Gostava do cheiro bom de limpeza e da beleza da cobertura. Tinha prazer nos serviços e Chica a tratava com carinho. Era uma menina doce e comportada, generosa e amável. 

  Então, conforme o tempo ia passando Madame ia se acostumando com a presença da menina que despertou na infeliz sentimentos maternais.  Levava-a as compras, vestia-a de laços e fitas e depois levava para tomar sorvete.  Chamava-a para ouvir o rádio pelas manhãs, adorava música e tomavam o desjejum juntas.  Laura gostava de pentear seus cabelos vermelhos e também a acompanhava à tardinha quando se arrumava para o trabalho da noite.  Gostava de vê-la colocar batom e os perfumes e arrumar o cabelo.  Gostava de ajudá-la a colocar as joias, os brincos e fechar seus cordões e pulseiras.  Madame de Copacabana deixava-a brincar com os anéis e as tiaras e as vezes, quando escurecia colocava Laura na cama e cantava para ela sempre a mesma cantiga. 

  Dizia que era uma cantiga do Nordeste, da sua infância.

- Muito triste aquela música! – Pensava Laura.

Por muitos anos aquela cantiga a perseguiu e se pegava cantando baixinho relembrando o carinho de Madame de Copacabana.

“Sabiá lá na gaiola fez um buraquinho

voou, voou, voou, voou

 E a menina que gostava tanto do bichinho

 chorou, chorou, chorou, chorou

Sabiá fugiu pro terreiro

 Foi cantar no abacateiro

 E a menina pôs-se a chamar

Vem cá, sabiá, vem cá”

  Vez por outra, ao anoitecer, depois que se arrumava para mais uma noite Madame de Copacabana, a rainha do puteiro, sentava-se em sua cabeceira, colocava Laura em seu colo e lhe penteava os cabelos longos e negros. A menina se aninhava e adormecia esquecida dos medos e dos terrores noturnos que sempre a assombravam. Quase todas as noites

perdia o sono devido ao grande movimento do entra e sai dos clientes, da música alta, dos gemidos de amor. Tinha muito medo! Já entendia o que se passava na casa de Madame.  Compreendia o que era aquela vida, sabia o que era ‘vender o corpo’ e a irmã explicara o que era sexo no seu aniversário de sete anos lá no abrigo.  Dissera a Laura que saber das coisas era um jeito de se proteger e proteger sua pureza. Ela entendia direitinho!  Tinha pavor em ter que vender o corpo também. Sabia que o sexo podia ser bom. Já tinha visto, lá no orfanato, duas meninas fazendo sexo.  Elas diziam que se amavam e eram namoradas. Parecia ser muito bom tudo aquilo, mas Laura sabia que era muito nova e que sexo era só para as moças que já tinham peitos, e que já tinham seu sangue.

- Quero ir pra a escola, estudar pra não ser puta! – falava para a irmã, chorando, abraçando-se a ela com todo força que seus braços podiam ter.

E chorava baixinho até dormir.

 O coração de Marta doía! Sentia o medo da irmã! Faria de tudo para que ela não precisasse viver vida de puta!

Matriculou-a em uma escola próxima e pagava a cafetina uma determinada quantia pela vaga da menina. Afinal, mesmo trabalhando na casa estava ocupando a vaga de uma puta que lhe renderia o lucro e isso também mantinha Laura a salvo daquela vida e dos olhares dos moradores e dos frequentadores da casa.  Laura vivia, então sobre a tutela de Madame de Copacabana! Em sua segurança!   Marta sempre falava em voz alta que ainda daria uma vida de princesa a sua irmã.  Madame sabia, e até admirava! Sabia que Marta nunca deixaria Laura fazer carreira de prostituta. Respeitava aquela que era, sem sombra de dúvidas, sua melhor rapariga! Cortejada e desejada por muitos clientes que faziam fila para tê-la.  Todos apreciavam sua beleza nordestina e seu corpo escultural. 

- He Severina bunita, essa minha neguinha! Dizia sempre, elogiando a moça.

Era assim que se referia as prostitutas da casa:  Severinas.

 Muito rigorosa com as regras, só aceitava meninas com recomendação, conterrâneas, conhecidas de parentes ou amigos.  Fazia questão que fossem todas analfabetas. Madame fazia questão disso! 

Desconfiava de ‘mulher dama letrada’.

- Puta tem é que saber fuder! – Dizia ela, categórica, quando alguma desavisada mostrava interesse pelas letras. E colocava logo a desenfeliz na rua para não contaminar as outras.  Nisso era cruel!

Mas com Marta foi diferente. A recomendação da moça veio de um dos seus melhores fregueses que a conheceu em uma festa e passou a ser cliente cativo da moça. Madame de Copacabana confiou nela desde a primeira vez que a viu. Via na moça o mesmo brilho nos olhos que teve um dia e que a transformou numa cafetina rica e famosa. Aos poucos Madame de Copacabana foi se encantando com os talentos de Marta e foi assim que ela se tornou braço direito da cafetina e a gerente da casa.  Tinha vindo da rua, das calçadas e das noites e aprendeu, ainda muito noivinha, a dominar os números tendo grande habilidade com dinheiro e sabia se comunicar em todo o tipo de situação e pessoas. Falava até um pouco de inglês e francês.  O filho do primo do pai que a botou na vida, o tal Ernesto, vagabundo, frequentador de Copacabana, malandro velho, escolado nas esquinas do bairro e cafetão de muitas putas ensinou tudo a Marta.

Que aprendeu direitinho! E o malandro viveu as suas custas por dois anos inteirinhos.  Quando completou seus quinze anos já era conhecida nas calçadas. Muito generosa e inteligente, fez muitos amigos e conquistou uma clientela formidável. Tinha planos para sua vida e neles não havia espaço para Ernesto.  Ameaçou contar tudo para o pai do malandro que não sabia da vida vagabunda que ele levava. Pensava que o maldito estava na faculdade e tudo! Pensava que era um homem de bem. E ainda bancava o filho: pagava os estudos e dava casa e comida.  Esse sim era um homem de bem!

  Ela era menor: quinze anos.  Ameaçou contar tudo sobre o caso que ele teve com sua madrasta. Que em verdade foi a primeira vítima do desgraçado. E também foi assim que se infiltrou na casa da família seduzindo-a e Marta virou mercadoria.  E era só uma meninota! Tinha treze anos!  Ele levava-as em passeios ao calçadão de Copacabana, infiltrando sonhos de riqueza e prosperidade com a vida de rapariga na cabeça da menina, sempre acompanhados da madrasta que nada via. E foi assim que ele a transformou em puta e a explorou enquanto comia Dnª Ana e também a iludia com juras de amor e promessas de uma vida melhor.   Marta ameaçou ir à polícia pedir proteção.  Afinal era só uma menina! Mas Ernesto desdenhava dela e a agredia e forçava a atender os clientes. Ameaçava de morte e de denunciar ela e sua irmã para o juizado de menores. Marta se viu acuada! Tinha que se livrar do covarde!

  Naquela tarde de Domingo Marta se arrumou, banhou e arrumou a pequena Laura, fechou o barraco e partiram.  Procurou o primo de seu pai. O pai de Ernesto.  Sabia onde ele trabalhava: era porteiro em prédio de luxo no Leblon a muitos anos.  Já tinha estado lá muitas vezes com a madrasta que iludida, sempre ia atrás de notícias do vagabundo do Ernesto que passava dias sumido. Pediu ajuda: disse que Ernesto a estava perseguindo.  Invadiu seu barraco, agrediu abusou sexualmente dela!  Agora, estava ameaçando leva-la para a rua e joga-la na vida de puta.  E contou tudo o que sabia do canalha! Que era cafetão e do caso que teve com sua mãe.  Tinha fotos.  Mostrou essas fotos para o pai do cara e nelas via-se nitidamente Ernesto atuando como cafetão nas calçadas de Copacabana.  Disse que trabalhava como doméstica cuidava da irmã, que tinha muito medo pois era menor e não podia pedir ajuda na polícia.  Que eles podiam manda-las para a Funabem!  Chorou aos pés do parente que, em verdade depois que parou de beber nunca mais quis saber deles. Nem sabia da morte da Seu Zé e que Ana tinha abandonado a casa.  Mas era um homem de bem e ficou completamente agoniado e atormentado com toda a história. Mas no fundo sabia que já sabia que seu filho não prestava e aquela faculdade que não terminava nunca.  Sentiu dó de Marta. Mantinha Laura enganchada em sua cintura enquanto falava, com lágrimas nos olhos.  No corpo e no rosto trazia, ainda os machucados feitos pelo desprezível Ernesto.   Olhou-as com profundo respeito e se solidarizou com a moça.  A Funabem não era destino bom para ninguém e ele não podia aceitar que seu único filho fosse o culpado por toda aquela desgraceira. Resolveu ajudar. Conhecia um delegado que era morador do prédio muitos anos.  Fazia pequenos serviços para ele. Ia ao banco, cuidava da piscina da cobertura, pagava as contas fazia as compras.  Eram amigos e ele era de confiança.  Como era tarde de Domingo estava em casa e podia recebe-lo.  Chamou pelo interfone e pediu ajuda ao seu amigo e patrão, Delegado Soares, o Rabugento: esse era seu vulgo entre os policiais!

  Reuniram-se na garagem.  O delegado desceu e ao saber da história mostrou-se indignado e concordou em ajudar.  Mas fora da delegacia.  Explicou que se a menina prestasse queixa, as duas seriam encaminhadas ao Juizado de Menores. E quanto a isso ele nada poderia fazer.

 Prometeu ajuda-las.  Pegou as fotos e foi.

O pai de Ernesto levou a mão ao rosto e chorou! 

Marta o abraçou e consolou.  Sabia bem o que era aquela dor. Lembrou dos irmãos que se perderam na vida e da dor que sentiu ao enterrar o mais novo. Beijou a testa do homem e se foi.

Chegou em casa cansada. Comeram.  Banhou Laurinha e foram dormir.  Naquela noite não teria função. E caso o maldito cafetão tentasse invadir o barraco e arrasta-la para a rua como de outras vezes, iria perder seu tempo. Marta pediu ajuda ao padre Augusto que mandou reforçar a porta e as duas janelas do barraco com ferrolhos novos e madeira boa.  Ele não conseguiria entrar. Ficaria ali uns dias. Tinha dinheiro, comida e segurança. De certo cuidariam de Ernesto logo e ela estaria livre.

Passou a semana por ali. Aproveitou para conseguir uma vaga para Laurinha na creche da Paróquia e uma menina indicada pelo padre para busca-la na creche e ficar com ela até a hora que voltasse da rua. Poderia, então, trabalhar durante o dia na praia e nos hotéis.  Caçar os gringos. Entrar noite a dentro e dobrar seu faturamento.

 E assim, naquele fim de semana se encheu de coragem e foi para a pista fazer a vida.  Esse era o seu trabalho!  Era isso que sabia fazer!  

Marta era uma menina linda!  Parecia uma bonequinha japonesa. Com aquele cabelão que descia pesadão, preto e brilhante até a cintura. Seios fartos apesar da pouca idade, quase dezesseis, com nove anos já tinha peitos. Um corpo torneado, com ancas largas e um belo traseiro em um pouco mais de um metro e meio de mulher.  Chamava atenção de todo tipo de homem.  Com a maquiagem pesada e o salto altíssimo nem parecia que era menor. Tinha RG falsificado de dezoito anos.  Todas as meninas do Ernesto tinham. Ele só pegava menores.  E os gringos ficavam loucos com sua beleza e sua voz rouca, que soava muito sex.  Tinha gosto no que fazia. Gostava de sexo, das carícias.  Achava mesmo que nascera para essa vida de rapariga.  Mas sabia que poderia ser uma puta de sucesso.  Rica e poderosa!  E tinha determinação.  Chegaria lá!  

 Ernesto fez o trabalho direitinho!  Colocou essas ideias na cabeça de Marta e ela era muito novinha. Onze anos! Uma criança ainda!  Recém chegada ao Rio, vinda da realidade do sertão, da roça, menina simples, analfabeta, nunca teve a oportunidade de chegar nem na porta de uma escola. Mas com uma coisa o cafetão não contava: com a inteligência de Marta!  Com sua ambição!  E com seus sonhos!

Aprendia rápido e se tornou uma moça agradável, gentil e educada, só observando os clientes e a putas mais velhas, as que trabalhavam nas boates e nos hotéis. Era convidada para festas em lugares classe AA. Aprendeu matemática e a trabalhar com o dinheiro com o cafetão e as contas ele sempre deixava para ela fazer.  

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