Capítulo Quatro

Por um momento senti meu coração parar. 

Que tipo de homem se apaixonava por alguém em menos de vinte e quatro horas? Isso não era uma coisa que levava tempo... Convivência talvez? Por que ele estava dizendo tudo aquilo para mim daquele jeito? Me olhando de uma forma como se eu fosse alguém importante? 

Não poderia dizer que também não estava encantada com sua personalidade, com seu jeito e sua aparência. Ele mais parecia uma... Como ele havia dito para mim agora de pouco? Obra de Arte. Seus traços delicados e ao mesmo tempo masculinos, poderia fazer qualquer pintor se descabelar para pintar. Ele era lindo e cavaleiro. Talvez houvesse se comovido com minha vida e agora estava interessado em mudá-la, mas por nenhum motivo ele veria algo apaixonante em mim. Eu não tinha nada de especial, nem bonito. Aliás, não poderia ter nada mais comum. Ou menos que isso, insignificante. 

Olhei no fundo dos olhos dele e suspirei.

- Senhor TripleHorn... Eu agradeço por tudo que está fazendo e não posso dizer o quanto me sinto lisonjeada por estar me salvando de mim mesma. Mas, esse é um futuro que escolhi para mim mesma. É uma opção que eu decidi seguir. Não fui forçada a me casar. E sinto muito que você tenha se deparado com uma situação como esta. Porém, não pode dizer isso para toda mulher que conhece em uma situação trágica. Obrigada, por tudo que fez, só que não se sinta na situação de me proteger de nada. Posso cuidar de mim mesma. – caminhei até o cobertor no chão, apenas para manter minhas partes cobertas, mesmo que à essa altura ele já tivesse visto muita coisa.

Me sentei a espera de Desirree e Loren ainda estava do mesmo jeito. Não havia se mexido um centímetro. Então ele se virou para mim. Seu rosto estava furioso e eu estremeci. Embora, nunca tinha imaginado como alguém poderia ser tão lindo furioso. Seus olhos pareciam furacões sob a água e sua boca estava em uma linha fina.

- Como alguém prefere escolher uma vida como esta a ser feliz? – ele me perguntou. – Não me deparei por acaso em uma situação como esta. Vim por que sei como Harrison é, e o propósito de tirar daqui, Aria. Faz um mês que descobri que ele havia se casado novamente e precisei fazer alguma coisa há simplesmente deixar acontecer novamente o que presenciei há alguns anos atrás. 

Olhei para ele. 

- Você está brincando comigo? – perguntei.

Ele me olhou ainda mais furioso e sério.

- Acha que estou aqui para brincar? Vim de longe, planejando e tentando pensar em uma ideia de tirar você disso. Mas, quando me vi aqui. Dentro da casa dele e diante de um anjo de cabelos pretos. Me vi rendido ao amor novamente. Como se em alguma outra vida eu já houvesse amado você e agora estava reencontrando um grande amor depois de uma desilusão. Não que eu acredite nessas coisas. Nunca fui de ir à igreja e pode crer, eu não acredito em Deus. Mas, quando te vi achei que tinham se aberto as portas do paraíso. Por Cristo, Aria! Como pode não ver que você é linda? 

Olhei para ele absorvendo cada palavra, mas mesmo assim me mantive mais séria que ele.

- Simplesmente por que não sou. – respondi. – Por que alguém como você se interessaria por alguém como eu? E que situação anterior está dizendo? 

Loren me olhou como se eu fosse louca. 

- Você realmente não se vê como realmente é... – ele disse estupefato. – Mas, acredite em mim, quando digo que você é especial à sua maneira. Você é linda como um anjo que caiu na minha frente. Ou pelo menos da janela... – ele riu se lembrando da noite passada e não consegui deixar de sorrir também. – E quando sorri desse jeito... Faz meu coração parar e querer que você sorria assim o tempo inteiro, a sua vida inteira. Passei as últimas horas achando que você era mais minha imaginação do que de fato uma mulher real e de carne osso. Você chora quando ouve música e isso demonstra um espírito sensível e muito amável. Mas, você não conheceu alguém ainda digno de fato desse amor. Nem mesmo seu marido, seja por opção ou não. 

Até agora... Pensei. 

- Você é completamente fascinante e eu vou te provar a cada segundo que eu sou digno disso. De você. Mesmo que isso leve tempo. Por que eu não vou há lugar nenhum. – ele completou com um sorriso que parou meu coração. 

Olhei para ele e arregalei os olhos. 

Ele era completamente absurdo! Um louco, talvez. Mas, não tinha qualquer fundamento as coisas que ele dizia. Muito menos o fato de ele me achar bonita. Qual é? Ele que era bonito e sinceramente o homem mais educado e lindo que eu já houvesse visto. Ele tinha uma aura reluzente e pura, como um artista de arte. Embora, eu sabia que era com a música que ele se encaixava. 

E que história era aquela de que ele não iria para lugar nenhum? Ele só iria passar uns dias... Não? Estremeci por dentro mais uma vez. 

- Sinceramente, não sei o que te falar, Senhor TripleHorn. – suspirei. 

Ele sorriu mais uma vez. Seus lábios se repuxaram nos cantos e tilintaram de forma deliciosa. Aquele era o riso mais lindo que eu já tinha escutado. O que nele não poderia ser perfeito? 

- Você não precisa. Vou lhe mostrar. – ele se aproximou de mim e se ajoelhou em minha frente. 

Seus dedos puxaram as mãos de meu colo e se entrelaçou com os meus. Ele beijou cada ponta e senti o ar faltar dentro de meus pulmões. Um arrepio gelado de algo que eu nunca senti desceu por minha coluna e borboletas rodopiaram por meu estomago. O que ele estava fazendo comigo?

Eu senti como se eu precisasse dele de uma forma que eu jamais havia sentido. 

Um toque baixo na porta fez ele se afastar. 

- Senhora, estou com suas vestes. Poderia me deixar entrar? – Desiree disse.

Me levantei atordoada e olhei para Loren, alarmada. Ele assentiu e correu para o lado norte da biblioteca, se escondendo entre algumas prateleiras e as cortinas pesadas de veludo preto. Respirei fundo e caminhei enrolada ao cobertor até a porta. A biblioteca estava quente e manquei levemente até lá, me certificando que a camisa de Loren não aparecesse. 

                            ***

As teclas do piano não paravam enquanto os dedos de Loren passeavam por elas. Ele tocava um peça de um artista desconhecido e eu havia adorado aquela música. 

Depois que Desirre havia deixado minhas roupas, eu pedira que ela saísse para que eu pudesse me trocar sozinha. Loren, provavelmente me dando algum espaço não tinha saído de seu esconderijo, e então me vesti, ainda em um pé só, colocando um vestido não muito pomposo como o meu outro, ele era verde escuro e caia delicadamente se arrastando pelo chão sem o familiar balão e suas mangas eram compridas, mas tinha um decote em V não muito profundo. 

Depois chamei Loren e ele sorriu ao me ver. 

- Já disse que você é linda? – ele se aproximou sorrindo. – Mesmo com essas manchas escuras sob sua pele pálida. 

Ele tocou minha bochecha e eu havia corado. O toque dele deixou minha pele quente, enviando choques profundos por minha coluna. Ele me deixava sem fôlego.

Ele se sentou sob o piano e não havia parado de tocar durante toda a tarde. 

Ele tocava e eu olhava ele, admirando sua beleza extraordinária ainda meio encabulada que ele pudesse ser real. 

- Você quer tocar comigo? – Loren levantou os olhos certa hora da tarde. Depois de um silêncio tão agradável que preenchia nossos corações e alimentava nossa mente. 

Sorri para ele. 

Eu me sentia tão há vontade de uma forma que eu nunca tinha sentido. Como sempre, a familiaridade estava ali. 

Antes que eu pudesse responder, ele se levantou e colocou os braços ao meu redor. Apoiou meu peso com a cintura e me levantou, me arrastando até o banco branco do piano. Ele riu junto comigo quando ele esbarrou em mim e se sentou novamente, ao meu lado e dedilhando os dedos pelo teclado. 

- Você gosta de Debussy, não? – ele disse. 

- Sim. – respondi, corando. 

Ele parou de tocar o piano e fechou o teclado, em seguida se apoiando sobre ele. Meu cabelo estava solto e rebelde, mais do que o normal por que eu havia dormido com ele molhado e caia solto a minha volta. Loren passou o dedo por algumas mechas.

- E por que gosta? – ele perguntou.

Olhei para ele.

- Papai costumava tocar pra mim quando eu era pequena. – respondi sendo sincera. 

- Você gostava muito dele. – ele disse e não fui uma pergunta.

Olhei para baixo, constrangida.

- Ele cuidava muito de mim e de minha irmã. Ele nos amava mais do que qualquer outra coisa. Mas, mamãe era difícil e ele bebia demais. Acabou tendo câncer e morrendo muito jovem. Isso nos arrasou. Além das dívidas, foi como se tivesse aberto um buraco em minha vida. Acredito, que ainda há. – falei. 

Olhei para cima e Loren me olhava atentamente. 

- Eu sinto muito. 

Balancei a cabeça. 

- Eu não deveria estar dizendo essas coisas para você. Nem te conheço. – murmurei. 

- Não sou um estranho. E você sabe disso. Nós sabemos. Por mais que seja apenas algumas horas, você me conhece. – ele respondeu e tocou minha bochecha. 

Me afastei ligeiramente e ele suspirou.

- Você está com fome? – ele perguntou.

Olhei para ele. 

Na verdade, eu nem havia reparado que tinha perdido o almoço e já era começo da tarde. Parecia que as horas voavam quando eu me aproximava de Loren. Ele tinha tocado tanto e tão lindamente que parecia que tinha se passado minutos. E nenhuma vontade humana havia se apossado de mim, para ser sincera. Mas, comer deveria ser bom. Pelo menos me manteria afastada dele. O que eu achava que não conseguiria fazer por muito tempo. Já que ele ficava tão próximo. Até mesmo eu com minha frivolidade, tinha limites. Que não pareciam ser muito extensos quando se tratavam de Loren. 

Assenti e ele se levantou. 

- Bem, por segurança vou trancar a porta novamente. – ele disse. Tocou minha bochecha. – Já volto.

Ele saiu e me apoiei no piano. Olhei para ele e sorri. Fazia tanto tempo que eu não tocava... Talvez poderia ser bom. Levantei a tampa do teclado e toquei delicadamente as teclas. Uma música me veio à mente e comecei a tocá-la, me lembrando sem qualquer problema das notas e das sequências. Era Chopin, uma das favoritas de papai e comecei a cantar a letra que ele tinha feito em cima do som do piano. 

Senti algo dentro de mim se abrindo e florescendo. Era uma sensação muito boa. 

Não parei quando a música acabou e comecei outra em seguida. Senti a presença dele, mas eu não quis parar. Era como se eu precisasse dele ali para me apoiar. O barulho da chuva aumentou parecendo entrar em concordância com a melodia do piano e da minha voz. Pelo menos isso eu poderia dizer que não era tão inútil assim. 

Terminei a segunda música sorrindo e abaixei a tampa novamente. Fazia muito tempo que eu não tocava dessa forma desde... Acho que desde a morte de meu pai anos atrás. 

- Continue. Você soa como um coro inteiro de anjos. Cristo, o que mais sabe com tanta perfeição? – a voz de Loren soou atrás de mim. 

Corando me virei para ele.

- Se puder, parar com elogios, talvez possamos ter uma conversa. – murmurei sorrindo. 

Ele abriu um sorriso de resposta, lindo.

- Jamais pararei com os elogios. Adoraria conversar com você. Mais do que antes. Estou feliz que esteja melhor. Mais tarde vamos ver como está seu tornozelo. – ele se levantou de onde estava, que era a poltrona e me puxou para seus braços de novo e me sentou no sofá. Ao lado de uma bandeja cheia de comida. 

Menos intimidada com sua presença, peguei uma bolacha doce e olhei para ele. 

- Que negócios está fazendo com Harrison? – perguntei.

Ele mesmo sério ainda trazia uma luminosidade cativante e sensual. Não sei como alguém poderia ser tão lindo mesmo parado só respirando. Ele transpirava charme, que era sufocante, combinado com a beleza surreal, que era impossível conseguir prestar atenção ao que ele dizia, mesmo que eu tentasse. 

Ele cruzou as pernas ao meu lado.

- Além de você, arrumei de fato, uma proposta para Harrison com um amigo nosso. Vai trazer benefícios para nós três. – ele mordeu uma bolacha e até aquilo chamava atenção. Senti uma quentura entre minhas pernas e testa. Diria que até meio febril eu deveria estar.

Mas, ainda uma coisa me deixava confusa.

- O que quis dizer com tudo aquilo sobre mim e Harrison? O que nós temos haver com você? O que meu casamento lhe diz respeito? – indaguei de uma vez só.

Sua expressão ficou dura.

- Não acho que possa explicar agora. Talvez mais para frente. Eu só não poderia imaginar que você fosse tão incrível... Fiquei totalmente paralisado. Ainda não sei o que fazer com o que estou sentindo. Isso pode nos machucar. E no entanto, eu não quero que pare... – ele sussurrou baixo. 

- Eu também não. – sussurrei de volta.

Levantei os olhos para Loren e nossos olhares se encontraram. Fiquei presa naquele nevoeiro cinzento intenso. Nenhuma palavra precisava ser dita. Por que o que eu sentia estava escrito em minhas feições assim como nas dele. E parecia de outro mundo, que um homem como aquele poderia prestar atenção justamente em mim. E mesmo assim, eu acreditava em tudo que ele dizia. Meus instintos veemente confirmavam que ele dizia a verdade. 

Um toque baixo na porta quase me fez pular. 

- Senhora? – a voz de Desiree soou. 

Respirei fundo tentando acalmar meu coração e a minha respiração pesada. Depois de alguns segundos, me afastei de Loren sutilmente e ele cruzou os braços esperando que eu respondesse.

- Sim? – respondi. 

- A senhora se sente melhor? – ela perguntou.

- Claro. Só uma dor no tornozelo. Caí ontem e ele inchou, mas só isso já estou bem melhor. – sorri para Loren. Afinal, ele que tinha sido o meu salvador. 

Ele sorriu de volta e se aproximou de novo, brincando com uma mecha de meu cabelo. 

- Seu Harrison chegou e solicita sua presença no jantar. Vou dizer que a Senhora estará lá dentro de alguns minutos. Devo chamar o Senhor TripleHorn? – ela me perguntou da porta. 

- Hmm, claro. – respondi, me distraindo com os dedos de Loren tocando a raiz de meu cabelo.

Ouvi os passos dela se afastando dessa vez e suspirei. As horas de paz tinham se acabado. 

- Você não tem que fazer isso. Você sabe. – Loren disse olhando para mim. 

Encarei ele. 

- Tenho sim. Eu preciso. – respondi. 

- Não. Não precisa. Se é por dinheiro... Isso eu posso te dar o quanto você quiser. Sem falar que não estaria presa há um homem sem escrúpulos e maldito. – ele disse. – Sei que sua família precisa disso. Do dinheiro. Eu poderia ajudar você e elas saírem daqui. Viveriam longe e em paz. Com dinheiro e segurança...

Coloquei um dedo na boca dele. 

Ele me olhou mais intensamente e parou de falar. 

No primeiro momento tinha feito aquilo para fazê-lo se calar. Mas, agora meu coração começou a disparar novamente e minha respiração ficou presa. Me senti corajosa e ao mesmo tempo tímida com meus dedos tocando aquela parte tão deliciosa dele que eram os lábios. Que eram tão bem delineados e cheios. Rosados e tentadores.

- V-você não precisa fazer isso... – respondi fracamente. 

Ele sorriu e colocou a ponta de seus dedos com os meus em seus lábios, beijando-os. 

- Preciso sim. – ele sussurrou de forma rouca. 

Olhei para ele, corando e o ar parou em meus pulmões. Acho que ele me provocaria um infarto se tudo continuasse tão intenso assim, se ele continuasse me provocando essas sensações tão profundas e arrebatadoras, apenas com um ínfimo toque. 

Ele puxou minha mão e deu pequenos beijos nela. 

- Melhor você ir, antes que ele venha. Mas, pense no que lhe propus. E me dê a resposta em alguns dias. Não sei quanto tempo vou ficar, mas posso parar meu mundo por você. Sempre. – ele soltou minha mão e meus pulmões voltaram a trabalhar.

Me curvei e me apoiei na beirada do piano ainda mancando. Calcei apenas um dos sapatos, já que o outro pé estava enfaixado.  Fui caminhando lentamente até a porta e olhei para trás antes que eu a abrisse. Os olhos de Loren ainda estavam em mim e corei mais uma vez. Seus olhos estavam sérios e ele parecia mais uma vez perturbado. Algo se agitava naquela tempestade de seus olhos e meu peito queimava por querer saber o que era. 

Caminhei por todo o corredor me apoiando e cheguei até a sala. Harrison estava sentado no sofá, lendo um livro e sua maleta estava em cima da mesinha de centro, assim como alguns papéis e livros.

Ele levantou os olhos para mim e sorriu. 

O medo se agitou dentro de mim e mesmo não querendo me senti culpada. Por que eu não sabia, no entanto, eu tinha uma ideia de que eu fora criada apenas para respeitar e amar o próprio marido e jamais, nunca, olhar para o lado. Por mais cruel e infiel que fosse ele. 

Senti um ar de felicidade em seu sorriso e fiquei curiosa do por que ele me recebia com carinho. Então a ficha caiu... Loren ainda estava em casa. 

Ele se levantou correndo e apoiou seus braços com os seus.

- O que houve, querida? Se machucou? – ele perguntou carinhosamente e depositou um beijo em minha têmpora.

Será que uma espécie de alma penada tinha se apossado de Harrison e o transformado em alguma outra pessoa de alma caridosa? Por que aquele que falava comigo não poderia ser ele. Não o monstro que tinha passado dois anos inteiros do meu lado, batendo e me respondendo como se eu fosse uma coisa ruim. 

Assenti e baixei os olhos. 

- Eu cai, na verdade. Mas, não foi nada demais. – expliquei. 

Ele me deu mais um beijo e me sentou na poltrona de couro preta. 

- Você precisa de alguma coisa? Algum médico? – ele perguntou ainda carinhoso. 

Olhei para ele pela primeira vez e ergui as sobrancelhas. 

- Ah... Não precisa. 

Ele arrumou meu vestido em volta de mim e colocou uma manta sob minhas pernas. Ajeitei meu cabelo atrás da orelha e ele sorriu para mim. Eu estava começando a ficar assustada. Alguma coisa de muito errada estava acontecendo... Não era possível. 

Ouvi passos mais pesados e Loren entrou na sala. Ele pousou os olhos em mim e depois em Harrison que ainda estava ajeitando a manta. Seus lábios formaram uma linha fina e então Harrison se virou para ele. 

- Companheiro! – ele disse. Harrison se aproximou de Loren e bateu nas costas dele como um velho amigo. – Estávamos a sua espera. Cheguei mais cedo para contar as boas novas para vocês dois. Sente-se. 

Loren me olhou mais uma vez e o encarei durante alguns segundos, enquanto Harrison voltava ao seu lugar diante dos papéis. Ele colocou os óculos e sorriu. Ele parecia jovem e muito bonito quando sorria de verdade, o que pouco acontecia. Ou melhor, era raro demais eu ver aquela expressão em seu rosto. Ele era muito lindo, mas sua personalidade o tornava asqueroso. 

- Consegui fechar um negócio incrível com um porto perto de Paris. Imagina só os lucros que isso trará para nós! Ele quer fazer negócios com você também. Ele acha que expandir os negócios para além da fronteira pode alavancar dinheiro, além de trazer melhores clientes para ele. Será uma sociedade. – ele disse exultante. 

Loren sorriu, mas foi algo que não chegou aos olhos. 

- Isso pode ser incrível. – ele murmurou.

- Vou viajar amanhã para Paris, para ver se consigo mais sócios. Isso seria ainda melhor. Vou ficar uns dias fora e acredito que quando eu voltar, vamos poder abrir mais três portos. Expandindo a importação e exportação de cargas. – Harrison explicou. 

- Você quer que eu vá junto? – ele perguntou. 

Meu coração parou e esperei a resposta. Harrison pensou durante poucos segundos e balançou a cabeça.

- Não acho que será necessário. Você seria muito mais útil aqui, administrando o que já temos e também vou fazer uma viagem rápida. Não muito mais que duas semanas. Poderia também passear um pouco com minha esposa. Ela poderia lhe mostrar a cidade. Deve haver alguns bailes dentro de alguns dias. Ela também quase não sai e precisa de companhia. Nem sempre consigo ser tão agradável. – ele sorriu de modo educado. 

Se antes eu achava que algo estava acontecendo... Agora eu tinha certeza. 

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