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Não sou do tipo romântico.

Quinze dias depois... Palácio Califa

Bastou uma das empregadas anunciar que Zair estaria aqui daqui há alguns minutos para conversar comigo para que meu coração se agitasse no peito.

Desde que cheguei, há uma semana atrás, temos nos falado esse horário. Poucas coisas para a minha frustração.

Zair tem sido introspectivo. Às vezes acho que ele vem aqui só para deixar seus familiares felizes. Cumprindo um protocolo. Ou apenas para nos acostumarmos um com o outro.

A mãe dele está animada com o casamento. Ela gostou de mim logo de cara. Todos os dias eu fui até os aposentos de Zafira para conversarmos. Ela é uma senhora muito educada, sagaz. Falamos de tudo um pouco, e claro, que não faltou conselhos de como me portar como esposa do príncipe. Mas que não vem ao caso pensar sobre isso agora.

Foi difícil no começo entender algumas palavras, embora eu tenha frequentado uma escola árabe e praticado muito a língua em casa. Aos poucos, meu vocabulário está enriquecendo e a língua está fluindo mais.

Pensando no que conversarmos, o que mais me encuca é que, numa dessas conversas, ela afirmou que sou a mulher certa para Zair. Que ele precisa de uma mulher forte como eu. E me confidenciou que Amina era um doce de pessoa, mas muito frágil com sua saúde. Zair sempre viajava sozinho pois ela passava mal nas viagens. Então eu comentei com ela que ele parece muito ligado a falecida. Ela apenas sorriu e me disse que eu precisava dar tempo ao tempo, ter paciência com ele e me garantiu que tudo se resolverá.

Eu saí de lá mais confusa do que eu estava e ainda não tenho uma opinião formada a respeito. Não sei se ela está certa ou não.

Mas também, como? Se Zair se mantém frio, distante?

Estou tão desanimada! Não sei o que me espera desse casamento. E entendo que por mais que eu esforce e me porte como a esposa ideal, sei que estou lidando com um homem que tem um passado. E não é qualquer passado; ele carrega a tristeza pela morte da mulher amada.

O que serei para meu futuro noivo?

Apenas a mulher que ele se casou para tocar a vida para frente, para mostrar a todos que está bem, que seu luto passou. Serei apenas a mãe substituta de sua filha e, pelo pouco que observei, ele quase não a vê. Talvez por ela se parecer muito com a esposa. Deve ser difícil ver a figura da esposa amada na filha.

—O príncipe Zair Salim El Mustafá.

As minhas mãos tremem quando ele é anunciado. Sei que minha atitude é ridícula. Ele não demonstra nenhuma empolgação quando me vê.

E eu me pergunto, por que as batidas do meu coração dispararam quando o vejo? Por que me sinto aflita quando ele não vem me visitar?

Eu assinto para a empregada e me preparo psicologicamente para recebe-lo. Coloco uma expressão serena no meu rosto.

Zair surge no quarto e me procura com os olhos. Eu nunca fico em um lugar evidente no quarto, gosto de surgir das sombras, gosto de avalia-lo primeiro, me preparar.

Ele está lindo, vestido como o príncipe que ele é. Um kandoora preto com dourado, sandália nos pés e usa um turbante na cabeça.

Não consigo controlar meu coração, que bate mais forte, nem a minha respiração instável.

Atração. Sim, nada além disso. Allah! Essa montanha de gelo consegue me derreter. Isso me confunde um bocado.

Saio de trás de uma pilastra. Os olhos do príncipe encontram os meus. Negros como uma noite sem estrelas, espelhos de sua alma gelada.

— Masa'u Al-Khair. (boa tarde)

—Al-Khair An-Nur". —Respondo seu cumprimento.

—Vamos nos sentar? —Zair me convida no seu inglês carregado.

Ficou acordado entre nós que ele o praticaria comigo. Embora eu ache que isso não nos aproxima. Sinto sempre em suas visitas que estamos envoltos em uma atmosfera de civilidade, nada mais que isso.

—Claro.

Zair aponta para duas poltronas próximas a ampla janela, onde a luminosidade penetra no quarto decorado com quadros famosos, mobília e tapetes orientais.

Nos sentamos.

Nos encaramos.

— Como tem passado, como foi seu dia hoje?

É sempre a mesma pergunta e então eu sempre lhe dou um relatório, que ele ouve, mas eu percebo que ele sempre fica incomodado, louco para sair do meu quarto. Então ele acrescenta algo sobre o tempo, ou um comentário sobre a cultura dos EUA, onde sempre faz um comparativo com Catar e então sai.

Tudo isso já está me dando nos nervos.

—Passei o dia caminhando pelo palácio, tomei sol, depois almocei com meus pais sua mãe e sua irmã. À tarde conversei com sua mãe e aqui estou. — Digo, demonstrando a minha irritação.

—Já está enfadada? —Ele diz e sorri aberto, expondo uma fileira de dentes alvos como leite de cabras e que se destacam contra a pele bronzeada.

Eu pisco, aturdida mais com seu sorriso do que com a pergunta. É a primeira vez que ele sorri dessa maneira, geralmente ele dá um sorriso frio. Coloco meu cérebro para funcionar, ele está todo embolado, e eu preciso lhe dar uma resposta à altura:

—Não. Não é com o lugar que estou enfadada. Mas com a frieza que me pergunta as coisas e fala comigo. É irritante.

Ele fica sério e me olha depois de uma longa pausa, imperturbável:

— Não sou do tipo romântico. E vou ser claro com você. Não pretendo enganá-la, nem a iludir, estou me casando por conveniência. Para acabar com a imagem do príncipe em luto, que sofre pela esposa amada. Além disso, tenho uma filha para criar, e ela precisa de uma mãe.

—Então nossa relação será baseada na conveniência, sem sentimentos envolvido?

Zair enrijece mais sua cerviz.

—Sim. —Ele diz seco. —Casando-se comigo, você terá tudo que o dinheiro pode comprar. Tudo o que quero de uma esposa é lealdade, competência e seriedade.

Sim, ele fala comigo como se tratasse de negócios. Talvez seja melhor assim. Se ele quer essa distância de sentimento entre nós, então teremos.

Dou de ombros. Não coloquei expectativas nesse casamento mesmo.

—Entendo.

—Que bom que entende. Então, para o seu próprio bem, não alimente sonhos românticos comigo. Mas prometo ser um bom marido.

Vejo um lampejo de algum sentimento enrustindo em seus olhos e o silêncio que se segue se torna um tanto constrangedor e ele estuda meu rosto antes de dizer:

—Daqui a três dias é nosso casamento.

—Sim, eu sei.

—Depois do casamento, não moraremos aqui.

—Não? —Pergunto confusa.

—Não. Moraremos no Bahrein, por causa dos negócios. Deixe suas malas prontas.

—Entendo. Iremos logo depois do casamento?

Zair, passa a mão nos cabelos como se quisesse colocar os pensamentos em ordem.

—Não, dormiremos aqui, iremos no dia seguinte.

Aperto minhas mãos no colo. Zair é um estranho, embora todos os dias ele venha aqui, ele continua um estranho.

—Tudo bem. —Digo, não muito animada.

Zair continua, como se falasse com sua gerente de banco:

—Embora, Bahrein seja um dos países mais liberais do Golfo Pérsico não deixa de ser um país muito conservador e com uma cultura islâmica muito enraizada, por isso, leve lenços para cobrir os cabelos. —Então ele para de falar e diz. —Ah, a propósito, entendi o que quis dizer com uma múmia.

Eu respiro fundo.

Duvido!

—É? O que você entendeu?

—Corrija-me se eu estiver errado. Você acha que ser submissa e atender todas as necessidades do marido é como ser uma pessoa mumificada.

— Vossa excelência não está errado.

—Então seja uma múmia que ficará tudo bem. Acho que minha mãe já tem te orientado como deve se portar ao meu lado.

Eu solto o ar com sua arrogância. Então me lembro de sua posição. Príncipe de seu clã, costumado a ser obedecido. Mas eu me pergunto, por que ele acha que me encaixo como sua esposa. Ou será que ele está preso a promessa que foi feita?

—Eu nasci aqui, mas passei minha vida toda nos Estados Unidos. Já se perguntou mesmo se sou a pessoa certa para você se casar?

Zair me olha sério.

—Sim. Eu gosto dessa frieza de sentimentos que tem as americanas.

Frieza de sentimentos?

Sim, sou uma bela atriz, controlando minha respiração quando falo com ele, e mantendo meu rosto impassível, mesmo quando ele me afeta tanto.

—Entendo.

Antes que eu diga qualquer coisa Zair se levanta.

—Bem, é isso.

Eu me levanto também.

—E se estiver enganado comigo?

—Enganado como?

—E se eu querer amar, ser amada? —Pergunto, com o coração agitado.

Ele sorri friamente e seus olhos passam pelo meu corpo, como se eu fosse uma mercadoria cara.

—Desculpe-me por acabar com seus sonhos românticos, mas como eu disse, amor não se encaixa nesse casamento.

Agora foi minha vez de rir.

—Eu? Alimentar algo romântico com você? Não, perdoe-me. Mas sempre fui muito pés no chão. Nunca acreditei em príncipes encantados, acho que me preparei mais para os sapos. Eu falo de acabar com esse noivado e segui minha vida.

Ele olha para mim como se tudo que eu disse não fizesse sentido.

—Sapos?

—Aldafadie. —Traduzo para o árabe.

Zair olha para mim tentando entender o porquê do "sapo". Acho que ele nunca ouviu a história da do sapo que se transforma em príncipe encantado.

Ele dá de ombros e entendo com seu gesto que ele nem faz questão de entender.

—Bem, mas se casará. Está tudo resolvido.

—Não, não está.

Zair que já estava de saída se volta para mim.

—O que não está resolvido?

—Eu não sei se quero me casar com você.

—Como? —Ele pergunta no árabe.

—Eu não sei se quero isso para a minha vida. Acho que sou do tipo romântica, quero um homem com coração de carne e não um de gelo como o seu.

Os olhos dele chispam.

—Tarde demais para isso. Você será minha esposa, está decidido.

—Você só pode estar brincando!

—Você não tem escolha. É uma questão de honra. Meu pai se sentirá insultado se recusarmos. E não é nada sábio insultar o El Mustafá.

—Você é um príncipe, pode muito bem dizer ao seu pai e ao meu que não sou a mulher ideal.

Ele sorri, friamente.

—Mas você é a mulher ideal.

—Eu posso te envergonhar. —Digo com um sorriso, cheio de ameaças.

—Você não faria isso, pois não gostará nem um pouco das consequências.

Eu engulo em seco.

—Que consequências?

—Tenho meus meios para te amansar. Então, nem pense em me prejudicar.

Eu cruzo meus braços.

—Sinto muito, vossa excelência, não é por nada não, mas eu não vou me casar com você.

Zair me olha com o rosto fechado.

—Tudo bem. Mas seu pai estará na rua amanhã mesmo.

Eu pisco aturdida.

—Vossa excelência não faria isso. Meu pai se mata de trabalhar. Ele é um funcionário exemplar.

—Ele faz aquilo que o cargo dele exige. Nada mais que isso e sempre foi muito bem recompensado por ser amigo de meu pai, mas se me fizer essa desfeita, não pense que seu baba será poupado.

—Você...você é odi...oso! —Eu gaguejo.

—Você não viu nada. —Ele diz e sai do quarto.

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