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Capítulo 06 — Traidor nas Sombras.

Ponto de Vista de Raphael Stone.

Após o incidente com Ravena, sentia o coração pulsar descompassado, ecoando no silêncio do quarto.

A pressa e o desconcerto ditaram minha escolha de vestimenta. Peguei a primeira calça jeans que vi no armário e a vesti rapidamente. Em seguida, sem pensar duas vezes, lancei sobre meu tronco uma jaqueta de jeans claro, já desgastada pelo tempo, que não tinha mangas. Não era a melhor combinação, nem a mais apropriada para o que viria a seguir, mas naquele momento, minha capacidade de discernimento estava turva.

Cada passo que dava, cada batida do meu coração, trazia à tona o recente descontrole.

Rígil, meu lobo interno, estava inquieto. A saudade de nossa companheira agia como um gatilho, despertando uma ferocidade e tristeza que eu mal conseguia conter. A conexão entre nós era palpável, e eu sabia que precisava controlá-lo, ou as consequências seriam desastrosas junto a Ravena.

Ficamos nesse impasse, frente a frente, ainda que em uma batalha interna. Eu tentava tranquilizá-lo, fazendo-o entender que, por mais doloroso que fosse, não podíamos nos deixar consumir pela saudade e pelo desespero. Eram momentos intermináveis, nos quais eu me via implorando, quase sussurrando, pedindo que ele se acalmasse, que confiasse em mim. Afinal, a dor era mútua. Era nossa. E precisávamos superá-la juntos.

Depois de um tempo que pareceu uma eternidade, senti Rígil aquietar-se, sua ferocidade cedendo espaço à tristeza silenciosa. Sabia que não seria a última vez que enfrentaríamos esse embate, mas, naquele momento, nós tínhamos um ao outro. E era tudo o que precisávamos para seguir em frente, pelo menos naquele momento.

Ao adentrar na imponente sala do trono, um misto de ansiedade e curiosidade tomou conta de mim.

O ambiente estava iluminado por lustres dourados que pendiam do teto alto, refletindo em cada detalhe ornamental da sala. A rainha, com sua postura majestosa, estava sentada em seu trono, e ao seu lado, sua filha Irina, cuja presença amenizava o ambiente.

Não havia sinal de Ravena. Rígil rosnou no fundo da minha alma.

Ambas pareciam estar profundamente envolvidas em uma conversa que foi interrompida assim que me viram.

Seus olhos se fixaram em mim, analisando cada movimento meu. No entanto, foi a presença de Ikal, o respeitado capitão da guarda, que realmente capturou minha atenção. Ele estava próximo a elas, dando instruções claras e precisas a seus subordinados. A guarda pessoal da rainha, formada pelos melhores guerreiros do reino, estava alinhada em formação, seus olhares focados e suas armas bem afiadas.

O ambiente estava tenso, as expressões sérias e a agitação na sala eram palpáveis. Pelas mochilas e provisões que estavam sendo preparadas, era evidente que estavam prestes a embarcar em uma jornada ou missão de algum tipo.

Me perguntei o que poderia ser tão urgente e importante que exigiria a presença da rainha, Irina e sua guarda de elite. Sem falar da minha, que tinha sido convocado inesperadamente.

Me aproximei lentamente, tentando não chamar muita atenção, e fiz uma reverência respeitosa à rainha. Afinal, eu estava na sala do trono, e protocolos devem ser seguidos. No entanto, por dentro, mil perguntas se formavam, e eu ansiava por respostas.

Por que eu fui chamado? Qual seria nosso destino? E, mais importante, qual seria meu papel nessa jornada iminente?

Eu nunca havia ficado tão perto da rainha Huína. O salão imenso, estava adornado com tapeçarias e pinturas que contavam a história dos Ravem e seu povo. Mas o mais impressionante era o trono, entalhado com figuras de magos empunhado cajados e luas crescentes, onde a rainha se sentava.

Respirei fundo, sentindo o aroma amadeirado que permeava o lugar. Olhei diretamente nos olhos dela, profundos e misteriosos como a floresta à noite.

— Fui chamado e estou aqui...estou à sua disposição, Rainha Huína — declarei, tentando esconder qualquer traço de perturbação anterior.

Ela meneou a cabeça, a tiara de safiras cintilando à luz das tochas. Seus olhos estudaram-me por um momento, parecendo avaliar minha sinceridade e estado de espirito.

— Obrigada por sua pronta presença, Alfa Raphael — ela disse finalmente, sua voz soando suave, mas autoritária ao mesmo tempo.

— Como você é um Alfa experiente, acredito que você possa nos auxiliar com seus prévios conhecimentos sobre o assunto que estar nos incomodando: Lobos sem alcateia.

Quando ela falou, sua voz era calma e assertiva, mas podia-se detectar uma nota de urgência.

Estava surpreso por ser reconhecido por meus feitos como alfa, ainda mais, essa fala ser exemplificada diretamente pela rainha.

Ponderei por um momento e então respondi.

— Rainha Huína, estou honrado por sua confiança. No passado, já lidei com lobos solitários e sei os quão imprevisíveis e perigosos podem ser, principalmente, quando estão desesperados. A falta de uma alcateia e de um Alfa para guiá-los, muitas vezes, os torna mais ferozes e determinados em suas ações.

Ela me olhou com um brilho inquisitivo nos olhos, esperando por mais informações.

Continuei.

— Para esses lobos, é uma questão de sobrevivência. A alcateia é sua estrutura, sua família, e quando perdem isso, seja por escolha ou circunstâncias, muitos se tornam mais ousados em suas ações. Eles precisam de mais recursos para sobreviver sozinhos e, portanto, o armazém de alimentos se torna um alvo irresistível para eles. Mas acaba de me ocorrer...como eles tiveram acesso a seus armazéns, este deve ser o foco da questão.

Aguardei seus apontamentos.

— Raphael... — ela começou, com um leve suspiro — então você acha que esses lobos que estão nos atacando, não são os lobos normais que costumamos ver, mas lobos que perderam suas alcateias, que foram exilados ou abandonados. Eles realmente carregam uma certa... amargura em seus olhos, segundo os meus batedores informaram. E eu receio que essa amargura possa ser uma ameaça para o meu povo, que não está acostumado a ser atacado, dentro de nossa proteção.

         Eu assenti.

Em minhas andanças como Alfa, eu tinha encontrado muitos lobos assim. Eram almas solitárias, muitas vezes amarguradas pela perda ou pelo abandono. Eles não eram necessariamente maus, mas o isolamento e a rejeição podiam torná-los imprevisíveis.

Me aproximei e falei.

— Sua Majestade — eu disse — lobos sem alcateia são, de fato, uma situação delicada. Eles estão em busca de aceitação, de pertencimento. Se não forem abordados corretamente, podem se tornar ameaças, não apenas por sua amargura, mas também por seu desespero.

Ela meneou a cabeça, parecendo preocupada.

— O que você sugere que façamos, Raphael?

— Primeiramente, devemos entender suas trajetórias, saber o que os trouxe até aqui. E como eles encontraram a abertura da barreira mágica, é primordial. Talvez possamos evitar qualquer confusão com seus integrantes, caso contrário, eles não pararam por nada, então teremos que defender o território e expulsa-los com rigor.

Rainha Huína assentiu.

— Muito bem, Raphael. Confio em seu julgamento e em sua experiência. Por favor, peço que lidere esta missão, e descubra o que esses lobos realmente querem, e como chegaram até nós. Se possível, tente contornar essa situação, sem batalhas, mas caso seja necessário, tenho certeza que você saberá lidar com eles.

Concordando com a cabeça, falei.

— Farei o meu melhor, Majestade. — Falei enquanto me afastava em direção ao capitão da guarda.

Minhas palavras saíram com uma determinação. A tensão no ar era palpável. Encarei o capitão, cujo olhar estava fixo em mim.

Avancei, pronto para enfrentar qualquer obstáculo que viesse no meu caminho. Eu estava precisando mesmo mudar o foco da minha atenção e uma boa briga, me ajudaria nisso.

Ponto de Vista do “Espião dos Ravem”.

Passei silenciosamente pela passagem secreta que se escondia atrás da parede rochosa. Uma lufada de ar frio envolveu-me, e as velas iluminavam fraca e trêmula a nova sala em que me encontrava.

Era um lugar que parecia não ter sido tocado pelo tempo, com poeira acumulada e teias de aranha penduradas em cada canto. Mas o que realmente chamou minha atenção foi o objeto central: um grande espelho ornamentado, com bordas entalhadas em ouro envelhecido e símbolos mágicos esquecido pelo tempo.

Com cautela, aproximei-me, meus passos ecoando no silêncio do lugar. Um ímpeto levou-me a deslizar a mão pelas laterais do espelho, quase esperando sentir algum tipo de magia pulsando sob meus dedos. E foi quando a imagem refletida começou a mudar.

O reflexo que antes mostrava apenas a minha imagem, agora dava espaço a um homem que nunca havia visto. Era jovem, por volta de seus trinta anos, mas havia algo em seu olhar que denunciava anos de tormento.

Seus olhos, profundamente enraizados e de um azul gelado, tinham um brilho selvagem, quase enlouquecido. Sua aparência desgrenhada, com cabelos emaranhados e barba por fazer, dava-lhe um ar de quem não conhecia conforto há muito tempo. As roupas, embora um dia tivessem sido nobres, estavam agora amassadas e desgastadas em diversos pontos, como se tivessem testemunhado batalhas e fugas desesperadas.

Os olhos dele eram como orbitas errantes, e o ambiente à nossa volta pareceu desvanecer por alguns segundos. Ele me olhou diretamente, e eu percebi que não havia uma única centelha de piedade ou hesitação em sua expressão.

— Eu estou fazendo tudo que você me pede — ele começou, sua voz profunda ressoando no silêncio daquele espaço fechado.

— Mas quero a cabeça do “Vira-lata Stone”. Se eu estiver com ele, a ordinária daquela híbrida, vai cair na minha armadilha.

Ele fez uma pausa, deixando a ameaça pairar no ar, e então continuou.

— Então poderei ter minha vingança! — Gritou as últimas palavras com uma intensidade que me fez recuar. Ele então ergueu sua mão, ou melhor, o que restava dela. Onde deveria haver dedos, agora havia um gancho prateado, cruelmente afiado e encrustado com o que parecia ser... sangue.

Eu tentei manter a compostura, respirando fundo. Sabia que, de alguma forma, estava envolvido nesse jogo perigoso e que, para ter o que desejava, precisaria ser mais esperto que ele e usar aquele idiota.

Desde o momento em que Raphael Stone cruzou o meu caminho, soube que ele seria um obstáculo em minha trajetória.

 A aura de autoridade que ele exalava e o olhar predatório, lembravam-me de um lobo à espreita, sempre pronto para atacar.

Meus planos, meticulosamente elaborados ao longo dos anos, agora pareciam ameaçados pela presença daquele homem. Toda vez que avançava um passo, Raphael parecia estar dois passos à frente. Antecipando os meus movimentos, como se pudesse ler minha mente, ou, pior, como se conhecesse cada canto escuro do meu coração e soubesse exatamente o que eu desejava.

A vingança, um sentimento que me consumia dia após dia, era a força motriz por trás de cada ação que tomava. Eu estava tão perto, tão incrivelmente perto de ver todos os meus inimigos pagarem pelo que me fizeram.

Sabia que, enquanto ele estivesse ali, meus verdadeiros planos nunca teriam êxito. Aquele lobo dos infernos jamais permitiria que minha vingança pessoal se concretizasse. Eu tinha de dar um jeito de me livrar dele, não importava o custo.

Por mais astuto e inteligente que Raphael fosse, eu estava determinado a encontrar seu ponto fraco, a brecha em sua armadura. E quando o fizesse, aproveitaria cada momento, saboreando a doçura da vitória sobre sua derrota. Porque, no final das contas, era uma batalha de vontades, e eu estava decidido a vencer a qualquer preço.

Eu teria a minha vingança...de qualquer FORMA!

Oi, pessoal!

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Com carinho, S.S. Chaves

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