Capítulo 2.2

Meu coração se acelera e minhas pernas ficam bambas, essa aproximação repentina faz meus sentidos rodarem e um torpor estranho invadir minha mente.

— Dan. — Acabo chamando-o pelo apelido que costumava chamá-lo e ele franze a testa em surpresa.

Meu coração descompassado não colabora com minha respiração desregular e por mais que tente me acalmar, vê-lo tão próximo me assusta coloca em prova todos os meus sentidos, porém foi um erro chamá-lo daquela maneira. 

— Oras se não é Dante Voyaller o Dragão de Veneza. — Sorrio irônica puxando meus pulsos, mas ele mantém seu aperto olhando dentro dos meus olhos.

Sustento seu olhar encarando-o por incontáveis minutos, ele me observa intrigado com suas sobrancelhas franzidas enquanto seu perfume invade cada vez mais meus sentidos tirando minha concentração. Seu olhar se mantém firme nos meus mais demonstra um misto de dúvida e incerteza.

Perdido em seus pensamentos seu semblante de irritação muda para tristeza e sofrimento.

O ódio dentro de mim cresce uma vez que ele me encara daquela maneira, minha vontade era desferir uma sequência incontável de socos em seu rosto e logo em seguida cravar meu punhal em seu coração lentamente, mas não posso seguir meus instintos antes de descobrir toda a verdade por trás daquela noite.

Seu rosto se aproxima dos meus cabelos inspirando profundamente. Seus olhos se fecham como se ele relembrasse o passado assim como eu. Um arrepio passa pelo meu corpo e meu coração se acelera de uma maneira diferente, não é medo, é uma sensação estranha que a muito tempo não sentia.

Desnorteada com sentimentos incompreensíveis, me mantenho quieta e imóvel esperando uma reação vinda dele.

— Ivi — ele sussurra em meu ouvido o apelido que costumava me chamar. Isso me quebra, desarma e destrói. O tom de sua voz, a suavidade, a dor por trás daquela palavra.

Por que ele sofre? Por que ele sofre como eu? Isso está errado. Não pode ser real, eu o odeio e quero matá-lo.

Sinto um grande nó em minha garganta e quando menos espero ele solta meus braços que cai em volta do meu corpo sem forças. Aquele apelido ressoa pela minha mente como uma bomba relógio prestes a explodir.

Eu quero correr o mais rápido possível. Quero me manter longe, mas meu corpo não obedece a meus comandos.

Dante me puxa contra seu peito em um abraço forte e inesperado, o choque que recebo é tão grande que faz meu corpo estremecer em contato com o seu.

Isso tudo não é real. Ele matou sua família, ele tentou matar você. Minha mente insiste em lembrar do passado e eu agradeço por isso. 

Passo a mão pelo punhal que está guardado e deixo a lâmina afiada ferir meus dedos, a dor e a ardência me tiram do meu estado de choque momentâneo e faz toda a realidade cair perante os meus olhos. O ódio e a raiva dominam meus sentimentos e pensamentos instantaneamente e com uma força exagerada o empurro fazendo com que ele se afaste do meu corpo.

Desfiro um soco em seu rosto mesmo que seus olhos mostrem que ele está atordoado assim como eu. Como esperado os seus reflexos são bons e antes que minha mão chegue ao seu rosto seus dedos seguram meu braço bloqueando meu ataque. 

Ergo rapidamente meu punhal em direção ao seu rosto e ele desvia dando um passo para trás ainda segurando meu braço com uma força exagerada. Um pequeno risco de sangue se forma em sua bochecha, pois acertei de raspão a ponta da lâmina em seu rosto.

Em um movimento rápido ele gira meu braço prendendo-o atrás das minhas costas. Com isso tem a oportunidade de me forçar a soltar o punhal, mas antes que ele consiga imobilizar todos os meus movimentos, consigo desprender meu pulso de suas mãos e chuto seu peito com força vendo ele cair sobre a cômoda derrubando tudo o que tinha em cima.

Antes que as coisas piorem para nós dois, pois eu sei muito bem o meu lugar e uma luta direta com ele me coloca em desvantagens por toda a sua experiência, corro em direção janela, pois não estou psicologicamente preparada para usar toda a minha força contra alguém que mexe tanto com os meus sentimentos.

Meu objetivo era estudar seu território e analisar de perto o quanto ele mudou e já foram concluídos. A única coisa que preciso no momento é sair o mais rápido possível desta casa, mas antes de chegar à janela algo atinge minha cabeça me fazendo parar abruptamente.

Respiro profundo sentindo uma grande irritação tomar conta do meu corpo ao ver o vidro de perfume caído sobre o tapete felpudo do quarto.

Irritada com sua atitude seguro o cinzeiro que estava sobre a escrivaninha ao lado da sua cama e devolvo o ataque, porém ele já esperava por aquilo e desvia facilmente, mas ele não espera o relógio que acerta sua testa em cheio. 

— Vadia — rosna com mão na testa.

Ignoro a sua falta de educação e me preparo para me jogar sobre uma janela de vidro e rolar telhado abaixo. Ao pegar impulso pronta para sair daquele local fatídico e nostálgico sinto as mãos de Dante me impedir de continuar ao segurar meu tornozelo me levando ao chão juntamente com ele.

Tento me soltar do aperto de suas mãos, mas ele me puxa em direção ao seu corpo.

— Infernos — praguejo várias vezes.

Acerto uma cotovelada em suas costelas na intenção de que ele me solte, mas a única coisa que recebo é uma expressão de dor vinda de sua face. Mais uma vez tento chutá-lo, mas quando vejo ele está montado em cima de mim imobilizando minhas pernas. Forço meu corpo na tentativa de inverter as posições, mas estou em desvantagem por ter as pernas presas entre seu corpo pesado, então uso as mãos para atacá-lo em uma sequência de socos que acerta sua costela, seu peito e seu rosto de raspão.

— Fica quieta! — Dante consegue segurar meus pulsos os prendendo no chão subindo completamente em cima de mim com seu rosto bem próximo ao meu.

— Me obrigue. — Acerto minha testa na dele e o vejo resmungar devido a dor, mas antes mesmo de se recuperar do baque que acabou de levar, ele devolve a pancada com uma força maior por ter vantagens e estar por cima.

Solto um gemido de dor e vejo o quarto a minha volta rodar ao sentir a pancada direta na lateral da minha testa. Aproveitando meu estado de delírio momentâneo me vira de barriga para baixo sentando sobre meu corpo imobilizando completamente qualquer e possível ataque que eu tente usar contra ele.

— Acreditei que fosse algum tipo de repórter em busca de informações para suas revistas de fofocas, mas vejo que foi muito bem treinada. — Mesmo conseguindo ouvir o que ele diz, não consigo de fato prestar atenção em suas palavras.

Eu me mexo tentando sair debaixo dele e levar minha mão a testa, pois ainda dói, mas não tenho sucesso em me movimentar já que ele faz questão de soltar todo seu peso sobre o meu corpo e sendo sincera, esse homem é mais pesado do que eu poderia esperar.

— Para quem você trabalha e porque está nas minhas terras?

Ignoro sua pergunta.

Não terei outra oportunidade como essa, não terei como me aproximar dele novamente, então preciso arrumar uma maneira de permanecer nesta casa para me aproximar, pois há muitas coisas que não entendo e somente ele pode me responder.

Existem muitas coisas que não sei sobre o passado e tudo isso é errado. Quero concluir minha vingança, quero vê-lo sofrer como sofri, mas antes preciso descobrir toda a verdade por trás daquela noite.

— Quem? — Forço ainda mais meu braço e posso sentir o osso do meu ombro quase se deslocar.

Ele está usando a força para me fazer falar. 

— Eu não trabalho para ninguém. — Não escondo o ódio em minha voz. — Queria apenas conhecê-lo pessoalmente já que pretendo entrar para máfia italiana — digo sem me importar com o nervosismo que emana dele.

— Qual é o seu envolvimento com Golodiev? — Sua voz soa calma, mas ele está intrigado e contrariado, consigo perceber pelo tom de sua voz.

— Por que tantas perguntas? Eu sei que você pesquisará tudo sobre mim e encontrará todas as respostas, então encurte o assunto, vai lá, sou Dana Trion e quero entrar para máfia 371. Você sabe que coloquei vários dos seus homens para dormir, eles são tão fracos. — Sorrio ao lembrar deles caindo um após o outro. 

— Qual é o seu envolvimento com Golodiev? — torna a perguntar.

— Nem mesmo sei quem é — falo com sinceridade.

— O senhor que conversou com você na festa. Tem certeza que não o conhece? Ele parecia realmente animado e interessado em você.

— Aquele senhor estranho — suspiro. — Não tenho envolvimentos com ele, sou apenas uma mulher que deseja vingança. — O instigo a saber mais sobre mim.  

— Por que um Trion, trocaria a vida de luxo por mera vingança? Sabe que se entrar onde pretende não terá volta. — Afrouxa o aperto do meu braço. 

— Quero vingar a morte dos meus pais, todos dizem que foi um acidente de carro, mas eu sei que é mentira. Eles foram assassinados e somente aqui conseguirei as informações que preciso. — As imagens do passado retornam à minha mente e ter o autor do crime tão próximo me deixa completamente atordoada.

Apesar de mentir para Dante sobre a minha verdadeira vingança, não menti sobre os pais de Robert que morreram em um acidente de carro e até hoje os polícias não conseguem explicar os motivos. Os Trion sempre foram próximos da família Becker e quando Robert ficou órfão, meu pai se sentiu na obrigação de adotá-lo indiretamente sem que as pessoas ou a mídia soubessem.

Para despistar os assassinos Robert assumiu as empresas como um comprador depois de meses da morte dos meus pais, se tornando um dos jovens mais bem sucedido da Itália. Por esse fato, qualquer pesquisa que Dante fizer sobre Robert, andará em círculos, pois tudo que envolve os Becker a Robert foi apagado por ordens do juiz. 

Meu braço começa a ficar dormente e não me sinto nem um pouco confortável em me explicar naquela estranha posição.

— Será que poderia sair de cima de mim, eu não vou te atacar novamente. — Minha voz sai baixa e calma indicando que eu estou cedendo a ele.

Sem expressar nenhuma reação ele apenas solta minhas mãos e se levanta. Suspiro aliviada e após me levantar massageio meu ombro dolorido pela posição desconfortável. Ouso erguer meus olhos em direção aquele homem que tanto odeio e me surpreendo em vê-lo imerso em seus pensamentos. Seus olhos esconde a luta que ele trava dentro de si e depois de inúmeros segundos imerso em seu próprio mundo ele finalmente me encara quebrando o silêncio com sua voz fria e firme.

— A verdade é que a partir do momento que você colocou os pés nesta mansão sem ser chamada não sairia mais daqui. Todos os que sabem sobre a máfia moram nestas localidades. E para alguém do seu tamanho, você sabe demais, então pare de colocar o seu nariz onde não foi chamada, pois te renderá um confinamento particular nesta casa — suspira desgostoso. — Eu não te aceito como membro da máfia 371 e muito menos confio em você, mas não posso negar que é forte e muito bem treinada, inexperiente, mas bem treinada. — Fico surpresa com o que escuto.

Por essa eu não esperava.

— Quer dizer que ficarei trancada aqui?! — Uso um tom de indignação e deixo todo o choque daquelas palavras transparecer em meu rosto. 

— Exatamente. — Cruza os braços sobre o peito. — Ficarei de olho em você. A partir de agora você trabalha para mim. Eu mando e você obedece. Você ficará na mesma casa que eu e não sairá sem a minha permissão, posso pensar em treiná-la já que você é boa o suficiente para isso, mas por enquanto observarei as suas atitudes. — Ele passa as mãos pelos cabelos enquanto despeja sobre mim aquele monte de baboseiras.

É claro que não me agrada saber que serei confinada a um ambiente em que ele esteja vinte e quatro horas presente, mas como recusar uma oferta tão perfeita que me leva a um grande avanço para conclusão da minha vingança.

É claro que aceitarei ficar aqui, porém não posso demonstrar minha felicidade e como uma boa atriz rejeito aquelas palavras.

— Não vou ficar trancafiada na sua mansão somente porque você quer — digo irritada.

— Não estou te dando opções, estou dizendo que será assim. Como você disse, eu pesquisarei tudo sobre a sua vida e depois te encherei de perguntas. Se por ventura você mentir, eu te mato. É assim que será. Pensasse antes de invadir a minha festa, a minha casa e o meu mundo — ele diz arrogantemente, enquanto eu reviro os olhos.

Um grande e incompreensível desejo de enfiar minha mão em sua cara bonita surge em meu peito e quando vejo deixo a ironia me dominar.

— Se por ventura eu enfiar a minha mão na sua cara aqui e agora o que você fará? — pergunto inocentemente vendo sua testa franzir em uma expressão de surpresa e indignação.

— Você ficaria três dias trancada em um quarto sem comida, eu mando e você obedece, Srta. Trion. Eu sou o chefe e não ache que serei gentil por ser uma mulher. Não ouse me desrespeitar, pois os castigos que receberá não serão agradav... — Antes que ele termine sua frase minha mão atinge seu rosto em cheio fazendo o barulho repercutir pelo quarto.

Vejo ele fechar as mãos em punhos e travar o maxilar respirando profundamente. Um sorriso de satisfação dança em meus lábios por ter acertado seu rosto.

Ficar sem comer três dias não é nada quando tive que ficar mais de uma semana por causa dos treinos no Japão.

Não gosto da ideia de ficar trancada nesta casa, mas vejo isso como uma bela oportunidade para me aproximar dele e ganhar sua confiança.  Somente assim poderei retirar todas as minhas dúvidas sobre o passado.

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