—Nosso casamento é de conveniência, mas isso não significa que eu não irei cumprir meu papel de marido. Vou cuidar de seu bem-estar, então, pare de besteira e se sente aqui.
—Como você consegue? Fica apegado a rituais que expressam sentimentos, mas ao mesmo tempo os deixa de fora?Ele parece irritado:—Não questione e se sente aqui! Estamos casados, então cumpriremos todo o ritual.Eu aperto meus lábios e faço uma mesura para ele, ironizando seu jeito mandão e caminho até o local indicado. Respirando fundo, eu me sento.Zair pega a bacia e a jarra de água e as coloca no chão.—Erga o vestido. —Ele pede impaciente.Eu faço como ele me pediu. Ele então pega o meu pé direito e retira o meu sapato e lava o meu pé. Faz o mesmo gesto com o outro. Coloca então uma toalha no colo e enquanto os seca, ergue o rosto e procura meus olhos.—Pronto, não doeu. Doeu? —Ele me pergunta com um sorrisinho de canto. Eu respiro fundo novamente, prefiro não responder. Do jeito que estou ácida, vou dar alguma resposta malcriada e o que menos quero agora é me indispor, quero apenas dormir, esquecer esse dia.Ele se levanta, e eu também. Ele é tão alto que eu mal bato na altura dos ombros dele.—Bem, então boa noite. —Eu digo para a vossa majestade, me desviando dele.Ele me segura pelo braço.—O que você quer dizer com "boa noite"?—Tesbah ala kheir! —Eu falo no árabe.Ele me solta.—Bismillah! (Em nome de Deus!) Eu entendi a palavra!Eu elevo meu rosto e digo:—Não teremos nada. Você mesmo disse que é um casamento de conveniência.Zair está ofegante. Ele tira seu turbante, como se aquilo já o incomodasse. Seus cabelos estão engenhosamente bagunçados, ele fica mais lindo. Engulo em seco.Zair trava sua mandíbula e endurece mais seu rosto.—Sim, eu disse. Mas isso não quer dizer que você não será minha.Minha respiração se torna agitada também.—O quê? Você está achando que faremos sexo?Zair dá um passo na minha direção, eu dou dois para trás, até eu encostar na parede. Ele ergue a mão e me encurrala, segura meu rosto, seus olhos são tão febris e isso me confunde um bocado.—Você é tem um jeitinho tão emancipado. Cadê a americana que me casei? Qual o problema de satisfazer o desejo de nossos corpos? Eu sou seu marido.—Eu...Zair sorri.—Eu disse que não te tratarei bem?Eu nego com a cabeça.— Serei gentil, paciente, tudo que um homem precisa ser. Não temas.—Não temo, mas sexo por sexo...—Não tem nada de errado nisso. Além disso, você terá que provar sua virgindade.— Mas eu sou virgem!Zair dá um sorriso.Seus dentes são lindos! Allah!—Eu penso que sim, se eu achasse que não, não teria me casado com você.—Acho que não preciso provar nada.
Ele ri, uma risada gostosa.Allah! Acho que estou enfeitiçada...—Mas não é só a mim que você tem que provar.Como?O quê?Onde?—Eu vou ter que provar? Como assim?Zair alarga mais o sorriso.—Está vendo aquele lenço nupcial em cima do criado mudo? Ali estará a marca de sua inocência.Eu estremeço.—Que coisa mais retrógada!Zair passa a mão nos meus cabelos e seus lábios mordiscam minha orelha, e diz as palavras sussurradas no meu ouvido: —Você não está casando com qualquer um? Esqueceu das minhas origens? Sua inocência terá que ser provada.Eu estremeço mais com as falas dele, com seu toque, com o calor do seu rosto no meu. Mas eu o afasto, o encarando séria.—Mas não teremos nada para apresentar.Zair respira fundo, como se estivesse exercitando a paciência comigo:—Relaxe, você está muito nervosa.As palavras dele me irritam. Eu tento sair dos seus braços, mas ele não deixa, como grades me prendem a ele.— Gazela, seja boazinha.—Eu estou falando sério! E pare de me chamar desse jeito! O que foi agora? Ligou o botão "afeto" com prazo de expiração? E quando acabar o sexo? Acionará o botão razão?Zair respira fundo. Acho que ele não esperava isso de mim. Claro que ele esperava que eu fosse diferente. Que por ter passado a maior parte da minha vida nos EUA eu aceitaria o que ele oferece. Ele pode até ter me obrigado a casar, mas eu dificultarei bem a sua vida.—E se eu disser que desde a primeira vez que te vi, eu te desejo?—Verdade? Então não obteve sucesso em sua demonstração.A cada palavra minha Zair vai ficando mais ofegante. Ele me solta.— Estou cansado desse seu jeito. Já chega! Você não passa de uma menina mimada que se julga no direito de fazer tudo que quer. Mas eu não tolerarei isso.—Vai me tomar a força?Zair perde a paciência.—Por Allah! Tomar a força? Sou tão feio assim para não querer dormir comigo? "Sapo", não é mesmo?Allah! Ele entendeu tudo errado. Realmente ele não conhece a história do príncipe encantado. Eu aperto meus lábios para não rir. Ele é lindo, super gato.—Zair, podemos dar um jeito.Ele cruza os braços no peito e abre as pernas.—Que jeito?Eu e lambo meus lábios.—Apresentar algo a eles.—Você está sugerindo que eu retire meu sangue e burle sua inocência?Eu dou um leve aceno, concordando com a cabeça, quase imperceptível. Os olhos de Zair vão ficando mais duros.—Estou achando que você não é virgem.Eu estremeço.Eu sei muito bem o que representa isso para essa corja machista.—Claro que sou!—Então prove!— Eu...—Temos a noite inteira. — Ele diz ofegante. — Vá até o banheiro, tome um banho, relaxe. Eu te espero deitadinho naquela cama.Meus lábios tremem e tudo que estava represado dentro de mim sai dos meus olhos como cascata e cai gota pós gota. Zair fica sem ação quando me vê emotiva. Consigo enxergar o outro lado do altivo príncipe, o coração humano, que pulsa sob a fachada gelada e rígida. Mas quando penso que ele vai mudar de ideia, seu rosto vai se transformando novamente.—Vai, eu te espero.ZairAllah! Eu me senti um crápula quando ela chorou e ela tem sido mestre em me fazer sentir assim ultimamente. O sentimentalismo é uma fraqueza que há muito eu deixei para trás. Agora há em mim a determinação, a coragem, a firmeza. Qualidades que um homem de negócios precisa ter. Hoje me fortaleci com esses sentimentos. A realidade precisa ser enfrentada, por isso hoje sou comedido, pois conheço as consequências da entrega.—Mas que Diabos! Eu não deveria ter me casado com essa mulher!Allah! Forçar uma situação não faz parte do meu carácter.Vou até a escrivaninha que está num canto do quarto e abro a gaveta. Pego uma adaga e erguendo meu kandoora, corto o interior da minha coxa direita, a ardência só aumenta minha frustração por não fazer imperar minha vontade. Tampo o corte com o le
AyshaEntro no quarto, ele está todo escuro. Só a luz do luar entra pela janela. Fico na soleira da porta até eu me acostumar com a escuridão.Aos poucos vou reconhecendo as formas das coisas na penumbra. Consigo ver Zair também.Allah! A cama é king size, enorme, e mesmo assim ele consegue se espalhar nela de modo que fica só um pequeno espaço para eu me deitar. Eu já vi que vou ter uma péssima noite de sono.Caminho lentamente e me deito ao lado dele tentando não movimentar muito o colchão. Mas o colchão é dos bons, conforme me ajeito ele nem se move, ele é firme e ao mesmo tempo macio. Bocejando, me cubro, tomando cuidado para não me encostar nele.Sempre dormi abraçada a um travesseiro. Então pego um, dos dois que ficam na cama e o envolvo com meus braços. Fecho os olhos. Estou tão cansada que, aos poucos, minha re
ZairOlho para os jardins do palácio e vejo o espetáculo de flores de todas as cores. Flores que a víbora da Amina adorava. A lembrança de como fui enganado por sua fragilidade, docilidade e beleza, de como entrei no conto mais velho do mundo, ainda me transtorna. Quem é Aysha para que eu confie nela? Amina me enganou da pior forma que se pode imaginar. Ela me envolveu em suas teias de inocência e sedução. Aquela garota que convivi minha adolescência inteira, na verdade queria o titulo de princesa. Uma vida perdida.Sonhos desfeitos.Ela mentiu com suas palavras, com seu jogo de sedução, ela mentiu com seu corpo, com seus gemidos, com seus sussurros de amor. Nem sei se a menina que ela pariu é minha filha. Samira pode ser fruto de seu adultério. Até hoje não peguei a criança nos braços, até hoje não co
AyshaMeia hora depois fizemos uma aterrissagem tranquila na rica cidade de Muharraq. Catar e Bahrein são países quase vizinhos, é só atravessar alguns quilômetros do Golfo Pérsico que fica entre eles.Momentos depois estamos dentro de um carro de luxo sendo levados para, sei lá onde. Desde que saímos, Zair está quieto em seu canto. Não chega a ser um silêncio opressor. A verdade que estou meio cansada, então estou um pouco anestesiada com tudo que estou vivendo. Agora, nesse momento, me sinto como uma marionete, levada pelo seu dono.Observo tudo pela janela do carro também quieta, com certeza onde ficaremos deve ser um lugar espetacular.Allah! Tudo é muito lindo, e luxuoso. O país é riquíssimo. Minutos depois passamos por grandes portões e percorremos a propriedade arborizada até o palácio. Quando o carro estaciona e
AyshaQuando Zair sai do quarto, eu desmorono na cama, minhas pernas bambas, parecem geleiasRecomposta, vou até o banheiro e me tranco nele. Tenho que ficar esperta. Eu deveria ter tomado essa atitude com a porta do quarto.Tomo um banho rápido e coloco um caftan verde-escuro. Faço uma maquiagem leve e tento me lembrar do caminho até a sala.A encontro logo. Zair está no sofá, seu semblante pensativo. Quando ele me vê, aponta com o dedo um lugar ao seu lado. Relutantemente eu me sento.—O Sheik Koul veio aqui. Vou precisar trabalhar em campo. Acho que dois dias resolvo tudo.—Bem, é isso? Irá amanhã? —Eu digo, com um sorriso doce.—Sim. —Zair diz com aquele sorriso que não gosto.—Bom trabalho. Pode deixar que fico quietinha no palácio, bancando a boa esposa.—Quem disse que ficará? Você
Apesar dos pesares, eu durmo bem. Basta colocar minha cabeça no travesseiro e apago com o sono dos justos. Mas essa noite demorei para dormir. Fiquei rolando na cama.Quando durmo, fujo da realidade. Vou para uma outra dimensão. Esqueço-me da minha prisão, do meu isolamento. Da minha sina. Mas essa noite fiquei pensando em que lugar ficaremos, se teremos que dividir a mesma cama e isso me tirou o sono. A dura realidade me assola.Desde que me conheço por gente, meu pai me preparou para esse casamento, mas não me preparou para o homem frio e arrogante que eu iria enfrentar. Eu me sinto desarmada com essa situação.De manhã espreguiço-me na cama e abro os olhos lentamente. Quando rolo meu corpo para ver às horas, meus olhos focam Zair sentado em uma cadeira com um sorrisinho cínico no rosto. Ele me observa daquele jeito que me constrange, é como se estivesse me admirando, ou
Estou no meio do nada, no deserto. O alojamento tem um tamanho razoável, ele é simples, todo aberto, sem separação por paredes, ou seja, da porta temos uma visão de tudo, cozinha, sala, quarto, banheira e apenas aonde fica o vaso sanitário é fechado. Ele é bem limpo e quente.Puxo o lenço que cobre meus cabelos e começo a me abanar com ele, já me sentindo irritada com o calor.—O ar condicionado já deveria estar ligado. Vou ligar e você verá que dissipará o calor.Allah! Como se isso melhorasse alguma coisa.Estou surpresa por Zair, príncipe do clã dele, riquíssimo, se sujeitar a isso. Eu nunca morei assim, sempre vivi muito bem, e devo admitir que graça à família dele. O que me preocupa agora é essa banheira sem uma cortina, exposta. A sala não tem sofás, apenas almofadas e um aparelho
ZairBlasfemo.Justo agora essa merda toca! No visor, minha mãe.—Oi, mamãe. Algum problema? —Questiono, ofegante.—Algum problema? Eu que te pergunto? Liguei para o palácio e me disseram que você viajou com Aysha a trabalho.Mas que merda!—Sim.—Não tinha como adiar isso?—Não, eu precisei estar no local, e ainda não resolvi o problema.—Não me diga que você a levou para esse lugar horroroso em sua lua de mel?—Hum hum.—Zair! Fi sabil Allah! (Pelo amor de Deus). Você nunca levou Amina para um lugar desses! O que deu em você para levar Aysha até aí?Talvez esse tenha sido meu erro, enquanto eu viajava e me matava de trabalhar, ela se encontrava com seu amante.—Achei errado deixa-la sozinha.—Mas tem hotéis, sei que não muito próximo