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Capítulo 3 - Parte 1

Deitado de barriga para cima na cama, fiquei imerso em meus pensamentos e deixei que eles me levassem de volta para a noite anterior. Nada do que ela disse fez sentido, bom, não para mim. Ela podia ter tido uma péssima experiência de vida e após a morte queria que alguém contasse como ela morreu, igual aos filmes. Ou talvez eu tivesse alguma ligação a ela. Tudo muito doido para pensar sozinho. Eu precisava conversar com alguém.

Levantei-me da cama e fui até o banheiro, um banho quentinho cairia bem agora, tirei a cueca do corpo e me enfiei embaixo da água. Tão relaxante.

Quem eu era? Será que meu disfarce era ser um pequeno empresário durante o dia e agente secreto à noite? Ou eu era um criminoso procurado que precisou se esconder da polícia? Muitas possibilidades e nenhuma solução. 

Agora não tinha mais como evitar, precisava investigar meu passado, saber minhas origens e recuperar minha memória, pois sentia que estava ligado a Maree e que ela aparecer para mim, quando poderia ter aparecido para qualquer pessoa, não era mera coincidência. Ela mencionou Jessy em sua história, talvez, se eu conversasse com ela, eu pudesse descobrir algo.

Desliguei o chuveiro e me sequei com a toalha macia que peguei pendurada, caminhei até o espelho para arrumar meu cabelo, mas parei ao notar algo escrito no espelho.

Este é nosso segredo! — Li em voz alta. 

Frustrado por ter que guardar isso só para mim, puxei alguns fios de cabelo. Como ia me recordar do passado se não podia contar sobre ela para ninguém?

Depois de pronto, eu desci para tomar café com minha mãe. Ser meu próprio chefe tinha suas vantagens, mas também tinha suas desvantagens, se eu não fosse trabalhar, não teria dinheiro no fim do mês e sem dinheiro, sem vida. 

— Levantou cedo, querido — minha mãe disse assim que eu entrei na cozinha.

— Tive um sonho estranho — comentei.

— Aquele sonho ruim de novo? — perguntou. Um prato com torrada e um copo de suco de abacaxi foram colocados na minha frente.

— Sim — menti. — Mãe, quem eu era? Tem certeza de que eu não era algum delinquente? — questionei.

— Andrew, seu médico disse que forçar você a se lembrar do passado pode te fazer mal. — Suspirou. — Mas eu acho que te contar uma coisinha ali e outra aqui não vai ser tão ruim. — Sorriu sem mostrar os dentes.

Ela foi até o fogão e desligou o fogo, se sentou na minha frente e se serviu do mesmo que eu.

— Você sempre foi um garoto livre, reservado e muito amoroso. Ir para festas era algo que você não curtia muito e, certo dia, por um motivo que até hoje eu não sei, quando comporu a biblioteca foi uma grande surpresa para todos nós. Disse que aquele lugar se tornou especial e você queria passar mais tempo lá, seu pai te ama muito e faz tudo por você, lhe deu quando você foi aceito na universidade — minha mãe contou.

— Meu pai sabe por que esse lugar se tornou especial para mim? — Ela negou com a cabeça.

— Você nunca nos contou — falou e tomou um gole do suco.

— Vou ver se descubro algo. — Limpei minha boca e me levantei. — Vai ficar em casa hoje?

— Vou cuidar das minhas rosas antes que o inverno chegue — falou ela.

— Te vejo mais tarde então. — Eu me aproximei dela e lhe dei um beijo na testa.

Peguei o moletom em cima do sofá e saí de casa, subi na bicicleta e pedalei até meu local de trabalho. Ainda estava cedo, então eu tinha tempo suficiente para organizar as coisas por aqui e procurar por algo que me ajudasse a me lembrar do passado.

Organizei todos os livros que estavam fora do lugar, passei pano no chão e preparei algumas bebidas quentes para os clientes. Respondi alguns e-mails de editoras que queriam seus livros sendo vendidos aqui e quando percebi já era hora de abrir.

Pouco a pouco as pessoas se acomodaram, e, aproveitando essa deixa, eu comecei a procurar por pistas no balcão. Tudo que encontrei foi uma chave dourada. Estranho, enquanto eu limpava a biblioteca não encontrei nada que pudesse ser destrancado.

O jeito seria procurar com mais cuidado.

— Eu sou nova aqui, você pode me ajudar? — Uma garota de mais ou menos dezenove anos perguntou. 

— Claro, o que procura? — Dei a volta no balcão e parei ao seu lado.

— Quero um romance de época. — Notei o entusiasmo em sua voz, ela parecia gostar desse gênero.

— Acho que hoje é seu dia de sorte, tenho uma prateleira inteira só com esse gênero. — Ela bateu palminhas animada.

Levei-a até uma das últimas prateleiras e lhe mostrei dos mais novos até os mais antigos, ela observava tudo com fascínio, e eu lhe dei espaço para escolher um livro que fosse de seu agrado, me virei e dei de cara com um livro. Sua aparência estava um pouco gasta, mas sem sombra de dúvidas eu conhecia aquele título.

Peguei-o e analisei sua capa: A Rosa de Sangue. Folheando algumas das páginas, notei que haviam algumas folhas soltas, imediatamente o levei para o balcão com o intuito de arrumar aquilo, mas as folhas não eram do livro, e sim anotações.

Segurei uma das folhas em minha mão e li o que estava escrito.

“Não tive coragem de te contar que hoje um homem suspeito me seguiu, sei que você surtaria e daria um jeito, mas gosto de como as coisas estão agora e farei o que for possível para que continue assim, até mesmo matar alguém... 

20 de fevereiro de 2013” 

Curioso em saber mais sobre aquela pessoa, li mais uma folha.

“Sei que é errado esconder segredos de você, mas preciso fazer com que nunca nos encontrem e estraguem isso que estamos vivendo, mesmo com a nossa cabeça a prêmio eu vou lutar e te proteger...

25 de fevereiro de 2013” 

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