Maya Costa
- COMO É? – acho que Leandro me bateu tanto ontem que estou começando a ouvir coisas.
Noiva?! Nem ferrando!
- Isso mesmo que você ouviu – diz como se não tivesse acabado de propor um absurdo.
- MAS NEM MORTA! EU NÃO VOU MENTIR PRA MAIS NINGUÉM!
- Ah vai sim! – me joga contra a parede e eu gemo com a dor causada. Esse cara não se cansa de me machucar? - E acho bom ele sair daqui acreditando em tudo, contando pra Deus e o mundo como somos uma família feliz.
- Leandro, eu me recuso a fazer esse papel, eu não sei mentir desse jeito.
- Pois vai ter que aprender porque estou mandando e trate de fazer isso bem rápido, não temos muito tempo.
- Eu já te disse que não é para me meter em seus problemas.
- Eu te meto onde eu quiser, pois tenho esse poder.
- Ele não vai acreditar! Você sabe que eu te odeio e não suporto passar um segundo ao seu lado, quem dera passar por sua esposa. Lembre-se que só estou aqui porque você me obriga e não porque quero.
- Não exagere, sei que me ama – debocha e eu me seguro para não revirar os olhos.
- Quando ele chega?
- Amanhã, ele me ligou avisando que esse era o último detalhe a ser resolvido antes de vir.
- Isso não vai dar certo... - sussurro.
- Acho bom dar porque se você não cumprir esse papel com maestria, já sabe o que te aguarda quando ele for embora. Eu vou voltar a trabalhar para ele não desconfiar de nada e você vai se passar por uma esposa mais do que apaixonada. Vamos formar o típico casal de filmes de romance.
- Você é inacreditável.
- Vejamos pelo lado bom amorzinho, essa visita pode nos tornar mais próximos do que nunca – vem mais uma vez pra cima de mim com um sorriso nojento no rosto.
- VOCÊ NÃO ME TOCA!
- Não acho que esteja na posição de fazer exigências.
- Quer que eu cumpra esse papel idiota? A minha condição é que você não me toque.
- Tá – diz sério – Mas se eu precisar te beijar pra...
- NÃO OUSE! Vamos ser um casal de apaixonados bem reservado, já ouviu falar? Daqueles que super respeitam a visita de estranhos e que preferem manter as intimidades para os dois. No nosso caso, elas não existem.
- Você iria adorar amorzinho, você que não se permite sentir os prazeres que eu poderia te fornecer – passa seus dedos em meu rosto e sinto vontade de vomitar com seu toque – Pode deixar que eu me responsabilizarei em responder as perguntas voltadas ao nosso "relacionamento", só concorde com tudo que eu disser e tente ao menos reforçar o que eu falo.
- Você me dá nojo! Sua família nem sabe da minha existência, não sabe que tem um neto, então por que me mantém aqui? Nada me prende a você Leandro, me deixa ir, por favor.
- Não, eu já disse que você é M-I-N-H-A e de mais ninguém. Além do mais, duvido que ache alguém melhor do que eu por aí, ninguém te suportaria.
- Eu te odeio – me solto dele e vou para o meu quarto.
- Essa é a última noite que dorme aí, está me ouvindo? Quando Vicente chegar, você vai para o meu quarto - o escuto gritar após ter fechado a porta.
Maravilha, agora sim estou realizada. Antes que eu possa fazer alguma coisa, ele abre novamente a porta.
- Ah! E faça o favor de conversar com o pirralho que você chama de filho, não quero ele pondo tudo a perder. Se ele estragar alguma coisa, eu juro que não me responsabilizo pelo que faço depois.
- Deixe ele em paz!
- Você já está avisada Maya.
Benjamin Padovanne
Mais uma vez ali, naquela praia com os girassóis. O clima pós-chuva pairava, o ambiente não estava tão triste como antes, mas ainda não estava como da primeira vez. O que indica que ela ainda não melhorou.
Começo a procurá-la pela praia e vejo seu corpo sentado na areia mais a frente. Ela estava alheia a mim olhando para o mar, enquanto seus dedos brincavam com a areia ao seu lado. Sorrio e corro até ela, que só me nota quando me sento ao seu lado.
- Oi - digo sem saber muito o que dizer.
A presença dessa mulher me intriga e eu ainda não consigo entender esse efeito que ela tem sobre mim. Sinto uma vontade imensa de conhecê-la, mas as perguntas parecem sair meio sem jeito ou até mesmo sumir quando tento realizá-las.
- Oi - diz ainda sem me encarar.
- Está tudo bem? – franzo a testa preocupado.
- Uhum - o fato de ela não ter nem me olhado estava me incomodando muito.
Eu quero encarar aqueles olhos cor de mel esverdeados brilhantes. Aqueles olhos tão bonitos e intrigantes, donos de segredos profundos e que não saem da minha mente.
- Por que está assim?
- Assim como?
- Você está me ignorando? Eu te fiz alguma coisa?
- Não sei do que está falando, estou normal.
- Então por que não me encara? Não me olha nos olhos?
- Não é nada - começa a se distrair com a areia, mas eu coloco minha mão delicadamente em seu queixo e levanto seu rosto em minha direção.
Foi nesse momento que sinto meu corpo gelar. O seu outro olho, o que eu não conseguia ver porque ela não me encarava de frente, estava roxo. Tinham batido nela? Quem fez isso?
- O que aconteceu? - vou com a intenção de tocar a área roxa em seu rosto com minha outra mão, mas ela se afasta voltando a olhar para o mar.
- Não...
- Quem te fez isso?
- Não é importante agora.
- Você falou da última vez que "ele" estava vindo. Quem é ele? De quem você falava? Foi ele quem fez isso?
- Já disse que eu não quero falar sobre isso.
- Como você quer que eu reaja? Da última vez que te vi, você estava desesperada, agora está com um olho roxo...
- Eu caí, só isso.
- Não sou idiota. Se você não quer dizer a verdade, não posso te forçar. Só não mente na cara dura que essa mentira não cola – viro para o mar agoniado.
Eu estava preocupado, poxa! Um dia ela quer a minha ajuda, me abraça e chora em meus braços e no outro é uma pedra de gelo. Não gosto disso.
Ela se mostra magoada com o que eu disse e logo eu me arrependo de ter dito dessa maneira.
- Me desculpe, não queria ter falado dessa maneira.
- Mas falou.
- Eu só... Fiquei preocupado.
- Comigo? Você nem me conhece – ri sem graça.
- Não me peça pra explicar porque nem eu sei como falar disso. Mas me diga quem foi que fez isso com você? Aqui não tem ninguém te ouvindo, você está na minha cabeça. Até onde eu sei, não tem como se ler os sonhos dos outros sem que as pessoas contem por livre e espontânea vontade.
- Eu... – olha para as mãos nervosa.
- Confia em mim.
- Ta – ela respira fundo derrotada – Eu...
...
O som do meu despertador soa alto em meu ouvido me fazendo praguejar.
- Droga!
Levanto da cama contrariado. Merda! Bem na hora que ela ia me falar! Mas eu juro que da próxima ela não me escapa.
Mas por que eu estou tão interessado assim na história dessa mulher, hein? Qual o meu problema? Devo estar ficando louco de estar me importando com uma pessoa que nem sei se existe de verdade.
Maya Costa
- Meu amor, eu preciso conversar com você – digo colocando Théo sentado de frente para mim na cama assim que chegamos da escola.
- O que foi? Eu num apontei nada, eu julo – diz me fazendo rir.
- Não é isso meu pequeno, não vou reclamar com você.
- Então o que é?
- Uma pessoa vai vir pra cá pra casa e vai ficar aqui por alguns dias.
- Xélio?
- Sim, é o irmão do Leandro. Ele vai ficar aqui em casa e vai dormir aqui, nesse quarto.
- E a gente vai dumi ondi?
- Você vai continuar dormindo aqui pequeno, mas eu vou dormir no quarto do Leandro.
- Vuxê vai ficá cu homem mau? Mas ele vai te maxucá mamãe, eu num quelo – diz pulando da cama e me abraçando.
- Não meu bebê, ele não vai me machucar. E também, eu preciso que não o chame de homem mau na frente da pessoa que vai vir.
- Pu quê? Ele num é bom.
- Por que não é algo muito educado meu amor. Só por enquanto tá bom? Só por uns dias. Eu prometo que logo tudo vai voltar ao normal.
- E vuxê vai votá a dumi ati?
- Sim, a gente vai voltar a dormir juntinhos logo.
- E quano a gente vai votá pa atela casa cu a foesta munita?
- Não sei pequeno, acho que não vamos mais voltar para lá.
- Poxa, eu quelia i na pixina – faz bico.
- Um dia, quem sabe.
- Mamãe, exe moxo é legal?
- Não sei meu anjo. Assim como você, estarei o conhecendo pela primeira vez, então você me conta depois o que achou ok?
- Ok – faz o legal com o dedo.
O restante do dia foi normal e eu só tive que fazer um esforço maior para separar minhas coisas e deixar no canto do quarto de Leandro para o dia seguinte. Leandro me disse que o tal Vicente chegaria na hora do almoço, então teria até tempo de terminar de arrumar tudo amanhã pela manhã.
...
No dia seguinte, quando tinha acabado de chegar com Théo da escola, ouço a campainha tocar lá na sala. Pego Théo no colo e vou até a porta. As dores já tinham melhorado bastante e eu já não parecia tanto um zumbi ambulante.
- Ele chegou, lembre-se do que combinamos hein – digo para Théo antes de abrir a porta e ele assente em resposta.
Abro a porta e vejo Leandro do lado de um homem moreno, alto, cabelos escuros um tanto bagunçados, olhos escuros e uma barba bem feita. Ele me encara e dá um sorriso.
- Maya, esse é Vicente, meu irmão – Leandro diz sem muita emoção dando espaço para ele entrar.
Sorrio para ele, que me estende a mão. Aperto cumprimentando-o.
- E quem é esse garotão? – Vicente olha pra Théo.
- Esse é Théo, meu filho – digo e Théo esconde o rosto em meu pescoço com vergonha.
- Não sabia que tinha um filho Leandro. Na verdade, já vi que não sei de nada da sua vida – Vicente nos encarava ainda surpreso.
- Bom, eu também não tenho tido muitas notícias suas – Leandro responde.
Percebo que Leandro se mostra um tanto incomodado pela presença de Vicente. Não sei se é pela possibilidade de ele descobrir tudo o que ele faz ou se existe algum outro motivo maior para esse rancor por parte dele. Contudo, não sou ninguém para opinar, então continuo na minha.
- Pelo visto mamãe não sabe que tem um neto. Porque, se soubesse, com certeza, não estaria me cobrando um. Você deveria contar, ela iria adorar.
- A minha vida anda muito ocupada, não tenho tido muito tempo para falar sobre isso com eles. De vez em quando eu ligo para ela e converso um pouco.
- Querem algo para comer? – pergunto, quebrando o clima estranho que estava entre os dois.
- Acho que você pode servir o almoço – Leandro diz se sentando no sofá.
- Eu te ajudo, só me diga onde posso deixar minhas coisas.
- Claro, me acompanhe.
Ele me segue até o meu quarto e o de Théo.
- A casa não é muito grande, então espero que não se incomode de dividir o quarto com Théo – mordo o lado envergonhada.
A gente não tinha nem como dar privacidade para o cara, realmente não sei se ele ficaria confortável aqui.
- Eu sou o intruso aqui, certo? Então pra mim está tudo certo. Não quero incomodar.
Deixo Vicente arrumando suas coisas e vou pegar as coisas na cozinha para servir a mesa. Quando fica pronto, chamo todos para a mesa e sirvo.
- Então, me conte como se conheceram – Vicente parecia bem curioso e animado.
Totalmente o oposto de Leandro, que não demonstra ter muita paciência para responder todas as perguntas do irmão. Vicente parecia inocente e se esforçava para ser simpático com todos, mas só recebia respostas curtas e grossas de Leandro. Se ele queria que o nosso teatrinho de família feliz colasse, teria que se esforçar muito mais para fazer realidade.
Eu estava cumprindo a minha parte de boa anfitriã. Se o cara não acreditasse nessa mentira toda, a culpa não seria minha.
- Foi há três anos – Leandro diz se servindo - Eu a conheci quando estava resolvendo um caso na delegacia. Começamos a nos aproximar e cá estamos.
Queria eu que tivesse sido assim.
- Ah, então você continua trabalhando na polícia?
- Sim, nunca tive interesse em outra área, mas então, está tendo algum problema na empresa?
- Não, é que o papai está precisando de minha ajuda para participar de um processo de um amigo próximo e não tem como resolver. Creio que será coisa rápida, só estou aqui porque o cara queria alguém da família para resolver tudo.
- Ah.
- E você? Maya, certo? – assinto – O que faz?
- Am... Não tive a oportunidade de fazer faculdade, trabalhava em uma lanchonete, mas acabei saindo.
- Por que não fez faculdade? Não quis?
Não, porque o idiota do seu irmão me prende em casa e não me permite sair para fazer as minhas coisas.
- Na época que ia começar, fiquei grávida de Théo e preciso dedicar meus cuidados a ele por enquanto.
- Ele não pode ficar com uma babá?
- O menino nasceu com asma e bronquite crônicas, depende muito da presença da mãe em casa – Leandro responde sério.
Impressiono-me em saber que Leandro sabia quais eram os problemas de Théo. Para quem só pensa em jogar a criança em um sistema adotivo, ele estava sabendo até demais.
- Ele ainda tem muitas crises?
- Depende da época do ano. Porém, está bem melhor com os remédios e com a rotina indicada pelos médicos.
- Entendo, deve ser realmente muito difícil, mas espero que já esteja tudo certo. E você baixinho? Do que gosta?
- De vião.
- De avião? Nunca viu um de perto?
- Não, xó quano paxa no xéu.
- Eu acabei de vir de um. Um dia você tem que ver, é enorme.
- A mamãe me pometeu que ia me levá pa vê um dia – Théo diz e eu vejo Leandro me encarar irritado.
- É mesmo? Tenho certeza que você vai gostar bastante.
- Tamém.
Vicente olha de novo para mim e vejo suas sobrancelhas franzirem ao ver algo que aparentemente não tinha notado antes.
- Está tudo bem Maya? Seu pescoço está todo marcado.
Sinto meu corpo gelar e eu travo. O que eu diria a ele?
Maya Costa - Am... Não é nada demais – digo passando as mãos pelo meu pescoço e olho de lado para Leandro. Não tinha como esconder o meu nervosismo e nem como inventar que isso não foi nada, não sou boa com mentiras dessa forma. - Como não é nada demais? Leandro, alguém a machucou, você já descobriu quem fez? – Vicente encara Leandro sério.
Benjamin Padovanne - Eu sabia que você iria marcar esse jantar, só não imaginava que seria hoje Helena – digo após Helena aparecer me fazendo o convite para o tal jantar com seus pais e pedindo que eu convidasse a minha mãe para ir junto. A gente não tinha combinado de ir com calma? - Meu amor, meus pais estão doidos para te conhec
Maya Costa - Por que você não falou Maya? – Sophie quase grita do outro lado da linha – Era a sua chance! - Leandro me ameaçou, eu só conseguia pensar nas palavras dele sobre Théo quando tentei contar. - Você tem que tentar de novo e tem que falar dessa vez.
Vicente Guerra - Calma, isso tudo está muito confuso – tudo o que ela tinha me falado ecoava pela minha cabeça e me assustava. Eu desconfiava que tinha algo errado, desconfiava que Leandro poderia ter feito algo do tipo, porém não posso ser precipitado. Isso é caso de polícia e não uma briguinha simples. Entendo que ela é a melhor amiga de Maya, mas ainda preciso confirmar isso com a verdadeira vítima, que insistia em negar tudo. - Confuso como? Você mesmo a viu machucada, não viu?
Benjamin Padovanne A gente pode estar fazendo uma loucura das grandes, mas ele é o meu melhor amigo e poderia contar comigo, certo? Esse é o meu papel, não é? Não é como se fossemos roubar um banco ou outra coisa, era só uma ajuda a uma pessoa necessitada. - E então, vai me ajudar? – repete. - Claro que sim! – saio do transe - O qu
Maya Costa - Vicente, dá pra me dizer o que diabos é isso? – digo assim que ele atendeu minha chamada ao mesmo tempo em que olhava o frasquinho de remédio que tinha acabado de chegar à minha porta. Vicente disse que só faltava um detalhe para tudo dar certo, só não imaginei que fosse em um vidrinho de conta gotas. Benjamin Padovanne - Você está muito calado hoje. Aconteceu alguma coisa? – ela diz ao meu lado me encarando curiosa. Estávamos sentados na areia de frente para o mar. O dia estava ensolarado e a brisa marina estava fresca. O vento batia em seu rosto e fazia seus cabelos voarem para trás, deixando o seu rosto livre para ser admirado. &nbCAPÍTULO 15
Maya Costa - Théo... – digo sentindo minha garganta seca incomodando – Filho. - Calma – escuto uma voz estranha pedir – Se acalme e evite fazer esforço. Abro os olhos vendo que não sei onde estou. Levo as mãos à minha garganta enquanto sinto um incômodo. O homem parece perceber e me dá um copo com água.