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Capítulo 02 — Juramento Inabalável.

P.D.V. de Raphael Stone.

Ao cruzar o portal mágico, cuja passagem foi aberta por Adama, minha bruxa conselheira, um arrepio percorreu meu corpo, uma sensação de reconhecimento, quase como se uma parte da minha alma voltasse ao lar. Com certeza, aquela sensação era devida a minha “ligação de almas” com Ravena.

O vale escondido do clã Ravem se estendia à minha frente, um lugar onde o impossível se tornava cotidiano, onde a beleza desafiava a realidade. Meu coração pulsava com ansiedade e expectativa sem tamanho! Quantos anos ansiei pelo reencontro com minha esposa? Eu estava tão inquieto...ansioso!

Deusa dai-me força!

Meu coração estava em uma montanha-russa de emoções quando Luckyan, meu genro, contou-me, com a ajuda de Adama, que após a vitória na batalha de Lyanna e Neverha, a minha esposa, a muito desaparecida, minha amada Ravena, tinha sido encontrada, e resgatada!

Deusa! Eu queria gritar! Meu lobo ansiava de ir imediatamente ao seu encontro...

Parecia um sonho, e eu me vi flutuando acima do meu corpo, quase incapaz de acreditar no que ouvia. Ravena tinha voltado para mim! Ela tinha voltado...

Mas a alegria inicial foi afogada em uma piscina de desespero e tristeza ao saber que Ravena, havia perdido suas memórias.

Aquela feiticeira malévola, e seus asseclas tinham usado seus encantos e fórmulas, deixando-a vazia, uma concha do que ela era, sem memória da vida que tínhamos juntos, do nosso amor...

Eu tive que deixá-la ir para o Reino dos Ravem, na esperança de que ali ela pudesse recuperar suas memórias, suas lembranças de nós dois, da nossa família. Foi a decisão mais difícil da minha vida! Mas, se havia a menor chance de ela se lembrar de mim, de nós, eu tinha que dar essa chance a ela...

Mas a distância, a ausência, estava me consumindo. Cada segundo longe dela era uma agonia, um tormento que eu não conseguia suportar mais.

Por isso, estou aqui...

 Cheguei ao Reino dos Ravem, para fazer o que for preciso para trazer as memórias de Ravena de volta. Vou mostrar a ela o significado que temos um para o outro, a importância da vida que compartilhamos. Eu não me importo com o quanto vai ser difícil ou o quanto vai doer. Eu a amo!

E vou lutar, mesmo que a luta seja contra a própria mente dela. Vou trazer minha amada de volta para mim, não importa o que aconteça. Vou mostrar a ela o amor que tivemos. O amor, que ainda podemos viver juntos!

Eu sentia o espírito do lobo dentro de mim, Rígil, inquieto, tão ansioso quanto eu. Ele uivava em minha mente, pedia para correr, para abraçar Ravena, nossa alma gêmea, o mais rápido possível. Ele sentia sua presença como eu sentia, a familiaridade, a conexão que atravessava espaço e tempo, a necessidade de protegê-la, de lembrá-la de nosso amor esquecido crescia.

Vinte e um, longos e duros anos, se passaram desde que Neverha, aquela m*****a, a aprisionou. As memórias do dia em que os lacaios de Neverha levaram Ravena, ainda me causavam um frio no estômago, a impotência daquele momento, a dor da perda...sua ausência.

Ah, mas a vingança por fim, veio pelas mãos da nossa filha!

Então, com a determinação alimentando cada passo, comecei a caminhar pelo vale. Ravena, minha querida, eu estava a caminho. Eu não iria descansar até que ela estivesse segura em meus braços novamente, até que ela se lembrasse do amor e paixão que compartilhamos, do lobo que ansiava por sua companhia...

Tantas saudades minha bela Luna...

Pensando desta forma, me dirigi ao castelo. Uma imponente construção de pedra cinza, erguida em meio a vasta floresta de ébano. As torres, altas e majestosas, perfuravam o céu cinzento com uma autoridade severa. Caminhei pela ponte levadiça, as portas enormes de madeira e ferro abertas em minha honra.

Fui recebido por guardas, seus rostos fechados e observadores, mas que estavam cientes da minha vinda. Eles eram homens robustos e pareciam prontos para a batalha a qualquer momento, suas armaduras magicas reluzindo sob a luz difusa do dia. Fizeram-me uma reverência cortês, e indicaram para que eu seguisse adiante.

O pátio do castelo estava silencioso, salvo pelos passos dos servos que corriam com suas tarefas. Logo, Irina, minha cunhada, e irmã mais nova de Ravena, veio até onde eu estava.

Ela surgiu das sombras do hall do castelo, vestida com uma túnica azul escura que fazia contraste com sua pele pálida e cabelos acobreados. Seus olhos verdes oliva, transmitiam segurança e compreensão, me examinando com curiosidade e, surpreendentemente, sem o desdém usual.

Nossa relação nunca foi muito próxima. Ela sempre foi a irmã protegida, criada na sombra de Ravena, alimentada com as histórias de sua irmã mais velha.

Contudo, depois de um período que ela passou em minha alcateia, algo em nossa relação mudou. Ela já não me olhava com suspeitas, mas com um tipo estranho de respeito. Ela se aproximou de mim, e eu pude ver que ela estava mais confiante. Em suas feições não havia mais a menina assustada, mas uma mulher que tinha aprendido a confiar em si mesma. E, aparentemente, a confiar também em minhas decisões e escolhas em relação a Ravena.

Nossos olhos se encontraram, e, em silêncio, Irina indicou o caminho para o salão principal. Respirei fundo, e passei a mãos entre os fios da minha cabelereira castanha, pensando no que me aguardava.

No corredor daquele lugar, onde buscávamos respostas para auxiliar a recuperação da dolorosa ausência das memórias de Ravena, começamos um diálogo.

— Como vai, Raphael? E todos da alcateia? — perguntou Irina com voz suave e compreensiva. Não era de surpreender que ela soubesse sobre minha ansiedade crescente pela distância de minha companheira, afinal, era difícil esconder meus sentimentos.

— Acredito que você saiba, Irina... estou extremamente ansioso com a falta de memórias em Ravena. É por isso que estou aqui, disposto a fazer tudo o que estiver ao meu alcance para auxiliar no retorno de suas lembranças, e deixei a alcateia sobre o olhar cuidadoso de Jerome e Anne — confessei sinceramente.

Irina fitou-me por um momento, seus olhos penetrantes pareciam vasculhar minha alma em busca de algo.

Ela tinha se tornado alguém que parecia conhecer a natureza mais íntima de cada ser ao seu redor. Finalmente, quebrou o silêncio, pronunciando palavras carregadas de cautela.

— Eu entendo sua ansiedade, Raphael, mas por favor, não a pressione. Ravena ainda está muito frágil emocionalmente — alertou Irina, preocupada com o bem-estar de sua irmã.

Essas palavras ressoaram em minha mente, fazendo-me perceber que, por mais que desejasse o retorno das memórias de Ravena, deveria respeitar o seu tempo e espaço. A pressa poderia causar danos irreparáveis em sua já fragilizada condição emocional.

Agradeci a Irina por sua compreensão e prometi agir com maior sensibilidade e paciência.

Era um desafio, pois a inquietação em meu coração era intensa, mas a muito, já tinha compreendido que o amor também significava apoiar e respeitar os limites do outro. Enquanto seguíamos pelo corredor sombrio, decidi que estaria ao lado de Ravena, como uma bússola que a guia através das sombras de sua própria mente.

E, com o auxílio de Irina, esperava que juntos pudéssemos ajudá-la a reconstruir o que quer que estivesse perdido em suas lembranças, permitindo que a luz da sua verdadeira identidade brilhasse novamente.

Ao final do longo e opulento corredor, estavam postados dois guardas imponentes. Suas armaduras cintilantes e escudos de aço imaculado refletiam a luminosidade das tochas que ardiam nas paredes, criando um espetáculo de sombras dançantes ao redor. Eles protegiam a única entrada para o grandioso salão onde a rainha Huína recebia seus súditos e convidados.

Engoli seco, tentando dissipar a ansiedade que se acumulavam em minha garganta. Mas eu mantinha minha decisão, eu tinha vindo para apoiá-la e protegê-la. 

Finalmente, depois do que pareceu uma eternidade, me encontrei diante dos enormes portões do salão. Os guardas me lançaram olhares de canto de olho, desconfiados, mas deram um passo para o lado, permitindo-me passar. Assim que entrei, meus olhos foram imediatamente atraídos para a figura da rainha Huína, sentada em seu trono de ouro e cristais mágicos. Sua majestade era forte, isso era inegável, mas seu olhar era frio e distante, e eu podia ver que ela mantinha reservas a minha presença.

Afinal, eu falhei com ela. Eu não consegui proteger o tesouro que ela confiou a mim no dia em que me uni a Ravena, sua preciosa primogênita. O peso daquela culpa, se enroscava em meu peito como uma serpente, sufocando-me, e o silêncio do salão parecia amplificar cada batimento do meu coração atormentado.

Mas eu estava ali, diante da rainha, pronto para enfrentar o julgamento que ela certamente me imporia. Eu sabia que não podia mudar o passado, mas estava determinado a reparar o que tinha sido perdido, a qualquer custo.

A atmosfera era densa. Olhando para a mulher diante de mim, sua aura forte e implacável emanava como um escudo invisível.

Ela me olhava com olhos cheios de determinação. O seu cabelo cinza com fios avermelhados, caíam em mechas delicadas sobre os ombros, e mostrava a sabedoria dos anos, e a graciosidade que ela carregava consigo.

Ela se sentava como uma verdadeira rainha, esperando que eu desse o primeiro passo.

— Raphael Stone...a muito ansiava pelo nosso encontro. — Ela começou, suas palavras pairando no ar como se tivessem vida própria — Confesso que antes não tinha intenção de recebê-lo. Mas as coisas mudaram.

 Ela continuou, cada palavra pronunciada com precisão e cautela. A forma como ela pronunciava meu nome, trazia consigo uma certa ironia, como se ela soubesse mais sobre mim do que eu mesmo.

— A minha amada neta Lyanna, intercedeu por você. E ao presenciar a mulher extraordinária que você criou e educou, mesmo longe de nós, me fez concordar com sua vinda. — Ela explicou, seus olhos suavizando levemente ao mencionar Lyanna. — Raphael, antes de iniciarmos essa conversa, preciso pedir algo a ti. É de suma importância que você me prometa, verdadeiramente, que não vai sobrecarregar Ravena com sua presença. Entendo que possa ter sentimentos ou intenções, mas é crucial que você respeite o espaço dela. Não a force a aceitá-lo, tampouco seus avanços. Cada um tem seu tempo e suas razões, e é fundamental que sejam respeitados. Lembre-se de que a melhor forma de construir qualquer relação é através da confiança e do respeito mútuo.

Senti uma onda de alívio, e pesar, ao ouvir aquelas palavras. Lyanna, a minha filha com Ravena, era o meu maior orgulho, e uma das razões pela qual eu estava ali. Para devolver a ela a sua mãe, já que eu não fui o único a sofrer com o sequestro de Ravena, por todos aqueles anos.

Mas, quando o pedido da Rainha, continuou e alcançou meus ouvidos, meu coração reagiu instantaneamente, como se uma agulha afiada tivesse penetrado fundo em meu peito.

A simples ideia de minha amada estar em um estado de fragilidade tão grande, ao ponto da rainha me pedi isso, me atingiu como um soco no estômago, uma sensação de impotência que fez meu próprio ser estremecer.

Cada palavra proferida pela Rainha parecia carregar consigo um peso que se refletia em meus pensamentos tumultuados.

Imaginar a figura radiante e forte que sempre conheci, agora reduzida à vulnerabilidade, era como contemplar a queda de uma estrela brilhante do céu noturno. O turbilhão de emoções que me invadiu era difícil de expressar com meras palavras; era uma mistura complexa de tristeza, preocupação e uma vontade feroz de protegê-la de todo mal.

Olhando diretamente nos olhos da rainha, falei com segurança.

— Minhas intenções são genuínas e verdadeiras. Eu vou me manter longe, e respeitar o seu espaço, o máximo que puder, mas sempre protegendo-a, mas, caso ela deseje se aproximar, eu não conseguirei afastá-la...estou a muitos anos esperando o seu retorno...que isso fique claro, rainha Huína.

         Ela me olhou fixamente, depois de um tempo, sinalizou com a cabeça.

Ela me entendia...

Olhando ao redor do salão não vi a minha amada, imediatamente senti sua ausência. Cada segundo que passava sem encontrá-la parecia uma eternidade, e meu coração batia descompassadamente no peito.

— Rainha Huína, onde está Ravena?...Por que ela não se encontra no salão?

Meus olhos encontraram os da rainha, seu olhar era como um espelho do meu próprio desconforto.

— Ravena tem o hábito de acordar cedo agora... — a rainha continuou, os olhos baixos, como se tentasse encontrar as palavras certas para dar sentido ao inexplicável. — Parece que o “dormir” a assusta... Devido ao tempo que ela ficou encarcerada no sono magico que Neverha a induziu.

O nome de Neverha causou um arrepio involuntário em minha pele. Aquela desgraçada! Ela tinha roubado vinte um anos, de convivência com a minha companheira, e por pouco, ela não tomou a vida da nossa filha.

— Neste momento, acredito que ela esteja perambulando pelo castelo, ou pelos arredores. — A rainha concluiu, olhando para mim como se esperasse minha reação.

Eu apenas assenti, tentando absorver todas as implicações.

— Se a senhora me permitir, desejo ir ao seu encontro o quanto antes. Eu e o meu lobo, já esperamos tempo demais, para senti sua presença. Mas dou minha palavra, que saberei respeitar, seus espaços e tempo...

A rainha Huína assentiu com a cabeça, liberando-me da formalidade tensa do salão real. Com um respeitoso inclinar de cabeça, afastei-me do trono e das figuras que o rodeavam.

À medida que a porta pesada se fechava atrás de mim, senti o peso da coroa diminuir em meus ombros, dando lugar a algo mais primal, mais verdadeiro para minha natureza.

Respirei fundo, enchendo meus pulmões com o ar fresco e limpo do corredor. O aroma de cera de abelha e incenso ficava mais fraco a cada passo que dava, substituído por outros cheiros que me chamavam. Eu estava em busca de “um” em particular, um cheiro que ocupava o fundo de minha mente e preenchia meu coração. Era um aroma delicado e feroz, doce e selvagem. O cheiro da minha companheira!

Quando o aroma inundou minhas narinas, senti uma excitação profunda correr por minhas veias, e meu lobo interior respondeu com um impulso ardente. Com o coração pulsando em meus ouvidos, comecei a correr pelo corredor, seguindo o rastro do cheiro que amava.

Era uma corrida descontrolada, nascida do desespero e da necessidade, precisava vê-la. O corredor se tornou uma mancha indistinta de cores e formas, apenas o aroma que perseguia permanecia real e constante.

Corri, não porque me ordenaram, não por dever ou honra, mas por amor. Um amor que queimava em meu peito, direcionando cada passo apressado, cada respiração ofegante. E eu sabia, de alguma forma sabia, que no fim desta corrida descontrolada, encontraria a única coisa que realmente importava neste mundo: minha companheira.

De repente, ecoa por entre as paredes de pedra fria da velha fortaleza Ravem ao longe a voz inconfundível de Emil, o primo de Ravena e de Irina.

Emil. Como poderia esquecer? Aquele que, em tempos passados, tinha sido o prometido de minha amada Ravena. Uma união determinada pelas velhas tradições do clã Ravem, mas sem um fio de amor verdadeiro.

Porém, o coração de Ravena nunca pulsou de verdade por Emil. O que ela sentia por ele era um carinho fraternal, uma ligação nascida de uma infância compartilhada, mas nada além disso. Nenhum sopro de paixão. Mas Emil... Oh, Emil nunca compartilhou da mesma perspectiva. Ele a desejava, aspirava por esse casamento mais do que qualquer outra coisa.

Mas o destino foi inevitável, a vida nos fez cruzar os olhares. Uma chama de paixão e desejo se acendeu, e nesse instante, soube que Ravena era a única mulher que eu poderia amar. A minha companheira destinada!

O ciúme de Emil, entretanto, floresceu feroz e selvagem como uma tempestade de verão. Ele tentou de tudo para nos separar, implorando até mesmo a intervenção do clã. E cada vez que o clã tentava nos separar, ela lutava. Lutava com a força de uma leoa, com a determinação de uma guerreira.

Ravena nunca foi uma mulher de se acovardar diante de desafios. Ela era tempestade e calmaria, fogo e gelo, a rocha inabalável contra a qual o mundo poderia bater, mas jamais quebrar.

Desse amor, desse desafio, nasceu nossa preciosa Lyanna. Uma flor ardente, nascida de duas almas que se amavam, além das expectativas e das adversidades.

Ao escutar a voz estridente de Emil, minha atenção foi roubada, não pelo som, mas pelo aroma pungente que permeava o ar - o cheiro inconfundível de medo.

Meus olhos correram imediatamente para a pessoa que estava com ele: a minha companheira.

Ravena estava imóvel, seus ombros tensos como se carregassem o peso do mundo, seus olhos, geralmente brilhantes, agora nublados e desprovidos de luz. Ela não se sentia confortável com ele.

Eu podia dizer isso pelo modo como o seu corpo se encolhia, como se quisesse desaparecer no nada, o modo como sua respiração parecia vacilante, hesitante. Não era difícil perceber sua inquietação, sua vulnerabilidade. Mesmo estando naquele terraço sob o céu infinito, ela parecia presa, encurralada.

Ao passar pela porta e adentrar aquele espaço, senti um estremecimento percorrer minha espinha. A proximidade de Emil era palpável, como um animal feroz espreitando sua presa, e a visão dos gestos trêmulos e hesitantes de Ravena me encheu de uma raiva surda e fervilhante.

O que aquela “espiga de milho” pensava que estava fazendo?

— Quem te deu permissão para tocar na minha mulher, espiga de milho? E claramente, ela não quer ser tocada. Contarei até cinco para você se afastar dela... Se não, arrancarei sua cabeça, desse seu corpo mirrado.

E foi assim que se iniciou a minha estadia na fortaleza Ravem. Para recuperar o amor da minha vida...

Aguarde querida! Este lobo te conquistará...de todas as formas!

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