Capítulo 2

Sei que não deveria estar tão focada nesta vingança, também sei que antes de planejar qualquer ataque ao inimigo, devemos analisar o seu território e é exatamente isso que farei esta noite.

Depois de chegar a Itália acreditei que teria um tempo para visitar os meus lugares preferidos como o Coliseum, que apesar de ser um lugar antigo me chama a atenção. Queria também dedicar um tempo especial a Robert que sempre cuidou de mim, mas a vontade de encontrar Dante se sobrepõe a todas as outras em meu coração, eu não poderia perder uma oportunidade tão grande como está de entrar diretamente na toca do Dragão.

A semana passou rápido e meu foco ficou voltado para a festa que me espera está noite.

Robert tentou de todas as maneiras me convencer a mudar de ideia, mas meus pensamentos estão ligados ao Dragão.

Vejo meu reflexo e me sinto satisfeita com a minha imagem. O vestido que escolhi realça minhas curvas deixando-as delineadas. Como não quero chamar atenção mais que o necessário optei por uma cor escura e mais simples. O famoso preto básico. A fenda que se estende na perna me deixa desconfortável por mostrar mais pele do que eu gostaria, entretanto é necessário para os meus movimentos em uma possível luta.

Foi difícil escolher um vestido que se encaixasse no que eu realmente estava buscando, todos os modelos eram ousados demais e a maioria deles deixavam parte das minhas costas exposta o que não é uma boa coisa, pois levo o brasão da família Becker — uma flor de lótus — escondido entre as penas de uma fênix em uma belíssima tatuagem.

Respiro profundamente arrumando o coldre de facas na parte superior da minha coxa.

Não costumo usar armas de fogo, apesar de ser muito práticas e rápidas, gosto e opto por armas brancas, todos os tipos possíveis de armas brancas.

Termino de arrumar meus cabelos ruivos deixando-os em ondas caídos sobre minhas costas e ombros. Realço bem meus olhos castanhos esverdeados para que fiquem marcantes e retoco o batom vermelho deixando meus lábios vivos e chamativo.

Sinto meus olhos marejados ao tocar minha orelha e analisar o pequeno brinco de diamantes que brilha delicadamente. Uma peça exuberante e sensual, um presente especial passado de geração em geração que guardo com carinho, pois, foi o último presente que ganhei da minha mãe antes dela partir.

Esses pensamentos me assombram e entristecem, então procuro dispersá-los, pois, não poderia me apegar ao ódio neste momento, desço para sala onde Robert me espera visivelmente chateado e por mais que ele tente esconder seu nervosismo falha drasticamente.

— Você deveria desistir — insiste Robert assim que coloco os pés na sala.

— Por Deus Rob, pare com isso. Estou indo apenas para analisar o local e observar Dante Voyaller de perto. Se for favorável para mim colocarei meus planos em prática. — Seguro minha pequena bolsa de mão que têm um fundo falso onde escondo um pequeno punhal adaptado para se encaixar perfeitamente no fundo e algumas maquiagens adaptadas a armas, como o batom que no lugar do gloss leva uma pequena faca.

— Eva... — persisti transtornado.

— Nada de vir atrás de mim se eu não voltar. — O observo duvidosa.

— Não posso garantir nada — bufa irritado.

— Já conversamos sobre isso, nada de agir por impulsividade. Você sabe que pode estragar todos os meus planos se fizer isso — o repreendo e ele suspira. — Você sabe que para tirar tudo o que quero de Dante precisarei da sua confiança e para ganhar isso somente fazendo parte das falcatruas que ele se envolve.

— Eu odeio esse homem — diz irritado. — E odeio ainda mais a ideia de te ver fazer parte do mundo distorcido dele.

— Somos dois. — Pisco para ele sorrindo. — Não se preocupe, você sabe bem o que eu quero Rob, apenas proporcionar dor e sofrimento aquele homem.

— Eva, não faça nada de imprudente. Sabe que eu não suportaria perdê-la novamente. — Ele se aproxima acariciando os meus cabelos com carinho e preocupação.

Respiro profundamente apoiando minha mão em seu peito em sinal de conforto.

— Você não irá me perder, mas precisa confiar em mim. Talvez eu precise passar alguns dias, semanas ou meses naquela casa para descobrir a verdade. — Observo seus olhos cansados e preocupados. — Tudo é mais complexo do que imaginamos e você sabe disso.

— Só tome cuidado. — Deixa um beijo na minha testa.

— Prometo tomar. — Sorrio gentilmente.

— Tarciso está a sua espera com uma Lamborghini. Não poderia deixar minha maninha chegar de táxi — fala com um olhar entristecido, mas com um sorriso de satisfação.

Balanço a cabeça em negação enquanto caminho até a porta. A preocupação e tensão ainda estão estampadas na face de Robert, mas preciso seguir meu curso, não poderia desistir agora.

Dou um forte e longo abraço me despedindo e como ele havia dito o seu motorista estava à minha espera. Me acomodo no carro e sem demora Tarciso segue para a mansão Voyaller, onde aconteceria uma das maiores festas da redondeza.

A mansão fica no nordeste da Itália em uma localidade afastada muito próximo à Veneza. É um lugar restrito comandado pela família Voyaller, e somente convidados tem o direito de entrar e sair.

Conforme nos aproximamos observo a floresta ao meu lado pela janela e acabo por me lembrar dos intensos olhos azuis de Dante em meio a escuridão. Os gritos de agonia dos meus familiares preenchem meu peito e o desespero se espalha por todos os poros do meu corpo.

Sou obrigada a fechar os olhos fortemente e respirar profundamente acalmando minha pulsação que se acelera drasticamente. Sei que treinei todos esses anos para encontrá-lo, mas não importa quanto tempo passe essa dor em meu peito jamais irá se amenizar.

Não posso perder o equilíbrio agora, não posso me dar o luxo de errar com esse homem.

— Senhorita, estamos quase chegando. — A voz do motorista rompe meus pensamentos e somente agora analiso a localidade.

Estive aqui poucas vezes, mas é tudo como me lembro. Um grande muro cerca as terras e os seguranças fazem plantão sem descanso. Procuro gravar cada pedaço de terra por onde passamos e tenho que admitir que essa sempre foi uma belíssima casa.

Tarciso segue um caminho de pedras que nos leva até os grandes portões da mansão.

Um dos seguranças pede o convite e após confirmar que o bilhete é válido libera nossa passagem.

Já é noite e a pouca claridade da lua não colabora com a minha visão, mas ainda consigo me lembrar vagamente que do lado esquerdo há um lindo jardim que se perde em um labirinto como nos contos de fadas e a direita uma imensa e densa floresta que se espalha ao nosso redor.

Quando pequena lembro vagamente de vir visitar Dante, mas conforme fui crescendo suas visitas eram constantes na mansão Becker, mas isso não importa agora. Tento dispersar esses pensamentos.

Tarciso segue até a entrada da mansão dando a volta em torno de uma grande fonte muito bem iluminada, onde um dragão jorra água pela boca. Seguimos em frente e paramos na escadaria que leva a porta de entrada.

A porta ao meu lado se abre revelando um dos seguranças que educadamente estende sua mão em minha direção, seguro sua mão com um grande sorriso enquanto meus olhos percorrem todo o local com cuidado.

Este lugar é o verdadeiro covil do dragão, concluo o pensamento ao avistar muitos homens armados fazendo a guarda não somente da casa, mas de todo o local.

Procuro observar cada detalhe sem deixar nada passar e sinceramente, isto será mais difícil do que imaginei. Dante é um homem esperto, calculista e intimidador, gosta de mostrar o poder que tem, no passado era assim e observando bem nada mudou.

Subo as escadas que me levam as grandes portas de madeira com o símbolo da família Voyaller entalhado na porta. O dragão bem desenhado não me passa despercebido, pois para muitos é um simples desenho, mas para mim significa a morte dos meus familiares.

Atordoa-me em pensar que muitos anos da minha vida admirei esse símbolo, e hoje a única coisa que consigo sentir é ódio e nojo.

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