Capítulo 1.1

Fico boquiaberta ao olhar para casa que estava a minha frente.

Esses ricos de merda que não sabem dar valor ao dinheiro suado que eles mesmo ganham, desço do carro irritada.

— Está casa é sua? — pergunto indignada chutando sua bunda.

Como ele não esperava o ataque repentino bate a cabeça no porta-malas do carro que estava aberto, pois estava pegando as malas.

— Sua cretina. — Me lança um olhar mortal passando a mão na cabeça onde havia batido. — Se você quisesse algo mais simples ficasse em um hotel — grita irritado.

Sorrio cruzando os braços. Irritar Robert sempre foi algo maravilhoso e nem depois de longos anos ele não perde seu jeito explosivo e carrancudo.

O bom de tudo isso é que posso usar sua própria fúria contra ele mesmo.

— Você me odeia é isso? — Faço um biquinho magoado com olhos lacrimejando.

Drama psicológico funciona como luva para Robert e como eu previa vejo ele amolecer e ceder gradativamente.

— Corta essa, não vou cair no seu jogo. — Ele fecha sua expressão, mas seus olhos não negam que ele está preocupado.

— Rob — o cutuco. — Acha justo depois de onze anos de treinamento não me deixar ir atrás do Dragão? Você vai ajudar, não vai? Vai conseguir uma maneira de eu me encontrar com ele. — Faço cara de cachorro sem dono e o abraço esfregando meu rosto em seu peito. — Você acabou de gritar comigo e me chamou de cretina, depois de tanto tempo longe está me tratando mal dessa maneira. — Apelo para níveis mais baixos, pois sempre funciona com Robert.

Ele suspira pensativo e passa as mãos nos meus cabelos, preciso dele ao meu lado para encontrar o Dragão. Cheguei hoje e seria complicado levantar pistas dos seus passos tão rapidamente, mas conhecendo Robert, ele teve tempo suficiente para observar e seguir os passos de Dante, afinal, duvido muito que ele simplesmente tenha deixado todos os acontecimentos do passado de lado. Robert não confia no Dragão e jamais deixaria de ficar de olho nas ações dele, conheço bem o amigo que tenho e ele sempre me protegeu com toda a sua garra.

Preciso das informações que ele tem para dar início ao meu plano com urgência.

— O que eu não faço por você? — Ele me abraça apertado e eu sorrio.

— Obrigada Rob, eu sabia que você ficaria do meu lado. — Sorrio para ele o abraçando com mais força.

— Pare de me olhar com essa cara de cachorro sem dono — diz bravo.

— Essa cara sempre me salva quando você está bravo comigo. — Dou uma piscadinha o soltando do meu abraço de urso.

— Um dia desses vou me arrepender de tudo isso, vamos logo, você precisa arrumar suas coisas. — Termina de pegar minhas malas.

O ajudo a levar as malas para dentro da enorme mansão que ele chama de casa.

Deixo as malas em um quarto que ele preparou para mim e resolvo dar uma volta pela casa. A mobília é séria e de cores escuras, com poucos quadros e alguns vasos em lugares estratégicos. Para um lugar tão grande falta móveis e vida.

Não culpo Robert, pela falta de arte em sua casa. Ele vive mais na empresa do que aqui e posso acreditar que seu escritório é bem diferente deste lugar.

Robert assumiu as empresas Becker logo após a morte dos meus pais.

Às vezes custo a acreditar que meu pai não sabia o que iria acontecer com a nossa família, pois seu testamento sempre me deixou intrigada.

Como se ele soubesse que todos iriam morrer, deixou claro em seu testamento que Robert seria o responsável por assumir as economias e empresas Becker se não houvesse nenhum de seus familiares para assumir seu lugar. Como eu ainda era menor de idade, o testamento continuou válido.

Para toda a Itália o assassinato da família Becker levou a morte dos cinco membros da família. O que é uma mentira, pois ainda estou viva, mas pouquíssimas pessoas sabem da verdade.

A polícia vendo que o assassino poderia retornar para terminar o serviço, achou viável manter minha morte e sugeriu que eu saísse do país e trocasse de nome para retirar qualquer especulação que me envolvesse com o passado ou a família Becker.

Eu ainda era jovem e poderia reconstruir minha vida com algum familiar distante.

Eles sabendo que Robert também poderia sofrer com a liderança das empresas, acharam correto que ele não as assumisse como herança e sim como um comprador qualquer. Então ele fingiu comprar as ações e dar continuidade aos negócios mudando o nome da empresa Becker para Trion.

Foi uma ótima escolha já que tirou os olhares da mídia da família Becker e se voltaram para o mais novo milionário da Itália.

Acredito que com isso, qualquer dúvida que Dante tenha sobre a minha morte caíram por terra. Eu realmente quero colocar aos mãos no homem que um dia amei, e ter o prazer de matá-lo juntamente com seu pai.

Desço as escadas e encontro Robert fazendo sua deliciosa macarronada. O aroma se espalha pela a casa e faz meu estômago roncar, e como já é noite na Itália um frio leve me faz sorrir.

Simplesmente amo esse clima que fica entre o frio e calor gerando uma suave brisa de mudança de estação.

— Quer ajuda? — pergunto ansiosa e ele nega sorrindo.

— Ainda tenho amor a minha vida, não pretendo morrer com suas comidas indigestas. — Sorri cheio de si me encarando com aqueles lindos olhos castanhos brincalhões. 

— Engraçadinho, aprendi muita coisa no Japão, mas vou aproveitar a oportunidade para tomar um banho e deixar que você faça sua macarronada deliciosa. — Ele assente e eu volto para o quarto.

Assim que entro no chuveiro deixo a água morna massagear meus músculos cansados da viagem. Fecho os olhos e a única coisa que consigo enxergar são intensos olhos azuis envoltos de puro ódio.

Procuro concentrar meu foco no presente lavando meus longos cabelos ruivos. Tento frustrantemente expulsar da mente a tormenta que aquele homem causa e sem muito sucesso saio do banho me trocando rapidamente.

Coloco uma roupa de frio e penteio os meus cabelos molhados. Desço novamente para a cozinha onde Robert me espera com a mesa posta.

Aproveitamos o tempo para jogar conversa fora já que há muitos anos não tínhamos a oportunidade de nós sentar juntos e desfrutar da presença um do outro.

A macarronada que ele faz é com toda certeza a melhor que já comi em toda a minha vida e tenho certeza que não há restaurante no mundo que consiga sabores tão especiais.

Evitamos tocar no nome do causador de toda a nossa desordem emocional, mas em meio a conversas simplistas Robert, acaba tentando me convencer a deixar minha vingança de lado.

Eu entendo perfeitamente que para ele meus planos são muito arriscados, mas quando sua vida é destruída sem motivos pela pessoa que lhe jurou amor eterno, tudo em que você acredita se desfaz e mesmo que você tente lutar com todas as forças para seguir em frente, o vazio e o buraco em meu peito me puxam para trás querendo respostas. 

Com uma pequena falha de informações e explicações sem sentido, Robert deixa escapar que haverá uma festa na mansão Voyaller no final de semana. Será um evento de alta classe fechado para convidados especiais.

Sabendo que não poderia perder a oportunidade de observar o território inimigo, obrigo Robert encaixar meu nome na lista de convidados.

Influência Robert Trion tem de sobra.

Rastejei, supliquei, implorei e beijei seus pés até finalmente conseguir convencer esse cabeça dura a me ajudar. Em completo contragosto ele concorda em dar um jeito de encaixar meu nome na lista de convidados.

A felicidade me consome por saber que encontrarei O Dragão de Veneza mais rápido do que eu esperava.

Agora preciso treinar minha mente e o meu espírito para não me deixar influenciar pela sua presença maçante, pois ver aqueles olhos medonhos como um mar revolto cheio de ódio e malicia não é algo fácil de se enfrentar pessoalmente.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo