02

– Ei! Mattias, espere! — falei, o alcancei fazendo o se virar para mim com um puxão no ombro.

Ele me olhou com um risinho. Senti algo no meu estômago afundar quando meus olhos cruzaram com aquelas covinhas. Tentei fixar os olhos em um ponto na minha frente: o refeitório, e não os olhos dele.

– Você não acha que eles vão pirar de novo, que nem ano passado e carregar a gente pra mais algum lugar maluco, acha? — Perguntei com a voz fraca.

– Eu tenho certeza — disse ele —, mas esse ano vai ser diferente, você querendo ou não — disse ele, me olhando de esguelha.

Os amigos idiotas dele apareceram e eu decidi me afastar Cruzei os braços. Mesmo quando eu já estava de costas, senti seus olhos ainda pregados em mim.

Fui até o refeitório, onde Emma lanchava ao lado de Will, meu viado amor da minha vida.

– Oi, Will — falei, dando um beijo estalado em sua bochecha.

– Oi, Sam— disse ele, comendo umcheeseburguer.

– Valeu em, Dona Emma, por ter me deixado dormindo na sala. — falei, pegando um pedaço do Cheeseburguerde Will mesmo sob seus protestos.

– É que você estava dormindo tão bonitinha que fiquei com dó, então eu deixei que seu amiguinho se encarregasse do trabalho - disse ela, tomando uma Coca-Cola.

Revirei os olhos.

– Amiguinho? O Mattias? Acho que tem mais que amizade aí — falou Will. Intrometido nem um pouco, né?

– Não somos amigos, e não somos nada — falei. — Julguem como quiserem.

Me levantei para comprar uma Coca-Cola e um Cheeseburguer para mim. Cinco minutos depois, voltei e me sentei entre os dois.

– Eu nem sei por que você fica tão irritadinha quando falamos dele — disse Will.

– Eu só acho ele… mesquinho — disse, dando de ombros.

– Não sei, não. Lembra semana retrasada que ele tava saindo com a Jenny? Vish, aqueles dias você tava um nojo — falou Emma. — Mas pode se acalmar, dizem por aí que eles não estão mais juntos.

– Olha, eu nem sei por que vocês estão me dizendo isso — falei dando uma mordida no meu lanche. — Quero dizer, ele é o tipo de cara que todas as garotas babam.

É, pois é, todas babam. Só porque ele tem um cabelo que deve ser maravilhoso ao toque, uma pele que nunca deve ter tido uma espinha, olhos que dão vontade de ficar fitando o dia inteiro e uma bunda que …. o que estou pensando de novo?… então, ele tem uma bunda que é horrível, caída, cheia de carrapato e estrias. Bleh. Enfim, ele é um cara horrível, e caramba, se você ver um homem que irá queimar e torrar seus olhos com tanta feiura, acredite, é o Mattias.

— Inclusive você. — Falou Emma com os cotovelos apoiados na mesa.

Fuzilei ela com o olhar, jogando meu Cheeseburguer no prato.

— Perdi a fome. Não sei porque vocês me enchem tanto o saco com isso. Se tem um cara que é uma verdadeira delicia é o Rodrick.

Rodrick: nerd, gordo, cabelo ruim, mau-hálito e fede a cecê que deve ser pior que gambá morto.

— Ironia — falou Will com um risinho.

O sinal que indicava o término do intervalo tocou e caminhamos juntos até a sala de aula, onde a profª Andrews, de história, já nos esperava. Fui para o fundo da sala, como sempre. Sentei ao lado de Emma, e na frente de Will.

Peguei os fones, coloquei nos ouvidos e baixei a cabeça.

Uns dez minutos depois, senti umas cutucadas rápidas no meu braço, levantei a cabeça, tirei os fones e olhei furiosa para Emma que parecia tensa, seus olhos corriam da frente até a mim.

– Senhorita Carbone, poderia me dizer o que foi a guerra fria? — Perguntou a profª Andrews, em tom de desafio.

Se Will e Emma não tivessem me enchido no intervalo, eu teria respondido de boa, porque eu sabia muito bem como tinha sido, o que era e blá blá blá. Mas eles me encheram. E pra não variar, meu humor tava uma droga.

– Ah, fala sério, isso é falta de pica — sussurrei comigo mesma.

Will tentou conter uma risadinha quando viu a cara da professora, que se assemelhava-se a de um tomate. Se é que tomate tem cara, mas enfim, você entendeu. Aliás, todos tentaram não rir, mas não deu muito certo.

– Sala do diretor, Srta. Carbone.

Ela nem precisou repetir, levantei e saí, ouvindo os risinhos dos alunos.

Como se eu tivesse dito alguma mentira. A Sra. Andrews bem que deveria mesmo parar de descontar a falta de sexo dela em mim.

(…)

– Chegou atrasada, dormiu a aula inteira e ainda respondeu mal a professora! — gritava minha mãe. — Qual é o seu problema?

Eu estava sentada no parapeito da janela do meu quarto, mas hoje não tinha estrelas para me distrair, pois ainda era dia.

– Me responda você, afinal não foi você que me pariu? - falei, chateada.

– E ainda mais é bocuda!

Continuei na minha, impassível.

– Sabe o que eu deveria fazer com você? — continuou. — Castigo, sem internet pelo resto da vida.

– Eu não vou, mãe.

– Não vai? Pra onde?

– Eu já tô sabendo, você vai levar pra onde a gente esse ano? Pro meio do mato? — falei, finalmente olhando pra ela.

– Ah, era pra ser surpresa! Quem te falou?

– Mattias.

– Bem, a gente vai pra praia semana que vem. Eu, você, seu pai e a família da Carly.

Carly era mãe do Mattias e melhor amiga da minha. Surpreendente, não? Logo mãe do garoto que eu mais odiava. Isso que era uma verdadeira desgraça.

– E quem disse que eu quero ir?

– Você não tem querer.

– Tenho sim, e eu não vou.

– Vai sim. Pois bem, a gente vai alugar uma casa na praia e iremos rachar com os Sartori. Vai ser legal!

É claro que não seria legal, não com aquele garoto idiota junto. Mas e se…

– Se o Will e a Emma forem eu posso pensar no caso… — falei, esperançosa.

– Bem, se você não se importar de dividir seu quarto — disse ela.

– Tudo bem então. — eu disse.

Ótimo, minha mãe tinha até esquecido o que eu havia dito para a professora. Eu era boa nisso, enrolar as pessoas, repararam?

(…)

Enfiei as roupas na mala e fechei o zíper.

O tempo havia passado rápido, tinha chegado o dia que iríamos à praia. Ficaríamos dois meses insuportáveis enfiando água salgado e areia do mar nas orelhas.

Coloquei a mochila nas costas.

Desci as escadas correndo e saí para fora, Will e Emma haviam acabado de chegar. Agarrei meus dois bocós, e falei:

– Tomara que seja legal.

– Vai ser. — Afirmou Emma.

– Com certeza — disse Will.

– Vamos, mãe! — gritei entrando no carro.

Ao mesmo tempo, um carro estacionou e dele desceu Carly, seu pai e seu querido filho com mais um amigo babaca que eu não sabia o nome.

Mattias caminhou até mim, que estava com um pé dentro do carro, e outro na calçada.

Ele sorriu e falou:

– Eu disse ou não disse que você teria a minha linda presença?

Revirei os olhos e falei:

– Disse, só que você não é lindo. É um idiota.

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