Acordo sem acreditar muito que estou nos braços de Zair. Mas estou, suas pernas estão sobre as minhas, e seus braços me circundam a cintura. Estamos de conchinha. Já tinha até me esquecido o quanto é bom dormir abraçada a ele, essa sensação de acolhimento é maravilhosa.
Epa! Aliás, ele está abraçado a mim.Zair me confunde às vezes, não sei o que ele colocou como limite entre nós. Só sei que ele não quer sentir intenso. Quer anestesiar seus sentimentos para não sofrer.Não consigo entender isso!Eu me movo nos braços dele, girando meu corpo. Ele resmunga, mas não acorda. Fico admirando as linhas fortes de seu rosto sereno. Quando ele está assim, nem parece o homem tão sem sentimentos que ele se esforça em transparecer.Como eu fui me apaixonar por ele dessa forma? Tão perdidamZairAllah! Eu nem em meus sonhos mais insanos imaginaria que sofreria tanto. Dor da traição, da rejeição, da impotência, a raiva por sentir dor, a dor por ter dor... eu era louco por ela. Essa casa não me traz boas recordações. Não foi fácil rever cada lugar que eu e Amina compartilhamos. Allah! Mas por incrível que pareça, agora eu estou me sentindo leve. Quando me vi, percebi que aquele mal-estar que senti ao me deparar depois de tanto tempo com os ambientes se foi. Eu me sinto bem. Eu nem acredito que me vejo finalmente fora daquela história dramática e isso para mim é uma real vitória.Allah! Eu me sinto tão diferente.Procuro Aysha com os olhos. Nossos olhos se encontram. Ela desvia seus olhos dos meus.É minha natureza me entregar de corpo e alma. Não sei ser diferente, ou eu amo intensamente, ou não amo.
Dou-me conta da luminosidade do dia no quarto. Tomo consciência que não abraço meu travesseiro, mas estou dentro dos braços fortes de Zair. Ele está com o braço na minha cintura e eu estou com a cabeça enfiada em seu peito. Droga! E o travesseiro?Meu coração acelera e eu tento me afastar antes que ele acorde. Movo a minha perna sobre a dele com cuidado e tiro seu braço da minha cintura. Quando consigo me afastar encontro seus olhos bem vivos nos meus, há um sorriso debochado em seus lábios. Estremeço.—Estava gostoso em meus braços? —Ele pergunta num tom sarcástico.—Não sei como isso foi acontecer. —Procuro meu travesseiro na cama. — O que aconteceu com meu travesseiro?—Se você o procurar no chão, acredito que você o ache. —Ele diz sorrindo.Eu respiro fundo.&mda
AyshaDepois que fizemos amor, saímos do quarto e almoçamos todos juntos. Depois eu fiquei um pouco com Samira, e pasmem! Zair ficou o tempo todo do meu lado. Sorrindo, falando com ela. Nem parece o homem de antes. Quando Samira foi tirar seu cochilo, também fomos descansar. Dormirmos um nos braços do outro, com uma leveza de alma, daquelas que se encaixam, uma ligação maravilhosa. À tardezinha tomamos o nosso café e tiramos a tarde para andar na parte externa do palácio, nessa caminhada conversamos. Ficamos relembrando o que vivemos, rindo disso agora. Aquele lugar escuro aos poucos, vai ficando colorido conforme Zair vai rindo de suas próprias limitações, inseguranças e ignorância. Depois dessa parte, ele quis saber tudo sobre a minha vida. Todos os detalhes que eu pudesse dizer para ele me conhecer melhor. Eu fiz isso, contei-lhe da minha vida, da minha inf&ac
Dois meses depois...Os dias que se seguiram foram maravilhosos. Zair tirou esses dias para ficar com sua família. Sua relação com Samira mudou muito. Ele tem lhe dado grande atenção e carinho.Cada dia que passa Zair está mais leve. O passado tem ficado cada vez mais para trás. Suas ações demonstram também que ele tem confiado mais em mim. Outro dia fomos a uma festa. Um homem estranho olhava muito para mim. Zair também reparou. Eu sei pela expressão que ele olhou o homem, o intimidando. Em nenhum momento ele me acusou de algo, ou disse alguma coisa. Nem quando chegamos em casa. Não fez qualquer comentário sobre o assunto. E eu vi isso como um voto de confiança. Ele resolveu fazer um exame de DNA em Samira, e realmente constatou que ela não é sua filha. Ele já sabia disso, mas ficou triste, pois ele gostaria muito que ela fosse. E seg
—Mas que droga!—O que foi? —Pergunto, vendo a raiva no rosto de Zair.—Não poderei te acompanhar ao médico. Você terá que ir com minha mãe. As máquinas ficaram presas no aeroporto, preciso pessoalmente liberá-las. E temos pressa com isso. E o horário para liberação é justamente essa hora...Eu vou até Zair e o envolvo pela cintura.—Shiii. Tudo bem.—Você liga para mim, me dando a notícia.—Não!Zair estremece.—Não? Como não?—Você acha que vou te dar essa notícia por telefone?Ele passa as mãos nos cabelos.—Vou tentar ir até o consultório. Vou ver se resolvo tudo rápido a tempo de correr para lá.—Nada disso! Fica tranquilo e se não for dessa vez, tentaremos novamente. E assim por
Um ano e meio depois...Estou com Said no colo e Rashid está no carrinho. A fralda de pano de Said cai no chão. Samira corre para pegá-la.—Obrigada meu amor.—Olha quem chegou....—Papai! —Samira corre em disparada para Zair que a pega e a joga no ar. Ela ri muito. Eu fecho os olhos para não ver. Dá uma má impressão.Zair a coloca no chão e me beija.—E como está a mamãe? —Estou bem, habibi. Deu tudo certo em sua viagem?—Sim. Agora, férias!Eu sorrio ao ouvir isso. Said para de mamar. Eu o pego no colo e o faço arrotar. Ele já está com quatro meses. Está pesado. Rashid já mamou, por isso está dormindo tranquilo.Zair o pega do meu colo.—E esse garotão? Ele se senta ao meu lado. Samira enciumada se aproxima do pai. E fica sentadinha ao lado dele.
Aysha Bar JairEm dezembro de 1990, Anne, minha mãe, viajou para o Catar com a ideia de viver e trabalhar durante algum tempo. Ela trabalhava no Hospital Rei Mustafá na área de pesquisas. Mas durante esse período que esteve no país, ela acabou conhecendo um homem, meu pai, Muhamed Bar Jair. Ele trabalhava para a monarquia saudita no ramo petrolífero. Com a idade de vinte cinco anos, ela se apaixonou perdidamente pelo homem moreno de olhos cor de mel.Fortemente atraídos um pelo outro, em pouco tempo, se casaram e logo foram abençoados com meu nascimento. Os primeiros anos de casamento, lhe trouxeram a felicidade que ela tanto desejava. Além de meu pai, ser um homem amoroso e dedicado a família, a família real cedeu um palácio para que eles morassem.Como engenheiro petrolífero, sempre fora dedicado ao seu trabalho. Praticamente viveu em função dele. A famí
—Mamãe fez. Sabemos que são os seus preferidos.Zair pega um. Eu me sento no meu lugar e o observo comer. Ele o deixa de lado e toma um gole de café.—Gostou? —Pergunto com um sorriso.—Eles ficaram ótimos, mas eu não gosto de canela.Bem, ao menos ele é sincero.—Não posso esquecer de colocar isso na minha lista de boa esposa. —Digo debochada.Meu pai tenta me dar um chute, mas erra e acerta o príncipe que olha debaixo da mesa.—Desculpe-me. —Meu pai diz sem graça.Eu baixo o rosto para não rir e bebo meu café. Quando ergo o rosto observo Zair com os olhos fixos de mim. Mantenho meus olhos nos dele, observo enquanto sua expressão endurece, seus olhos se tornam tão frios que eu não consigo mais mantê-los nos dele e abaixo meus olhos.Mas que droga! Já me sinto dominada por esse home