Deitado de barriga para cima na cama, fiquei imerso em meus pensamentos e deixei que eles me levassem de volta para a noite anterior. Nada do que ela disse fez sentido, bom, não para mim. Ela podia ter tido uma péssima experiência de vida e após a morte queria que alguém contasse como ela morreu, igual aos filmes. Ou talvez eu tivesse alguma ligação a ela. Tudo muito doido para pensar sozinho. Eu precisava conversar com alguém.
Levantei-me da cama e fui até o banheiro, um banho quentinho cairia bem agora, tirei a cueca do corpo e me enfiei embaixo da água. Tão relaxante.
Quem eu era? Será que meu disfarce era ser um pequeno empresário durante o dia e agente secreto à noite? Ou eu era um criminoso procurado que precisou se esconder da polícia? Muitas possibilidades e nenhuma solução.Agora não tinha mais como evitar, precisava investigar meu passado, saber minhas origens e recuperar minha memória, pois sentia que estava ligado a Maree e que ela aparecer para mim, quando poderia ter aparecido para qualquer pessoa, não era mera coincidência. Ela mencionou Jessy em sua história, talvez, se eu conversasse com ela, eu pudesse descobrir algo.
Desliguei o chuveiro e me sequei com a toalha macia que peguei pendurada, caminhei até o espelho para arrumar meu cabelo, mas parei ao notar algo escrito no espelho.
— Este é nosso segredo! — Li em voz alta.
Frustrado por ter que guardar isso só para mim, puxei alguns fios de cabelo. Como ia me recordar do passado se não podia contar sobre ela para ninguém?
Depois de pronto, eu desci para tomar café com minha mãe. Ser meu próprio chefe tinha suas vantagens, mas também tinha suas desvantagens, se eu não fosse trabalhar, não teria dinheiro no fim do mês e sem dinheiro, sem vida.
— Levantou cedo, querido — minha mãe disse assim que eu entrei na cozinha.
— Tive um sonho estranho — comentei.
— Aquele sonho ruim de novo? — perguntou. Um prato com torrada e um copo de suco de abacaxi foram colocados na minha frente.
— Sim — menti. — Mãe, quem eu era? Tem certeza de que eu não era algum delinquente? — questionei.
— Andrew, seu médico disse que forçar você a se lembrar do passado pode te fazer mal. — Suspirou. — Mas eu acho que te contar uma coisinha ali e outra aqui não vai ser tão ruim. — Sorriu sem mostrar os dentes.
Ela foi até o fogão e desligou o fogo, se sentou na minha frente e se serviu do mesmo que eu.
— Você sempre foi um garoto livre, reservado e muito amoroso. Ir para festas era algo que você não curtia muito e, certo dia, por um motivo que até hoje eu não sei, quando comporu a biblioteca foi uma grande surpresa para todos nós. Disse que aquele lugar se tornou especial e você queria passar mais tempo lá, seu pai te ama muito e faz tudo por você, lhe deu quando você foi aceito na universidade — minha mãe contou.
— Meu pai sabe por que esse lugar se tornou especial para mim? — Ela negou com a cabeça.
— Você nunca nos contou — falou e tomou um gole do suco.
— Vou ver se descubro algo. — Limpei minha boca e me levantei. — Vai ficar em casa hoje?
— Vou cuidar das minhas rosas antes que o inverno chegue — falou ela.
— Te vejo mais tarde então. — Eu me aproximei dela e lhe dei um beijo na testa.
Peguei o moletom em cima do sofá e saí de casa, subi na bicicleta e pedalei até meu local de trabalho. Ainda estava cedo, então eu tinha tempo suficiente para organizar as coisas por aqui e procurar por algo que me ajudasse a me lembrar do passado.
Organizei todos os livros que estavam fora do lugar, passei pano no chão e preparei algumas bebidas quentes para os clientes. Respondi alguns e-mails de editoras que queriam seus livros sendo vendidos aqui e quando percebi já era hora de abrir.
Pouco a pouco as pessoas se acomodaram, e, aproveitando essa deixa, eu comecei a procurar por pistas no balcão. Tudo que encontrei foi uma chave dourada. Estranho, enquanto eu limpava a biblioteca não encontrei nada que pudesse ser destrancado.
O jeito seria procurar com mais cuidado.
— Eu sou nova aqui, você pode me ajudar? — Uma garota de mais ou menos dezenove anos perguntou.
— Claro, o que procura? — Dei a volta no balcão e parei ao seu lado.
— Quero um romance de época. — Notei o entusiasmo em sua voz, ela parecia gostar desse gênero.
— Acho que hoje é seu dia de sorte, tenho uma prateleira inteira só com esse gênero. — Ela bateu palminhas animada.
Levei-a até uma das últimas prateleiras e lhe mostrei dos mais novos até os mais antigos, ela observava tudo com fascínio, e eu lhe dei espaço para escolher um livro que fosse de seu agrado, me virei e dei de cara com um livro. Sua aparência estava um pouco gasta, mas sem sombra de dúvidas eu conhecia aquele título.
Peguei-o e analisei sua capa: A Rosa de Sangue. Folheando algumas das páginas, notei que haviam algumas folhas soltas, imediatamente o levei para o balcão com o intuito de arrumar aquilo, mas as folhas não eram do livro, e sim anotações.
Segurei uma das folhas em minha mão e li o que estava escrito.
“Não tive coragem de te contar que hoje um homem suspeito me seguiu, sei que você surtaria e daria um jeito, mas gosto de como as coisas estão agora e farei o que for possível para que continue assim, até mesmo matar alguém...
20 de fevereiro de 2013”
Curioso em saber mais sobre aquela pessoa, li mais uma folha.
“Sei que é errado esconder segredos de você, mas preciso fazer com que nunca nos encontrem e estraguem isso que estamos vivendo, mesmo com a nossa cabeça a prêmio eu vou lutar e te proteger...
25 de fevereiro de 2013”
Tudo que era dito nas folhas, com uma caligrafia impecável, acontecia bem diante dos meus olhos, como um filme.— O que é isso? — Tomei um tremendo susto ao parar de ouvir a voz da minha cabeça e ouvir alguém falando comigo. Era Ryan, meu melhor amigo. Bom, eu achava que ele era.— Isso? Nada demais, apenas algumas páginas soltas. — Escondi todas as folhas dentro do livro. — O que faz aqui? — Mudei de assunto.— Vim ver como está se saindo com a biblioteca. — Olhou ao redor.Ryan era descendente de asiáticos, cabelo curto cortado dos lados, e sempre que o encontrava, estava muito estiloso. Ele parecia um atleta, mas odiava ser comparado com um. Era quase do meu tamanho e se formou em História na faculdade.Lembrei-me da história que Maree havia me contado ontem, me perguntei se, em algum momento, ele seria citado uma vez que Jessy apareceu. Um nome diferente e peculiar me foi soprado no ouvido como se fosse a resposta para a minha pergunta.— Dude — repeti em voz alta, e ele se virou
Ele estacionou na frente de uma boate, Sweet Ilusion era o nome do lugar. Logo no estacionamento era possível ouvir a música, os vidros do carro estremeciam com as batidas, e eu sentia meu coração bater no mesmo ritmo. A fila estava enorme, e eu não fazia ideia de como ele ia fazer com que a gente entrasse lá.— Como vamos entrar lá? — perguntei ao descer do carro.— Deixa comigo — Ryan piscou pra mim e ajeitou o cabelo no espelho do carro.Atravessamos a rua e seguimos em direção ao segurança na porta, Ryan trocou algumas palavras com ele e isso bastou para colocar a gente lá dentro. Parecia um formigueiro, as pessoas dançavam no ritmo da música, sozinhos ou acompanhados, uns bebiam e outros apenas ficavam sentados curtindo a música. Ryan me puxou para perto de um balcão que parecia ser o bar, me sentei em um dos banquinhos e fiquei olhando as pessoas dançando na pista.— Quero duas tequilas — pediu ele.— Eu não vou beber — falei. — Eu tomo remédio para memória, esqueceu? Se eu bebe
Era dia 19 de outubro de 2011, um dia comum como hoje. Aquele dia foi importante para mim, mas também foi o início de um inferno.Eu era uma simples garçonete em um dia comum de trabalho, recebendo ordens de um patrão irritante, que, por sinal, era meu pai, cuidando de um bebê que não era meu, mas tinha meu sangue, quando um grupo de jovens animados entrou na lanchonete. E, para o meu azar, eram todos do mesmo colégio que eu.— Quem foi que marcou no último minuto e levou o time à vitória? — Um deles gritou, apontando para o capitão, que não parecia à vontade ali.— Foi o capitão — gritaram todos juntos.Meu olhar não desgrudou do capitão até o momento em que ele me procurou com o olhar. Assim que nossos olhares se encontraram, uma expressão de alívio tomou conta do seu rosto e ele sorriu. Um sorriso perfeito com jeito de malandro e pinta de galanteador. A luz do sol bateu em seus cabelos negros, lhe dando um tom meio azulado que me fez suspirar com tamanha perfeição.— Ei, está viva?
Eu olhava várias vezes para o retrovisor para saber se o carro ainda me perseguia, virava em ruas aleatórias que eu mal sabia onde iam parar, minha respiração estava acelerada, e eu temia por minha vida. — Mais rápido, ele está quase nos alcançando! — Uma voz desconhecida por mim disse, parecia distante, mas tão próxima. Seu timbre ecoou em minha cabeça e foi ficando cada vez mais distante, porém eu ainda conseguia ouvir nitidamente e repetidas vezes a mesma frase: — Eu não quero morrer.Com um sobressalto. eu despertei. Coração acelerado e todo suado, foi assim que eu acordei. Estranho, tive esse sonho tantas vezes, mas desta vez ele estava diferente, ninguém nunca tinha falado comigo, e nesta noite parecia ter alguém comigo no carro.Será que foi por que eu bebi na noite passada? Podia ser que meus remédios estivessem fazendo efeito, porém isso não passava de suposição.Cocei minha cabeça e olhei ao redor à procura de Maree, tomei um grande susto ao encontrar Jessy sentada na cama,
Ontem, eu não havia reparado muito nela, mas seus traços me lembravam de alguém, só não sabia quem. Ela era negra de cabelos cacheados, baixinha e usava óculos. Era bastante fofa na minha opinião.— Eu preciso muito de outro livro — ela disse e deixou o livro no balcão. — Tem mais nesse estilo? — perguntou.— Acho que naquela prateleira tem vários deles. — Apontei para a prateleira onde ela pegou o livro ontem. — Pode levar quantos quiser — falei, e seu sorriso aqueceu meu coração, saber que uma jovem da idade dela tinha o hábito de ler era fabuloso.— Vou levar uns cinco, posso? — pediu, e eu assenti, fazendo-a sair correndo em direção à prateleira.— Como foi que você leu tão rápido? — Desliguei a máquina de café.— Minha irmã me deixou vários livros, e eu acabei pegando o hábito de ler. Com o tempo, eu nem percebi que era uma devoradora de livros. — Riu, e eu a acompanhei. — E como eu não tenho muito o que fazer em casa, posso ler o dia todo — completou.— Você deve estudar bastant
Escorreguei o corpo na banheira até que meu rosto estivesse completamente coberto pela água, o que eu fiz para merecer isso? Por que, entre tantas pessoas no mundo, justo eu tive que ir fazer sei lá o que em Washington e sofrer um acidente de carro? Queria me lembrar das coisas.Queria saber quem eu era e o que eu gostava de fazer, lembrar meu primeiro beijo e a sensação de estar apaixonado, queria lembrar como era ter o calor do corpo de alguém junto ao meu em uma noite de inverno e saber como era ser amado e amar. Para uns eram coisas simples, mas, para mim, não, esquecer os momentos mais importantes da minha vida era sufocante.Ergui meu corpo para a superfície em busca de oxigênio, passei a mão no rosto para tirar o excesso de água e meus olhos focaram a mulher à minha frente. Com o cabelo preso em um coque e completamente nua, Maree estava dentro da banheira comigo, sentada igual a mim, porém do outro lado. Estava tão absorto em meus pensamentos que não notei que já passava da m
Desci para tomar café, não teria tempo para ir na lanchonete hoje, mesmo levantando cedo. Encontrei meu pai, apreciando seu bom café, enquanto dava mamadeira para o Austin, que a cada dia ficava mais belo.— Bom dia — eu os saudei, o que os fez voltarem as atenções para mim.— Vejo que já se sente melhor. — Assenti. — Aquele seu amigo fez um café gostoso, viu? — Brincou meu pai enquanto pegava mais café na pequena panelinha.— Nem parece que trabalha fazendo café — murmurei baixinho, mas ele ouviu.— Deve ter aprendido em algum lugar. — Deu de ombros. — Ele pediu pra trabalhar na lanchonete com a gente.Estranhei. O capitão era filho de um grande empresário, era bem de vida. Não precisava trabalhar antes da faculdade e tinha certeza de que depois também não iria precisar, tinha grana o suficiente para viver tranquilo até os setenta anos.— Por que ele quer trabalhar se é rico? — questionei confusa, e ele novamente deu de ombros. — O senhor deixou?— Sim, precisamos de alguém pra ficar
O capitão me encarava com as sobrancelhas franzidas em sinal de confusão, apenas sorri e lhe dei um beijo na bochecha.— Não se preocupe, não é nada com que você precise se preocupar. — Ele ficou sério e segurou minhas mãos.— Quero que você saiba que, se precisar de algo, pode contar comigo. Não importa o que seja, eu vou estar aqui para você. — Deu um beijo em cada uma delas. — Nunca se esqueça disso.Eu não contei a ele meus problemas, apenas deixei toda mágoa presa dentro de mim se transformar em lágrimas e chorei, chorei por tudo que estava acontecendo na minha vida e pelas coisas que já aconteceram. E ele estava lá, me abraçando calado e me acolhendo em seus braços.Meus gemidos ficaram mais altos quando ela aumentou o ritmo da mão no meu pau, ela também estava se masturbando e, mais uma vez naquela noite, chegamos ao nosso ápice. Movido pelo momento, não me detive e roubei um selinho dela, ela se assustou, mas sorriu e não se afastou. Ela olhou em meus olhos enquanto fazia cari