Ontem, eu não havia reparado muito nela, mas seus traços me lembravam de alguém, só não sabia quem. Ela era negra de cabelos cacheados, baixinha e usava óculos. Era bastante fofa na minha opinião.— Eu preciso muito de outro livro — ela disse e deixou o livro no balcão. — Tem mais nesse estilo? — perguntou.— Acho que naquela prateleira tem vários deles. — Apontei para a prateleira onde ela pegou o livro ontem. — Pode levar quantos quiser — falei, e seu sorriso aqueceu meu coração, saber que uma jovem da idade dela tinha o hábito de ler era fabuloso.— Vou levar uns cinco, posso? — pediu, e eu assenti, fazendo-a sair correndo em direção à prateleira.— Como foi que você leu tão rápido? — Desliguei a máquina de café.— Minha irmã me deixou vários livros, e eu acabei pegando o hábito de ler. Com o tempo, eu nem percebi que era uma devoradora de livros. — Riu, e eu a acompanhei. — E como eu não tenho muito o que fazer em casa, posso ler o dia todo — completou.— Você deve estudar bastant
Escorreguei o corpo na banheira até que meu rosto estivesse completamente coberto pela água, o que eu fiz para merecer isso? Por que, entre tantas pessoas no mundo, justo eu tive que ir fazer sei lá o que em Washington e sofrer um acidente de carro? Queria me lembrar das coisas.Queria saber quem eu era e o que eu gostava de fazer, lembrar meu primeiro beijo e a sensação de estar apaixonado, queria lembrar como era ter o calor do corpo de alguém junto ao meu em uma noite de inverno e saber como era ser amado e amar. Para uns eram coisas simples, mas, para mim, não, esquecer os momentos mais importantes da minha vida era sufocante.Ergui meu corpo para a superfície em busca de oxigênio, passei a mão no rosto para tirar o excesso de água e meus olhos focaram a mulher à minha frente. Com o cabelo preso em um coque e completamente nua, Maree estava dentro da banheira comigo, sentada igual a mim, porém do outro lado. Estava tão absorto em meus pensamentos que não notei que já passava da m
Desci para tomar café, não teria tempo para ir na lanchonete hoje, mesmo levantando cedo. Encontrei meu pai, apreciando seu bom café, enquanto dava mamadeira para o Austin, que a cada dia ficava mais belo.— Bom dia — eu os saudei, o que os fez voltarem as atenções para mim.— Vejo que já se sente melhor. — Assenti. — Aquele seu amigo fez um café gostoso, viu? — Brincou meu pai enquanto pegava mais café na pequena panelinha.— Nem parece que trabalha fazendo café — murmurei baixinho, mas ele ouviu.— Deve ter aprendido em algum lugar. — Deu de ombros. — Ele pediu pra trabalhar na lanchonete com a gente.Estranhei. O capitão era filho de um grande empresário, era bem de vida. Não precisava trabalhar antes da faculdade e tinha certeza de que depois também não iria precisar, tinha grana o suficiente para viver tranquilo até os setenta anos.— Por que ele quer trabalhar se é rico? — questionei confusa, e ele novamente deu de ombros. — O senhor deixou?— Sim, precisamos de alguém pra ficar
O capitão me encarava com as sobrancelhas franzidas em sinal de confusão, apenas sorri e lhe dei um beijo na bochecha.— Não se preocupe, não é nada com que você precise se preocupar. — Ele ficou sério e segurou minhas mãos.— Quero que você saiba que, se precisar de algo, pode contar comigo. Não importa o que seja, eu vou estar aqui para você. — Deu um beijo em cada uma delas. — Nunca se esqueça disso.Eu não contei a ele meus problemas, apenas deixei toda mágoa presa dentro de mim se transformar em lágrimas e chorei, chorei por tudo que estava acontecendo na minha vida e pelas coisas que já aconteceram. E ele estava lá, me abraçando calado e me acolhendo em seus braços.Meus gemidos ficaram mais altos quando ela aumentou o ritmo da mão no meu pau, ela também estava se masturbando e, mais uma vez naquela noite, chegamos ao nosso ápice. Movido pelo momento, não me detive e roubei um selinho dela, ela se assustou, mas sorriu e não se afastou. Ela olhou em meus olhos enquanto fazia cari
Minha mãe não estava em casa, então decidi subir para meu quarto, tirei o casaco e o larguei em cima da cama, peguei meu celular em meu bolso e analisei a foto novamente. Procurei por memórias em minha mente, mas nada, tudo que consegui fazendo isso foi uma forte dor de cabeça. Pensei que era apenas uma dor passageira, mas ela se intensificou, tentei pegar o remédio em minha gaveta, mas esqueci que o joguei fora pela manhã.Flashes inundaram minha mente me fazendo devanear entre eles. Por que uma simples memória me causava tanta dor?Bati a porta do armário e, com a toalha que eu tinha em mãos, sequei meu cabelo, um suspiro frustrado foi ouvido por mim e me virei para a pessoa ao meu lado.— Estou preocupado com ela — disse ele. — Por quê? — perguntei, me sentando no banco à sua frente.— Ela tem agido estranho ultimamente — falou o loiro após puxar alguns fios de cabelo, frustrado.— Talvez seja impressão sua. — Deixei a toalha de lado e me levantei.Fiz com que o rapaz alto e robus
Abri a porta outra vez e escutei uma explosão, corri para o local de onde vinha o brilho do fogo e a fumaça. Parei a poucos metros de distância do carro em chamas, eu não consegui ver se Bryan estava ali, mas senti algo bater em meu pé. Meu mundo caiu ao ver que era o capacete dele.— Por favor, alguém chame uma ambulância! — gritei para as pessoas ao redor, que estavam ali por pena e curiosidade.As lágrimas escorriam pelo meu rosto de forma descontrolada, e os soluços escapavam da minha garganta sem minha permissão. Lembrar doía, e como doía.Abri a porta de casa e voltei para empurrar a cadeira de Bryan, ele estava engessado da cintura para baixo e tinha um braço quebrado. O acidente não lhe trouxe feridas que deixariam sequelas, mas ele teria que repousar até segunda ordem.Deixei-o próximo do sofá e liguei a televisão, estava começando um jogo de basquete do nosso time. — Quer beber algo? — perguntei, mas ele nem me olhou. — Bryan, até quando você vai ficar sem falar comigo? — E
Ouvi a porta de entrada se abrindo e se fechando logo em seguida, ele deve ter voltado para a casa dele. Voltei para meu quarto e me joguei na cama. Quando eu acordei no hospital, eu só sabia meu nome e as demais coisas foram me contando ao longo dos dias, eu não lembrava como era minha relação com meus pais ou como era meu estilo de vida antes do acidente.O engraçado disso tudo era que uma simples foto fez com que eu recuperasse algumas memórias importantes e recebesse informações que pudessem me ajudar a voltar a ser quem eu era antes, talvez seguir em frente sem ligação com o passado não ia ser tão legal.— Pense pelo lado positivo. — Virei o rosto para o lado vazio da cama e a encontrei deitada ao meu lado, vestindo uma camisola preta. — Se você tivesse feito essa escolha, não iria conhecer a minha maravilhosa pessoa — falou ela e sorriu. Como eu amava esse sorriso.— Achei que você tinha ido embora — comentei, me aproximando mais dela na cama.— Se esqueceu que hoje não tivemos
Eu poderia simplesmente devolver o que sobrou do dinheiro, a mochila ainda estava no meu guarda-roupa. Eu poderia dizer a verdade para meus pais e pedir a ajuda deles. Eu poderia simplesmente contar ao capitão e pedir para ele fugir para qualquer lugar do mundo comigo.As possibilidades eram infinitas, mas todas me colocariam em mais encrenca e me trariam mais dor de cabeça.E foi assim que, mesmo contra a minha vontade, eu me levantei e comecei a me arrumar. Hoje não teria aula, o colégio inteiro estava focado no grande jogo, e o motivo disso era o prêmio para o time vencedor, o prefeito estava oferecendo bolsas de estudo para os jogadores e também uma reforma do colégio do time vencedor. Um prêmio e tanto, não?Escolhi algo confortável para vestir, uma blusa roxa que mostrava meus ombros e um pouco da minha barriga, peguei a primeira calça jeans que encontrei dentre a bagunça e calcei meu único par de tênis decente. Penteei meu cabelo e deixei-o todo cacheadinho, sequei com o secado