— Você pirou de vez! — minha mãe gritou, provavelmente percebendo o monstro que havia criado. Respirei fundo e tentei recuperar uma paciência, que, como uma boa garota imatura, eu não tinha. — Está completamente desequilibrada!
Desequilibrada? Não. Delirante, com certeza.
— A passagem foi comprada, mamãe. Eu vou, e não há nada que você possa fazer sobre isso. Não entendo o porquê de tanto escândalo, é apenas uma viagem — justifiquei entediada, não querendo dar ouvidos ao que ela me dizia.
— Justamente o fato de você não entender o motivo do meu protesto prova o meu ponto! Deus! — disse, alterada. Um longo período de silêncio passou antes que ela voltasse a falar. — Marla. Filha... — Seu tom de voz mudou, e eu soube que ela tentaria uma abordagem diferente. Revirei meus olhos para ela. Minha mãe não era condescendente. Tirania era mais o seu lance. — Quando você acordará para a realidade? Já não está adulta demais para isso? Pelo amor de Deus, você está na faculdade. Está tentando provar o quê? Não tem mais idade para este tipo de loucura.
De fato, eu não tinha nem idade para fazer aquilo, nem maturidade para refletir sobre, uma vez que pensava como uma menina de quinze anos e não como uma mulher de vinte e um.
— Desculpa te decepcionar, mamãe. Você não entende o que sinto por aquele homem. — Havia muito tempo que desistira de tentar explicar para os outros sobre os sentimentos que eu pensava ter por Robert. Eu pensava que eram verdadeiros e puros, e não um capricho adolescente.
— John! Sua filha enlouqueceu! Pelo amor de Deus, faça alguma coisa!
E lá estava ela apelando para meu pai. John Jensen. Que piada. Meu pai tinha preguiça de se incomodar, pagava para não entrar em uma briga. Entendo o seu comportamento, morar em uma casa com mamãe e eu, duas loucas mimadas, provavelmente fazia de seu senso de preservação a melhor opção para a convivência.
Parado na porta da sala de estar, ele olhou por cima de seus óculos de grau e analisou minha mãe por um tempo. Eu realmente não entendia o que ela via no papai. Claro que ele era um homem legal, engraçado, sensível e rico. Mas ela também era rica quando eles se conheceram, e simplesmente não havia nenhum tipo de química ou combinação entre os dois. Meu pai era um homem alto, porém sua característica de macho alfa acabava ali. Era míope, careca e tinha um senso horrível de moda, enquanto minha mãe era elegante, esbelta, com cabelos curtos em estilo Chanel e bem modelados, além de sempre, mesmo dentro de casa, usar roupas sofisticadas e de acabamento perfeito.
Quando tive idade suficiente para perceber, de forma torta e equivocada, que ninguém gostaria de mim se eu não me vestisse e me comportasse como ela, troquei meu guarda-roupa, minha postura e até mesmo meus amigos. Eu realmente não entendo o porquê, mas queria ser como ela, e não como o papai. Desejava as atenções nas festas, receber em meu aniversário todas as flores que ela recebia nos seus, sair em revistas por ser tão boa profissional quanto ela era. Eu amava meu pai, apenas não queria ser só mais uma pessoa na multidão, como ele era. Em algum ponto da minha vida, eu me convenci de que era melhor ser ela do que ele.
— Jules, querida. Ela tem vinte e um anos. É maior de idade. Deixe a menina.
Sorri para ele, agradecida. Meu pai sabia que tentar me controlar não era o caminho, sabia que eu era exatamente como ela. Eu fizera questão de me tornar aquilo.
— Você deu o cruzeiro a ela, não é? John, pelo amor de Cristo! Ela tem que agir como adulta, não como uma adolescente. — Pôs as mãos na cabeça, visivelmente frustrada.
— Ela pediu de aniversário. Não se nega presentes de aniversário. — Papai tentou se defender.
Eu só pude rir. Meu pai era um cara que literalmente pagava para não ter que participar de nenhuma decisão fora de seu escritório. Descobri isso cedo: aos dez anos, eu tinha minha casa da Barbie abarrotada de notas de cinco dólares. Era só fazer um beicinho, algumas lágrimas, e a sua carteira se abria. Aos dezesseis, eu tinha um bom Audi quando minha licença para dirigir foi conquistada. E ali, aos vinte e um anos, eu estava prestes a realizar o meu sonho, graças a ele, que financiou o cruzeiro.
— Nega-se quando o presente é um astro do rock, John. Ela vai para um cruzeiro para vê-lo, ela quer ficar com ele. Ela quer se oferecer a ele como essas fãs malucas... É uma groupie.
— Não sou groupie, mãe! Não me compare.
Se o objetivo do cruzeiro fosse encontrar um grupo de mulheres influentes, aparecer em alguma revista e me comportar como a dondoca que ela havia criado, não haveria problemas na residência dos Jensen. Mas minha mãe não tolerava riscos. E o que eu estava fazendo tinha grandes chances de virar um escândalo e eu ser vista como mais uma fã maluca perseguidora dos membros da banda mais famosa do mundo, envolvendo o nome da minha família, colocando na lama tudo o que ela conquistou como socialite. Então, sim, o seu zelo era com seu sobrenome, e não com sua filha.
Cameron, meu irmão, e eu éramos amados apenas se seguíssemos as regras. Amor incondicional só estava no vocabulário de Jules Jensen se fosse relacionado a colunas sociais e dinheiro. E, ironicamente, eu estava cada vez mais feliz em ser exatamente como ela.
Com exceção da escolha para homens. Minha mãe queria que eu casasse com alguém como o meu pai. Eu queria um roqueiro beberrão que preferia ver o capeta do que uma fã na sua frente.
— Jules, querida... Marla tem um temperamento forte, posso citar a quem ela puxou, se quiser. – Minha mãe bufou ao ouvir as palavras de meu pai. — Mas creio que seja desnecessário. Deixe que ela vá, que veja com os próprios olhos se ela pode ou não ter esse rapaz que quer. — Nisso, papai tinha razão, só quebrando a cara para que eu aprendesse.
— É um astro do rock, não é um estudante da mesma faculdade! É um roqueiro famoso, é lógico que ele não vai ficar com ela! Não com o intuito de casar e ter filhos, o que, obviamente, essa menina precisa para manter o foco, já que está jogando o talento dela pela janela. Se ficar, e é um “se” enorme, aquele disseminador de música ruim vai jogá-la fora como já deve ter feito com milhares de outras fãs malucas e oferecidas!
— O papai está certo, eu tenho que ver com os meus próprios olhos. Vou terminar de fazer as minhas malas. — Subi os degraus rapidamente, me controlando para não dançar como uma criancinha no trajeto e ignorando tudo que minha mãe dissera. Meus pais continuaram discutindo enquanto eu fazia o meu caminho. Bem, mamãe brigava, enquanto papai apenas ouvia.
Claro que minha criação ajudou, mas a culpa de tudo que aconteceu não foi apenas das exigências de minha mãe e as compensações de meu pai. Eu fiz escolhas também. Erradas por sinal. Escolhas que uma menina de quinze anos faria, não uma mulher de vinte e um. Eu só não tinha ideia daquilo na época.
O motivo de tanta briga era que eu estava organizando a minha vida nos últimos meses para pular a bordo do Yellow Submarine, um navio de dezesseis andares que fazia eventos em homenagem aos Beatles para os fãs da banda e que estaria pela primeira vez nos Estados Unidos. Era realmente muito, muito caro estar dentro daquele navio gigante, e, em qualquer outra circunstância, eu preferiria gastar aquela pequena fortuna com outra coisa. Porém o astro do rock Rob Taylor, vocalista da banda mais foda de todos os tempos, a Golden Wild, estaria neste navio por quinze dias, junto com seus parceiros de banda, para descansar e fugir da loucura de Los Angeles.
Essa informação privilegiada me fora dada pelo assistente do assistente pessoal de Rob, mediante um alto pagamento, é claro. O rapaz poderia ser demitido caso as informações vazassem, mas eu não dava a mínima para isso, ele sabia onde havia se metido. E eu estava focada em mim, danos colaterais não me importavam naquela época.
Simples assim.
Egoísta assim.
Patética assim.
Deus! Não é de se admirar que eu não tinha amigos naquela época.
Eu, obviamente, era apaixonada por Robert Taylor. Na minha cabeça existia o delírio de que aquela seria a minha oportunidade de ouro, a chance de fazer o cara me notar e ser meu. Finalmente só meu.
Louca?
Na época, eu diria que “talvez um pouco”.
A verdade é que eu era deslumbrada e infantil. Deus, se eu fosse sincera, diria que também era um pouco perseguidora. Ou, obviamente, muito.
Tinha um portfólio cheio de desenhos dele. Meu professor de arte contemporânea estava seriamente pensando em me reprovar por eu não inovar em meus trabalhos. Também tinha fotos tiradas por mim mesma em gravações de videoclipes, shows e eventuais passeios. Sempre li fanfictions em que ele era o personagem principal, espalhei pôsteres dele e da banda pelo meu closet e, sim, eu conseguia sonhar com ele. E em meus sonhos, ele era todo meu.
Sonhava que me pedia em casamento durante um show. Que o acompanhava em premiações da música.
Na cama, como ele...
Eu, uma garota que deveria estar preocupada em me formar na faculdade, trabalhar e ser alguém na vida, estava direcionando minhas energias para manipular situações e alcançar o inalcançável.
Ok, você pode pensar que isso não me diferenciava das outras perseguidoras doentes. Mas eu era diferente: não era uma groupie. Groupies fazem qualquer coisa para dormir com qualquer membro da banda – ou com todos os membros. Eu queria apenas um deles. Esse tipo de fã não costuma ser ardilosa, elas apenas queriam diversão, eu sinceramente acreditava que teria o vocalista da banda mais quente já formada em minhas mãos.
Tive inúmeras possibilidades de me aproximar de Robert Taylor, mas não o fiz. Ele nunca me daria uma segunda olhada se eu agisse exatamente como as outras garotas. Eu o observei de longe por muito tempo e esperei a oportunidade certa. Queria ser mais do que uma maluca perseguidora: desejava que Rob Taylor me visse, que eu pudesse estar perto dele, ser a garota dos seus sonhos. Sabia que se esperasse o momento certo, seria finalmente premiada.
E aquele momento havia chegado.
Coloquei minha playlist para tocar em meu smartphone, conectando-o na caixa de som sobre a mesa, e logo a voz de Rob soou pelo meu quarto. Aquele rock melódico, romântico, ultrapassava os limites da definição de maravilhoso. Soava perfeito. A banda tinha pouco tempo de estrada, na verdade surgira há cinco anos, pouco tempo antes da minha mudança: de rebelde devoradora de livros e música para dama sofisticada e bem-vestida. Ok, não tão dama sofisticada e bem-vestida, mas certamente mais feminina e menos o que eu costumava ser. Eu passei a gostar mais de me vestir como a definição de mulher aprendida debaixo do teto dos Jensens.
Os garotos apreciaram a nova Marla também, e minha mãe parecia gostar mais da minha companhia, além de se sentir à vontade de me apresentar para suas amigas.
Meu Converse deu espaço para o meu primeiro par de scarpins, e os jeans rasgados foram substituídos por vestidos, saias e jeans novos e sem rasgos, agora acompanhados de maquiagens bem-feitas, saltos e bolsas de grife.
Minha fase mocinha rebelde havia acabado, assim como a maior parte do meu estilo musical havia mudado. Embora eu não conseguisse me livrar do som de Bon Jovi, Avenged Sevenfold e, claro, da Golden Wild. Algo na música dessas bandas ainda me deixava selvagem. Talvez me dizendo que eu nunca devia ter mudado tanto. Ou que não deveria mudar.
♫♪♫
Eu nunca havia visto Rob com garotas parecidas comigo, uma modelo aqui ou ali, mas sempre vestidas de forma mais despojada, longe de peças excessivamente caras e alinhadas. Ele não olharia para mim se eu aparecesse sendo a atual Marla. Então optei pelo meu vestuário antigo para usar no navio. A maior parte dos saltos voltaram para o closet e o único par de Converse que ainda tinha foi para a mala.
Eu devia ter saído para comprar algumas roupas.
Procurei em meu closet pelos meus jeans mais simples, pois não tinha mais os rasgados. Os que sobraram teriam que servir.
Corri para o quarto antigo do meu irmão, Cameron, e roubei algumas de suas camisas xadrez, voltei e acrescentei algumas regatas, shorts jeans e dois vestidos básicos para alguma emergência.
Olhei para o pôster de Rob segurando o microfone enquanto cantava uma de suas canções e suspirei. O cara era selvagem. Cabelos louros escuros com algumas mechas mais claras, no melhor estilo Jon Bon Jovi na época de Bed of Roses. Só que não tão arrumado. Até a mesma argola na orelha direita ele tinha. Camisas pretas, lisas e justas, braço esquerdo completamente tatuado e jeans que deixavam sua bunda algo digno de ter um altar exclusivo, personificavam o meu príncipe encantado.
Respirando fundo, terminei de arrumar minha bagagem, colocando alguns itens de higiene, minhas maquiagens e meu material de arte. Era apenas uma mala, mas nela caberia uma pessoa dentro.
Seriam seis horas de voo de Los Angeles até Miami e depois eu iria para o porto e estaria dentro daquela lata flutuante luxuosa com Rob Taylor. O Yellow Submarine faria a rota partindo de Miami rumo à Cozumel, passando por Key West. Seriam quinze dias entre alto-mar e estada naquelas ilhas maravilhosas e paradisíacas.
Eu tinha quinze dias, apenas quinze, para fazer com que Robert fosse meu. Era pouco tempo, então o impacto deveria ser grande e o plano precisaria ser posto em prática desde o momento em que eu colocasse meus pés naquele barco enorme.
Quinze dias de céu e inferno.
Os quinze dias que mudaram a minha vida.
Mais tarde, naquela noite, minha mãe tentou novamente fazer com que eu mudasse de ideia. Ela gritou comigo pelo que me pareceram horas. Apenas cantarolei Yellow Submarine, como a menina boba que eu era, para ignorar o fato de ela estar certa, mesmo que pelos motivos errados, e entrar no clima e me acostumar com as músicas dos Beatles.
É, me acostumar, já que não gostava deles.
Me processe.
— Eu desisto, Marla. Boa viagem — minha mãe disse com raiva em sua voz.
— Obrigada, mamãe — respondi com sarcasmo, fazendo com que ela me olhasse da forma que ela costumava fazer antes de eu me tornar uma versão mais jovem dela. Eu a estava decepcionando novamente, e parte de mim se sentiu machucada naquele momento. A maior parte ainda não se importava.
Logo meu pai estava no quarto. Cansada daquela briga toda, bufei e peguei o travesseiro para colocar na minha cabeça. Papai buscava não entrar em atrito, mas quando ele decidia falar, geralmente me trazia reflexões. Reflexões que eu precisava, mas não estava disposta a ouvir.
— Olhe para mim, quero falar a sério com você. Sua mãe e eu tivemos uma conversa, e realmente penso que ela tem razão. Por isso, vamos conversar.
— Oh, papai, não, por favor. — Eu me torci na cama, esperneando um pouco.
— Sempre lhe dei tudo, querida, você sempre foi mimada demais por mim. — Verdade. — Eu nunca lhe neguei nada. — Outra verdade. — E é por isso que você se tornou essa menina que você é. — Verda... Espera.
— E que menina eu sou?
— Marla, você é meiga, carinhosa, inteligente, seu talento com desenhos e pintura é único, mas faltam limites em você. Isso realmente é um problema. Sei que te dei o cruzeiro e não voltarei atrás. Mas, além de usar esse cruzeiro para fazer essa coisa irracional, completamente imatura e estúpida, tente pensar na sua vida, nas suas ações até aqui. Tente crescer e parar de pensar que as pessoas e as coisas têm que ser como você quer. A vida não é um filme de Hollywood, e você não tem quinze anos, você é uma mulher, e está na hora de parar de viver como uma criança mimada.
— Pai, você não entende. Eu amo Rob. Amo de verdade.
— Você precisa crescer e se concentrar na sua faculdade. Sua mãe não está feliz.
— É claro que ela não está, eu não estou fazendo o que ela quer. Não estou sendo controlada por ela.
— Exatamente como antes. — Papai refletiu. Um suspiro cansado escapou de seus lábios, como se tivéssemos discutido a noite toda, e então ele desistiu. Aquilo me feriu. Muito. No fundo, eu queria que ele me chacoalhasse. Isso não teria me feito ficar, mas eu teria ido sabendo que ele realmente se importava.
♫♪♫
Quem disse que eu consegui dormir naquela noite?
Revirei em meus lençóis, imaginando formas diferentes de encontrar Rob, pensando em como eu agiria, como falaria... Tudo ali estava em meu favor, o cruzeiro era basicamente para pessoas da alta sociedade e, ainda que estivessem ali em busca de diversão, elas eram mais velhas. Segundo o meu contato, escolher um cruzeiro em que a maioria do público fosse mais maduro e principalmente naquela rota, que não era alvo de público jovem, foi totalmente proposital para evitar tumultos. Era uma ideia boa. O fato de eu estar tão perto dele sem milhões de fãs histéricas me dava alguma vantagem, não dava? Eu pensava que sim.
♫♪♫
A despedida entre papai e eu foi tão quente quanto a bunda de um pinguim. Ele continuava agindo como se estivesse no piloto automático, como se não valesse a pena tentar conversar comigo, colocar algo em minha cabeça. Ele queria que eu quebrasse a minha cara.
Eu? Estava agradecida por ele sequer tentar, era o que queria naquele momento afinal de contas, mas parte de mim ainda gostaria que meu pai demonstrasse um pouco mais de preocupação. Apesar de ser uma parte muito pequena, ela existia, mas foi rapidamente esquecida pela emoção de finalmente estar embarcando no que eu, delirantemente, pensava ser o meu destino.
Eu sabia que a ansiedade não faria o tempo correr mais rápido, porém, no fundo, tinha esperança que isso acontecesse. Que tudo acontecesse, na verdade. Eu tinha um plano e tinha certeza de que daria certo. Quando finalmente recebi as boas-vindas a bordo, meus sentidos mudaram: se antes estava ansiosa para colocar meu plano em prática, naquele momento fiquei completamente cega pelo meu objetivo.
Estava realmente acontecendo!
A música ao fundo anunciava que eu estava entrando em um mundo paralelo, completamente diferente de qualquer coisa que eu havia vivido. Olhei em volta e notei que várias fotos dos Beatles estavam espalhadas pelo grande hall principal do navio. Funcionários vestidos a rigor estavam enfileirados, dando boas-vindas aos passageiros com sorrisos largos e polidos.
Impressionada, refleti que não era à toa o valor daquele cruzeiro. A companhia que o oferecia geralmente realizava eventos somente em ilhas inglesas. Era a primeira vez que o Yellow Submarine estava na América, e era óbvia a homenagem aos Beatles em cada pedaço daquele lugar.
O hall principal se chamava Yesterday, e quadros com fotos da banda decoravam todo o local. Embora não gostasse dos Beatles, a atmosfera diferente me instigou a passar um dia inteiro lendo os pequenos cartões das histórias que cada quadro contava. Algo na temática do navio despertava em mim interesse por tudo, e, por incrível que pareça, senti que não era por causa do homem que eu estava louca para encontrar.
Enquanto fazia meu check-in na enorme e luxuosa recepção, procurei coragem para perguntar quais eram os quartos dos membros da Banda Golden Wild, mas não encontrei e fiquei com medo de alguém alertar a banda sobre alguma groupie maluca. O que eu não era.
Eu não era uma groupie.
Só reforçando.
Reforçando principalmente para aquela voz que insistia em aparecer dentro da minha mente, tentando negar o fato de estar cometendo um erro, mas eu era uma menina apaixonada por um homem inalcançável para a maior parte da população mundial. Meu desespero por ele nublou o melhor de mim e a decisão estava tomada. Eu estava lá, e em minha cabeça, só havia uma alternativa: continuar.
Segui um tripulante até a cabine 1114, um pequeno quarto com vista para o mar e sala conjunta para que eu pudesse pintar e desenhar. Era tudo o que eu precisaria, além do Rob em minha cama, mas era necessário ter paciência para essa parte. Olhei em volta, encantada com a cabine, pensando em quanto dinheiro meu pai desembolsara. Faria valer cada centavo, prometi para mim mesma.
— Obrigada — agradeci assim que o tripulante colocou minha mala e o saco com o meu cavalete no chão.
— O jantar de abertura será às seis horas. Esperamos a senhorita lá para prestigiar.
— Estarei. Obrigada. — Entreguei a ele uma nota de vinte dólares e o dispensei.
Respirando fundo, retirei da mala uma tela em branco e o portfólio que fiz de Rob. Sorri ao perceber que a tela não tinha sido danificada. Olhei mais uma vez meus desenhos e senti alguma sanidade bater em minha porta, me perguntando o que diabos eu estava fazendo. Mas fiz questão de não a escutar por muito tempo e a empurrar para longe.
Eu havia chegado até ali e não pararia naquele momento.
Sua atenção, por favor. Aqui quem fala é o Comandante.
A voz imponente saiu pelos alto-falantes da cabine e me tirou de meus devaneios.
Solicito que todos os passageiros e tripulantes peguem seus coletes e dirijam-se até o ponto de encontro sinalizado na porta de suas cabines para o treinamento de sobrevivência marítima de acordo com as normas da Marinha Internacional.
— Não vou! — respondi em voz alta, voltando a arrumar minhas coisas.
Informo que o passageiro que não comparecer será vetado de sair para as ilhas, uma vez que é imprescindível o conhecimento das manobras apresentadas no treinamento.
Merda!
Descobri da pior forma possível que eu deveria ter chamado uma amiga para embarcar comigo. Mas quem arcaria com o valor absurdo? Tudo bem, então, sejamos sinceros: eu tinha algum amigo para me acompanhar? Minhas colegas da universidade não tinham exatamente simpatia por mim, e eu havia jogado fora minhas amizades de quando era mais nova para me adequar a minha mãe. Então novamente o sentimento de que estava lá pelos motivos errados me bateu. Quando cheguei ao restaurante, maravilhoso por sinal, a hostess me perguntou se eu queria mesa para duas pessoas, e isso foi o mesmo que levar uma porrada na cara, afinal, quem iria a um cruzeiro sozinho? Sem um namorado, amigo ou família? Aparentemente eu. Calmamente respondi que estaria sozinha, e a simpática atendente não me mostrou qualquer reação à minha resposta, então solicitei que fosse no deque de fora e ela prontamente indicou o caminho para que eu a seguisse. O som forte das ondas batendo con
Ao chegar a minha cabine, liguei meu notebook. Como estava sozinha, sem alguém para conversar, sem Cameron para me ouvir surtar sobre o que estava acontecendo, resolvi criar uma conta e começar um blog. Por que não? Eu poderia escrever meus dias no cruzeiro e publicar. Não! Péssima ideia. Expor a vida de Rob seria um tiro no pé. Mas precisava desabafar, contar o que estava acontecendo comigo, mesmo que ninguém fosse realmente ouvir ou ler. Comecei a digitar em um arquivo em branco. O que eu diria, porém? Escreveria sobre a fraude que me tornei? Como era errado o que estava fazendo, mas o desejo e a teimosia não me deixavam parar? Então pensei em escrever sobre Rob. O que ele estaria fazendo naquele momento? ♫♪♫ Eu não consegui fechar os olhos durante a noite. Pela manhã, me sentia uma merda de tão cansada, mas não poderia dormir, tinha que circular pelo n
Tudo bem, é louvável e lindo que ele tenha respeitado o meu não como resposta, mas, poxa! Eu não estou conseguindo êxito em nada aqui. Pensei nessas coisas, levianamente, enquanto caminhava pelo navio. Argh! Andei até minha cabine, tentando controlar o grito de raiva preso em minha garganta. Sou mesmo muito estúpida. Eu sou obrigada a concordar com esse pensamento antigo. Pena que aquela Marla pensava que era estúpida pelos motivos errados. Passava um pouco das nove horas, e eu não apareceria antes da meia-noite. Isso dava tempo suficiente para ele aparecer e esperar por mim, o que era pouco provável, por um bom tempo. Aproveitei as horas que faltavam para desenhar alguns detalhes na minha tela. Era a primeira vez que eu desenhava daquele jeito, tão cru e sincero. Pensei em apagar mais de uma vez, mas não tinha coragem, estava de fato ficando muito, muito bom. Por volta d
Provar os lábios daquele homem fez com que eu realmente me apaixonasse. Não era o amor platônico que eu sentia pelo astro do rock, como uma menina boba. Era o real sentimento de quando beijamos uma pessoa, um homem normal, de carne e osso, sem toda a magia da música e da fama em cima dela. Robert tomou meu coração de forma verdadeira. O que eu sentira a partir daquele momento era genuíno. Senti-o gemer quando descaradamente lacei seu quadril com as minhas pernas. Era para a água da piscina estar fria, contudo, me sentia totalmente quente. Ele me beijava com tamanho fogo, tamanho querer, que rezei e até pensei em estalar os dedos para que o tempo parasse naquele exato momento, o que, para minha decepção, não aconteceu. Nosso beijo se prolongou por mais alguns minutos, e, enquanto eu mordia o seu lábio inferior, ele apertava a minha bunda com força. Parecia que algo havia explodido dentro dele. Será que ele também sentia que aquele era o melhor beij
Um dia. Um maldito dia inteiro se passou, e eu tive que me manter trancada no quarto para que ninguém visse meu rosto inchado. Maldito corticoide! Maldita amêndoa. Maldito carma! Sim! Foi um filho de uma puta de um carma! Não querendo destruir minha tela com o meu mau humor, descartei a possibilidade de pintar naquele dia. Entediada, resolvi escrever mais. Escrevi sobre os meus conflitos, pensamentos e sentimentos por Robert, e assisti alguns filmes, ainda tentando me distrair. Mas meus pensamentos não paravam. Robert não saía de minha mente. Sarah Lee me ligou perguntando o que havia acontecido, e eu menti, disse que precisava de um tempo para criar e que em breve eu sairia da toca. Fugi o quanto pude para que ninguém fosse me procurar e ver a minha familiaridade com Sloth, de Os Goonies. Rob não me ligou, mas mandou um oi por Sarah. Enquanto ela falava comigo do ramal da piscina, os outros m
Faltavam seis horas, quarenta e três minutos e oito segundos para abrir a porta da minha cabine e dar de cara com Robert. Não o rockstar, não o homem mais sexy do mundo eleito por dois anos consecutivos pelas revistas. Não o vocalista da Golden Wild. Apenas Robert. O intenso, atencioso e resmungão Robert Taylor. O Rob de carne e osso, como Lance havia mencionado. Aquela noite merecia algo especial, então fui até o deque sete do navio para algumas comprinhas no shopping. Os sapatos já estavam definidos, eu queria algo para combinar com eles e impressionar Rob. Aquele par de ankle boots era a prova de que eu simplesmente não sabia nada sobre ele. Minha imaturidade não me permitia entender que eu poderia ser a Marla que gostava de rock, bebia cerveja direto do gargalo, se preocupava com alguém além dela mesma e usava Converse e, ao mesmo tempo, também gostar de vestidos caros, cabelos bem-cuidados e bons vinhos. Para mim, naquele momento, eu
— Hum... — Eu me espreguicei em seus braços. — Bom dia! Abri os olhos e me deparei com uma imagem que a Marla perseguidora nunca teria conseguido uma fotografia: a versão Robert amassada e inchada de dormir. Sorrindo para mim com os olhos apertados e quase totalmente escondidos pelos cabelos, Rob suspirou quando peguei a ponta do lençol e coloquei na frente da minha boca, tentando evitar que meu hálito matinal chegasse a ele. Eu realmente queria que ele pensasse que eu não tinha hálito matinal? — Você se preocupa muito, pequena Marley. — Puxou o pano e beijou meus lábios. Mas me recusei a abri-los de qualquer maneira. — Tem escovas de dentes descartáveis novas no meu banheiro. Assenti, levantei enrolada no lençol e corri para o banheiro. Achei a escova e dei uma olhada nas coisas dele. Vaidade não era o seu forte, não havia uma abundância de cremes e perfumes, apenas um kit de um perfume de grife e uma espuma de barba. Pe
Entrei em minha cabine, batendo a porta atrás de mim enquanto tentava sufocar inutilmente um grito. — Porra! — Deixei sair o mais alto que eu conseguia. Andei até minha tela e tirei o lençol. Olhei por alguns momentos pensando o que eu faria. Peguei um tubo de tinta preta e me senti tentada a manchar todo o trabalho. Mas não tive coragem. Eu não conseguiria estragar aquilo. Gemi, frustrada, sentindo as lágrimas enchendo os meus olhos, e respirei fundo tentando pará-las. Sentei em frente ao notebook e escrevi o que veio em minha cabeça. “Robert nunca será meu. O fato de ter o encontrado nos braços de Nadia só me confirmou isso. Ela, ao menos, não fingia ser outra pessoa, embora todas as vezes que ele de fato prestou atenção em mim foram quando meus planos deram errado. Irônico, eu diria. Porém não menos sofrido. Queria voltar no tempo. Mas não para vir ao cruzeiro e ser eu mes