Maya Costa
- Por que você não falou Maya? – Sophie quase grita do outro lado da linha – Era a sua chance!
- Leandro me ameaçou, eu só conseguia pensar nas palavras dele sobre Théo quando tentei contar.
- Você tem que tentar de novo e tem que falar dessa vez.
- Leandro agora está mais colado do que nunca em mim, não tenho como falar nada sem que ele desconfie.
- Vai me dizer que nessa semana que passou você não teve um segundo sozinha com Vicente?
- Não, Leandro deu um jeito de descobrir quais os horários que Vicente vai estar na empresa esses dias e está seguindo a mesma rotina na delegacia.
- Você tinha que ter contado tudo Maya...
- Sophie, Leandro tem todos os recursos a seu favor, até para conseguir a guarda de Théo!
- Claro que não! Sou testemunha contra isso e tenho certeza que existem mais pessoas percebendo, mesmo que vocês tentem esconder.
- Ele sabe muito bem que enquanto Théo estiver em perigo eu não saio, só está mexendo as coisas a seu favor.
- Você está sozinha em casa?
- Sim.
- Já vi que não vai dar pra você fazer nada, eu vou ter que te ajudar.
- Como? Não tem como você vir aqui.
- Você sabe quando é que esse Vicente vai embora?
- Parece que é daqui a três dias. Ele chegou a comentar que o caso está andando mais rápido do que esperava uma vez, mas não tenho certeza de nada.
- Então tenho que pensar em algo rápido.
- Sophie, da última vez que tentei algo foi horrível. Não deu certo e ele me bateu de novo.
- Calma...
- Não posso! Eu não consigo! É a vida do meu filho que está em risco. Se fosse só a minha, eu não resistiria tanto.
- Por isso estou pedindo que se acalme. Eu vou pensar em algo.
- Não temos tempo.
- Pode deixar, só tenho que arranjar um jeito de você ficar sozinha com esse Vicente.
- Se Leandro desconfiar e...
- Se eu desconfiar do quê? – a voz de Leandro atrás de mim me faz paralisar e meu corpo gela.
- Maya? Tem alguém aí? – Sophie fala preocupada e eu me viro ainda chocada.
Vejo Leandro encostado na porta do quarto de braços cruzados me olhando com raiva.
- Anda Maya, do que é que eu não posso desconfiar? – se aproxima devagar.
Benjamin Padovanne
- Você está fugindo de mim? – pergunto para a figura da mulher que tinha me intrigado tanto e que tinha sumido de repente dos meus sonhos por dois dias.
Tudo bem que eu não sonhava com ela antes e deveria achar que tudo estava voltando ao normal. Porém, é estranho quando você se acostuma depois de estar vivendo isso por dias consecutivos.
- Como? – diz virando-se de frente pra mim.
Como eu tinha sentido falta dela nos meus sonhos. Desde a última vez que a vi não tinha mais sonhado com ela. Assim como passou a aparecer de repente, ela se foi.
- Por que parei de sonhar com você?
- Acho que eu não tenho muito controle sobre isso. Afinal, posso ser só mais uma ilusão da sua cabeça.
- Não, acho que você sumiu para fugir da minha resposta.
- Que resposta? Acho que está ficando doido – começa a andar na direção oposta pelos girassóis, mas eu seguro seu braço e a puxo levemente em minha direção – Me solta! – puxa seu braço assustada e eu dou um passo para trás surpreso.
Ela pensou que eu ia a machucar?
- Da última vez fomos interrompidos, hoje eu quero saber por que você estava machucada daquele jeito? E não fuja, por favor.
- E-eu não sei do que está falando – tenta sair, mas me adianto e me coloco em sua frente. Levanto seu queixo e ela me encara triste.
- Claro que sabe.
- Me solta, por favor – vejo lágrimas surgirem em seus olhos e o medo em sua voz.
Ela tinha medo do que?
- Desculpa, eu só quero te ajudar – tiro minhas mãos dela - Não gostei de te ver machucada daquele jeito. Pode me contar!Aqui ninguém tem como te ouvir ou fazer nada, é a minha cabeça.
- Você quer mesmo saber?
- Quero.
- Tá, eu vou te mostrar.
- Mostrar?
- O que você está prestes a ver é uma parte da minha vida que quase ninguém sabe.
- Não quero te forçar a nada, só quero te ajudar.
- Eu sei – diz num suspiro.
- Vem – pega em minha mão e vai me puxando pelo campo.
Como um instante as flores começam a se acinzentar, murchar e morrer. O ambiente se torna frio, escuro e triste. Não estamos mais naquela praia maravilhosa, mas sim dentro de um corredor mal iluminado e sujo.
- EU DISSE QUE VOCÊ NÃO PODIA ABRIR A MERDA DESSA BOCA – essa voz de novo.
Viro-me buscando a mulher que não tem saído da minha cabeça nos últimos dias, mas ela já não está segurando minha mão.
- Você é mesmo uma vagabunda oferecida! – sons de tapas, murros, chutes e gemidos ecoam atrás da porta.
Abro a porta e vejo a mulher junto com um homem que eu não conheço. Ela estava encolhida no canto do chão, cheia de roxos e arranhões e ele estava em cima dela dando socos e chutes. Ela tentava abraçar seu corpo para se proteger dos golpes, mas não parecia adiantar muito.
- SAI DE CIMA DELA! – digo indo pra cima do cara – SOLTA ELA! – o empurro dali.
Ele até tenta vir pra cima de mim, mas revido sua aproximação com um soco. Depois que ele está desmaiado no chão, me agachei na frente dela a olhando preocupado.
- Eu... Eu sinto muito – pego nos dois lados do seu rosto e ela me encara chorando.
- Me desculpa...
- Você não tem por que se desculpar, ele é um covarde. Ninguém merece passar pelo que você está passando, ainda mais calada.
- Eu não tenho como sair disso. Eu até tento, mas não tem como.
- Desde quando você passa por isso?
- Há alguns anos... – meu Deus!
- Vem – tento fazê-la levantar, mas seu gemido de dor me alerta.
É claro que ela não conseguiria andar normalmente depois do que aquele desgraçado fez.
- Vem comigo – a pego no colo e sinto-a aninhar-se em meu peito. Seu corpo tremia tanto...
A sensação de tê-la ali comigo é maravilhosa. Sei que não a conheço, mas quero protegê-la. Se esse era um desafio que a minha mente estava pondo pra mim, pode ter certeza que eu aceito.
Maya Costa
- L-Leandro? Você...
- Eu quero saber com quem é que você estava falando, do que falava e porque eu não posso desconfiar.
- Não é nada, não se preocupe – falo nervosa tentando sair de perto dele, mas Leandro me puxa novamente pelo cabelo – AI! Por favor, não faça nada. Eu não fiz nada.
- NÃO FEZ NADA? VOCÊ SÓ FAZ DESOBEDECER QUALQUER ORDEM QUE EU TE DÊ!
- Leandro, calma...
- CALMA NADA!
- Maya? – dava pra ouvir o grito de Sophie pelo celular.
Leandro me encara furioso e arremessa o aparelho na parede, espatifando-o.
- Você tem certeza que tem amor à vida do seu precioso? Ou será que está morrendo de vontade de ver o pequeno Théo morto?
- Não, não, eu juro que não fiz nada!
- MENTIRA! – estapeia meu rosto e me chuta – Já vi que vou ter que te fazer ficar obediente de outra forma.
- O que você vai fazer?
- O que eu já deveria ter feito há muito tempo – vem em direção à cama desabotoando sua camisa.
- NÃO! DE NOVO NÃO! POR FAVOR! – saio da cama correndo em direção à porta.
Queria eu ter conseguido fugir.
- Nem pensar meu amor – me joga de volta na cama – Hoje vou te mostrar o quanto você me pertence e te fazer se arrepender por tudo de errado que tem feito esses dias. Quem sabe você não aprende a ser uma boa garota não é?
- Não! – dou uma joelhada entre suas pernas fazendo-o urrar e saio correndo do quarto.
- DESGRAÇADA, VOLTA AQUI!
Corro em direção ao meu "antigo" quarto para pegar Théo, porém Leandro me alcança antes que eu pudesse tocar a maçaneta.
- Quando eu digo que você é minha, é porque é minha! – me traz de volta pro quarto trancando a porta – Hoje, vamos nos lembrar de como foi que aquele pirralho apareceu no mundo. Mais uma vez vou te mostrar que fomos feitos um para o outro.
- VOCÊ PROMETEU QUE NUNCA MAIS FARIA AQUILO! POR FAVOR, NÃO! – me ajoelho à sua frente. Se tivesse que me humilhar para que aquilo não acontecesse novamente, me humilharia. Porém, o que recebo em troca são chutes e mais chutes.
- Tarde demais querida, venha aqui – me levanta puxando meu cabelo e me joga na cama novamente. Sinto minhas costelas arderem por causa dos machucados.
Leandro pega algum tipo de corda e prende minhas mãos na cabeceira da cama.
- Não grite, não fale nada, hoje eu vou te mostrar o que é que dá me desobedecer.
E eu que acreditava que isso nunca mais iria me acontecer, tive que aguentar. Mais uma vez estava sendo humilhada por Leandro da pior forma que qualquer pessoa possa imaginar. Se eu pudesse voltar no tempo, com certeza fugiria dele na primeira vez que colocasse os olhos em mim. Teria ido embora e não permitiria que me tocasse.
Sophie Suarez
Aquele desgraçado tinha chegado e, por isso, Maya parou de responder aos meus chamados. Tenho medo do que ele pode fazer com ela, tenho medo de perder Maya pra sempre por não ter feito nada. Eu tentei ajudá-la uma vez e não deu certo, mas tinha prometido a mim mesma que não deixaria de tentar novamente. Então, tenho que dar meu jeito.
Leandro Guerra iria pagar por cada dor que fez Maya passar!
Corro para o computador e começo a pesquisar sobre sua família. Se Maya não tinha como falar com Vicente, eu daria um empurrãozinho. Eu encontraria esse Vicente e faria o que tinha de ser feito.
...
No dia seguinte, depois de ter descoberto qual a empresa da família Guerra, acordo cedo e me arrumo para encontrar o tal Vicente.
- Bom dia, gostaria de falar com o advogado Vicente Guerra – digo para a recepcionista.
- A senhora tem horário marcado?
- Não – merda, esqueci desse detalhe.
- O doutor Vicente está temporariamente por aqui. Pelo que sei, é preciso ter hora marcada para falar com ele.
- Por favor, eu preciso muito falar com ele, pois é uma situação urgente. Pode, pelo menos, tentar?
- Qual o seu nome?
- Sophie Suarez e diga que estou aqui em nome de uma conhecida dele.
- Já adianto que não garanto nada – diz pegando o telefone.
Enquanto ela fala com alguém no telefone, fico pedindo mentalmente para que ele me recebesse. Sei que corro o risco de ele não acreditar em mim, mas eu não ficaria com o peso na consciência de não ter tentado.
- A senhora pode subir, a sala fica no décimo quinto andar. Lá você receberá as orientações.
- Muito obrigada! – vou até o elevador mais calma.
Uma parte do plano já tinha dado certo. Chego ao andar e falo com a secretária, que me pede para esperar em uma das cadeiras.
- Senhorita Suarez, pode vir - me chama.
Respiro fundo e a sigo até a sala. Espero que esse homem seja realmente bom do jeito que Maya se refere, pois nós duas precisamos do seu apoio para que ela possa ser salva.
- Bom dia Sr. Guerra – digo assim que entro na sala encontrando-o concentrado em alguns papéis.
- Bom dia Srt... – me encara e puta merda.
O cara é lindo!
- Suarez, Sophie Suarez – digo estendendo minha mão em sua direção para cumprimentá-lo.
- Me disseram que a senhorita está aqui em nome de um conhecido meu, posso saber de quem fala?
- Uma conhecida. Maya, conhece?
- Você conhece Maya? A esposa do meu irmão?
- Acho que terei que explicar muita coisa pro senhor, mas sim, a conheço. É a minha melhor amiga.
- Então, o que te trás aqui? – aponta para a cadeira na frente da sua mesa e me sento.
- Eu vim te pedir ajuda – ele franze as sobrancelhas – Maya está correndo perigo e eu não sei mais o que fazer para tirá-la debaixo do teto daquele desgraçado.
- Não estou entendendo onde a senhorita quer chegar com isso.
- Olha, há umas semanas atrás, antes de o senhor chegar ao Brasil, Maya trabalhava na lanchonete do meu pai. Ela era a melhor funcionária e sempre foi muito elogiada pelos clientes e pelos colegas de trabalho. De repente ela apareceu na sala do meu pai pedindo demissão alegando que seu filho precisava da presença dela.
- Théo? – assinto – Eu soube que ele tem problemas de saúde.
- Sim, mas esses problemas sempre foram muito bem controlados pelos medicamentos que tomava e Maya comentava comigo todos os dias sobre a evolução do menino. Esses medicamentos eram fornecidos pelo seu irmão, Leandro. Por isso, estranhei sua atitude, principalmente porque ela dizia que precisava do emprego para manter a ela e o filho.
- Mas por que ela tinha que se manter sozinha, se é casada com meu irmão?
- Eles não são casados.
- Agora eu já não entendo mais nada. Leandro mesmo a apresentou como sua esposa.
- Ele está forçando ela a cumprir esse teatrinho de família feliz para esconder a verdade. Eles não são casados, ele odeia Théo, não deixa que Maya saia da sua vida e ainda a agride. Você mesmo viu o pescoço dela todo roxo quando chegou.
- Como sabe disso?
- Ela me contou. Se duvida que sou amiga dela, essa foto aqui comprova – entrego uma foto minha e de Maya na época do colegial – E, se quiser, posso te mostrar meu histórico de ligações e mensagens, só não tenho foto dos machucados porque não ousei pedir para tirar.
- Não precisa... – ele encarava a foto ainda chocado – Me conte mais do que aconteceu naquela época.
- Então, ela pediu demissão, eu estranhei e fui conversar com ela. Eu falei que não acreditava no que ela tinha dito e a induzi a contar a verdade. Leandro já tinha causado algumas brigas por ciúmes idiota na lanchonete e eu já tinha visto Maya machucada algumas vezes, mas sempre se livrou com algumas desculpas. Eu nunca acreditava, mas ela não me dava espaço para comentar, porém naquele dia eu pressionei mais e dei a entender que já sabia de tudo, afinal não era tão difícil unir os pontos. Aí ela me contou que ele a agredia e que não tinha como sair de casa porque Théo precisava dos seus remédios.
- O salário dela não dava conta?
- Pelo que ela me disse, teria que escolher entre os remédios ou comida. Não tinha como ter os dois. Aí eu sugeri que ela fugisse comigo para a casa de uma tia minha mais afastada da cidade. Ela ficaria lá só pelo tempo que consigo passar em um internato fora do Brasil e depois sairíamos daqui.
- E por que não deu certo?
- Consegui tirá-la de casa e tudo, mas Leandro a rastreou e a trouxe de volta. O seu irmão é um monstro e eu não quero ver a minha amiga morta por causa dele. Por favor, me ajuda.
Vicente Guerra - Calma, isso tudo está muito confuso – tudo o que ela tinha me falado ecoava pela minha cabeça e me assustava. Eu desconfiava que tinha algo errado, desconfiava que Leandro poderia ter feito algo do tipo, porém não posso ser precipitado. Isso é caso de polícia e não uma briguinha simples. Entendo que ela é a melhor amiga de Maya, mas ainda preciso confirmar isso com a verdadeira vítima, que insistia em negar tudo. - Confuso como? Você mesmo a viu machucada, não viu?
Benjamin Padovanne A gente pode estar fazendo uma loucura das grandes, mas ele é o meu melhor amigo e poderia contar comigo, certo? Esse é o meu papel, não é? Não é como se fossemos roubar um banco ou outra coisa, era só uma ajuda a uma pessoa necessitada. - E então, vai me ajudar? – repete. - Claro que sim! – saio do transe - O qu
Maya Costa - Vicente, dá pra me dizer o que diabos é isso? – digo assim que ele atendeu minha chamada ao mesmo tempo em que olhava o frasquinho de remédio que tinha acabado de chegar à minha porta. Vicente disse que só faltava um detalhe para tudo dar certo, só não imaginei que fosse em um vidrinho de conta gotas. Benjamin Padovanne - Você está muito calado hoje. Aconteceu alguma coisa? – ela diz ao meu lado me encarando curiosa. Estávamos sentados na areia de frente para o mar. O dia estava ensolarado e a brisa marina estava fresca. O vento batia em seu rosto e fazia seus cabelos voarem para trás, deixando o seu rosto livre para ser admirado. &nbCAPÍTULO 15
Maya Costa - Théo... – digo sentindo minha garganta seca incomodando – Filho. - Calma – escuto uma voz estranha pedir – Se acalme e evite fazer esforço. Abro os olhos vendo que não sei onde estou. Levo as mãos à minha garganta enquanto sinto um incômodo. O homem parece perceber e me dá um copo com água.
Benjamin Padovanne Acordo na manhã seguinte... Quer dizer, abro os olhos na manhã seguinte, pois não consegui dormir direito a noite inteira. A minha ansiedade não me deixou engatar num sono profundo nem por um segundo, por isso já estava de pé muito antes do despertador sonhar em tocar. Deveria estar morrendo de cansaço, mas parecia que meu corpo estava ligado nos 220, pronto para uma maratona. Ela não sai da minha cabeça. O seu rosto delicado, seus cabelos
Maya Costa No dia seguinte, acordo com Théo pulando em minha maca. - Mamãe! Bum diaaa! Tá na hola de acoda! - Bom dia meu pequeno, ainda é cedo – digo vendo que ainda eram 6h da manhã – Por que está tão animado tão cedo? - Puque
Benjamin Padovanne - Então quer dizer que além de ser médico, bem sucedido e cozinhar bem, você também sabe fazer milagres? Eu pensava que teria que insistir muito mais para conseguir convencer Maya – Vicente diz quando tocamos no assunto do emprego de Maya no almoço. - Não fiz nada demais, apenas conversamos e consegui a convencer pela razão das coisas. Falei que era uma boa oportunidade de recomeçar e ainda garantir uma vida boa pra Théo, ela mesma percebeu o s