Uma coisa bem interessante que eu notei foi que, quando abri as portas, as mulheres começaram a chegar, e, quando eu digo mulheres, incluo idosas e adolescentes. Talvez meu charme as tivesse atraído.
— Andrew? — O que eu temia aconteceu, fui reconhecido.
Virei-me e encontrei Jessy me olhando curiosa. Quando me reconheceu, deu um gritinho estridente e me apertou com seus braços fofinhos.
— Jessy, tem gente olhando — falei entredentes e ainda com a cabeça baixa, passar vergonha não era legal.
— Deixe que olhem, eu não ligo. — Apertou minha mandíbula de modo que meus lábios formassem um biquinho e me roubou um selinho.
Jessy não era muito alta e nem muito baixa, ela era maior que minha mãe e pouca coisa menor que eu. Enquanto eu tinha 1,78 metros de altura, ela tinha 1,71. Mas era fofa, isso eu não posso negar. Ela tinha o cabelo preto e muitas curvas, às vezes desconfiava de que ela tivesse mais do que 21 anos.
— Eu ligo, não quero receber tanta atenção assim — falei tirando seus braços da minha cintura e voltando a seguir caminho até meu armário.
— Lembra que você prometeu para mim que, quando voltasse a trabalhar, iria me levar para o cinema? — Ela me cutucou as costas, me fazendo dar uma leve e curta risada, eu sentia cócegas ali.
— Não me lembro disso não. — Coloquei alguns livros na estante e me encostei nela.
— Eu lembro, e a gente vai. — Deu de ombros e se afastou, provavelmente indo até algum corredor.
Voltei aos meus afazeres na biblioteca, tentei a todo custo distrair a mente, mas sempre acabava pensando no acidente e no que podia ter acontecido para que eu acabasse desse jeito. Minha vida parecia um filme de suspense com um final trágico que aborrece os telespectadores.
— Dou dez dólares para saber o que está pensando. — Jessy balançou a nota na minha frente, e acabei tomando um susto por estar distraído.
— Onde estava? — perguntei.
— Lendo. — Ela abraçou meu braço e me puxou para um corredor mais distante.
Ela observava tudo que eu estava fazendo calada e com uma cara de tédio que dava até dó.
— O que quer fazer? — perguntei depois de colocar alguns livros na prateleira e me sentar ao seu lado.
— Dar uns amassos? — sugeriu. Arqueei a sobrancelha, o que a fez ficar de bico e cruzar os braços emburrada. — Até parece que depois do acidente você virou virgem de novo
— Jessy, entenda que, se eu não lembro, eu não fiz. — Dei de ombros.
Ela descruzou os braços e se sentou em meu colo. Arregalei os olhos e tentei tirá-la dali, mas ela enroscou os braços no meu pescoço.
— Vamos criar uma nova lembrança então. — Beijou minha bochecha e foi descendo para meu pescoço.
— Não podemos, este é meu local de trabalho. — Tentei afastá-la, mas seus beijos em meu pescoço estavam me dando nojo.
Eu tentei me deixei levar por suas mãos em meu cabelo e seu corpo em meu colo fazendo sutis movimentos que demonstravam o que realmente ela queria, aquilo não estava bom, e algo dentro de mim gritava para empurrá-la, dar um fim nisso, mas eu não conseguia. Era como se eu não estivesse no controle da situação, e isso estava me enlouquecendo.
— Vá embora. — Ouvi alguém dizer baixo, tão baixo que jurei ter sido Jessy.
— Disse algo? — perguntei a ela, que se afastou um pouco do meu pescoço para negar com a cabeça.
— Não deixe ela te tocar. — Ouvi outra vez.
— O.k., isso não vai dar certo. — Finalmente afastei Jessy do meu corpo. — Você está tentando me assustar? — perguntei, e ela negou, tentando voltar ao que fazia.
— Eu não disse nada, é você quem está me assustando. — Ela se levantou do meu colo de uma vez e voltou a sentar ao meu lado.
— Tem alguém aqui — falei e me levantei.
Uma pilha de livros que eu tinha acabado de colocar no lugar caiu no chão, não só me assustando como também Jessy, que deu um de seus gritinhos estridentes.
— Foi o vento — falei.
— Está tudo fechado — Jessy falou.
— Mande-a embora. — Ouvi o sussurro outra vez.
— Ouviu isso? — perguntei.
— Quer saber, te ligo mais tarde. Se você sobreviver, a gente continua depois. — Jessy me deu um selinho e saiu às pressas da biblioteca;
— Bom garoto. — Ouvi o sussurro de novo. Olhei ao meu redor e não vi ninguém.
Era pavor de primeiro dia de trabalho, normal.
E, como eu imaginei, o resto do meu dia foi tranquilo, nada de coisas sobrenaturais ou sussurros do além. Eu quase ajoelhei no chão quando deu quatro horas da tarde, liberdade.
(…)
Entrei em casa e deixei as chaves na mesinha ao lado da porta, minha mãe ainda não havia chegado, pelo visto, e isso queria dizer que eu tinha a casa toda para mim.
Subi para meu quarto, enfiei a mão embaixo do travesseiro e peguei um bilhete. Eu encontrei essa carta no bolso da jaqueta que eu estava usando no dia do acidente.
“Nesse verão, quero acampar na praia, vamos fazer muitos bebês. Somos eu e você contra o mundo, não importa o que aconteça.”
Todos os dias eu lia esse bilhete, ele tinha um perfume maravilhoso, uma caligrafia impecável e era endereçado a meu nome. Em janeiro, quando eu acordei do coma após o acidente, uma das enfermeiras me entregou esse bilhete dizendo que estava no bolso da minha jaqueta e simplesmente saiu do meu quarto. Pelas palavras na carta, eu fui importante para alguém. Mas para quem?
Eu me levantei da cama e saí jogando minhas roupas pelo chão do quarto, corri para o banheiro, tomei meu banho tranquilamente e bem quente para relaxar a tensão em meus ombros.
— Vai acabar com a água do mundo desse jeito. — Ouvi uma voz feminina ecoando pelo banheiro.
— Quem está aí? — questionei, mas não obtive resposta.
O.k. Definitivamente eu estava ficando louco.
Comecei a cantarolar uma música aleatória que me veio à mente e demorei mais um pouco no banho.
— Você só conhece essa música? — Novamente a voz feminina soou, interrompendo minha cantoria.
— Quem está aí? — Abri o boxe, pegando minha toalha e enrolando-a na cintura. Silêncio. Banheiro vazio. — Olá, tem alguém aí? — questionei outra vez. Nada.
Fui até o quarto, e não tinha ninguém ali. Estranho. Tirei a toalha do corpo e coloquei a cueca boxer que peguei no guarda-roupa. Eu me joguei na cama, ajustei o ar-condicionado e apaguei as luzes.
Senti a cama ao meu lado afundar e rapidamente acendi a luz.
— Oi — disse uma garota deitada comigo.
— Droga! — praguejei ao tomar um susto e cair da cama.
— Sou tão feia assim? — Ela se apoiou na beirada e ficou me olhando caído no chão.
Deveria ir ao médico me consultar, creio que enlouqueci.
Esfreguei meu rosto diversas vezes para ter certeza de que eu não estava ficando louco, pisquei os olhos, suspirei aliviado quando não a encontrei novamente. Acho que o cansaço estava mexendo com a minha cabeça.
Voltei a deitar na cama e me ajeitei melhor. Estiquei o braço para apagar a luz do abajur, mas, antes que eu fizesse isso, ela se apagou e uma luz no meio do quarto apareceu, focando uma barra de pole dance que apareceu ali misteriosamente.
— Que tal uma história para dormir? — ela perguntou, mostrando apenas sua silhueta nas sombras.
— Quem é você e como conseguiu entrar aqui? — Eu me levantei.
— Depois da história talvez você descubra quem sou eu. — Ela saiu da parte escura do quarto, e senti um arrepio estranho em todo meu corpo quando vi sua lingerie azul-claro. Seu sutiã azul de renda destacava os seios volumosos e a calcinha fina ressaltava suas curvas. Algo que nem Jessy despertou acordou dentro de mim: tesão.
Era dia 13 de outubro de 2011, uma manhã fria e quieta, eu invejava quem estava quentinho no conforto de casa enquanto eu enfrentava aquele frio, tudo que eu mais queria era voltar para casa e deitar na minha cama. As calçadas estavam cobertas de neve, e o vento estava cada vez mais forte, mal sentia os dedos dentro da bota.O caminho para o colégio era uma rua reta com muitos prédios e algumas árvores, apertei meus braços em volta do meu corpo com a intenção de me aquecer, mas parecia que o vento estava contra mim quando se intensificou, levando embora meu cachecol. Corri atrás dele, e o vento fez questão de prendê-lo em uma árvore, pulei o mais alto que dava, mas não consegui pegar.Corri uma distância consideravelmente boa e pulei, mas tudo que aconteceu foi meu rosto ir de encontro à neve. Bufei irritada, com tanta árvore pequena nessa rua, o vento tinha que prender meu cachecol justo em uma árvore que eu não alcançava? Fala sério!— Quer ajuda? — Sabe aquele momento em que o film
O movimento da lanchonete estava menos agitado. Eu entrei no quartinho para me arrumar.Ela trouxe uma calça jeans escura de cintura alta, um par de saltos e um cropped de manga comprida, trouxe também um estojo de maquiagem e um par de brincos. Gostei de como a roupa ficou no meu corpo, mas me senti um pouco vulgar nela.Soltei meus cabelos e tentei dar uma organizada nos cachos, passei um pouco de maquiagem no rosto e calcei os saltos. Já pronta e livre do serviço, pedi um táxi para me levar até a festa. A casa estava cheia, mal dava para andar, respirei fundo e decidi procurar pelo capitão. Esbarrei em algumas pessoas que nem deram importância para a minha presença, demorou um pouco, mas finalmente consegui encontrá-lo. Encostado no balcão com um copo de bebida na mão, ao seu redor havia algumas garotas, mas ele parecia estar entediado ao lado delas.Cutuquei seu ombro, e ele se virou para mim, um grande sorriso se abriu em seu rosto ao me ver, parecia estar esperando por mim. Ele
Deitado de barriga para cima na cama, fiquei imerso em meus pensamentos e deixei que eles me levassem de volta para a noite anterior. Nada do que ela disse fez sentido, bom, não para mim. Ela podia ter tido uma péssima experiência de vida e após a morte queria que alguém contasse como ela morreu, igual aos filmes. Ou talvez eu tivesse alguma ligação a ela. Tudo muito doido para pensar sozinho. Eu precisava conversar com alguém.Levantei-me da cama e fui até o banheiro, um banho quentinho cairia bem agora, tirei a cueca do corpo e me enfiei embaixo da água. Tão relaxante. Quem eu era? Será que meu disfarce era ser um pequeno empresário durante o dia e agente secreto à noite? Ou eu era um criminoso procurado que precisou se esconder da polícia? Muitas possibilidades e nenhuma solução. Agora não tinha mais como evitar, precisava investigar meu passado, saber minhas origens e recuperar minha memória, pois sentia que estava ligado a Maree e que ela aparecer para mim, quando poderia ter
Tudo que era dito nas folhas, com uma caligrafia impecável, acontecia bem diante dos meus olhos, como um filme.— O que é isso? — Tomei um tremendo susto ao parar de ouvir a voz da minha cabeça e ouvir alguém falando comigo. Era Ryan, meu melhor amigo. Bom, eu achava que ele era.— Isso? Nada demais, apenas algumas páginas soltas. — Escondi todas as folhas dentro do livro. — O que faz aqui? — Mudei de assunto.— Vim ver como está se saindo com a biblioteca. — Olhou ao redor.Ryan era descendente de asiáticos, cabelo curto cortado dos lados, e sempre que o encontrava, estava muito estiloso. Ele parecia um atleta, mas odiava ser comparado com um. Era quase do meu tamanho e se formou em História na faculdade.Lembrei-me da história que Maree havia me contado ontem, me perguntei se, em algum momento, ele seria citado uma vez que Jessy apareceu. Um nome diferente e peculiar me foi soprado no ouvido como se fosse a resposta para a minha pergunta.— Dude — repeti em voz alta, e ele se virou
Ele estacionou na frente de uma boate, Sweet Ilusion era o nome do lugar. Logo no estacionamento era possível ouvir a música, os vidros do carro estremeciam com as batidas, e eu sentia meu coração bater no mesmo ritmo. A fila estava enorme, e eu não fazia ideia de como ele ia fazer com que a gente entrasse lá.— Como vamos entrar lá? — perguntei ao descer do carro.— Deixa comigo — Ryan piscou pra mim e ajeitou o cabelo no espelho do carro.Atravessamos a rua e seguimos em direção ao segurança na porta, Ryan trocou algumas palavras com ele e isso bastou para colocar a gente lá dentro. Parecia um formigueiro, as pessoas dançavam no ritmo da música, sozinhos ou acompanhados, uns bebiam e outros apenas ficavam sentados curtindo a música. Ryan me puxou para perto de um balcão que parecia ser o bar, me sentei em um dos banquinhos e fiquei olhando as pessoas dançando na pista.— Quero duas tequilas — pediu ele.— Eu não vou beber — falei. — Eu tomo remédio para memória, esqueceu? Se eu bebe
Era dia 19 de outubro de 2011, um dia comum como hoje. Aquele dia foi importante para mim, mas também foi o início de um inferno.Eu era uma simples garçonete em um dia comum de trabalho, recebendo ordens de um patrão irritante, que, por sinal, era meu pai, cuidando de um bebê que não era meu, mas tinha meu sangue, quando um grupo de jovens animados entrou na lanchonete. E, para o meu azar, eram todos do mesmo colégio que eu.— Quem foi que marcou no último minuto e levou o time à vitória? — Um deles gritou, apontando para o capitão, que não parecia à vontade ali.— Foi o capitão — gritaram todos juntos.Meu olhar não desgrudou do capitão até o momento em que ele me procurou com o olhar. Assim que nossos olhares se encontraram, uma expressão de alívio tomou conta do seu rosto e ele sorriu. Um sorriso perfeito com jeito de malandro e pinta de galanteador. A luz do sol bateu em seus cabelos negros, lhe dando um tom meio azulado que me fez suspirar com tamanha perfeição.— Ei, está viva?
Eu olhava várias vezes para o retrovisor para saber se o carro ainda me perseguia, virava em ruas aleatórias que eu mal sabia onde iam parar, minha respiração estava acelerada, e eu temia por minha vida. — Mais rápido, ele está quase nos alcançando! — Uma voz desconhecida por mim disse, parecia distante, mas tão próxima. Seu timbre ecoou em minha cabeça e foi ficando cada vez mais distante, porém eu ainda conseguia ouvir nitidamente e repetidas vezes a mesma frase: — Eu não quero morrer.Com um sobressalto. eu despertei. Coração acelerado e todo suado, foi assim que eu acordei. Estranho, tive esse sonho tantas vezes, mas desta vez ele estava diferente, ninguém nunca tinha falado comigo, e nesta noite parecia ter alguém comigo no carro.Será que foi por que eu bebi na noite passada? Podia ser que meus remédios estivessem fazendo efeito, porém isso não passava de suposição.Cocei minha cabeça e olhei ao redor à procura de Maree, tomei um grande susto ao encontrar Jessy sentada na cama,
Ontem, eu não havia reparado muito nela, mas seus traços me lembravam de alguém, só não sabia quem. Ela era negra de cabelos cacheados, baixinha e usava óculos. Era bastante fofa na minha opinião.— Eu preciso muito de outro livro — ela disse e deixou o livro no balcão. — Tem mais nesse estilo? — perguntou.— Acho que naquela prateleira tem vários deles. — Apontei para a prateleira onde ela pegou o livro ontem. — Pode levar quantos quiser — falei, e seu sorriso aqueceu meu coração, saber que uma jovem da idade dela tinha o hábito de ler era fabuloso.— Vou levar uns cinco, posso? — pediu, e eu assenti, fazendo-a sair correndo em direção à prateleira.— Como foi que você leu tão rápido? — Desliguei a máquina de café.— Minha irmã me deixou vários livros, e eu acabei pegando o hábito de ler. Com o tempo, eu nem percebi que era uma devoradora de livros. — Riu, e eu a acompanhei. — E como eu não tenho muito o que fazer em casa, posso ler o dia todo — completou.— Você deve estudar bastant