Elas discutiram. Mas não havia nada que fizesse Ametista deixar de ir embora. Fazia cerca de um ano que Ametista trabalhava em uma loja de eletrodomésticos. Depois de juntar dinheiro percebeu que possuía o suficiente para ir morar em Manaus, assim, como a sua mãe o fez certa vez quando era mais jovem, então, ela não entendia porque Orquídea estava implicando tanto com a sua decisão.
─ Como vai morar sozinha?
─ Vou morar com mais duas amigas.
─ E por que tão longe? Você poderia ir para Campo Grande?
─ Porque eu conheço pessoas lá.
─ Meu Deus, presta atenção no que está dizendo... Teu pai não vai deixar.
─ Ele que me impeça pra vê!
─ Vai te dar uma surra.
─ A senhora não vai falar para ele, antes de eu ir embora, né?
Ametista olhou espantada para os olhos de Orquídea.
─ O que?
─ Mãe?
Ametista em uma das longas viagens do pai para fazenda, pegou a sua única mala, com os poucos pertences que possuía e, foi embora rumo a balsa que a conduziria rumo a sua vitória, que como dizia a sua mãe “não iria ser fácil”, mas ela iria conseguir, ela tinha certeza sobre isso. Há muito tempo ela sentia vontade de voltar para Manaus.
Não foi tão fácil como ela imaginou. Por momentos ininterruptos sentiu saudades de Corumbá e um vazio a abateu e, ela escondeu de si, porque não se permitia ser fraca. Além da viagem cansativa... viajar de balsa, de ônibus, durantes longos dias, em estradas ruins. Ametista se hospedou na casa de algumas amigas e, o emprego que conseguiu não assinava a carteira, pois nessa época era comum esse tipo de coisa. Era babá de um garotinho de cinco anos de idade, o menino era mau educado, se comparado ao modo com que fora criada. Além de que o seu padrão, longe dos olhos da esposa, lhe falava próximo ao ouvido: “quando tu vai para minha cama, hein, gostosinha... se tu não for, vou te despedir... não fala nada do que eu te disse, se não vai logo para rua. ” Ametista sentia-se suja quando voltava para casa, e tinha vontade de chorar, contudo, ela colocava a cabeça na rede... ah, sim, pois logo quando Ametista chegou a Manaus ela não tinha dinheiro para comprar uma cama, então, pendurou a rede na sala da casa das amigas, que era uma quitinete com três cômodos, um quarto, uma pequena sala, uma pequena cozinha e um banheiro. A casa se localizava dentro de um beco, no centro da cidade. Em Manaus eram típicas as casas que eram construídas como se fosse dentro de uma cratera, por vezes que as enchentes fortes faziam com que as casas ficassem inundadas de água. Manaus era uma cidade dos temporais fortes, que davam a sensação de que as casas seriam soterradas por causa da força da água. Mas as chuvas fortes a população nortista do Brasil está tão acostumada, que possuem os meios para enfrentar com tais situações, andar de canoa pelas ruas alagadas, como ocorre nos munícipios do interior.
Ametista compartilhava com as amigas sobre as investidas do padrão, umas diziam que deveria contar para a patroa, outros simplesmente que deveria ceder. Ela se sentia confusa com o excesso de novidades que estava ocorrendo na sua vida, mas de uma coisa tinha certeza: Não transaria com aquele homem, nem que lhe matasse. Não tardou muito Ametista foi demitida do emprego. Todavia, esforçada que era, conseguiu um novo emprego, com a indicação de uma vizinha, numa loja de um shopping. Foi escalada para ficar na sessão de perfumes e maquiagem, tão logo que seus costumes tiveram que ser modificados. Ela que sempre foi uma menina arteira, teve que aprender a se maquiar e, tinha que está arrumada pontualmente todos os dias. Fazia toda maquiagem logo que chegava no trabalho, os produtos a venda na loja.
Chegar em casa não era fácil, geralmente ia direto para o tanque para lavar as suas roupas na mão, além de limpar a sujeira das colegas, que não limpavam a casa, aliás que emporcalhavam tudo. Começou a sentir vontade de ir morar sozinha. Enquanto isso, ela aproveitava a vida, saia a noite para festas, para voltar a sentir a liberdade que sentia nos tempos de criança, como é típico daqueles que muitos olham para o passado não tão somente por suas dores, mas para o coração que um dia adentrou tão fortemente nos sonhos quando olhava as estrelas. Aprendeu a gostar de Boi-Bumbá, originário do Bumba Meu Boi, do Maranhão. Dança típica da região do Amazonas, com animais fantásticos, narra a história da morte e ressureição de um boi. Os dançarinos se vestem com penas coloridas, de certo modo, imitando roupas indígenas; o mais curioso, são as mulheres que usam cuias nos seios como sutiãs.
Certo dia, numa das festas, conheceu um homem que... mudaria a sua vida... os seus valores... e história.
Bruno passou quase todos os dias a levar Ametista de moto para o trabalho. Ametista o que achava dele? Um rapaz interessante, e ao seu ver, bonito. Ele estava lhe ensinando a jogar sinuca e a beber cerveja. As suas amigas diziam: “ele só quer te levar para cama, não se ilude não, Ametista”.
Mas Ametista mais uma vez queria acreditar que tudo poderia ser diferente, porque alguma coisa dentro apontava-lhe um vazio que precisava ser preenchido.
― Você é tão bonita... A namorada mais bonita que eu já tive. Tu sabe que chama atenção dos homens, né? Principalmente quando usa esse shortinho.
Bruno olhou para as pernas de Ametista, enquanto estavam sentados em um bar próximo à praça Heliodoro Balbi.
― Eu só tive um namorado, sabia? ─ Ela sorriu para ele, como se quisesse seduzi-lo.
― Por que uma princesa como tu não mora num palácio?
A lábia dos cafajestes.
― Talvez porque um príncipe precise vir me resgatar. Entre tocar em algumas mechas de seus cabelos quando falava olhando para os olhos verdes do rapaz, e um sorriso dela de quem havia encontrado o rapaz certo, no momento certo, diante da vida difícil que levava todos os dias. Ametista estava feliz.
― Teu nome é lindo, minha princesa.
Ao ouvir isso, veio-lhe resquícios de lembranças vagas da infância.
― Quando era criança meus colegas de escola caçoavam do meu nome, mas eu nunca me importei.
E como sabemos, não era bem assim, Ametista odiava o seu nome porque sofria bullying, no entanto, agora ouvir o seu nome dito tão docemente fazia amar ser chamada assim.
― E não deve, porque Ametista é uma pedra tão bela quanto tu, minha princesa.
Ela nunca se viu e sentiu-se como princesa, principalmente quando menina que acordava de madrugada para cuidar dos irmãos mais novos, porém... agora talvez... ela fosse A Cinderela. Não que estivesse diante de um príncipe, mas diante de um homem que conseguia enxergar como ela era.
Já fazia um tempo que Ametista estava morando sozinha. Estava com dezoito anos de idade e, sentia que ainda algo faltava na sua vida. Queria fazer faculdade e tornar-se Juíza. Para isso precisava voltar a estudar, pois ainda precisava terminar o último ano do ginásio. Assim, precisava reestruturar a sua vida, pois não era fácil trabalhar em uma loja, ainda mais se tivesse que esticar o seu horário para os estudos, mas assim, ela faria se fosse necessário. Era somente um cômodo, num edifício que parecia abandonado, localizado no centro da cidade. Contudo, uma pequena alegria brotava de dentro do seu peito, ela tinha o seu lar, que podia deixar organizado assim como deixou quando saiu antes de ir trabalhar. E foi ali que aprendeu muitas coisas na cama com Bruno. Certa vez, sentiu-se enjoada no trabalho, Beth que era mãe de uma menina logo compreendeu.
Haviam dias que ela sentia vontade de morrer, porque não conseguia dar a coisa mais preciosa que Pedro desejava: ter um filho. Estavam casados há cinco anos e, nada. Entre tantas tentativas fracassadas, Pedro começou a jogar na cara de Ametista porque ela havia feito um aborto, pois toda dificuldade para engravidar, segundo Dr. Santos adivinha disso. Além de quase morrer naquele período, ela ainda por cima tinha que ouvir isso do homem que amava. Chegou a sugerir uma adoção ao marido, porém, ele não queria de modo algum. Ametista não compreendia como ele poderia ter ser tão mal ao recusar uma adoção. − Você sabe como eu me sinto um fracassado que não tem nenhum filho... E o que os meus parentes vão dizer. − Não interessa o que eles vão dizer.
Com dois anos de idade, Estrela foi morar no bairro Santo Antônio, próximo à avenida Júlio de Castilho, com a sua família. A casa era pequena com dois quartos, possuía uma pequena árvore na entrada, mas que cobria a casa com uma sombra, onde era possível às vezes colocar uma cadeira de praia na frente e ficar sentada conversando com a vizinha ao lado, a única que de fato conheciam. Estrela poucas vezes saia, ia para escola, para natação, para igreja ou para jogar vídeo game com Lilian, a filha da vizinha. Estrela quase sempre perdia para Lilian. Lilian não gostava de brincar de boneca, então, Estrela brincava de boneca sozinha. Estrela possuía sonhos incomuns, na infância queria conhecer a Inglaterra, o País de Gales ou a Escócia. E quem sabe, a rainha! &nbs
Estrela permaneceu muda por alguns dias. Quem olhava na sua face via um semblante triste e pesado e, principalmente que queria se esconder. Não quis falar com ninguém, nem com Amestista. Ainda se lembrava daquelas palavras, ele a humilhou, a machucou. E como o seu pai era policial militar foi tão fácil de resolver.Mas tudo antecedeu... “Como ela foi burra!”, remoía nos pensamentos.Victor: oi, linda!Estrela: oi, Victor! Como vc está?Victor: Estou bem! Quero uma foto da minha linda!Estrela: eu não gosto de tirar fotos. Rsrs&
Estrela gostava de animais. Além de Leão, ela tinha um peixe e um raminster. Contudo, a primeira vez que Estrela teve um raminster, ela ficou tão preocupada em cuidar bem do bichinho, que o alimentou muitas vezes e, o ratinho morreu. Foi aí que percebeu que cada animal, assim, como as plantas, tinham um jeito particular de serem cuidados. E a mesma coisa ocorria com as pessoas. Estrela soube que a Congregação era a mesma que a tia Branca fazia parte. Quanta coincidência! Ela refletiu. Com frequência ia visitar as irmãs. Havia começado a fazer o vocacional com as irmãs, contudo, o que ela mais gostava era quando ia para um centro para crianças e jovens com necessidades especiais. Ali ela via risos das pessoas mais carinhosas que existiam, assim, Es
Um dia Estrela compartilhou com a mãe o desejo de estudar fora, aliás foram tantas vezes que se pegou falando sobre tais sonhos. − Minha filha, você precisa amadurecer um pouco a ideia. Não é tão fácil morar em outro país como você pensa. Além da passagem e do curso para você pagar, tem a sua estadia.− Poderia lavar prato.− Estrela!− O que? Eu lavo prato aqui em casa sem ganhar nada, posso lavar prato num restaurante ou numa lanchonete sendo paga.− Vocês jovens acham que é tudo fácil. 
A Porta MágicaBeatriz morava num apartamento junto com a família. Havia muito barulho em volta, uma zona de prostituição e, assaltos eram corriqueiros. Não haviam flores, não haviam árvores, apenas a sua imaginação querendo ter um lindo jardim em volta. Ela já havia lido o livro Alice no País das Maravilhas, Peter Pan, e muitos livros de fantasia, talvez o seu refúgio diante das diversas brigas dos pais. Beatriz era quieta e, havia se tornado mais ainda desde que havia entrado na puberdade. A escola era um lugar que ela não gostava, pois ela tinha quinze anos, era muito magra e, achava que era feia, porque seus próprios irmãos diziam que ela era. Beatriz acreditava e, se importava muito o que pensavam sobre ela. Às vezes, sonhava que um dia abriria a porta e, fugiria de casa, para então, quem sabe morar em outro país
A Congregação utilizava a tradição de ter o sino para acordar as meninas e a todas as irmãs, de manhãzinha. Era a superiora quem o batia rigidamente as cinco horas da manhã. Obviamente que quem estivesse escalada para aprontar o café da manhã, acordava antes do sol nascer. Aos domingos, as meninas podiam dormir meia hora a mais, para então, irem participar da missa. A vida religiosa era assim, regrada. E as irmãs diziam “um grande problema da sociedade atual é que as pessoas não possuem regras”. As regras, às vezes, para Estrela, pareciam tão pesadas de carregar, tão difíceis de conseguir cumprir. E na semana que precisava cozinhar, era tão difícil, porque era algo a mais que precisava fazer. Ela permaneceu salgando a comida por um bom tempo, mas aos poucos estava se aperfeiçoando, melhorando, e, qu