A brisa soprava tranquila os cabelos de Eduarda, o sol estava fraco, porém aquecia da mesma forma, às suas costas estava sua casa, à sua frente o Bosque, era exatamente naquele local, ao lado da carreira de formigas a seus pés que se despediram pela primeira vez, seria essa a última despedida? Por que aquele ar de mistério a acompanhava?
Usava o mesmo vestido azul em tons de vermelho que sempre usara, o mesmo chapéu de tricô, o mesmo sentimento de ansiedade pelos braço de Haniel que sempre a acompanhara nesse bosque.
Caminhou bosque adentro devagar, prestando atenção em cada detalhe, sempre familiar, em pouco tempo chegou ao riacho, porém antes que se sentasse, um galho quebrou-se no chão atrás dela, o coração quase lhe saiu pela boca, era seu amado, tinha que ser, mas quando voltou-se, foi num misto de alegria e decepção que encontrou outra pess
O mundo como conhecemos, o universo, os planetas e as estrelas, galáxias e constelações foram criados pelo Príncipe, alguns mundos ele delegou sua criação à outros seres de altíssima confiança, pois assim como os humanos, os seres celestiais também possuem livre arbítrio, no caso destes, a pureza de suas escolhas é dotada de grande beleza, e foi assim que nasceram diversos mundos.A Terra, o mundo original como conhecemos e onde vivemos criada diretamente pelas mãos do Príncipe, tem servido de molde para os seres celestiais criarem suas infindas variações, diferenciando apenas em detalhes da mesma, Adora, Ara, Akbah, Zanin, Turionh, Bahatmaah e Nairob são apenas algumas dessas variações.Esses seres celestiais foram cuidadosamente escolhidos pelo príncipe, dada sua
Nunca tinha passado pela dor da perda, tudo bem que tinha apenas dez anos, mas mesmo assim, sendo o mundo um lugar tão conturbado como era, havia centenas de crianças da sua idade que já tinham presenciado a morte de perto, sentiu-se meio que traído inicialmente por não ter sido preparado pra esse tipo de coisa, mesmo na escola, tinha coleguinhas que já tinham perdido parentes e amigos, enquanto ele nem sequer tinha ideia do que acontecia aos mortos.E agora estava totalmente confuso, seu pai jazia num caixão à sua frente, sua mãe em estado de choque não conseguia derramar uma lágrima sequer, os irmãos, todos menores, cada um com um parente diferente, ele era o mais velho, não sabia como mas de alguma forma ele precisaria ajudar sua família.Mas como uma garoto de apenas dez anos poderia ajudar em algo? Sua mãe nunca tinha trabalhado, era sempre seu pai quem provia
Aquele tinha sido o sonho mais estranho que tivera, parecia real, palpável, fechava os olhos na cama e podia ainda se lembrar de cada detalhe daquele bosque maravilhoso, o perfume das flores, a calma dos animaizinhos, o frescor da brisa, a paz transmitida, de repente sentou-se na cama, de súbito lembrou-se:“Bosque da Paz” será que esse lugar existia em algum canto? Tinha certeza, era esse o nome que o garoto dissera, e por que aquele garoto?Já o vira algumas vezes na escola, estava sempre olhando pra ela, até que era bonitinho, gostava dela, mas namorar era algo tão complicado!Ela mesma via quantas lágrimas sua irmã derramava por namorados, e eles eram todos ingratos, sem afeto, egoístas, enquanto ela sofria sozinha cada vez que algum deles ia embora.Tinha certeza, não queria isso pra si, por mais bonitinho que aquele garoto fosse. Havia de
Como que num passe de mágica, ao entrar na sala de seu curso de idiomas conseguiu esquecer-se de tudo instantaneamente, era apaixonado por novas línguas, se pudesse gostaria de conhecer todas, aprenderia falar com qualquer pessoa de qualquer país.Mas tão logo suas três horas de curso terminaram, assim que saiu da sala, lembrou-se de uma frase que o deixou estático no meio da rua: “...nascer como um humano...”Só voltou a si quando um carro freou quase em cima dele, ainda assim saiu da frente do automóvel vagarosamente, o carro havia parado a centímetros de distância deixando um motorista enfurecido pra trás de si, sentou-se no meio fio tentando raciocinar. O que aquilo queria dizer?“Bosque da Paz?” quem teria feito aquele bosque? Ah se soubesse onde Eduarda morava! Correria pra lá imediatamente, iria direto ao fundo do quintal pra conferir se realmente hav
Eduarda amava sua irmã mais nova, no entanto, arrancá-la dos braços de Haniel da forma como ela fizera, deixou-a num mau humor terrível, estava novamente deitada em sua cama, agarrada aos lençóis com os cabelos emaranhados e cheios de bolhas de sabão.– Ai, sai daqui com isso! – Levantou-se com raiva e correu para o banheiro, deixando sua irmã assustada com a reação repentina.Ao entrar bateu a porta com tudo, sentou-se no vaso ainda fechado, fechou os olhos e de repente os detalhes do sonho voltaram, correu para o espelho olhando seu rosto, tão diferente do sonho, apenas uma criança de catorze anos.Olhando seu reflexo no espelho lembrou-se do mesmo nas águas do riacho, lembrou-se do beijo, passou os dedos pelos próprios lábios, fechou os olhos e tentou se lembrar da doçura dos lábios de Haniel.Abriu a tampa do vaso, sentou-
Silêncio, calma e tranquilidade eram comuns ali, mas silêncio nem tanto, pois havia constantemente o ruído de pássaros e outros pequenos animais, ela caminhava lenta e tranquilamente por entre o gramado molhado.Com as sandálias nas mãos caminhava descalça, olhando a todas direções em busca de seu amado, mas para onde fora? Era esta a primeira vez que ela andava sozinha no Bosque da Paz sem encontrar Haniel.O aspecto do bosque era o mesmo de qualquer lugar arborizado depois de uma forte chuva, as folhas das árvores todas molhadas, os galhos inclinados, o gramado molhado, o céu nublado.Eduarda olhava a todas direções com o mesmo chapéu de tricô de cor creme, o mesmo vestido azul com manchas avermelhadas, chamava o nome de Haniel, sem resposta. Silêncio absoluto. Nada mais que isso.Inicialmente fora ao riacho, onde em cuja beira beijaram-se pela pr
Ao acordar sentia-se dolorido, a princípio não sabia onde estava, dois homens altos, vestidos de branco estavam ao seu lado, eram claros como ele, cabelos castanho-claros, pele alva e uma luminosidade que emanava de sua presença que quase cegava Haniel.Ele próprio estava diferente, exatamente como nos sonhos que tinha com Eduarda, porém algo estava diferente, esse não era sonho, era a mais profunda realidade.Sentou-se de imediato, observou tudo a sua volta, os homens de branco estavam a alguns metros de distância e inicialmente apenas sorriam pra ele, sem nada dizer.O ambiente era imenso, como uma grande sala com uma única cama bem no meio, no chão, uma pequena névoa impedia-o de ver do que era formado o chão.Os homens de branco andavam sob a névoa, seus pés meio que imersos flutuavam a poucos centímetros do chão, vestiam uma túnica branca, a
Haniel acordou pela manhã em sua casa, deitado em sua cama e sem camisa, novamente não tinha mais o corpo de um homem feito, apenas de um garoto de quinze anos, isso o confundia mais que todas as outras coisas, porém, sentou-se imediatamente na cama, passando a mão no ventre intacto, sem marca ou ferimento algum, no chão, ao lado da cama estava o Tênis que tinha usado na noite anterior, na mesinha de cabeceira, sua carteira e seu relógio.Não se lembrava em nada de como tinha ido parar lá, sua última lembrança antes de desmaiar fora do assaltante tirando seus pertences enquanto ele rolava de dor pela calçada.Depois o sonho, ou mais do que um simples sonho, aquilo era uma viagem, ele tinha mesmo ido a outro lugar enquanto dormia, enquanto seu corpo descansava seguro em sua cama, sua mente fora longe, à sua verdadeira casa.Era em torno de nove horas da manhã quando l