Pisquei meus olhos pesadamente para Loren e respirei fundo antes de dizer alguma coisa.
- Como assim veio atrás de mim?Loren suspirou e pegou uma de minhas mãos, levando-me para me sentar no sofá, que por acaso estava cheio de pétalas. Lá fora a chuva caia forte e os raios misturados com as luzes das velas deixavam um ar totalmente surreal para nós dois. Era difícil acreditar que tudo que estava acontecendo era de verdade. - Eu preciso te contar a história toda. Ele se sentou na minha frente ainda com as mãos unidas as minhas.- Desde quando eu me entendi por gente eu sempre tive sonhos no qual eu via um rosto feminino sorrir para mim. Eram diversos sonhos e em todas as vezes você sempre abria um sorriso apaixonado e dizia que me amava. – ele se perdeu nas memórias e olhou para a chuva lá fora. – Eu cresci idealizando você, como você seria e principalmente como seria ser amado por você. Nesses meus vinte e oito anos eu nunca me apaixonei por ninguém a ser- Se eu pudesse sonhar toda vez seria com você.Loren riu e colocou uma mecha de cabelo meu atrás da orelha, olhando para meu rosto e seus olhos brilharam sob a luz do Sol do fim da tarde. Eles estavam claros como nuvens levemente antes de uma chuva de verão. E nunca estivera mais lindo com uma camisa clara e um colete preto por cima, assim como a calça e os sapatos sociais. Ele parecia de outra época e me senti bem por isso.Nosso mundo atual estava tão ruim que voltar no passado com ele, era esplendoroso.- Todas as noites meus sonhos são com você. E assim fico feliz por isso. Sabe quanto tempo esperei para poder tocá-la novamente? – ele me perguntou e o sorriso em seu rosto ficou mais suave e seus olhos tensos.Olhei seu rosto se transformando em traços de dor, ele me feria com aquele olhar. Por que sua dor me machucava, como a minha própria.- Eu sei, amor. E não imagina como estou por você estar de volta.Ele voltou a ficar mais t
Fechei os olhos por alguns segundos sem querer encarar a cena diante de mim.Meu queixo estava encostado na beira da cama dele e a cada poucos segundos, uma lágrima caia por meu rosto. Meu coração batia pesado e devagar com minha respiração trancada na garganta. Eu já tinha chorado tudo que poderia e não conseguia mais fazer nada. Apenas ficar ali, segurando a mão de Loren enquanto ele estava completamente desacordado e preso a milhões de tubos e fios.O médico tinha garantido que ele estava fora de perigo e que apesar das fraturas expostas, ele ficaria bem. Ah claro! A não ser pelo fato que ele ficaria cego por meses. Só de lembrar meu peito doía. Eu queria matar Harrison pessoalmente. Eu faria aquele desgraçado pagar cada sofrimento pelo qual eu passei, pelos meus pais, por Edward, por Loren nessa vida e na outra.Abri meus olhos novamente e olhei para a minha vida personificada.Loren estava com as duas pernas engessadas e tirando alguns machuc
Parei com os braços envolvidos nos de Loren e peguei as chaves na bolsa de lado. Eu estava tão feliz em tê-lo em casa, que meu coração estava disparado. Embora, se fosse ver, nós estavam no apartamento dele e não meu. Mas, depois da terceira cirurgia ser bem sucedida, Roger achou que seria melhor Loren ficar em um ambiente onde ele já estava familiarizado e que ficasse mais fácil para ele se locomover.Eu havia pedido a uma pequena empresa que cuidava de arrumações e decoração em casa de pessoas que tinham algum tipo de deficiência, adaptar o apartamento o melhor possível para Loren. Havia outro pequeno detalhe que eu tinha providenciado, mas só viria mais tarde e eu estava ansiosa. Queria que Loren ficasse o mais confortável possível até que ele melhorasse. E mesmo que para isso eu tivesse ficado um pouquinho paranoica.Girei a chave no trinco e abri a porta. Caminhei calmamente com Loren para dentro da sala e ele me acompanhou em silêncio. Por alguns segundos olh
Observei Loren sentado na primeira fila e minhas pernas tremeram.Eu não queria fazer isso sem ele. Mas, ele insistira tanto e deixou claro que se eu não fizesse isso sem ele, ele ficaria muito chateado e se consideraria um peso para mim. E é claro que eu estava aqui para provar que ele jamais seria isso. Ele era o homem que eu amava e daria minha vida. Eu sabia que ele não duvidava disso, mas sabia que eu também sempre pensava mais nos outros do que em mim. Por isso, ele não deixou que eu recusasse o convite para me apresentar na véspera de Natal no teatro, onde todo o dinheiro arrecado iria para ajudar crianças carentes.No entanto, fazia meses que eu não me apresentava.O medo de errar ou desafinar por mais que fosse muito difícil isso acontecer, era enorme. Escondida nos bastidores esperando minha vez no palco, continuei olhando Loren. Ele falava baixinho com Debussy, que no escuro era difícil de enxergar. Dean tinha feito questão de dar uma poltrona a
Coloquei a mão na cintura de Loren, impedindo que ele se mexesse. Ele entendeu na mesma hora e se colocou na minha frente. Em posição, como se esperasse qualquer ataque, Loren ficou tenso.- Olha, se não são o casalzinho feliz. – Harrison nos olhou, mas não moveu um centímetro a arma em meu irmão, que chorava nos olhando. A raiva queimou por dentro e trinquei os dentes.Se fosse em qualquer momento antes no passado, eu teria temido e ficado apavorada. Aliás, mesmo em contextos diferentes, a mesma cena de minha antiga vida havia voltado para me assombrar, agora em escalas muito piores. Minha mãe adotiva estava morta e meu irmão estava sendo seu refém. E eu tinha ficado apavorada e com medo naquela vida. Em resumo, eu tinha morrido.Dessa vez seria diferente. E eu sabia disso desde que começara a treinar. Por que mesmo com a proteção policial, que nessa hora eu não tinha ideia de onde estavam, o confronto seria entre mim e ele. Por que quando eu morrera naquela bi
LorenEla deslizou pelo tapete vermelho e aquele momento ficaria registrado para sempre em minha mente.A brisa marítima estava fresca e ela tinha escolhido um dia perfeito para nos casarmos, é claro. O verão havia chegado no Sul da França e em Marselha a temperatura era razoável. Olhei preocupado para meus gêmeos, meus filhos de sete meses de idade. Dakotta estava bocejando e se agitou no colo de Desirée quando ela quis puxar o cabelo da madrinha e ela não deixou. Christian dormia no colo de minha mãe e parecia nem saber onde estava, aos pés deles, Debussy também dormia. Ambos tinham os cabelos escuros e olhos tão claros quanto os meus. Embora os traços e a cor pálida fossem de Aria
“Dois amantes felizes não têm fim nem morte, nascem e morrem tanta vez enquanto vivem, são eternos como é a natureza’’.Pablo NerudaCapitulo UmOlhei para o espelho em minha frente e tentei controlar as lágrimas mais uma vez.Não se existe sentimento. Você têm que ser forte e dura como uma rocha. A voz de minha mãe soou em minha mente. Eu escutava isso desde que eu tinha dez anos e meu pai morreu de uma doença infecciosa. Ela tinha dito isso para “amenizar” a minha dor.
Loren ainda me olhava, esperando que eu respondesse a sua pergunta. Mas, ainda o encarava como uma idiota.- Anh... Certamente. – sorri.Seu sorriso de resposta foi intenso. E lindo. Seus olhos cinzentos reluziram e me vi presa neles, como se um nevoeiro gélido e intenso me percorresse.- Eu já a conheço? – ele me perguntou confuso.Reconheci a mesma confusão em meu semblante.- Creio que não. Nunca nos vimos talvez em algum baile ou festa? – sugeri.