Um ano e meio depois...Estou com Said no colo e Rashid está no carrinho. A fralda de pano de Said cai no chão. Samira corre para pegá-la.—Obrigada meu amor.—Olha quem chegou....—Papai! —Samira corre em disparada para Zair que a pega e a joga no ar. Ela ri muito. Eu fecho os olhos para não ver. Dá uma má impressão.Zair a coloca no chão e me beija.—E como está a mamãe? —Estou bem, habibi. Deu tudo certo em sua viagem?—Sim. Agora, férias!Eu sorrio ao ouvir isso. Said para de mamar. Eu o pego no colo e o faço arrotar. Ele já está com quatro meses. Está pesado. Rashid já mamou, por isso está dormindo tranquilo.Zair o pega do meu colo.—E esse garotão? Ele se senta ao meu lado. Samira enciumada se aproxima do pai. E fica sentadinha ao lado dele.
Aysha Bar JairEm dezembro de 1990, Anne, minha mãe, viajou para o Catar com a ideia de viver e trabalhar durante algum tempo. Ela trabalhava no Hospital Rei Mustafá na área de pesquisas. Mas durante esse período que esteve no país, ela acabou conhecendo um homem, meu pai, Muhamed Bar Jair. Ele trabalhava para a monarquia saudita no ramo petrolífero. Com a idade de vinte cinco anos, ela se apaixonou perdidamente pelo homem moreno de olhos cor de mel.Fortemente atraídos um pelo outro, em pouco tempo, se casaram e logo foram abençoados com meu nascimento. Os primeiros anos de casamento, lhe trouxeram a felicidade que ela tanto desejava. Além de meu pai, ser um homem amoroso e dedicado a família, a família real cedeu um palácio para que eles morassem.Como engenheiro petrolífero, sempre fora dedicado ao seu trabalho. Praticamente viveu em função dele. A famí
—Mamãe fez. Sabemos que são os seus preferidos.Zair pega um. Eu me sento no meu lugar e o observo comer. Ele o deixa de lado e toma um gole de café.—Gostou? —Pergunto com um sorriso.—Eles ficaram ótimos, mas eu não gosto de canela.Bem, ao menos ele é sincero.—Não posso esquecer de colocar isso na minha lista de boa esposa. —Digo debochada.Meu pai tenta me dar um chute, mas erra e acerta o príncipe que olha debaixo da mesa.—Desculpe-me. —Meu pai diz sem graça.Eu baixo o rosto para não rir e bebo meu café. Quando ergo o rosto observo Zair com os olhos fixos de mim. Mantenho meus olhos nos dele, observo enquanto sua expressão endurece, seus olhos se tornam tão frios que eu não consigo mais mantê-los nos dele e abaixo meus olhos.Mas que droga! Já me sinto dominada por esse home
Quinze dias depois... Palácio CalifaBastou uma das empregadas anunciar que Zair estaria aqui daqui há alguns minutos para conversar comigo para que meu coração se agitasse no peito.Desde que cheguei, há uma semana atrás, temos nos falado esse horário. Poucas coisas para a minha frustração.Zair tem sido introspectivo. Às vezes acho que ele vem aqui só para deixar seus familiares felizes. Cumprindo um protocolo. Ou apenas para nos acostumarmos um com o outro.A mãe dele está animada com o casamento. Ela gostou de mim logo de cara. Todos os dias eu fui até os aposentos de Zafira para conversarmos. Ela é uma senhora muito educada, sagaz. Falamos de tudo um pouco, e claro, que não faltou conselhos de como me portar como esposa do príncipe. Mas que não vem ao caso pensar sobre isso agora.Foi difícil no começo entender algu
Meu casamento foi um grande acontecimento. Durou três dias, com todo o seu ritual, cheio de dança e animação dentro dos costumes muçulmanos.Um casamento onde pouparei lágrimas e distribuirei sorrisos, segurarei minhas verdadeiras emoções, não me permitindo sentir.No primeiro dia tivemos as trocas de alianças e eu recebi pela primeira vez o beijo casto de meu noivo, um singelo beijo na testa. Eu me senti carimbada do tipo "é minha"No dia seguinte me produziram: hena, limpeza de pele e cuidado com meus cabelos. Eu me senti como um carneiro, sendo bem tratado para ir ao matadouro. Hoje, no terceiro dia me maquiaram e dentro de um lindo e rico vestido, composto de renda com pedraria bordadas. Com gola canoa, manga ¾ e modelagem sereia, com uma linda cauda arredondada, eu me transformei numa linda princesa. Mas o dia para eu brilhar, estou triste.O palácio, cheio de con
—Nosso casamento é de conveniência, mas isso não significa que eu não irei cumprir meu papel de marido. Vou cuidar de seu bem-estar, então, pare de besteira e se sente aqui.—Como você consegue? Fica apegado a rituais que expressam sentimentos, mas ao mesmo tempo os deixa de fora?Ele parece irritado:—Não questione e se sente aqui! Estamos casados, então cumpriremos todo o ritual.Eu aperto meus lábios e faço uma mesura para ele, ironizando seu jeito mandão e caminho até o local indicado. Respirando fundo, eu me sento. Zair pega a bacia e a jarra de água e as coloca no chão.—Erga o vestido. —Ele pede impaciente.Eu faço como ele me pediu. Ele então pega o meu pé direito e retira o meu sapato e lava o meu pé. Faz o mesmo gesto com o outro. Coloca então uma toalha no colo e enquanto os sec
ZairAllah! Eu me senti um crápula quando ela chorou e ela tem sido mestre em me fazer sentir assim ultimamente. O sentimentalismo é uma fraqueza que há muito eu deixei para trás. Agora há em mim a determinação, a coragem, a firmeza. Qualidades que um homem de negócios precisa ter. Hoje me fortaleci com esses sentimentos. A realidade precisa ser enfrentada, por isso hoje sou comedido, pois conheço as consequências da entrega.—Mas que Diabos! Eu não deveria ter me casado com essa mulher!Allah! Forçar uma situação não faz parte do meu carácter.Vou até a escrivaninha que está num canto do quarto e abro a gaveta. Pego uma adaga e erguendo meu kandoora, corto o interior da minha coxa direita, a ardência só aumenta minha frustração por não fazer imperar minha vontade. Tampo o corte com o le
AyshaEntro no quarto, ele está todo escuro. Só a luz do luar entra pela janela. Fico na soleira da porta até eu me acostumar com a escuridão.Aos poucos vou reconhecendo as formas das coisas na penumbra. Consigo ver Zair também.Allah! A cama é king size, enorme, e mesmo assim ele consegue se espalhar nela de modo que fica só um pequeno espaço para eu me deitar. Eu já vi que vou ter uma péssima noite de sono.Caminho lentamente e me deito ao lado dele tentando não movimentar muito o colchão. Mas o colchão é dos bons, conforme me ajeito ele nem se move, ele é firme e ao mesmo tempo macio. Bocejando, me cubro, tomando cuidado para não me encostar nele.Sempre dormi abraçada a um travesseiro. Então pego um, dos dois que ficam na cama e o envolvo com meus braços. Fecho os olhos. Estou tão cansada que, aos poucos, minha re