Fantasma da Sedução
Fantasma da Sedução
Por: Nyck Fireball
Capítulo 1 - Parte 1

Desviei de vários carros e virei em ruas aleatórias com um único objetivo: continuar vivo. Arrisquei olhar outra vez pelo retrovisor e sorri ao ver que eu tinha conseguido despistá-los.  Meu carro rodou na pista e, mesmo que eu pisasse no freio várias vezes, o carro não parou. Ele rodou mais duas vezes antes de ficar na beira de um penhasco. O carro que antes nos perseguia bateu na traseira do meu, e isso fez com que eu caísse do penhasco. Depois de rolar e capotar algumas vezes, o carro caiu no lago.

Eu me sentei na cama em um pulo, meu coração estava acelerado assim como minha respiração, meu corpo estava suado e arrepiado, mesmo tendo me livrado das cobertas enquanto dormia. E mais uma vez um maldito pesadelo me deixou com uma forte dor de cabeça.

Perdi as contas de quantas vezes este sonho me assombrou, já fazia um mês que saí do hospital e as consequências daquela noite continuavam na minha mente. Por que estavam me perseguindo?

Se eu fosse uma daquelas pessoas paranoicas, diria que isso era um sinal, mas sabia que era apenas a minha distorcida memória querendo voltar.

Com muita preguiça, me levantei da cama e desci para a cozinha; podia ter passado por uma experiência traumática, mas ainda era um ser humano que precisava se alimentar.

Servi-me de uma xícara de café e fui para a varanda, estava cedo, e logo o sol ia nascer. Sentei-me na escada e fiquei olhando a paisagem.

— Aquele sonho de novo? — perguntou minha mãe ao se sentar ao meu lado.

  Assenti.

— Talvez você precise conversar com um profissional — falou ela.

Suzan, minha mãe, sempre evitava conversar comigo sobre o dia do acidente porque, segundo ela, não me faria bem.

— Não gosto de ir ao psicólogo — falei.

— Sei disso, mas ao menos para ele te receitar um novo calmante — falou ela.

— Pensarei a respeito. — Tomei um gole do meu café.

Minha mãe não era uma mulher velha, mas também não era tão nova. Ela tinha 43 anos, mas, se lhe perguntassem, ela diria que tem menos, admitir a idade não era coisa que ela gostava de fazer. Era mais baixa que eu e diferente de mim, seus cabelos eram loiros, seus olhos não eram castanhos como os meus, e sim verdes, e eu sempre dizia que esse era o charme dela. Eu amava essa mulher.

— Preparado para reabrir sua biblioteca? — perguntou e tomou um gole do chá de camomila, seu favorito.

— Nem um pouco, estou com medo de aparecer alguma doida falando que eu sou pai do filho dela ou de alguém me bater por eu ter pegado a namorada dele. — Ela riu.

— Você não era esse tipo de garoto, Andrew — disse ela. — Aliás, você ainda pode contar com a Jessy e o Ryan.

— Não é como se eu me lembrasse deles, mãe. Eles estarem lá quando eu acordei não significa nada. — Terminei meu café.

No dia em que acordei no hospital, Jessy estava lá e minutos depois Ryan passou pela porta, ambos ficaram muito felizes em me ver acordado, e eu fiquei sem saber o que estava acontecendo. Jessy disse ser minha namorada desde a infância, Ryan se apresentou como meu melhor amigo, não era para me lembrar deles pelo menos? Mas eu não me lembrava deles, o pior de tudo foi quando Jessy me beijou e eu não senti nada por ela.

— Ocupar seu tempo vai ser bom para você, ficar muito tempo em casa vai te deixar maluquinho. — Ela me cutucou com o cotovelo e se levantou. — Agora sem enrolação, mocinho, você tem que trabalhar! — disse antes de voltar para dentro de casa.

— Sim, senhora.

Depois de tomar café, eu voltei para meu quarto, peguei no guarda-roupa o que eu pretendia usar, nada muito complicado, porque eu detestava isso. Optei por uma camiseta branca larga, um jeans surrado e um par de Vans. Havia sol, então eu peguei um moletom caso o tempo se revoltasse mais tarde. Rapidamente vesti o traje escolhido e fui para a frente do espelho arrumar meu cabelo; estava comprido, mas eu não queria cortá-lo, apenas me penteei com os dedos e deixei do jeito que estava.

Desci até a cozinha, e minha mãe ainda estava lá. Apesar de minha vontade ser ficar o dia inteiro em casa, eu precisava me distrair. Vendo pelo lado bom, já estávamos em outubro, e eu tinha muita esperança de que os dias passassem rapidamente.

— Vai ficar em casa hoje? — perguntei ao me sentar à mesa junto à minha mãe. Ela estava comendo enquanto via alguma coisa no celular, estava bem concentrada.

— Vou fazer meu cabelo, achei uns demônios brancos ontem e não gostei nada disso.

“Demônios brancos”, um nome legal para se dar aos fios de cabelo branco que se ganha quando envelhece.

Peguei uma maçã na fruteira e dei uma mordida, também roubei um pedaço da torrada que minha mãe deixou dando sopa no prato e bebi um gole de suco de abacaxi. 

— Até mais tarde, mãe. — Limpei a boca e dei a volta na mesa para dar um beijo no rosto dela.

— Não se esqueça de levar o guarda-chuva, querido — falou.

Assenti, e ela me soprou um beijo e voltou a olhar para o celular.

A biblioteca era um pouco longe da minha casa, e. como a dona Suzan me proibiu de dirigir, peguei minha bicicleta e segui pelo caminho que Ryan me ensinou.

Desci da bicicleta e a deixei no lugar designado ao lado de fora da biblioteca, com vergonha ou medo de alguém me cumprimentar e eu não fazer ideia de quem fosse, abaixei a cabeça e segui meu caminho. 

Assim que cheguei, eu comecei organizando os livros que estavam empilhados no balcão e depois cataloguei os novos que chegaram. Ainda estava cedo, mas as pessoas que realmente gostavam de ficar lá, assim que viram as portas abertas, se acomodaram nas almofadas em gota pelo chão. Minha biblioteca era bem moderna, tinha até local para leitura solitária, onde você podia ficar em um cantinho aconchegante coberto e fechado para que nada atrapalhasse. Tipo uma cabaninha, porém como uma casinha.

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