O movimento da lanchonete estava menos agitado. Eu entrei no quartinho para me arrumar.
Ela trouxe uma calça jeans escura de cintura alta, um par de saltos e um cropped de manga comprida, trouxe também um estojo de maquiagem e um par de brincos. Gostei de como a roupa ficou no meu corpo, mas me senti um pouco vulgar nela.
Soltei meus cabelos e tentei dar uma organizada nos cachos, passei um pouco de maquiagem no rosto e calcei os saltos. Já pronta e livre do serviço, pedi um táxi para me levar até a festa. A casa estava cheia, mal dava para andar, respirei fundo e decidi procurar pelo capitão. Esbarrei em algumas pessoas que nem deram importância para a minha presença, demorou um pouco, mas finalmente consegui encontrá-lo. Encostado no balcão com um copo de bebida na mão, ao seu redor havia algumas garotas, mas ele parecia estar entediado ao lado delas.
Cutuquei seu ombro, e ele se virou para mim, um grande sorriso se abriu em seu rosto ao me ver, parecia estar esperando por mim. Ele me olhou da cabeça aos pés e me elogiou:
— Você está linda.
— Obrigada. — Um pouco envergonhada, mexi em meu cabelo.
— Aceita? — Ofereceu o mesmo que bebia, e eu assenti.
— Capitão, vamos lá para cima? — uma garota de cabelos loiros se pronunciou.
— Obrigado pelo convite, mas terei que recusar. — Com uma concha, ele pegou um pouco de ponche e colocou em um copo.
— Deixa a gente cuidar de você — disse outra menina.
— Aqui, Maree. — Ele me entregou o copo com a bebida. — Vamos para outro lugar? Este aqui está um pouco sufocante. — Estendeu a mão, e eu a segurei. Fiquei feliz por ele ter ignorado as garotas. — Gruda em mim igual chiclete — ele falou sério e segurou mais firmemente minha mão.
— Pode ter certeza que sim — murmurei baixinho ao ver um conhecido, nem um pouco agradável, se agarrando com uma menina na ponta da escada. Por sorte ele não me viu.
Ele me levou para perto da piscina onde não tinha muitas pessoas, e nos sentamos nas espreguiçadeiras que estavam ali. Nunca na vida achei que eu, a invisível do colégio, iria a uma festa com o mais popular da escola e na casa dele, ainda por cima, na verdade eu nem sequer o imaginava falando comigo, sempre ficava rodeado de amigos e da Jessy.
— Você trabalha todos os dias na lanchonete? — perguntou.
— Sim, menos nas segundas, porque meu pai me dá uma folga. — Tomei um gole da bebida.
— Posso te levar pra sair quando você estiver de folga?
Não soube o que falar, ninguém nunca tinha me chamado para sair antes.
— Se me levar pra casa antes das onze… — Sorri para ele.
Depois disso, ficamos conversando sobre coisas aleatórias, por exemplo, se meu pai não o contrataria para trabalhar na lanchonete. Segundo ele, o lugar era aconchegante. Um menino tocou seu ombro e falou algo no ouvido dele.
— Fique aqui, eu tenho que ir ali resolver uma coisa e já volto, prometo que será rápido — pediu, e eu assenti.
Foi questão de segundos para ele sumir do meu campo de visão e eu entrar em desespero quando vi a pessoa desagradável se aproximando de mim. Virei e pensei em entrar na casa, mas sua voz me deteve.
— Maree? É você?
Eu me virei e sorri nervosa.
— Olá, Dylan, bom te ver. — Dei um sorriso forçado.
— Eu que o diga. — Mordeu os lábios, me olhando de cima a baixo.
— Então, é… já vou indo. Tchauzinho — falei e me levantei. Ele rapidamente agarrou meu braço com força.
— Que tal deixar eu lembrar o sabor da sua boca? — falou, me puxando para mais perto dele.
Ele começou a distribuir beijos pelo meu pescoço e passar suas mãos cheias de calos nas minhas pernas, tentava a todo custo me beijar, mas eu virava o rosto.
Seu corpo foi afastado de mim com rapidez, e um capitão furioso apareceu no meu campo de visão.
— O que pensa que está fazendo? — o capitão falou, ameaçando ir para cima dele, mas segurei seu braço, balançando minha cabeça em negação.
— Dando um jeito nessa vadia — Dylan disse.
O capitão me olhou, e eu soltei seu braço, permitindo que ele desse uma surra em Dylan, surra essa que só acabou quando foram separados por outros jogadores.
— Acha que vai poder protegê-la pra sempre? — Dylan disse após cuspir sangue no chão. Talvez um dente também.
— Pode apostar que eu vou. — O capitão se soltou de quem o segurava e passou o braço pela minha cintura, me levando para fora.
Eu fui até Saturno e voltei, meu corpo estava embriagado do copo de luxúria que ela me deu, essa história não fazia sentido, mas o que eu queria saber era o que ela estava fazendo. Suas curvas eram como as mais perigosas ondas do mar, e eu era o surfista ousado que surfava entre elas, seus lábios eram perfeitos e parecem ser tão macios.
Enquanto ela contava a história, eu observava cada movimento que seu corpo fazia, cada impulso e cada gesto. Meu pau ficou duro quando sua bunda ficou empinada na minha direção e desceu lentamente até o chão, seus lábios estavam vermelhos de tanto que ela os mordia e, por um momento, eu quis ser o mastro daquele pole dance.
Jogando o cabelo para a frente, ela se sentou na cadeira, passou a mão em sua perna direita antes de apertar seus seios de forma bruta e encarar meus olhos, enviando faíscas para meu corpo. Ela caminhou até onde eu estava. Eu me mexi desconfortável na cama, como ela podia ter tanto poder sobre mim assim?
— Se masturbe — disse ela enquanto dançava no ritmo de uma música que só ela conseguia ouvir.
— O quê?! Eu não vou fazer isso! — A luz do quarto se apagou, porém a do abajur ao meu lado se acendeu.
— Se eu pudesse, eu te ajudava, mas eu não consigo te tocar, não ainda. — Ela estava deitada ao meu lado.
— Por que não?
— Ainda é cedo para saber.
Ela se levantou e ficou de costas para mim, tirou o sutiã, jogando-o no meu rosto. Seus seios eram medianos e redondinhos, me arriscava a dizer que seu corpo foi esculpido por um Deus vaidoso e Ele fez dela sua semelhante.
— Seu nome é Maree? — perguntei curioso.
— Esse é meu nome do meio.
Quando dei por mim, eu estava ali, me masturbando ao lado de uma garota desconhecida, mas que despertou algo em mim que eu não tinha sentido desde que acordei, o que era delicioso. Na minha cabeça, tudo que eu mais queria era saborear seu corpo, provar do seu gosto e me tornar o mais condenado viciado.
A luz se apagou, e o foco de luz voltou para o mastro. Ela desceu lentamente a mão pela barriga e tocou sua intimidade, seu gemido fez eco no quarto todo. Como se um raio tivesse me atingido, aumentei os movimentos com a minha mão e acabei gemendo por aquilo estar bom demais.
— Feche os olhos, imagine que sou eu fazendo isso. — Fiz o que ela mandou. — Aperte, está sentindo minha mão te apertando? — Ela estava ali ao meu lado, mas não me tocava. — Mais rápido, amor, estamos quase lá. — Aquele foi o limite, em fortes jatos eu alcancei meu ápice e relaxei na cama.
Seria surreal admitir que eu queria provar mais dessa sensação?
— Então, qual é seu nome verdadeiro? — Ofegante, perguntei.
— Durma bem, Andrew. — E, dito isso, ela sumiu como fumaça.
Dei um pulo da cama quando notei que estava dormindo e que tudo fora um sonho, meu corpo estava suado e minha cama estava toda bagunçada. Minha mão estava pegajosa, e eu sentia meu pau latejar.
— Só pode ser brincadeira — falei assim que passei a mão pelos cobertores e puxei a calcinha de renda azul que ela estava usando. — Se foi um sonho, por que isso está aqui?
Deitado de barriga para cima na cama, fiquei imerso em meus pensamentos e deixei que eles me levassem de volta para a noite anterior. Nada do que ela disse fez sentido, bom, não para mim. Ela podia ter tido uma péssima experiência de vida e após a morte queria que alguém contasse como ela morreu, igual aos filmes. Ou talvez eu tivesse alguma ligação a ela. Tudo muito doido para pensar sozinho. Eu precisava conversar com alguém.Levantei-me da cama e fui até o banheiro, um banho quentinho cairia bem agora, tirei a cueca do corpo e me enfiei embaixo da água. Tão relaxante. Quem eu era? Será que meu disfarce era ser um pequeno empresário durante o dia e agente secreto à noite? Ou eu era um criminoso procurado que precisou se esconder da polícia? Muitas possibilidades e nenhuma solução. Agora não tinha mais como evitar, precisava investigar meu passado, saber minhas origens e recuperar minha memória, pois sentia que estava ligado a Maree e que ela aparecer para mim, quando poderia ter
Tudo que era dito nas folhas, com uma caligrafia impecável, acontecia bem diante dos meus olhos, como um filme.— O que é isso? — Tomei um tremendo susto ao parar de ouvir a voz da minha cabeça e ouvir alguém falando comigo. Era Ryan, meu melhor amigo. Bom, eu achava que ele era.— Isso? Nada demais, apenas algumas páginas soltas. — Escondi todas as folhas dentro do livro. — O que faz aqui? — Mudei de assunto.— Vim ver como está se saindo com a biblioteca. — Olhou ao redor.Ryan era descendente de asiáticos, cabelo curto cortado dos lados, e sempre que o encontrava, estava muito estiloso. Ele parecia um atleta, mas odiava ser comparado com um. Era quase do meu tamanho e se formou em História na faculdade.Lembrei-me da história que Maree havia me contado ontem, me perguntei se, em algum momento, ele seria citado uma vez que Jessy apareceu. Um nome diferente e peculiar me foi soprado no ouvido como se fosse a resposta para a minha pergunta.— Dude — repeti em voz alta, e ele se virou
Ele estacionou na frente de uma boate, Sweet Ilusion era o nome do lugar. Logo no estacionamento era possível ouvir a música, os vidros do carro estremeciam com as batidas, e eu sentia meu coração bater no mesmo ritmo. A fila estava enorme, e eu não fazia ideia de como ele ia fazer com que a gente entrasse lá.— Como vamos entrar lá? — perguntei ao descer do carro.— Deixa comigo — Ryan piscou pra mim e ajeitou o cabelo no espelho do carro.Atravessamos a rua e seguimos em direção ao segurança na porta, Ryan trocou algumas palavras com ele e isso bastou para colocar a gente lá dentro. Parecia um formigueiro, as pessoas dançavam no ritmo da música, sozinhos ou acompanhados, uns bebiam e outros apenas ficavam sentados curtindo a música. Ryan me puxou para perto de um balcão que parecia ser o bar, me sentei em um dos banquinhos e fiquei olhando as pessoas dançando na pista.— Quero duas tequilas — pediu ele.— Eu não vou beber — falei. — Eu tomo remédio para memória, esqueceu? Se eu bebe
Era dia 19 de outubro de 2011, um dia comum como hoje. Aquele dia foi importante para mim, mas também foi o início de um inferno.Eu era uma simples garçonete em um dia comum de trabalho, recebendo ordens de um patrão irritante, que, por sinal, era meu pai, cuidando de um bebê que não era meu, mas tinha meu sangue, quando um grupo de jovens animados entrou na lanchonete. E, para o meu azar, eram todos do mesmo colégio que eu.— Quem foi que marcou no último minuto e levou o time à vitória? — Um deles gritou, apontando para o capitão, que não parecia à vontade ali.— Foi o capitão — gritaram todos juntos.Meu olhar não desgrudou do capitão até o momento em que ele me procurou com o olhar. Assim que nossos olhares se encontraram, uma expressão de alívio tomou conta do seu rosto e ele sorriu. Um sorriso perfeito com jeito de malandro e pinta de galanteador. A luz do sol bateu em seus cabelos negros, lhe dando um tom meio azulado que me fez suspirar com tamanha perfeição.— Ei, está viva?
Eu olhava várias vezes para o retrovisor para saber se o carro ainda me perseguia, virava em ruas aleatórias que eu mal sabia onde iam parar, minha respiração estava acelerada, e eu temia por minha vida. — Mais rápido, ele está quase nos alcançando! — Uma voz desconhecida por mim disse, parecia distante, mas tão próxima. Seu timbre ecoou em minha cabeça e foi ficando cada vez mais distante, porém eu ainda conseguia ouvir nitidamente e repetidas vezes a mesma frase: — Eu não quero morrer.Com um sobressalto. eu despertei. Coração acelerado e todo suado, foi assim que eu acordei. Estranho, tive esse sonho tantas vezes, mas desta vez ele estava diferente, ninguém nunca tinha falado comigo, e nesta noite parecia ter alguém comigo no carro.Será que foi por que eu bebi na noite passada? Podia ser que meus remédios estivessem fazendo efeito, porém isso não passava de suposição.Cocei minha cabeça e olhei ao redor à procura de Maree, tomei um grande susto ao encontrar Jessy sentada na cama,
Ontem, eu não havia reparado muito nela, mas seus traços me lembravam de alguém, só não sabia quem. Ela era negra de cabelos cacheados, baixinha e usava óculos. Era bastante fofa na minha opinião.— Eu preciso muito de outro livro — ela disse e deixou o livro no balcão. — Tem mais nesse estilo? — perguntou.— Acho que naquela prateleira tem vários deles. — Apontei para a prateleira onde ela pegou o livro ontem. — Pode levar quantos quiser — falei, e seu sorriso aqueceu meu coração, saber que uma jovem da idade dela tinha o hábito de ler era fabuloso.— Vou levar uns cinco, posso? — pediu, e eu assenti, fazendo-a sair correndo em direção à prateleira.— Como foi que você leu tão rápido? — Desliguei a máquina de café.— Minha irmã me deixou vários livros, e eu acabei pegando o hábito de ler. Com o tempo, eu nem percebi que era uma devoradora de livros. — Riu, e eu a acompanhei. — E como eu não tenho muito o que fazer em casa, posso ler o dia todo — completou.— Você deve estudar bastant
Escorreguei o corpo na banheira até que meu rosto estivesse completamente coberto pela água, o que eu fiz para merecer isso? Por que, entre tantas pessoas no mundo, justo eu tive que ir fazer sei lá o que em Washington e sofrer um acidente de carro? Queria me lembrar das coisas.Queria saber quem eu era e o que eu gostava de fazer, lembrar meu primeiro beijo e a sensação de estar apaixonado, queria lembrar como era ter o calor do corpo de alguém junto ao meu em uma noite de inverno e saber como era ser amado e amar. Para uns eram coisas simples, mas, para mim, não, esquecer os momentos mais importantes da minha vida era sufocante.Ergui meu corpo para a superfície em busca de oxigênio, passei a mão no rosto para tirar o excesso de água e meus olhos focaram a mulher à minha frente. Com o cabelo preso em um coque e completamente nua, Maree estava dentro da banheira comigo, sentada igual a mim, porém do outro lado. Estava tão absorto em meus pensamentos que não notei que já passava da m
Desci para tomar café, não teria tempo para ir na lanchonete hoje, mesmo levantando cedo. Encontrei meu pai, apreciando seu bom café, enquanto dava mamadeira para o Austin, que a cada dia ficava mais belo.— Bom dia — eu os saudei, o que os fez voltarem as atenções para mim.— Vejo que já se sente melhor. — Assenti. — Aquele seu amigo fez um café gostoso, viu? — Brincou meu pai enquanto pegava mais café na pequena panelinha.— Nem parece que trabalha fazendo café — murmurei baixinho, mas ele ouviu.— Deve ter aprendido em algum lugar. — Deu de ombros. — Ele pediu pra trabalhar na lanchonete com a gente.Estranhei. O capitão era filho de um grande empresário, era bem de vida. Não precisava trabalhar antes da faculdade e tinha certeza de que depois também não iria precisar, tinha grana o suficiente para viver tranquilo até os setenta anos.— Por que ele quer trabalhar se é rico? — questionei confusa, e ele novamente deu de ombros. — O senhor deixou?— Sim, precisamos de alguém pra ficar