Diana Lizano
A vida é uma coisa engraçada. As pessoas que conheço olham pra mim como se minha vida fosse melhor do que a delas, já eu olho para elas e as invejo pelo que elas possuem. Acho que todas as pessoas que eu conheço possuem um pai, ou uma mãe, ou um tio, ou uma avó. Há uns afortunados que possuem tudo, pai, mãe, irmãos, tios e primos. Deveria existir uma forma de impedir que crianças fossem abandonadas por seus pais, pois não existe maior crime do que esse.
Eu era muito pequena quando fui abandonada por minha mãe em um orfanato. Era muito pequena para lembrar do rosto dela, mas grande demais para despertar o interesse dos casais que queriam me adotar. Lembro que eu tinha apenas dois vestidos e um eu guardava para usar somente quando tinhamos visitas no orfanato.
Eu sorria incansavelmente, como um filhote esperançoso tentando agradar os visitantes de alguma forma. As vezes meu rosto doía, mas eu não parava de sorrir, na esperança de conseguir agradar alguém e assim ser escolhida. Doía tanto quando eles iam embora e me deixavam para trás. Lembro que todas as vezes eu chorava, chorava muito.
A medida que eu crescia, as esperancas que eu tinha de ser adotada diminuiam. Não apenas pra mim, mas para as meninas de minha idade. Até que um dia minhas orações foram ouvidas.
....... 24 anos depois ........
_ Doutora! – A voz de Marta me desenterra do estado catatônico em que me encontrava. Olho a minha volta e não consigo acreditar que o teste de gravidez que estou segurando realmente é meu.
_ Sua mãe está subindo – Marta diz e a primeira coisa que faço é esconder o teste dentro da gaveta do armário ao lado da cama. Não posso nem imaginar o que Angeline Lizano faria se descobrisse que estou grávida.
A ideia de uma gravidez é tão absurdo que parece até uma brincadeira. Levanto apressada ao me dar conta de que ainda estou de camisola. Tomo um banho rápido e quando saio do banheiro, minha mãe está sentada no sofá do quarto me aguardando.
_ Você me parece bem – Ela me avalia balançando levemente a perna – Por que não foi trabalhar?
_ Não amanheci disposta – Respondo me sentado de frente para o espelho, soltando os cabelos ainda úmidos.
_ Indisposta? – Ela repete a palavra naquele tom de voz que odeio, duro e debochado – Desconheço essa palavra – Ela levanta e vem até mim, pegando meus cabelos molhados com as pontas dos dedos.
_ Minha nossa, Diana! O que está acontecendo com você? Seu cabelo está horrível, quando esteve no salão a ultima vez?
_ Desde que cheguei, não tive tempo para muita coisa – Eu falo e ela pega seu telefone e fazendo uma ligação, se aproxima da janela entreaberta do quarto.
_ Providencie um horário para a doutora Lizano, hoje, as 13h – Ela desliga o telefone e me olha novamente – Pronto. Não é tão difícil, é?
_ Eu tenho três cirurgias agendadas para essa tarde.
_ Desmarque. Não é dentro de um centro cirúrgico que irá consertar seu noivado.
_ Eu… - Começo a falar já sentindo o nó se formar em minha garganta.
_ Já passou da hora de você e Alberto se entenderem.
_ Eu não posso me casar com ele – Digo sentindo todos os nervos do meu corpo se contorcerem. Alberto tinha me dado uma surra de cinto, aquilo não era algo que dava para consertar.
_ Não pode? – Ela me lança seu olhar propositalmente confuso – Não sei o que aconteceu nessa ultima viagem que fizeram Diana, mas terminar um noivado de oito anos, no momento em que Alberto mais precisa de você, é no mínimo, desumano _ Ela fala como se conhecesse o significado daquela palavra – Já marquei um jantar para essa noite. Alberto e seus pais irão jantar conosco. Não se atrase.
_ Mãe – Eu a fito atônita, o coração desesperado dentro do peito. Eu quero tudo, menos ver Alberto na minha frente.
_ Sem choros, Diana. Você já não é mais uma menina, não pode dispensar um homem como Alberto por puro capricho.
_ Ele me bateu – Falo o que ela já sabe, com os olhos cheios de lágrimas, os músculos do pescoço retesados e um nó entalado na garganta. Não consigo acreditar que ela está fazendo isso comigo.
Ela me olha surpresa, mas logo se recompõe.
_ As mulheres de hoje exageram muito em seus relatos.
_ Ele me deu uma surra COM CINTO dentro do meu consultório – Falo ficando de pé, disposta a deixar a situação mais clara. Eu já tinha dito a ela que tinha sido agredida por Alberto, mas era evidente que isso não tinha sido suficiente para que ela entendesse a gravidade do que tinha acontecido, então decidi ponturar as coisas.
Ela puxou a toalha do meu corpo em um movimento brusco, me deixando completamente despida, em seguida me puxou pelo ombro para avaliar meu corpo. A sensação que tive foi a de que ainda tinha sete anos. Aquilo me magoou de forma tão profunda que não consigui reagir. Eu simplesmente fiquei dormentes.
_ Não estou vendo nenhuma arranhão. Não seja exagerada – Ela empurrou a toalha branca novamente nas minhas mãos – Pare de se comportar como uma garota fraca e tolä. Sabe o quanto desprezo esse tipo de comportamento. Agora troque de roupas, cancele as cirurgias de hoje e não se atrase para o jantar. Seu pai tem sentido sua falta.
_ Tudo bem – Respondi em meu tom de voz frio e dormente.
_ Não faça essa cara. Tudo o que faço é pensando no seu bem – Ela falou se retirando quarto e eu permaneci parada, de pé, no exato lugar em que ela me deixou.
_ Senhora… Não pode fazer isso – Ouço Marta falar angustiada, parada ao meu lado, me olhando com o semblante infeliz – Eu sei que não deveria me meter, mas… não pode se casar com um homem assim - Ela certamente tinha ouvido toda a discursão com minha mãe.
_ Eu falei tudo a ela e ainda assim ela quer que eu case, então eu vou fazer isso.
_ Por que? – Marta parou na minha frente e fez a pergunta que muitas vezes eu mesma me fazia.
_ Porque ela é a minha mãe.
_ Isso não está certo – A mulher me fitava inconformada – Ela é sua mãe, mas a senhora já é uma mulher. A senhora é uma médica, é uma mulher independente. Não pode permitir que outros tomem decisões no seu lugar.
_ A decisão é minha Marta, sempre foi. Sou eu que decidi fazer o que eles esperam de mim e eu vou fazer.
_ Não faça isso filha - Seu pedido foi quase um choro.
_ Por favor, me deixe sozinha – Pedi e quando Marta deixou o quarto, voltei para o banheiro e fechando a porta, empurrei as costas contra a parede e deslizei até o chão, ainda nua segurando a toalha, então deixei as lágrimas descerem.
Por que eu fazia isso? Essa era uma pergunta difícil de responder. Na verdade eu sabia exatamente a resposta para aquela pergunta, mas isso não mudava em nada quem eu era e como eu agia. Aquilo era mais forte do que eu.
Houve um tempo em que eu ainda busquei ajuda de psicólogos, mas eles só falaram o que eu já sabia. Era tão fácil dizer o que eu precisava fazer. E talvez fosse até muito fácil fazer o que eu precisava fazer, mas ainda assim, nada conseguia me tirar da prisão em que vivia.
Se Angelina Lizano me mandasse pular de uma ponte, eu sei que pularia. Por que? Porque eu devia a ela tudo o que eu era e a satisfaria. Loucura? fraqueza? Obstinação? Talvez tudo junto e muitas outras coisas, mas a verdade era essa e sempre seria porque eu já não me importava mais.
Eu não tenho amigas, nunca tive, mas se as tivesse, imagino que elas certamente me criticariam e até apontariam seus dedos para mim, mas quando eu fui abandonada por meus pais em um orfanato, nenhum casal me considerava uma opção para adoção, por causa da minha idade já avançada. Eu tinha seis anos e os casais preferiam sempre os bebês. Foi ela, Angelina Lizano quem parou diante de mim, estendeu sua mão, me deu seu sobrenome e prometeu mudar minha vida.
Diana LizanoDesmarquei duas das três cirurgias, mas uma não pude desmarcar pois era uma idosa que poderia descompensar. Sebastiana Velano, uma velhinha italiana de 87 anos que tinha sido encontrada desacordada dentro da residência.Eu a conhecia, ela morava no mesmo prédio que eu. Marta gostava de reclamar da mulher, pois seu gato estava sempre zanzando pelos cantos do edifício.A velha era uma mulher ranzinza, mas eu me identificava com ela. Sempre que podia, a observava sentada em sua varanda se balançando na cadeira com seu gato gordo no colo. Eu não gostava de gatos, nem de cachorros, o que significava que a minha situação era ainda pior do que a dela.A cirurgia foi um sucesso, mas isso não significava que a senhora Sebastiana ficaria bem. Eu era muito boa no que fazia, mas não era deus e já tinha aprendido isso da pior forma possível._ Sua mãe está na linha – Uma enfermeira chegou com meu celular na mão, enquanto eu removia as luvas. Fiz sinal de que não iria atender e a mulhe
Luigi RomanoEu me chamo Luigi Romano, tenho 23 anos e se você não sabe quem eu sou, significa que nunca pisou no norte da Itália, ou que não possui nenhum conhecimento sobre o mundo da máfia, pois Romano não é o tipo de sobrenome que passa despercebido na boca de um italiano.Meu pai faleceu há três meses atrás e desde então as coisas andam bem complicadas pra mim e meu irmão Matteo. Ele agora é o novo Capo da máfia italiana e isso torna tudo bem mais complicado para o nosso lado.Quando o esperto do meu irmão assumiu a liderança dos negócios da família, a primeira coisa que fez foi se aproveitar de sua posição para me mandar para fazer os serviços sujos, enquanto ele continua ditando suas ordens do escritório.Matteo disse que estávamos com um probleminha com a conta do banco central. Não me dei nem ao trabalho de perguntar do que se tratava, pois se realmente fosse um probleminha, ele teria resolvido por telefone e não me mandado pra cá. Para minha infelicidade, eu estava certo. O
Luigi Romano Matteo retorna no momento em que me afasto de Giovanna. _ Como ela está? - Pergunto sobre o estado de Giorgina, nossa irmã. _ Está agitada - Matteo responde olhando para Giovanna, depois pra mim. _ Ela ficará com um bilhão, devolverá o restante e deixará Giorgina conosco. _ Vai deixar sua filha? - Ele soa surpreso e preocupado. Provavelmente tão patético quanto eu. Giovanna nunca cuidou da filha, não sei porque ficamos tão surpresos com sua atitude. _ Não finja que se importa, só estou indo embora por sua causa - Ela fala se levantando, olhando para Matteo com cara de coitada. Não gosto disso. Matteo tem um coração mole, principalmente quando o assunto é mulher. _ Ainda dá tempo – Ela olha pra ele esperançosa, com cara de choro. A mulher é uma artista. _ Ainda dá tempo pra que? – Pergunto já esgotado de toda aquela ladainha. _ Ela queria que eu me casasse com ela – Matteo fala com o semblante fechado. _ Eu continuaria aqui cuidando de Giorgina e devolveria todo
Diana LizanoA sala de jantar é fria. Todos os cômodos daquela casa são. Me sento ao lado de Alberto e olho para a louça refinada a minha frente. Aquele lugar é um cemitério de lembranças.As entradas são servidas e minha mãe parabeniza Alberto por ter assumido a liderança das empresas de sua família. Todos estão olhando pra ela e esperando o momento de agradecerem por suas palavras. É sempre assim. Ela é sempre o centro das atenções. Ainda que alguém comece a falar antes dela, em pouco segundos ela sempre dá um jeito de se emponderar da conversa.Ela manipula a todos o tempo todo. Cada um fala somente o tanto que ela julga necessário. É estranho como ela consegue fazer isso. As vezes me pergunto se faz propositalmente ou se só não consegue se controlar._ Você está bem? – Alberto pergunta em voz baixa se voltando em minha direção. A sensação que tenho é a de que meu coração está sendo esmagado.Por mais que eu tente, não consigo olhar pra ele._ Eu gostaria que me concedesse um momen
Diana Lizano Tento dormir aquela noite. Fecho os olhos e me afogo nas próprias lágrimas. Como eu pude chegar nessa situação? Em oito anos de namoro com Alberto, nunca tivemos relação sem preservativo. Coloco as mãos sobre meu ventre e não acredito que isso tenha acontecido. Não consigo aceitar que tenha ficado com Luigi sem nenhuma proteção. É lamentável e imperdoável a minha situação. Luigi com toda certeza deve ter uma dúzia de filhos espalhados pelo mundo. Gangsters como ele, adoram meter seus espermas nas mulheres e sumirem no mundo. Levanto da cama furiosa comigo mesma e busco ar na varanda. Ele foi tão rápido e tão intenso que quando vi, já estava dentro de mim. A breve lembrança daquela noite faz minhas pernas fraquejarem. Não gosto de lembrar das duas vezes em que dormimos juntos, porque meu corpo fica constrangedoramente sensível. Já cheguei a acordar excitadä no meio da noite depois de sonhar com o cafajeste. Ele parece uma assombração perturbando o meu juízo. Não dá para
Diana LizanoEu já estava deitada na maca, com as pernas abertas. A dra. Ruschel já tinha se paramentado e a enfermeira preparava a medicação. Meu coração estava destruído. Aquele não era o dia da morte de um feto e da minha também.Eu poderia encontrar desculpas para tudo, mas no fundo eu sempre seria a mulher que tinha abortado uma criança. Não sei como as mulheres que faziam esse tipo de procedimento sobreviviam a isso. Eu estava psicologicamente destruída.Deitada naquela maca, eu virei o rosto para o lado e fechei os olhos, no exato momento em que a porta do consultório se abriu. Meu coração quase saiu pela boca quando vi Luigi na minha frente. Ele estava furioso, com sua arma apontada para a médica. Puxei minhas pernas e tentei acalmá-lo. Ele estava armado e eu tremendo.Ele não me deixou nem mesmo trocar de roupas e me levou para fora da clínica. Minha mãe tentou impedi-lo, mas ele nem mesmo relutou. Luigi era louco, mais louco do que eu podia imaginar.Ele me colocou dentro de
Luigi RomanoO que ela fez, não tem perdão. A arrogante pensa que meu filho é algum vestido que pode escolher se vai vestir ou não? Vicenzo pode não ter nascido ainda, mas o papai está aqui para garantir os seus direitos.Eu mesmo me encarregarei de deixar as coisas bem claras pra ela. Não quer ser mãe. Não seja. Não preciso dela pra criar meu filho. Mas ela vai ter essa criança, nem que eu tenha que virar seu cão de guarda.Ela anda no quarto perdida dentro da minha camisa, baixinha e gostosa, mas não vale nada. Porque pra mim, uma mulher que mata um ser inocente dentro da barriga é pior do que um criminoso. Essa é uma covardia incomparável, matar um ser que nem mesmo se formou ainda, sem qualquer chance de se defender.Vou para o banheiro e a deixo fazendo seus protestos para as paredes. Ela me xinga e me chama de louco. Vomita suas escroticës sem papas na língua afiada. Minha única preocupação é se isso faz mäl para a criança._ Onde está a chave? – Ela esmurra a porta.Quando perce
Luigi RomanoO celular toca e eu pressiono o botão no volante aceitando a chamada, imaginando se tratar de Matteo. Quando ouvi a voz de Isabela, o corpo logo enrijeceu. Eu tinha dito que jantaria com ela na noite anterior. Passei a mão nos cabelos olhando para o lado e engoli em seco.“Merda!”_ Eu te esperei a noite toda – Ela reclama do outro lado da linha com a voz manhosa, me trazendo de volta._ Tive um imprevisto – Respondo com o corpo tenso. Diana olha pra mim visivelmente interessada na conversa.Diana e eu não tínhamos nada até ontem a noite, mas agora ela está com um filho meu em sua barriga. Não sei exatamente como ficará nossa situação, mas com certeza não posso ficar flertando com outra ao lado dela antes de termos uma conversa e esclarecermos as coisas._ Tô molhadinha Luigi – Isabela fala gemendo do outro lado._ Tudo bem, te ligo assim que puder – Respondo desligando o telefone. Diana está ao meu lado, se ouve a conversa, a situação ficaria estranha.Ela me olha e perc