Aysha
Entro no quarto, ele está todo escuro. Só a luz do luar entra pela janela. Fico na soleira da porta até eu me acostumar com a escuridão.
Aos poucos vou reconhecendo as formas das coisas na penumbra. Consigo ver Zair também.Allah! A cama é king size, enorme, e mesmo assim ele consegue se espalhar nela de modo que fica só um pequeno espaço para eu me deitar. Eu já vi que vou ter uma péssima noite de sono.Caminho lentamente e me deito ao lado dele tentando não movimentar muito o colchão. Mas o colchão é dos bons, conforme me ajeito ele nem se move, ele é firme e ao mesmo tempo macio. Bocejando, me cubro, tomando cuidado para não me encostar nele.Sempre dormi abraçada a um travesseiro. Então pego um, dos dois que ficam na cama e o envolvo com meus braços. Fecho os olhos. Estou tão cansada que, aos poucos, minha reZairOlho para os jardins do palácio e vejo o espetáculo de flores de todas as cores. Flores que a víbora da Amina adorava. A lembrança de como fui enganado por sua fragilidade, docilidade e beleza, de como entrei no conto mais velho do mundo, ainda me transtorna. Quem é Aysha para que eu confie nela? Amina me enganou da pior forma que se pode imaginar. Ela me envolveu em suas teias de inocência e sedução. Aquela garota que convivi minha adolescência inteira, na verdade queria o titulo de princesa. Uma vida perdida.Sonhos desfeitos.Ela mentiu com suas palavras, com seu jogo de sedução, ela mentiu com seu corpo, com seus gemidos, com seus sussurros de amor. Nem sei se a menina que ela pariu é minha filha. Samira pode ser fruto de seu adultério. Até hoje não peguei a criança nos braços, até hoje não co
AyshaMeia hora depois fizemos uma aterrissagem tranquila na rica cidade de Muharraq. Catar e Bahrein são países quase vizinhos, é só atravessar alguns quilômetros do Golfo Pérsico que fica entre eles.Momentos depois estamos dentro de um carro de luxo sendo levados para, sei lá onde. Desde que saímos, Zair está quieto em seu canto. Não chega a ser um silêncio opressor. A verdade que estou meio cansada, então estou um pouco anestesiada com tudo que estou vivendo. Agora, nesse momento, me sinto como uma marionete, levada pelo seu dono.Observo tudo pela janela do carro também quieta, com certeza onde ficaremos deve ser um lugar espetacular.Allah! Tudo é muito lindo, e luxuoso. O país é riquíssimo. Minutos depois passamos por grandes portões e percorremos a propriedade arborizada até o palácio. Quando o carro estaciona e
AyshaQuando Zair sai do quarto, eu desmorono na cama, minhas pernas bambas, parecem geleiasRecomposta, vou até o banheiro e me tranco nele. Tenho que ficar esperta. Eu deveria ter tomado essa atitude com a porta do quarto.Tomo um banho rápido e coloco um caftan verde-escuro. Faço uma maquiagem leve e tento me lembrar do caminho até a sala.A encontro logo. Zair está no sofá, seu semblante pensativo. Quando ele me vê, aponta com o dedo um lugar ao seu lado. Relutantemente eu me sento.—O Sheik Koul veio aqui. Vou precisar trabalhar em campo. Acho que dois dias resolvo tudo.—Bem, é isso? Irá amanhã? —Eu digo, com um sorriso doce.—Sim. —Zair diz com aquele sorriso que não gosto.—Bom trabalho. Pode deixar que fico quietinha no palácio, bancando a boa esposa.—Quem disse que ficará? Você
Apesar dos pesares, eu durmo bem. Basta colocar minha cabeça no travesseiro e apago com o sono dos justos. Mas essa noite demorei para dormir. Fiquei rolando na cama.Quando durmo, fujo da realidade. Vou para uma outra dimensão. Esqueço-me da minha prisão, do meu isolamento. Da minha sina. Mas essa noite fiquei pensando em que lugar ficaremos, se teremos que dividir a mesma cama e isso me tirou o sono. A dura realidade me assola.Desde que me conheço por gente, meu pai me preparou para esse casamento, mas não me preparou para o homem frio e arrogante que eu iria enfrentar. Eu me sinto desarmada com essa situação.De manhã espreguiço-me na cama e abro os olhos lentamente. Quando rolo meu corpo para ver às horas, meus olhos focam Zair sentado em uma cadeira com um sorrisinho cínico no rosto. Ele me observa daquele jeito que me constrange, é como se estivesse me admirando, ou
Estou no meio do nada, no deserto. O alojamento tem um tamanho razoável, ele é simples, todo aberto, sem separação por paredes, ou seja, da porta temos uma visão de tudo, cozinha, sala, quarto, banheira e apenas aonde fica o vaso sanitário é fechado. Ele é bem limpo e quente.Puxo o lenço que cobre meus cabelos e começo a me abanar com ele, já me sentindo irritada com o calor.—O ar condicionado já deveria estar ligado. Vou ligar e você verá que dissipará o calor.Allah! Como se isso melhorasse alguma coisa.Estou surpresa por Zair, príncipe do clã dele, riquíssimo, se sujeitar a isso. Eu nunca morei assim, sempre vivi muito bem, e devo admitir que graça à família dele. O que me preocupa agora é essa banheira sem uma cortina, exposta. A sala não tem sofás, apenas almofadas e um aparelho
ZairBlasfemo.Justo agora essa merda toca! No visor, minha mãe.—Oi, mamãe. Algum problema? —Questiono, ofegante.—Algum problema? Eu que te pergunto? Liguei para o palácio e me disseram que você viajou com Aysha a trabalho.Mas que merda!—Sim.—Não tinha como adiar isso?—Não, eu precisei estar no local, e ainda não resolvi o problema.—Não me diga que você a levou para esse lugar horroroso em sua lua de mel?—Hum hum.—Zair! Fi sabil Allah! (Pelo amor de Deus). Você nunca levou Amina para um lugar desses! O que deu em você para levar Aysha até aí?Talvez esse tenha sido meu erro, enquanto eu viajava e me matava de trabalhar, ela se encontrava com seu amante.—Achei errado deixa-la sozinha.—Mas tem hotéis, sei que não muito próximo
AyshaAbro os olhos devagar. O alojamento está sendo tocado pela luz do sol que está despontando lá fora.Sinto braços musculosos ao meu redor. Meu rosto está enfiado num peito cheiroso, o queixo dele na minha cabeça. Ele respira pesadamente.Ofego, meu coração dispara.Allah!Aperto os olhos tentando pensar como sairei dos braços de Zair sem que ele perceba. Respiro de forma lenta e premeditada.O que aconteceu está confuso na minha cabeça. Eu o abracei por causa da ausência do meu segundo travesseiro? Ou ele me abraçou?Não sei. Apenas sei que estou aninhada em seus braços.Allah! E agora?Devagar tento me afastar de seu corpo. Aos poucos vou conseguido. Quando saio debaixo do seu queixo ergo me
AyshaZair avança em minha direção, eu ando para trás, tento não demonstrar minha fragilidade endurecendo meus olhos. Mas isso não surte efeito. Minhas costas batem na parede do alojamento. Claro! Só o fato de eu ter que fugir dele prova o quanto ele me deixa a flor da pele com sua presença.Alto, ameaçador.Zair sorri vitorioso.Ele ergue o braço e me encurrala na parede, a outra ergue meu queixo e meus olhos se encontram com os dele.—Não se engane, Aysha. Você me deseja, está em seus olhos isso. —A voz dele é baixa e profunda.Gostaria de dizer que ele está enganado, que não sinto nada por ele quando ele me toca, que eu sinto repudio, ojeriza, mas não consigo. Não depois de provar de seus lábios, o sabor de seu corpo sob o meu. E a presença dele é muito real para que eu me engane.<