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Capítulo 03 — Conexões Entrelaçadas.

P.D.V. de Ravena Ravem.

À medida que descia os corredores do palácio, os detalhes de ouro e marfim cintilavam sob os candelabros, provocando pequenos flashes de memórias que eu não conseguia colocar em ordem. O cheiro de lavanda me fazia pensar em minha mãe, Irina, e nas manhãs que passávamos juntas na sacada, observando o horizonte.

Emil, por sua vez, ainda era um mistério para mim. Seu nome surgia em minha mente como uma brisa suave, mas não conseguia conectar o seu rosto ou qualquer lembrança mais concreta, além da nossa infância e início da adolescência...

Raphael Stone. Esse nome me causava arrepios por todo corpo. Mesmo sem conseguir lembrar dele, uma sensação intensa de ligação e familiaridade me assaltava. Era estranho pensar que ele, alguém que eu não lembrava, pudesse ter tanta importância em minha vida. E a ideia de que tínhamos uma filha, Lyanna, era ainda mais desconcertante.

Eu não lembrava de nenhum deles...

Ao me aproximar da sala principal, ouvi sussurros e risadas suaves. Eram vozes que eu reconhecia, mas não conseguia associar a rostos. Respirei fundo e empurrei as portas maciças, entrando na sala. Lá estavam elas, as criadas.

Umas carregavam os segredos dos corredores há décadas, enquanto outras ainda estavam se acostumando com os murmúrios da fortaleza. Reunidas, olhavam pela janela para o pátio, seus rostos iluminados por um misto de espanto e admiração.

Aproximei-me furtivamente, me esgueirando entre os cantos escuros e os feixes de luz que cortavam o corredor, minha curiosidade tornando-se mais forte a cada passo. O que poderia atrair tanta atenção, a ponto de parar até mesmo as criadas mais velhas, aquelas que pareciam já ter visto de tudo?

Quando finalmente alcancei uma posição que me permitisse olhar para o pátio, meus olhos se arregalaram em surpresa e, confesso, um pouco de apreensão.

Raphael...

Meu coração bateu mais rápido, somente pela vista do seu torso musculoso reluzente de suor, agora entendia as criadas...

Deusa!... Que visão era aquela?

Ele estava lá, sem camisa, expondo uma pele que parecia refletir os últimos raios solares da manhã, transformando-os em dourado líquido sobre cada contorno e músculo definido. Sua calça jeans azul estava tão justa que parecia quase uma segunda pele, delineando cada curva e ângulo de suas pernas.

Mas o que realmente roubou minha atenção foi o grande machado que ele segurava. Com força e graça, ele rachava toras gigantescas, e cada movimento fluía como uma dança – uma dança selvagem e bruta, mas hipnoticamente bela.

A cada golpe, os músculos de seus braços, e costas trabalhavam em uníssono, uma demonstração de pura força e destreza.

Me escondi atrás de uma cortina, tentando recuperar o fôlego que havia sido roubado por aquela visão. Meus olhos fixos nele, minha mente se debatia em meio a um turbilhão de pensamentos.

O ar ao meu redor parecia ter sido sugado de meus pulmões no exato momento em que meus olhos encontraram aquela figura.

O sol do meio-dia brilhava com intensidade, mas, diante daquela visão, tudo parecia se ofuscar.

Meus lábios, antes úmidos pelo orvalho da manhã, agora pareciam rachar sob o peso da surpresa e da sede incontrolável. Um batimento cardíaco, que até então ritmava pacificamente o decorrer do meu dia, de repente tornou-se uma corrida frenética e descompassada dentro do meu peito.

O calor, que anteriormente me tocava como uma carícia suave do verão, de repente se tornou um vulcão, emanando de dentro para fora.

Eu estava no ápice do fervor. Minha mente, antes repleta de preocupações mundanas, agora era consumida por um único pensamento.

— Será possível, Oh Deusa, que a encarnação do pecado, escolheu este pátio para se revelar?

O vento brincava com seus cabelos, tornando-os uma tapeçaria viva de sombras e luz. Cada movimento que ele fazia parecia uma dança cuidadosamente coreografada, destinada a me enfeitiçar.

Eu, uma bruxa, estava agora cativa, presa em seu feitiço...

 Como pude esquecer aquele HOMEM?

Como tinha esquecido o calor de seu olhar, o timbre de sua voz, o toque de suas mãos? E, mais especificamente, como tinha esquecido daquele corpo. Eu já estive em seus braços? Afinal, tínhamos uma filha...

Deusa...eu realmente o amei? Então, como pude esquecê-lo?

Talvez os percalços da vida, com suas reviravoltas, tivessem me feito perder algumas páginas desse capítulo. Mas eu ansiava descobrir TUDO que foi perdido...eu não iria me entregar ao esquecimento.

Reuni coragem, respirei fundo e decidi me aproximar. Não sabia como ele reagiria, mas estava disposta a descobrir. Já tinha percebido, que ele se mantinha distante, mas eu sempre me surpreendia com a sua presença.

Aquela feiticeira m*****a. Ela havia roubado uma parte crucial da minha história, da minha essência. E agora, eu estava ali, confrontada com o passado em sua forma mais vívida e palpável.

Me aproximei da porta do pátio e ao atravessá-la me vi trespassada, pela emoção que sempre me atingia quando estava diante daquele homem, daqueles olhos, era uma mistura de anseio e desamparo, que faziam o meu coração acelerar.

O som contínuo do machado de Raphael contra a madeira era o único que rompia o silêncio, até que parou abruptamente.

Raphael ergueu os olhos, encontrando os meus. Havia um brilho de reconhecimento, uma faísca de surpresa. Ele parecia tão atordoado quanto eu. Suas mãos calejadas pelo trabalho árduo envolviam firmemente o cabo do instrumento. Seu olhar permanecia tão penetrante, que por um momento senti como se ele pudesse ver através de minha alma.

Mas, em meio à confusão, uma certeza emergia: estávamos conectados de uma forma que nem a magia mais potente poderia quebrar. E eu estava determinada a descobrir cada pedaço da história, que estava por trás daquele olhar.

Ele demorou mais do que eu teria imaginado para me avaliar, a pausa entre sua última machadada e seu cumprimento foi agonizantemente longa.

— Bom dia, minha bela Luna!... Dormiu bem? — Disse ele com uma voz rouca e profunda, mas com um toque de doçura que contrastava com sua aparência robusta, e tão descaradamente sensual.

Meu coração pulou uma batida. Era sempre assim. Sempre que ele se referia a mim como "minha bela Luna", algo em mim se revirava. Era uma sensação de pertencimento que eu não entendia, e muito menos lembrava de ter concordado com ela. De alguma forma, ele reivindicava algo que eu não recordava de ter dado.

Engoli em seco.

— Dormi bem, obrigada... E você?

Ele deu de ombros, limpando o suor da testa com o dorso do braço.

— Mal...eu ainda não estou dormindo ao seu lado— eu ruborizei com essas palavras, e ele concluiu — Como sempre. Só sonhando com o passado distante...

Seu olhar, desta vez, parecia distante, perdido em memórias.

Eu estava prestes a perguntar mais sobre esses sonhos, mas algo me deteve. Talvez fosse o medo de descobrir a verdade sobre nosso passado compartilhado, sobre essa conexão que ele parecia sentir tão intensamente, enquanto eu permanecia confusa.

Mas uma coisa era certa, a cada dia que passava, eu estava mais curiosa, mais envolvida, algo me puxava para Raphael.

De repente, como um eco vindo de além das sombras do corredor, a voz de Emil ressoou pelo ambiente, cortando o silêncio como uma lâmina afiada.

— Ravena...

Sua face, normalmente aberta e amigável, estava agora mascarada por uma expressão fechada e intensa. Seus olhos, penetrantes como aço polido, fixaram-se em mim com uma intensidade perturbadora.

— Ravena... estar na hora da nossa sessão de hipnose — A simples menção daquela palavra fez com que meu coração disparasse, uma mistura vertiginosa de ansiedade e apreensão.

Raphael soltou um leve rosnado. Não era a primeira vez, e eu já tinha percebido que isso acontecia com frequência na presença de Emil. Será que Raphael, não gostava de Emil? Seria um aviso? Ou apenas uma reação da sua mente dominante de lobo?

Concordando com a cabeça, me voltei para Raphael e falei.

— Tenho que ir agora, mais tarde...nos falamos— ao dizer isso percebi que os olhos dele estavam totalmente negros. Um rosnado baixo escapou de sua garganta, uma advertência quase imperceptível. Ele virou o rosto, seus traços esculpidos, revelando a tensão que se agitava em seu interior. E que ele segurava com dificuldade...

Mas o que eu poderia fazer? Era perceptível que a minha aproximação de Emil, chateava Raphael. Mas em contra partida, a minha aproximação de Raphael, causava o mesmo efeito em Emil...

Emil estava lá, de pé à margem da clareira, seus olhos fixos em mim com uma intensidade magnética. A cada passo que eu dava em sua direção, podia sentir a eletricidade no ar.

Assim que começamos caminhar pelo corredor em direção ao seu laboratório, ele falou.

— Seu amigo não gosta de mim nem um POUQUINHO — disse Emil, sorrindo de leve, o canto dos lábios subindo em um ar de desafio. Seu tom não era de escárnio, mas havia um toque de provocação.

Respirei fundo, tentando conter a explosão de emoções que ameaçava se derramar. Olhando para Emil com firmeza, retorqui.

— Ele não é meu amigo... é o meu companheiro, bem, segundo o que todos dizem — A intensidade da minha declaração fez com que o ar parecesse mais denso por um instante.

Uma mistura de surpresa, dúvida e algo mais que não conseguia identificar. Talvez fosse descrença ou talvez medo.

Ele riu de forma sarcástica, o som rasgando o silêncio.

— Então, você finalmente se lembrou? Ou é apenas um palpite desesperado?

Minhas mãos tremiam, mas me forcei a permanecer firme.

— Não é um palpite, Emil. Eu sinto... — Respondi, permitindo que a emoção preenchesse minha voz. — Eu posso não lembrar de todos os detalhes, de todos os momentos, mas eu sinto... na minha alma que existe uma ligação real...eu só preciso me lembrar. E você não tem o direito de questionar isso....

Por um momento, a expressão de Emil endureceu, mas depois suavizou, e um vislumbre de tristeza passou por seus olhos.

— Sabe, há algum tempo atrás, eu teria feito qualquer coisa para que você me olhasse da maneira que olhou para ele agora a pouco...

Estas palavras me pegaram de surpresa. Eu não sabia como responder. Afinal, não me lembrava de nada entre nós dois. Mas, naquele momento, senti uma pontada de pena por Emil.

Contudo, rapidamente retomei meu foco.

— Temos uma filha, Emil. Uma prova viva de nosso compromisso... Eu só preciso lembrar...então eu decidirei o meu futuro...mas não gosto de ser pressionada...por ninguém!

Ele deu um passo atrás, os olhos ainda fixos nos meus.

— Veremos... — Ele murmurou antes de se virar e sair da sala, deixando-me ali, com um turbilhão de emoções e mais perguntas, do que respostas.

O que ele queria dizer com isso?

Oi pessoal!

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Até o próximo capítulo!

S.S. Chaves

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