De olhos fechados, rocei meu nariz pelo de Handora.
Sua forma corpórea estava sólida em meus braços, nós dois esparramados por uma cama, em um dos quartos do castelo. Bem longe de Keres e sua raiva. Eu havia lacrado o quarto para poder descansar um pouco e a figura dela já estava ali, me esperando como se estivesse estado presente o tempo todo. E era bem provável que sim.
Ela apertou meu braço e descansou a cabeça sobre meu ombro.
Fiquei alguns segundos, respirando o mesmo ar que aquela mulher sublime e estonteante. Para mim era completamente difícil registrar sua presença e acreditar que aquilo era real. Passei tanto tempo sofrendo, a dor de não tê-la me sufocando em ondas terríveis. Mas, como um milagr
Avancei sem temer o que viria à frente.Melahel disparou em uma reta, sem olhar para os lados enquanto os meus soldados topavam com os dele. Meu elo reluziu e comecei a correr, sem conter toda a fúria que carregava no peito por aquele anjo. Meu mundo resumiu aquilo e um foco entrou em ação, onde ele era minha atração principal. Ele não deixou a desejar assim que levantou as adagas, girando para investir contra mim em um jogo de corpo.Me desviei vendo pelos cantos dos olhos os outros, lutando bravamente contra os anjos, humanos sendo massacrados. Tive um vislumbre de Heron deslizando sobre a terra como um forte oponente e talvez tivesse subestimado o garoto de porte médio, mas que parecia um touro ao socar e chutar os que vinham pela frente. Kéres destilava gavinhas e vi at
Abri meus olhos e pisquei contra a luz do Sol intensa, mas amanteigada e suave. Esfreguei minhas pálpebras como se tivesse dormido por muito tempo, e talvez tivesse, dado ao fato de que mais uma vez eu havia morrido.Me sentei sobre um campo de alfazemas e me lembrei de ter estado ali em um sonho não muito antigo. Passei meu cabelo atrás das orelhas e olhei pelos lados sobre a campina extensa, tentando entender como exatamente vim parar aqui. Handora havia dito que assim que morresse nós partiríamos juntos, para que eu pudesse descansar com ela. Não imaginei que fosse naquele lugar, embora de qualquer jeito, estar com ela era tudo que eu mais queria.Uma figura surgiu no horizonte e sorri.Me levantei correndo e me senti leve, feliz e tranquilo. Notei que n
No Vazio, tudo era absolutamente nada. Uma rede de mentes interligadas, mas sem qualquer conexão ou corpos. Ali estavam para passar a mais absoluta cômoda e tediosa eternidade. Um rasgo na escuridão, trazendo luz inundou o que era tão monótono, um lugar onde raramente acontecia alguma coisa.Pela primeira vez um corpo foi dimensionado para dentro, tomando forma e calor. O homem desenhado pelo céu e criado pelo Inferno, invadiu aquele além obscuro, sendo jogado nu e sem entender o que estava acontecendo. Ele caiu de joelhos pelo chão plano, mas sem definição ou qualquer parâmetro de onde sua extensão começava ou terminava. Se pôs de pé, meio tonto e seus olhos não enxergavam muito a frente. O rasgo no horizonte rapidamente se fechou, a escuridão se tornando absoluta mesmo em seus olhos p
Abri os olhos e uma poeira granulosa estava grudada em minha pele, meus lábios ressecados, a garganta doendo de sede. Passei a mão pelos cabelos e caiu uma nuvem arenosa. Me sentei sob o chão e a luz do sol cegava meu rosto. Me levantei e tentei identificar onde estava.Árvores frondosas ficavam a longos metros atrás de mim, como uma pequena floresta. Um grande espaço aberto com terra seca amarela dava margens a um rio ou talvez uma bacia hidrográfica por seu tamanho expansivo. Confuso, percebi as marcas sulcadas no chão em linhas diagonais, desiguais e um tanto estranhas, de perto não tinha ideia do que as voltas poderiam se tornar.Mas, eu iria descobrir. Desenrolei minhas asas, que se abriram como um leque negro contra o sol intenso. Seus músculos se esticam, renovando as fibras de s
Não parei de voar durante horas e horas sem parar. Gastando toda a raiva e a perplexidade do que estava sendo obrigado a fazer. Aquele não era eu e estar sem saída com tudo que foi jogado sobre meus ombros, me deixava fora de si.Como se não bastasse, não conseguia ouvir meu demônio, se afinal de contas minha natureza angélica tinha voltado em alguns sentidos, isso teria sido cortado em questão de segundos. Anjos não possuíam bestas interiores querendo sangue e morte. Mas, não precisava disso para sentenciar quem havia me colocado nessa barganha desgraçada. Porque a Morte e Lúcifer eram peões nesse jogo estranho onde eu era a peça mais movida, como um brinquedo estúpido.Eu não tinha ideia de como começar a descobrir o causado
Levou algumas horas para que realmente partíssemos atrás de Handora.Com uma habilidade artística incrível, Kendra falsificou alguns documentos e passaporte, para que eu de alguma forma pudesse retomar minha vida. E eram tão bons quanto os verdadeiros, que poderiam ser encarados como falsos e não aqueles que ela havia me entregado. Explicou que precisou aprimorar os negócios e investir dinheiro que realmente trazia lucros. Ri quando jamais imaginei a irmãzinha de Ruanda e Handora, promovendo documentos ilegais, assim como outras coisas.Pela internet e algumas ligações, consegui acesso as minhas contas antigas de dinheiro e os números haviam crescido pelas ações que eu movimentava antes. A caminho do aeroporto, passamos em um shopping e providenciei algumas ro
Encostado na mureta feita de pedras cinzas, observei o sol que começava a nascer.O mar quebrava no rochedo lá embaixo, azul escuro e tão gelado quanto minha alma estava ao lembrar do que havia feito.Não me arrependo nenhum segundo de ficar com a irmã de Handora. A doçura dela terminava, quando tirei a última peça de sua roupa e a reverenciei com cada parte de minha língua, mais tarde com o próprio corpo, de um modo que seus gemidos ecoavam pelas paredes daquele lugar abandonado.Por dentro, não ouvi meu demônio reclamar dessa bobagem. Estava começando a desconfiar que nem mesmo me transformava. Tive que admitir para mim mesmo, que ontem não havia tentado, ao bater de frente com aquelas bestas por ter
Levantei meu queixo e não esperei para ver o que ela diria, bati minhas asas com força e saí dali o mais rápido que conseguiria. As palavras retumbando em minha cabeça desnorteada pelo que acabara de acontecer.As sombras ainda circulavam ao meu redor como fumaças negras estranhas e elas sibilavam com o silvo do vento. Não sabia para onde estava indo, apenas queria ir para qualquer lugar longe dali. E apressei minhas asas, batendo-as como um relâmpago invisível e hostil. Passei pelo mar e por várias e várias terras, enfrentando rajadas de nuvens escuras pela chuva, que estava começando a cair e teria que dar uma parada caso piorasse.Ouvi um trovão soar ao longe e desci para baixo, sobrevoando uma planície terrena arborizada e não tinha ideia de o