Levantei meu queixo e não esperei para ver o que ela diria, bati minhas asas com força e saí dali o mais rápido que conseguiria. As palavras retumbando em minha cabeça desnorteada pelo que acabara de acontecer.
As sombras ainda circulavam ao meu redor como fumaças negras estranhas e elas sibilavam com o silvo do vento. Não sabia para onde estava indo, apenas queria ir para qualquer lugar longe dali. E apressei minhas asas, batendo-as como um relâmpago invisível e hostil. Passei pelo mar e por várias e várias terras, enfrentando rajadas de nuvens escuras pela chuva, que estava começando a cair e teria que dar uma parada caso piorasse.
Ouvi um trovão soar ao longe e desci para baixo, sobrevoando uma planície terrena arborizada e não tinha ideia de onde estava. Duas gavinhas se enrolaram em volta de meu pescoço, quentes e sussurravam baixo, como vozes sopranas incoerentes. Elas pareciam alertar sobre alguma coisa e o cheiro doce, tão doce como algodão preencheu meu nariz, que não contive o rosnado ao notar que estava sendo seguido por anjos.
Não ousei olhar para trás e decidi parar, para enfrentar qualquer que fosse a ameaça. Pousei, as minhas asas fazendo contornos em um prado extenso sem qualquer civilização por perto. Meus pés sentiram a grama fofa enquanto caminhava e não demorou segundos. Três figuras com vestes brancas, pararam como cometas poucos metros à frente e minha aura obscura não havia mudado. O elo ainda fazia caricias em meu cabelo, minhas gavinhas expandidas por mim. Se enrolando em meus braços, pernas, pela auréola e asas. As trevas em forma humana.
Eram dois homens e uma mulher no meio, tomando a postura de líder. O rosto cheio de prepotência como Melahel sempre foi. Odiava pensar sobre ele.
- Você se transformou em um poço de coisas sujas. Literalmente. - ela apontou para minhas roupas tão imundas. O sangue seco craquelando em minha pele em cima das novas marcas.
Não falei nada. Não tinha o que falar. Meu elo reluziu mais, talvez reagisse conforme minha raiva, que aumentava a cada segundo.
- Você é uma piada para ser chamado de anjo novamente. - um dos homens de trás disse.
A miríade de escuridão enroladas como cobras avançaram para o chão e levantei um dos braços para pegar meu elo. Ele vibrou em minha mão tão sedento por morte quanto aquele que o impunha.
- Não sou um anjo. - minha voz saiu em ondas sonoras terríveis e grossas como um grave profano ecoando por vários metros, muito mais intensa do que um cantor gótico de rock.
Eles se entreolharam, analisando cada detalhe do que eu aparentava e a mulher da frente, sussurrou para os dois. A voz dela soando em meu ouvido, copiada e traduzida pela gavinha que se enroscava em meu pescoço.
- Vocês sabem o que ele é? É pior do que o informante nos disse. - ela mal movia os lábios pela rapidez do que dizia.
Os três me encararam e tive a sensação do que fazer, levantei os braços e apontei para os dois homens. As cobras sombrias correram para eles, loucas por sangue e fiquei olhando, quando elas pegaram ambos em segundos, se enrolando por seus corpos e apertando, dando um bote tão abrupto, que ouvi os ossos sendo triturados e esmagados em um piscar de olhos. Minha expressão impassível não se alterou e a ira cintilou pela mulher. Ela puxou duas lâminas gêmeas prateadas, provavelmente do arsenal do Céu.
- Nós iremos te punir pelo que fez com aquele vilarejo. - ela gritou.
Ergui uma sobrancelha.
- Você pode tentar. - minha voz rugiu em grave e não me movi.
Ela apontou as asas para trás e disparou uma corrida contra mim.
O anjo pulou investindo suas lâminas em minha jugular. Ergui o elo e ele cruzou com elas, soltando um estrondo ensurdecedor, que era como os raios caindo no horizonte. Forcei minha arma contra a dela e minha força foi superior, ela gemeu de raiva e soquei seu rosto. O anjo caiu da minha frente e joguei meu elo, com ele retornando para seu posto acima de minha cabeça e chutei-a sem precisar de qualquer outro instrumento que não fosse o corpo. De algum jeito a potência com que movia meus membros era duas vezes mais do que antes e afundei o pé em seu estômago.
- Você será caçado até seus últimos dias, Deus Hadria. - ela sussurrou, em soluços pelo ar que mal respirava.
Ergui as sobrancelhas diante daquele nome estranho. Mas, não perguntei de onde ela tinha tirado aquilo. Simplesmente me coloquei de joelhos e peguei as lâminas caídas no chão ao seu lado. Ela se debateu quando peguei suas mãos, erguendo seus braços e prendi, pregando uma lâmina em seus pulsos e automaticamente prendendo-a na grama. O anjo gritou alto em meus ouvidos.
- Isso é o que vai acontecer com cada um de vocês que me caçar. - falei, com o abismo negro em meus olhos.
Com a lâmina restante, de brutalidade que me dominava, inseri em sua garganta duas vezes e ela não teve tempo de gritar novamente com um último golpe em seu coração e deixei a lâmina ali. Um recado para quem os procurasse, assim como os irmãos dela, tortos e sem vida a poucos metros de distância.
Respirei fundo e bati minhas roupas.
Como estivera ocupado, não senti a presença da criatura que estava me observando e bateu palmas, como um espectador fanático. Me virei para trás e Lúcifer estava escondido sob uma árvore baixa e sorriu como um lobo, ávido ao ver o sangue do anjo em minhas mãos. Ele saiu de seu posto e andou a passos lentos, tão animados.
- Você sem dúvida é o mais querido de meus filhos. - ele disse, abrindo um grande sorriso.
Cruzei os braços, não olhando as sombras ou as tatuagens ou todo aquele sangue fresco.
- Anjo Azazyel… Demônio Heron… Deus Hadria. - ele mencionou como se fossem títulos.
Continuei em silêncio e esperei o rei do Inferno terminar seu texto.
- Enquanto Melahel brinca de casinha com um novo anjo… Você se transformou em um Deus. - ele colocou as mãos no bolso do terno branco. Lúcifer odiava cores escuras. Cômico até. - Hadria significa escuridão. Bem, colocado você não acha? Simplesmente é perfeito. Sabe, fiquei me perguntando como seria quando você soubesse que a mulher que você mais amou, se destruiu pela paz. Uma sobrinha muito talentosa. Sua fúria abriu um abismo de poder tão profundo que praticamente obrigou sua força, sua natureza ir contra o pacto que fizemos. O que estava tornando-o quase anjo. E você não quis isso. Poderia alcançar a luz. Mas, você abriu mão e abraçou sua escuridão. - ele assentiu. - Eu tenho orgulho de você.
Lúcifer parou diante de mim e segurou meu queixo.
- Você irá conquistar o mundo. - sua boca se aproximou da minha e ele sorriu.
Joguei meu rosto de lado e me afastei dele.
- Não quero nada disso. Não foi minha intenção. Não tenho interesse. - minha voz estava em tom normal, mas tinha um eco grave, intenso.
Ele me olhou fixamente.
- Você pode não ter escolha. - Lúcifer inclinou a cabeça para o lado. - Ainda temos um pacto. Você caçará para mim e irá levar monstros para a Morte. Mas, sabe, acho que posso dar paradeiros de coisas bem mais fortes. Olha para você, filho. Você é um Deus. Tem noção do poder que há em você? - seus olhos brilharam com cobiça.
Ergui um dedo para ele e uma gavinha se enrolou ali, apontando o rabo para Lúcifer como se estivesse para dar o bote.
- Estou sendo obrigado a fazer isso. E irei cumprir porque sei o que um pacto requer. Mas, sou livre. Não um bichinho para você se gabar, Lúcifer.
Ele riu, ignorando-me.
- Nós do submundo estamos felizes por sua transgressão. E quero comemorar isso da melhor forma. O que acha de uma festa em um dos meus palácios? - o sorriso se abriu mais.
Suspirei, frio e cansado.
- Tenho outra escolha?
***
O covil de Lúcifer poderia ser muito bem uma cidade inteira.
Localizado em uma montanha distante, em um conjunto de cordilheiras entre a Polônia e a Eslováquia, no mais alto dos Cárpatos, uma monstruosidade gótica se erguia em infinitas torres pontiagudas, que pareciam perfurar o céu. Nos picos gelados, algumas ficavam tão altas que encontravam leve brumas e construída em um material reluzente tão negro quanto a escuridão que me rodeava como pequenas cobras, poderia dizer que era até mesmo onix, a mansão, quase castelo tomava grande parte daquele lugar. Embora ficasse escondida por magia tão antiga quanto o próprio Lúcifer, que mais parecia o conde Drácula, diante daquela propriedade infindável.
Pessoalmente, ele me levou até um dos aposentos, que era um andar inteiro de uma das torres mais íngremes e com uma vista estonteante, para que eu pudesse me lavar e então me arrumar. Cedendo alguns ternos caros de sua coleção pessoal e estavam pendurados em cabides próximo da banheira onde repousava nesse momento.
As gavinhas estavam enroladas por minhas pernas, antebraços e em meu elo dourado. Escondi minhas asas para poder tomar banho e olhei as runas novas tão delicadas, mas hostis para quem visse de fora e achei que não precisasse mascará-las como antes, dessa vez significam tudo que eu tinha me tornado. Mesmo que fosse um ser frio, tão gelado como a Morte e insensível com qualquer coisa que fosse.
Não queria me aprofundar em pensamentos para dizer se aquilo era uma fase do luto ou da dor que eu havia vestido como uma roupa, que serviu de base para minha explosão e minha crueldade. Não me arrependia das mortes nem dos gritos, nem do sacrilégio que havia feito com aqueles anjos. Nada me importava o suficiente para ser realmente algo meramente interessante.
Havia recebido mensagens de Kendra, pedindo desculpas pelo soco, mas querendo saber como eu estava, pois a preocupação não deixava sua cabeça. Ignorei e deixei o celular dentro de uma gaveta com minhas poucas roupas, documentos e cartões.
Afundei minha cabeça na água cheia de espuma e segurei a respiração por vários minutos, antes de surgir novamente sobre a superfície. Tinha plena consciência de que não estava lidando com a morte dela. Não estava passando por cima daquilo. Estava enterrando em meu peito, em meu coração podre e destruído, deixando que isso me definisse. E no fundo, que fosse. Preferia a letargia considerável do que a dor excruciante, que às vezes acontecia de submergir a poucos intervalos, como um despertador maldito. Lembrava de seu sorriso. De seus gemidos. Da sua pele quente. Mas, nunca queria lembrar de seus olhos. Eu os amei mais do que qualquer outra coisa.
Balancei a cabeça, tentando pensar em outras coisas e peguei uma toalha da mesinha de ferro antiga ao lado da banheira. Enrolei em minha cintura definida e caminhei até um espelho enorme com bordas delicadas e esculpidas. Meu cabelo pesava molhado pouco abaixo de minha clavícula e de alguma forma me incomodou como nunca antes. O cabelo comprido era uma marca que eu usava desde os primórdios. Ao lado do espelho, um kit masculino, com tesouras, barbeador, creme de barbear, gillette, óleo hidratante, creme corporal, desodorante e mais alguns itens novos estavam disponíveis.
Com o auxílio de uma tesoura cortei meu cabelo até a altura do nariz e com a maquininha fiz perfeitamente o pézinho, ajeitando o cabelo na nuca mais curto, em degradê. Me lembrei do nome do corte, que era Pompadour. Minha barba estava rala e apenas fiz o desenho dela ajustando ao corte.
Ainda não havia me visto e era aterrorizante.
Sob a luz, observei meu corpo nu e as runas que desciam pelos braços, laterais da costela até o quadril, mascavam meu peito até o centro e atrás, se enrolavam como uma espiral por minha coluna. As gavinhas sempre presentes, tremulavam em expectativa pelo o que aquela festa significaria, enroladas nos braços e pernas. O elo ali, flutuante e sobrenatural tinha um brilho fosco, toldado pela escuridão tênue. Meus olhos antes castanhos escuros humanos, estavam completamente negros, como um demônio, mas os contornos de minha face haviam se tornado mais assimétricos e ligeiramente pontiagudos, como algo pronunciado, belo e letal. Deixando de ser, de fato, humano e se tornando glorioso.
O corpo ainda era poderoso, forte e musculoso, mas não me importei com absolutamente nada. Apenas admirei o corte exato, me tornando ainda mais sombrio.
Coloquei um terno totalmente preto em seu conjunto e as lapelas do blazer eram feitas com linhas prateadas em um bordado requintado. Arrumei o cabelo para trás e coloquei um pouco de perfume na base do pescoço e nos pulsos. Passei o óleo hidratante na barba rala, que dava um cheiro masculino e marcante.
Assim que estava pronto, desci para o salão onde estava decorado para a festa. Lúcifer havia me dado instruções específicas e abri minhas asas, que se desenrolaram por entradas invisíveis do terno, me sentindo mais leve e assumindo uma postura mais terrível, brutal.
Eu não deveria esperar menos de Lúcifer assim que cheguei no extenso e panorâmico salão.
As paredes, colunas e até mesmo o piso, aos fundos eram negras em um mármore luxuoso. Havia dosséis pendurados em tons mais variados de preto e vermelho. Castiçais e velas pretas estavam pendurados e colocados em pontos estratégicos de iluminação, formando algo sensual. Mesas espalhadas por vários lugares, traziam sangue em taças de ouro, assim como vinho e whisky. Uma variação do cardápio luxuoso, com canapés de camarão e outras coisas que não vi. Música dramática soava em uma voz feminina tão sexy, que um arrepio subiu por minha coluna, pude jurar que ouvi um arreganhar de dentes de meu demônio interior.
Demônios dançavam em meio a dançarinas eróticas vestidas com tiras pretas. Reconheci alguns rostos, mas não me dei ao trabalho de comprimentar. Os olhos se arregalaram quando passei entre os corpos. E então notei, em um patamar mais alto, acima de todos um altar se erguia com velas mais proeminentes e um trono fixado ao chão, feito de material onix - o mesmo da mansão - com lindos arabescos e redemoinhos entalhados em sua superfície, tinha um confortável assento macio de veludo.
Ergui as sobrancelhas e parei ao primeiro degrau dele. Lúcifer surgiu ao meu lado.
- Senhor das Trevas, permita-me que você tenha seu humilde trono. - ele fez uma mesura e apontou para o trono.
Encarei-o, não me importando com cem demônios espalhados pelo evento.
- O que é tudo isso? - indiquei com o nariz aquela palhaçada.
Ele sorriu, ajeitando o terno de risca cinza.
- Você é o mais primoroso Deus. - ele disse como se fosse óbvio, passou o braço por meus ombros e subiu comigo para aquele patamar, me colocando de frente com todos, que nos olhavam nada amigáveis, mas submissos. - Ainda não entendeu? O poder que emana de você, muitos matariam para ter. Nós temos um pacto e sobre ele quero oferecer conforto e estadia como merece. Com a obscuridade em seu encalço você se torna mais forte que qualquer um, dominante em todas as naturezas, povos que servem ao Inferno e seres malditos que a ele pertencem. Por isso, quero oferecer um lugar ao meu lado.
Olhei em seus olhos e vi, o que ele não queria mostrar.
Meu Pai, Deus proveniente de todas as coisas era o Senhor da existência. Mas, abaixo dele existiam Deuses menores, como inferiores a Sua onipresença, no entanto que não deixavam a desejar
em poder e donos de causas ou estâncias como Senhores daquilo. Como novo Deus inferior ao Maior, mas ainda que forte, os demônios eram meus, assim como as criaturas más e até mesmo os anjos caídos. Unificando todos e tornando um só. Onde eu era unânime como Senhor superior a qualquer um. Mesmo Lúcifer. Mesmo a entidade Morte, que tinha seu dom, mas não igualada a mim.
E Lúcifer estava morrendo de medo de perder o trono. Só que eu não tinha qualquer interesse naquilo. Eu jogaria o jogo dele de aliado, até mesmo porque tinha uma barganha para saldar. Fiquei pensando em quando me cansaria dos joguinhos dele.
Assenti as suas palavras e me sentei no confortável trono, com uma pose imperiosa e tediosa.
Um por um os demônios se curvaram e se colocaram de joelhos. Deveria fazer alguma diferença isso? Mas, para mim não fez. Simplesmente continuei com a mesma expressão e assim que se levantaram após Lúcifer curvar a cabeça, como uma reverência, ele sorriu, se virando para onde eu estava.
- Seja bem vindo, Hadria. - os dentes dele brilharam e ele estava pronto para arrancar a pele tatuada do meu pescoço.
Pela primeira vez em dias, abri um sorriso mortal.
- Obrigado.
Ele saiu, fechando a expressão, não segurando muito sua máscara e rapidamente se movendo entre os convidados. Observei-o até sumir e uma figura feminina de compridos cabelos pretos, se postou à minha frente, se curvando e levantando o rosto tão lindo.
- Senhor. - ela disse em uma voz rouca e íntima, como uma amante.
De imediato reconheci o rosto de Alloces. Um dos primeiros demônios a cair, como eu, há milênios atrás e ela havia ajudado, lutando pelos exércitos de Rimmon há duas décadas atrás.
Mas, mais que isso. Ela havia sido a minha primeira paixão.
Não consegui conter a expressão de surpresa.
- Alloces? - indaguei.
Ela endireitou a postura e observei seu corpo voluptuoso, cheio de curvas assim como os seios cheios, coxas grossas, a pele tão escura quanto a minha bronzeada e os cabelos tão escuros quanto as minhas asas, beirando sua cintura delineada por um vestido preto de seda longo e os olhos azuis tão claros quanto o céu sob o Sol.
Sua boca grossa sorriu de canto.
- Sim, sou eu. - ela disse alto e então abaixou a voz, falando tão minimamente que apenas eu entenderia. - Me tire para dançar, tenho informações que pode querer.
Olhei-a por dois segundos, seu olhar sério e fixo.
- Como você está encantadora. Poderia me dar a honra de dançar comigo? - exclamei, exuberante com os olhos cheios de segundas intenções assim como o sorriso.
Me levantei e estendi a mão, Alloces aceitou. Segurei suas mãos com delicadeza levando-a até um canto mais afastado, perto da outra entrada e abracei sua cintura, movendo seu corpo ao ritmo do meu. Afundei o rosto em seu cabelo cheiroso e macio, beijando a pele quente para que quem visse de fora, parecesse que estávamos flertando.
- O que está acontecendo? - indaguei em seu ouvido num sussurro.
Violinos esconderam nossa conversa e ela aproximou seus lábios de minha pele, fazendo o mesmo que eu.
- Não tenho muito tempo para conversar. Apenas segundos. Lúcifer quer a sua cabeça. Convocou outro Deus inferior para essa festa, ele vai fazer com que vocês duelem na frente de todos como um tipo de espetáculo. Não se deixe enganar pelos falsos sorrisos. Thanatos tem uma lança afiada e envenenada. Se tocá-lo mesmo você sendo quem for, o matará. Fique longe dela. Mais tarde passo em seu quarto para contar tudo. - ela murmurava tão rápido que as minhas gavinhas, afastadas de meus braços, que estavam por Alloces, rodearam meu pescoço repetindo pausadamente, como um rádio, que a frequência era destinada apenas a mim.
Assenti, meu rosto ficou colado ao dela e ela entendeu, levantando o rosto também como concordância e passei o nariz por sua bochecha.
- Você não mudou nada. - falei em tom normal, me movendo ao som de uma música complexa.
Girei seu corpo e ela retornou, se curvando em meus braços quase até o chão. Puxei-a de volta e apertei sua cintura. Meu demônio sorriu gostando da brincadeira.
- Você ficou ainda mais belo. - ela piscou.
A música acabou e na brecha entre outra, Lúcifer passou por nós, abriu um sorriso falso ao ver nós dois dançando e parou.
- Vocês formam algo magnífico. Me perdoe roubá-lo de você, minha doce Alloces, mas Hadria… Porque não vem conhecer um convidado especial? - ele ofereceu sua mão a mim.
Olhei para Alloces e beijei sua têmpora, indicando que ela ficasse tranquila.
Respirei fundo e segurei a mão do Diabo.
Caminhei ao lado de Lúcifer e todos os convidados pararam o que estavam fazendo enquanto atravessamos todo o salão, para um canto onde um rapaz estava encostado em uma estátua de mármore antiga. Ele era adulado por duas mulheres lindíssimas e sorria, cheio de graça. Meu semblante estava fechado e meu elo estava mais claro, as cobras sombrias enroladas em meus membros, prontas para atacar.Lúcifer abriu um sorriso e indicou o homem juvenil com o queixo.- Senhor da escuridão, conheça o Deus da noite Thanatos. - ele nos apresentou.Thanatos me encarou. Ele parecia mais angelical do que outrora meus irmãos do Paraíso. De uma beleza adorável e meiga, que um pintor renascentista morreria para pintar. Cachos ondulados pelo rosto fino
Senti braços femininos me apertando e segurei a vontade de vomitar.Sai da cama nu e olhei para Alloces deitada de qualquer jeito, o lençol de seda negra mal cobrindo suas intimidades. Ainda dá tempo de voltar atrás e reverter aquilo?Eu me odiava e odiava o que havia feito com Alloces. Não sucumbi como acontecera com Kendra, que foi de um modo carnal, sexual. Com Alloces era pura distração, para calar a boca da raiva, do ódio mortal que cintilava em meu peito ao pensar em Handora. Eu estava puto também com Lúcifer com toda aquela palhaçada e também não aceitaria de bom grado ser usado como boneco de cordas.Caminhei para o banheiro e me lavei. Esfregando com força a pele tatuada, que ficou vermelha sob a &a
Senti uma pressão no rosto, seguida de uma queimação. Acordei na hora. - Mas, que merda é essa? - gritei. Me sentei e estava sob uma samambaia alta. Meus olhos focaram em uma amazona loira e senti meu estômago ir lá no chão. Tudo que estava pensando, até o mais ínfimo pensamento desapareceu. Abri minha boca em um O gigante e faltou a baba escorrer ali. Mesmo depois de milênios de existência e conhecer milhões de mulheres, aquela diante de mim era a mais bela. De joelhos bem próxima, ela não era Handora. Parecida em alguns sentidos, mas ainda mais bela e angelical. Os cabelos rebeldes de um longo loiro tão claro como o trigo e suas sobrancelhas eram ainda mais claras. O rosto oval e bem fino, delicado como um cristal e uma pele pálida como a lu
Me afastei com tanta rapidez que cai para trás.- Merda. - xinguei e rosnei ao mesmo tempo.Passei os lábios pela dobra do braço e me levantei. Ouvi um riso e incrédulo olhei para Halldren que gargalhava sem parar.- Então é você… - ela ajeitou suas roupas e arrumou a calcinha entre as pernas. - Desconfiei pelo modo como meu pai tratou você. Só um macho ferido para tratar outro assim. É o Heron?Semicerrei os olhos.- Fui quando convivi com sua mãe. - admiti querendo entender onde aquela garota queria chegar.Ela se pôs de pé e cruzou os bra&cced
Nas duas semanas seguintes, passei a pesquisar alguns clãs com a ajuda de Ash, que tinha se mostrado uma incrível aliada. Mas, mais do que isso, uma excelente amiga. Nós bebíamos, contávamos histórias antigas e viajamos para os Estados Unidos onde provavelmente haveriam grupos que talvez quisessem se aliar ao nosso propósito. Eu sabia perfeitamente que um ataque direto em Alloces não daria certo. Porque seria como matar apenas uma abelha em um enxame inteiro agitado. Precisava dar o tiro correto para derrubá-la de uma vez só.Passei a evitar mulheres depois do episódio com Halldren e nós estávamos hospedados em um hotel em Washington. Voltei a ser alguém apresentável e não mais um bicho do mato como era desde que havia ressurgido. Então, havíamos voado e aproveitei para
Passei meus braços por Kendra deitado em minha cama. Ela estava em silêncio, depois de chorar algum tempo enquanto eu limpava a bagunça de Zahir. Depois dela tomar um banho, despejei meu sangue em um copo e entreguei para que ela bebesse. Ela se recusou, mas insisti pelo bebê. Aleguei que não deveria mais se alimentar de um animal, que força isso traria para meu filho?Kendra tomou e a depositei na minha cama para que dormisse. A gravidez deixava seu corpo suscetível ao sono e queria que ela descansasse. No entanto, ela me puxou e ficamos abraçados sem dizer nada.- Você ficou comigo por prazer, não é? - Kendra soltou, quebrando nosso clima quieto.Meu queixo estava repousado no
Ash parou na sala de reuniões ao meu lado. Ainda mancava, mas nós dois havíamos tomado um banho e trocado de roupa. Ela se posicionou ao meu lado e segurou meu braço, me dando apoio.- Você vai manter Halldren até quando naquela sala?- Não sei. - respondi com sinceridade.Arrumei meu cabelo e respirei fundo.- Vou buscar uma alternativa para isso. Mas, ela tem razão em querer a morte dessa maldita. Só que ela é apenas uma criança. Halldren ainda tem muito que viver para se colocar em coisas assim. Não quero vê-la misturada com tudo isso. - gesticulei para aquela sala onde seis demônios entrarão logo.<
O telefone tocou mais uma vez e desviei o olhar da porta, deslizando o dedo na tela de meu celular e atendendo. Caminhei para a sacada com uma vista panorâmica e impressionante dos Cárpatos. Ali havia um pequeno divã e me sentei. - Que merda você fez? - a voz de Kendra estava furiosa no telefone. Revirei os olhos. - Do que está falando? - murmurei. - Que porra você fez ao dormir com minha sobrinha?! - ela gritou. Fiquei alguns minutos em silêncio. - Você é mesmo inacreditável, Hadria. - ela entoou meu nome como um xingamento. - Melahel acabou de me ligar para