Diana LizanoEstou de pé na calçada da rua estreita. Bellano é uma cidade turística, com a arquitetura mais voltada para o estilo alemão. As ruas, casa e lojas já estão abarrotadas de enfeites de natal e luzes piscantes. A neve começa a cair e as pessoas andam de um lado para o outro com sorrisos eufóricos. A felicidade no rosto deles é tão linda que me deixa anestesiada. Eu... eu queria tanto, mesmo que por um dia, descobrir como é isso.Não é a primeira vez que me pego parada olhando para os outros. Vendo mães andando de mãos dadas com seus filhos. Irmãos brincando e até brigando. Vendo amigas abracadas cochichando e rindo. Não sei como é isso e nunca vou saber. A única pessoa que tenho semelhante a isso é Marta, mas eu quase não passo tempo com ela por causa do trabalho.Meu peito dói, como se tivesse um buraco dentro dele e meus olhos enchem de lágrimas. Eu tenho pavor dessa data. É a época do ano que mais me machuca, em que mais me sinto sozinha. É como se fosse o momento do ano
Diana LizanoLuigi é louco e a determinação em seu olhar consegue abalar todos os meus nervos. O olhar dele me devora com uma força que faz minhas pernas literalmente fraquejarem._ Luigi – Matteo o chama, me lembrando de que eu preciso respirar._ Depois do almoço vamos conversar – Ele fala antes de ir ao encontro do irmão.Olho para Matteo e seu olhar não é nada caloroso. Imagino que seja por algo que Luigi tenha dito, não sei, mas uma coisa é certa, ele não tem nenhuma empatia por mim e isso me causa uma sensação estranha de desconforto._ A senhora vai nos ajudar a montar a mesa? – Lolita pergunta e eu olho pra ela mais perdida do que tudo. Não sei montar mesas. Na casa de minha mãe são sempre os funcionários quem são os responsáveis por isso._ Como eu posso ajudar? – Pergunto um tanto perdida.A velhinha faz sinal pra que eu a siga, Lolita dá algumas ordens as outras moças e nos segue._ Como ela se chama? – Pergunto a Lolita._ Marietta Romano – Lolita responde e a velhinha faz
Luigi Romano_ Já conversou com ela? – Matteo pergunta assim que entramos no escritório._ Não. Vou fazer isso daqui a pouco. Sampaio deu algum retorno?_ Não e isso está me preocupando._ Você não pode esperar as coisas acontecerem. Vai ter que viajar para Roma ainda hoje e pegar o desgraçadö com a boca na botija._ Eu? – Matteo me olha sério. Ele franze o cenho fechando a cara, apoiado na mesa escura. A mim ele não engana. Conheço meu irmão, cresci junto com ele. Matteo é mole, sempre foi._ Se você não chegar em Roma essa madrugada, você vai perder o domínio que temos lá._ Drug já avisou que se eu pisar lá sou um homem morto. Ele está com sua gangue em peso na cidade e possui o apoio de várias famiglias. Ontem liguei para Vitton, exigi que cuidasse da situação lá e ele fez corpo mole. Sem os Caccini, estaria sozinho em Roma e isso é suicídio._ Se você não pisar lá, é um homem morto de qualquer jeito, ou você acha que se perdermos o domínio de Roma, vai conseguir manter a credibil
Diana LizanoMinhas surpresas não acabam esse dia. A nona levanta e começa a retirar a mesa. Não consigo entender porque está fazendo isso. Uma das copeiras para ao meu lado e espera que eu pegue o prato e o coloque na bandeja que está segurando.Eu nunca fiz isso, nem quando era criança. Lembro que a primeira vez que toquei no prato para ajudar os empregados, ela me repreendeu severamente dizendo que agora eu era sua filha, não a órfã de um orfanato._ O que houve, Diana? – Lolita para ao meu lado e leva a mão ao prato diante de mim._ Não – Eu quase grito. Todos param para nos olhar – Eu faço isso – Digo e uma onda de emoções me atingem. As lágrimas vem e eu não consigo segurá-las. Acho que todos estão vendo, mas ninguém diz nada.Não sei o que está acontecendo comigo. Essa casa é tão estranha e mesmo na ausência de um pai e uma mãe, o que eu sinto aqui, nunca senti em lugar nenhum.Enxugo o rosto e sigo para a cozinha com uma das travessas que estava na mesa. Lolita me segue e depo
Luigi RomanoEncontro uma das funcionárias da casa na sala e pergunto por Diana. Ela me informa que nona a está ensinando a fazer um bolo.Sigo em direção a cozinha, quando sou surpreendido por Isabela. Ela me agarra e impulsiona o corpo nas pontas dos pés, apoiado as mãos em meus ombros, ao mesmo tempo em que alcança a minha boca, em um de seus beijos entusiasmados.Eu a puxo para a primeira sala do corredor, o antigo escritório de Matteo. Não quero que Diana a veja sem que antes tenhamos uma conversa._ Eu deveria estar muito magoada com você, mas você tem sorte. Muita sorte – Ela fala jogando a bolsa no sofá, em seguida me empurrando na poltrona._ Por que? – Pergunto sem o entusiasmo costumeiro. Não é nada divertido pensar que o que tenho para dizer a ela, vai magoá-la._ Por que? Não tem vergonha? Hoje é o aniversário de sua namorada – o orgulho com que enche a boca para dizer isso é como uma punhalada – Como se atreve a fazer essa pergunta? Diz pra mim que está apenas me prepara
Luigi Romano_ A turma quer saber se é pacote completo, ou só confete? – Fabrizio pergunta do outro lado da linha._ Munição pesada._ Você sabe que isso pode acarretar uma guerra?_ Eles também sabiam quando vieram pra cá._ Assim você me deixa louco, Cazzo._ Louco vai ficar amanhã._ Luna e Petta irão cuidar do manejo terrestre. Garantiram que chegarão ao amanhecer do dia._ Perfeito – Luna e Petta são as cabeças de sua casa e nenhum homem canta de galo perto delas._ Os moleques estão com as mãos todas coçando. Fazia tempo que não brincávamos assim – Fabrizio ri chupando o ar. Ele não era louco. Louco era o restante da turma. Os turcos cutucaram o vespeiro errado e logo descobririam isso.Desligo o celular e acelero. O caminho de volta nunca pareceu tão longo. Precisava ver Diana, estar perto dela, com raiva ou não. Lembrei de Dulce dizer que ela tinha feito um bolo pra mim e isso me deixa mäl.Pego o celular para ligar para Matteo, mas os primos não param de ligar. A mobilização
Luigi RomanoTerminamos o chá e Diana parecia bem calma. O problema é que ela sempre parecia calma. Diferente dela, eu estava tenso, inquieto e insatisfeito com a ideia de que estaria viajando para Roma, quando ela estaria voltando para Berna.Ela levanta da cadeira e segue em direção a porta, então se apoia na parede e por pouco não cai. Eu a seguro nos braços antes que caia. Matteo e nona se aproximam._ Diana? – Eu a chamo e ela está pálida._ Eu estou bem – Ela fala com os olhos fechados._ Leva ela para o quarto, eu vou ligar para o médico – Matteo fala já com o telefone no ouvido.Sigo com Diana para meu quarto e a deito na cama com cuidado._ Eu estou bem – Ela insiste. Retiro seus sapatos e nona entra logo atrás, junto com Lolita e Giorgina._ Nona – chamo agoniado, avaliando a palidez de Diana.Me afasto dando lugar para que nona possa examiná-la. Ela toca a fronte de Diana e se sentando ao seu lado faz algumas perguntas. Em seguida coloca a mão sobre a barriga dela e permane
Diana Lizano_ Você passou por alguma sobrecarga emocional? – O médico me observa após auscultar meu coração. A pergunta me deixa desconfortável. Não é fácil responder, mas sei que é necessário._ Sim._ Faz algum tipo de tratamento psicológico ou uso de medicações? – Ele já tinha me perguntado sobre isso pela manhã, mas repetiu os protocolos de atendimento._ Não._ O segredo da maioria de nossos problemas é não dar tanta importância a eles – Ele diz calmo._ Conhece a família Romano há muito tempo?_ Sou o obstetra da família há quase trinta anos._ Acha que eles são uma família normal? – Tento elaborar a pergunta de um jeito que ele entenda, mas não se sinta inibido a responder._ Certamente – Ele dá um sorriso que me parece sincero._ Sabe que são uma família de um circulo social um pouco diferente – Digo o observando._ Imagino que esse seja o motivo que está tirando a sua paz._ Eu acredito que seja natural, já que estou esperando um filho de um deles._ Não posso lhe dar as res