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Flor da meia-noite
Flor da meia-noite
Por: Dandelions
Flor da meia-noite 1

Sempre adorei a adrenalina de correr contra o tempo, sentir o vento acariciar meu rosto em alta velocidade. Hoje, porém estou presa num sonho. O alarme toca insuportavelmente, mas recuso-me a acordar. Não agora. Só mais uns minutos de sono, só mais um pouco de paz. O telemóvel vibra de novamente. Acordo, contrariada, e vejo que é a Ágata, a única amiga verdadeira entre uma multidão de falsos aliados.

— Hoje não, Ágata — murmuro, sabendo que ela vai ignorar.

Como esperado, começa a gritar como uma desvairada. Adoro a Ágata, mas o silêncio seria um dom que ela nunca terá.

— Sasha, houve uma corrida ontem!

Sento-me de repente. Como assim, uma corrida, eu não sabia? alcanço meu o tablet, minhas mãos tremem de raiva enquanto procuro notícias.

E lá está “Personatus”, o novo piloto que reina sobre as estradas da meia-noite. A minha estrada, a minha coroa

Quem é este idiota? Vou destruí-lo.

— Sasha, ele é incrível! — a voz de Ágata volta a invadir-me os ouvidos, o entusiasmo claro como cristal.

— Como sabe que é um homem? — pergunto, com o tom mais indiferente que consigo.

— Pela fisionomia, obviamente. Vê-se de longe! Tento não revirar os olhos aborrecida.

— O que faz uma futura cirurgiã numa corrida clandestina? — Tento esconder a irritação. Não preciso disto agora.

— Ah, amor, é bom explorar novos ambientes… — responde ela, displicente.

— Novos ambientes ou Theo?

— Prima, estou atrasada, conversamos mais tarde!

Reviro os olhos e desligo, preciso de me focar, faculdade, corro para á casa de banho, tento afastar o sono e a raiva. Ontem à noite terminei o meu trabalho de imagem publicitária, e devia chegar cedo a faculdade, mas claro que o destino tem outros planos.

— Filha! — A voz grave do meu pai, William D’Angelo, ecoa pelo corredor.

Perfeito, ele sempre aparece nos momentos certos para me enervar.

— Pai, precisa de uma namorada.

Ele finge que não ouviu e entrega-me um iogurte com cereais e uma maçã.

— Minha menina precisa ficar forte.

— Apaixonado? — A pergunta sai antes que eu possa travá-la. Ele está a ser estranhamente prestativo.

— Sim, tenho namorada.

Engasgo-me com o iogurte. Namorada? Ele está a brincar.

— Hoje temos um jantar com ela.

O quê? Jantar? Como se isso pudesse piorar…

— Ela tem um filho — acrescenta.

Ah, ótimo, como se fosse o detalhe que vai acalmar-me.

Já sem tempo para processar este drama, saio de casa, no carro, a irritação com a novidade vai crescendo. A faculdade fica a trinta minutos, mas parece que hoje tudo está a andar devagar demais. Estou no último ano e, nos anos anteriores estudei na Espanha, França e Estados Unidos, esta será a minha última paragem: Inglaterra.

Chego ao anfiteatro com o coração acelerado, estou atrasada para apresentar o meu trabalho o professor e novo, mas já começa com a reprimenda.

— Na minha aula, não permito atrasos.

Perfeito. Tento manter a calma, apesar da raiva latejar nas têmporas.

— Não foi minha intenção, professor…?

— Dominic Keen. Que mal levanta seus olhos do seu tablet.

Ótimo. Parece o tipo de pessoa que adora regras.

— Sasha D’Angelo, tem um seminário para apresentar.

Sua voz grave percorre meus tímpanos.

— Sim. Reviro os olhos, mas mantenho a voz serena.

Ele olha para o relógio, acusando-me sem palavras. — Está uma hora atrasada.

— O seminário começa às nove, professor — digo, com confiança.

— O meu horário diz outra coisa. Fala firme e distante.

—Não recebeu o email sobre a mudança do horário?

Se o tivesse recebido não estaria atrasada, génio.

— Óbvio que não. —Minha resposta sai com mais força do que esperava, o seu olhar gélido deixa claro que não devia ter dito aquilo.

— Posso apresentar? Todos no anfiteatro têm seus olhos em mim, aplausos para meu teatro gratuito.

A frieza dele é desconcertante, mas não me deixo intimidar. — Não vai apresentar, senhorita Sasha D’Angelo.

Claro que ele não deixa-me apresentar o seminário. Aceito a derrota e sento-me, não sou de perder tempo a discutir.

A aula decorre, e o nome que martela a minha cabeça é o mesmo “Personatus”. Cada colega parece estar a falar dele, idolatrá-lo é a nova arte.

Quando a aula termina, Dominic aborda-me.

— Sasha, na minha aula, precisa adaptar-se as regras.

Sorrio, sem emoção, e mantenho-me em silêncio. Palavras seriam um desperdício aqui.

Sou publicitária nos tempos livres, posso assim dizer, telemóvel toca pela quinta vez. Atenda Sasha a Melissa deve estar a ficar, louca.

— Melissa, diga que têm novidades. — Claro, o projeto novo foi enviado, encontramos a influencer que fala de dark romance. — Sasha, sem dúvida ela é perfeita para a publicidade.

Fico tranquila menos um dilema para preocupar-me. — Temos o fotografo? — Ágata escolheu o Theo Wilson. Fico em silêncio, Ágata sempre imprevisível. — Agora tenho a reunião com os representantes da empresa.

Entro no restaurante para uma reunião rápida. Os clientes aprovaram a nossa escolha de influenciadora digital para a campanha do novo carro, A conversa é aborrecida, como sempre, mas necessária. — Senhores vou retirar-me, tenham um almoço agradável. — Não ficará senhorita D’Angelo? — Podemos desfrutar de uma refeição futuramente. — O almoço é por conta do restaurante.

— Agradecemos, senhorita D’Angelo.

Quando saio, os olhos de alguém seguem-me.

— Linda sobrinha, não vai cumprimentar o teu tio favorito?

Milan. O irmão gémeo da minha mãe, corro para abraçá-lo.

— Tio Milan! Que surpresa boa.

— Sasha fica bem.

O telemóvel vibra. Felipe, atendo.

— Sasha, temos um problema com a roupa para a corrida.

Suspirei. Sempre há um problema.

— Cinza e preto não são mais as cores escolhidas.

A sério? —Cinza é a minha assinatura. — As coisas muda, seja adepta a mudança.

De volta á casa, coloco o meu vestido castanho simples. Não estou com disposição para nada elaborado. O jantar vai ser uma tortura. Quando desço, as vozes ecoam pela sala de jantar. O meu pai está a falar com… Dominic Keen? —O que este homem faz aqui?

— Ele é filho da Sophie — explica o meu pai, com o ar mais casual do mundo.

— É um prazer conhecê-la, Sasha — diz Sophie, estendendo a mão com um sorriso.

Ignoro-a.

O ar torna-se pesado na sala. Sinto o olhar de Dominic em mim, mas não dou importância. Vou sobreviver a esta noite, tal como sobrevivo a todas as outras batalhas.

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