– Não. — falei virando-me de volta e indo para a barraca.
Um cara que deveria ter seus trinta anos, sarado e bronzeado do sol sorriu. Previ que fosse o dono do estabelecimento. Se bem que tava meio óbvio.
– Ei, posso ajudar? — perguntou ele com um forte sotaque sulista.
– Quanto tá o aluguel da prancha de surf? — eu disse.
Ele disse o preço e eu escolhi uma, paguei e saí levando ela.
Dois minutos depois Mattias foi lá e saiu com uma prancha na mão também.
– Tem certeza que não quer que eu te ajude? — falou ele.
– É claro que não — falei.
– Tem certeza? — tentou ele de novo.
Bufei.
– TENHO.
Ajeitei a prancha no mar e como já havia visto em filmes, me joguei sobre ela, procurando manter o equilíbrio enquanto me distanciava cada vez mais. Quando eu já estava em uma distância considerável, sentei na prancha e senti meu corpo tremer e perder o controle. Escorreguei, observando com desespero me afastar cada vez mais da prancha e começar a engolir água. O ar começou a sumir dos meu pulmões e… e…
POV’S Mattias
Como aquela garota consegue ser tão orgulhosa a ponto de rejeitar minha ajuda, entrar no mar e se afogar?
– Ela está se afogando! — gritou Emma, já entrando no mar.
Puxei ela para trás e falei:
– Fica ai, já já eu trago ela — pulei no mar, e mergulhei.
Encontrei ela já desacordada, muito longe da margem. Coloquei-a nos meus braços e a trouxe para a areia, chequei o pulso dela, ainda estava respirando.
– Ela está bem? — Perguntou Will, se aproximando preocupadamente,
– Está — disse eu — mas vou ter que fazer respiração boca a boca.
Me debrucei nela e aproximei meus lábios dos dela, mas antes que eu os alcançassem Will me empurrou pro lado:
– Sai pra lá, ela não gostaria que você fizesse isso. — disse ele, fazendo uma careta.
– Mas eu salvei ela — contestei.
– E dai? Acredite, se você fizesse respiração, ela iria acordar socando sua cara — disse ele.
Segurei a raiva e observei ele se debruçar nela, colar seus lábios no dela, assoprando.
Ela acordou esbugalhando os olhos e cuspindo água. Se sentou, piscando diversas vezes, parecendo atordoada.
Então como que acordando de um sonho ruim e sentindo o alívio seguinte ao conferir que ele não passava de um pesadelo, ela o abraçou:
– Will?! Obrigada — disse ela, distribuindo beijos por toda face dele.
Will havia corado, e desajeitadamente sorria.
– Ahn de nada… — disse. Abriu um sorriso fraco e socou o ombro dela. — Não iria te deixar morrer, né? Quero dizer, você é chata, irritante, vagabunda e…
– EI! Eu tirei ela do mar. — disse eu, enraivecido.
Ela olhou para Will, como que esperasse que ele dissesse se era verdade mesmo.
Ele assentiu.
Samira se levantou e me abraçou. fiquei alguns segundos sem o que saber o que fazer, então coloquei minha mão em sua cintura.
Ela me soltou, evitando fazer contato visual, murmurou:
– Obrigada. Mas não vá se acostumando.
(…)
Mais tarde, eu caminhava na areia com o Josh.
Já escurecia, e nós dois havíamos decidido ir em um quiosque ali perto.
E lá estavam, Samira, Emma e Will, sentados em uma mesa um pouco afastadas das outras.
Samira, desde a hora do acidente estava colada em Will. Se bem que eles sempre estavam colados.
– Você vai lá? — perguntou Josh fazendo uma careta esquisita.
– Não sei, por quê?
– Bem, hm, tá vendo aquela garota ali? — disse ele apontando para uma garota, sentada em uma mesa sozinha.
– O que é que tem? — perguntei. — Ta querendo catar ela, é?
– Não, só achei bonita — disse ele.
A garota parecia impaciente, como se esperasse alguém. E estava: Logo outra garota morena de mais ou menos sua idade apareceu.
As duas começaram a papear, até que a morena percebeu nossos olhares, sorriu para mim, e cutucou sua amiga, que sorriu para o Josh.
Olhei pra ele e falei:
– Acho que não custa nada a gente ir lá dar um “Oi” pra elas.
POV’S Mattias OFF
Tá, eu tinha abraçado o Mattias. Tentem entender, ele me salvou. Agradecer e abraçá-lo era o minimo que eu podia fazer. Porque, se ele tivesse no meu lugar, eu teria só observado ele morrer aos pouquinhos, esfregando as mãos uma nas outras e vomitando arco-íris.
Mas agora as coisas mudaram, o abraço foi uma coisa de momento.
Agora eu estou com Will; ele é um ótimo melhor amigo.
Eu, ele e Emma tínhamos decido ir nesse quiosque, e pra minha infelicidade, Mattias apareceu com aquele amiguinho dele que eu nem sei o nome.
E lá estava os dois, sentados com mais duas garotas. Pagava que dali uns cinco minutos eles começariam a se comer.
Emma percebeu meu olhar e com um sorriso irônico falou:
– Tá com ciúmes Sammy?
Eu desviei os olhos, dando de ombros:
– Não! Por que taria?
– Hm… Porque você gosta dele? — se intrometeu Will. — É deve ser por isso.
– Claro que não. — falei, tossindo — Tô com sede.
Me levantei e fui até o balcão.
POV’S Mattias
A garota morena se chamava Melissa, ou como preferia ser chamada, Missy. Já a garota que estava com o Josh se chamava Brianna.
Conversando com elas, descobri que Brianna era da nossa cidade, no interior, e que todo ano ia para a praia passar as férias com a Missy, que morava com o irmão lá mesmo. Missy estava me dando o maior mole, mas por algum motivo eu achei melhor não ficar com ela, não me sentia, hm… afim. Percebi os olhares de Samira e sabia que eu perderia os pontinhos que eu tinha conquistado quando salvei ela mais cedo.
De modo que, quando ela se levantou e foi ao balcão, eu pedi licença e fui até lá também.
– Duas água de coco — falei para o atendente do balcão.
Atravessei as minhas mãos na cintura dela, e sorri maroto.
Ela olhou pra mim, levantou um sobrancelha e falou:
– Eu não quero água de coco, quero Coca-cola e eu não preciso que você peça nada para mim.
Ela se desvencilhou de mim, e pediu para o atendente a Coca.
Ele entregou a coca para ela, que voltou para a mesa.
Eu peguei minha água de coco e fui me sentar ao lado de Missy, que parecia que tinha desencanado de mim, e me olhava de cara amarrada.
Josh dava risadas com Brianna, até ele a chamar para caminhar pela praia.
– Vamos andar, Bri?
"Bri". Quanta intimidade para… dois segundos de papo?
– Tudo bem. — disse ela, sorrindo. — Depois a gente se fala, Mis.
Os dois se foram, e eu fiquei com a Missy em um silêncio constrangedor.
(…)
O meu quarto era vizinho de frente ao da Samira, Will e Emma.
Fui para meu quarto, não tive a paciência de esperar o Josh, que pelo jeito não iria voltar mais hoje.
Fiquei no meu quarto até tarde, quando ouvi os meus vizinhos de quarto chegando.
Continuei no meu quarto, e acabei pegando no sono.
(…)
Deveria ser uma, ou duas da manha, ouvi passos do lado de fora e esperei um pouco. Saí da cama e abri a porta devagar.
Samira carregava uma mochila nas costas e saía para fora.
Coloquei meus chinelos e a segui.
Lá fora, ela caminhou no deck, até parar no final. Se sentou com as pernas cruzadas. Fez um coque frouxo que se desfez quando uma brisa um pouco mais forte surgiu. Ficou observando as ondas quebrarem por alguns segundos até levantar a cabeça ao céu.
Sam parecia tão calma que eu jurava que nem era ela ali.
Criando coragem, me aproximei.
– Dizem que se você tiver algum conhecimento, é possível descobrir constelações que definam seus sentimentos — sussurrei.
Ela se levantou bruscamente, parecendo assustada. Jurei que eu ia levar um soco.
POV's JoshBrianna Collier. Essa garota é o exato oposto do que eu estava imaginando. Doce, meiga, fofa e educada. SÓ QUE NÃO.Fomos caminhar na praia, e conversávamos animadamente, até que houve uns minutos de silêncio na qual ela parecia agitada e tensa.– O que foi? — perguntei.– Nada — disse ela que parou na areia e seus olhos correram em toda a sua volta antes de se virarem para mim. — Pensando melhor, vamos lá na Missy, na casa dela?– Por quê?– O irmão dela tá dando uma festa na casa deles e eu quero ir! Mas só vou se você for também — disse ela. Era quase como se ela dissesse “você não tem escolha, garoto”.– Ah bem, não tenho nada a perder. — falei coçando o cocuruto.POV’S Josh OFF
Caminhei devagar; Mattias e Josh entraram na frente. Aliás, só acho que Josh não deveria nem estar ali, ele tava quase que caindo de bêbado. Sei que é errado desejar o mal ao próximo, mas, eu estava torcendo pra que ele tivesse uma resseca do caralho amanha, pra ver se aprende.Dei de ombros, Will e Emma me puxaram até a pista de dança, onde começaram a fazer chuva de balão de tinta e em dois segundos eu estava toda imunda, mas animada.POV’S MattiasJosh subiu em cima de uma mesa e começou a dançar. Otário.Tirei ele de lá e comecei a chacolha-lo.– Sai dessa Josh, seu gay — falei.— Vou te levar pra casa…Mas aí Missy apareceu. Porra.
O policial parou a gente e fez que esperássemos seu outro colega policial chegar, o que logo aconteceu. Ele apareceu acompanhado por Mattias.– É que a denuncia surgiu de lá. — Disse nosso policial.Droga, droga, droga. É óbvio que tinha sido minha mãe, ela com certeza tinha percebido que não estávamos no quarto, ouviu o som de música alta, sacou onde estávamos e pra nos lascar de vez chamou a polícia.– Entrem no carro, anda — disse ele.Nos apertamos no banco passageiro e Emma falou:– Tá vendo, tudo culpa sua, Mattias, se você não tivesse obrigado a Samira a vir…– Ela veio porque quis — retrucou Mattias, dando de ombros.Na verdade, eu mal prestava atenção. Eu ainda sentia o gosto da boca do Will na minha.Will soprava a franja compulsivamente, mania que aparecia sem
— Ei, ei, ei! Que putaria é essa aqui no quarto?Will descolou os lábios dos meus. Viramos a cabeça e encaramos Emma em pé. Ela piscava rapidamente por causa da luz, estava de braços cruzados e nos olhava de cara feia.É mesmo, que putaria era aquela no quarto que por acaso eu estava participando?Olhei para Will, atordoada.— Isso é amizade colorida? — perguntei ignorando Emma. — Putaria entre amigos?— Sem compromissos — respondeu Will, meneando a cabeça. — E aí?— Sei lá — franzi a testa.— Aceita ou não? — teimou.Sem compromissos? Sem encanação?— Mas a nossa amizade continua a mesma?— Aham, mas com bônus.Sorri. Por que não?— Beleza — murmurei aproximando nossos rostos.— Tá, t&aacu
— O que você quer? — falou ele, ríspido.— Tá tudo bem? — perguntei. Não, né, sua sonsa, não tava vendo que ele estava chorando? Só eu mesmo pra perguntar isso.— Está — murmurou ele.— Não ligue para seu pai, ele não sabe o que f…— Tanto faz, Samira. Pode me dar licença?Era a primeira vez que ele era grosseiro comigo. Ele podia ser irônico, chato, arrogante, safado, mas nunca usou a grosseria comigo. Até aquele momento.— Mattias…— Não preciso de mais ninguém me julgando. E se você contar pra alguém que me viu chorando, eu te mato.— Não vou te julgar, droga. E daí que você t&aac
Povs EmmaPor que eu havia ficado com raiva de ver Samira e Will se comendo? Porque sim.O.k: Amigos não devem se pegar. Isso é cilada. Eu já havia feito a burrada de ter um amigo colorido, e hoje em dia, se estivermos na mesma calçada, eu mudo de lado.O que eu queria dizer é que não gostaria de perder Will e Sam, não queria que nos separássemos, nem brincando. Eu amava aqueles dois mais do que muitas coisas por aí.Enquanto eu lavava a louça, Josh enxugava. Eu mal conhecia esse garoto, mas ele parecia bem diferente do seu amigo, Mattias. Nenhuma vez ele tentou dar em cima de mim. Aliás, ele parecia até um pouquinho tímido quando não estava bêbado.— Não é nada contra a Caroline, mas aquele cabelo dela é muito brega — fofoquei.— É. Eu também achei — murmurou ele.
Peguei a concha com muito cuidado, aproximando-a do meu ouvido direito. Eu nunca havia pegado em uma concha tão bonita e grande antes como aquela. Dizem por aí que se você coloca-la no ouvido, pode ouvir o mar. E agora eu posso garantir que pode.Quando descolei a concha do ouvido, meus olhos cruzaram com o de Mattias e ele sorriu.— É legal, né? — disse ele, cruzando as pernas. — Meu avô fazia coleção. Ele morava na praia. Era um sujeitinho legal.— Bem, conchas são legais. A única pessoa que eu conheci que fazia coleção de alguma coisa, fazia coleção de figurinhas de chiclete — falei torcendo o nariz.Mattias riu:— O que vale é a intenção, poxa— É, acho que sim — de
Pegamos uma estrada que ficava atrás da casa de praia. A cidade não era longe, dava para ver as suas luzes de onde estávamos, realmente visíveis. A cada passo nosso, dava pra enxergar cada vez melhor os prédios, ruas e avenidas pavimentadas. Mattias e eu ficamos o tempo todo trocando ironias. Era incrível a capacidade daquele garoto ser irritante.Depois de mais ou menos quinze minutos, chegamos à cidade. Estávamos parados em uma praça, com um chafariz no centro, gramas e arbustos enfeitados, postes de iluminação multicoloridos e duas rampas de skate. Ah, e havia vários garotos bonitos, bem, na realidade, bonito era apelido. Digamos que eles deixavam Mattias no chinelo.Percebi que aquele garoto que deu a festa na noite anterior também estava lá. No momento ele usava uma blusa cavada que dava pra ver que ele tinha várias