Estrela permaneceu muda por alguns dias. Quem olhava na sua face via um semblante triste e pesado e, principalmente que queria se esconder. Não quis falar com ninguém, nem com Amestista. Ainda se lembrava daquelas palavras, ele a humilhou, a machucou. E como o seu pai era policial militar foi tão fácil de resolver.
Mas tudo antecedeu... “Como ela foi burra!”, remoía nos pensamentos.
Victor: oi, linda!
Estrela: oi, Victor! Como vc está?
Victor: Estou bem! Quero uma foto da minha linda!
Estrela: eu não gosto de tirar fotos. Rsrs
Victor: eu gosto das suas fotos que tem na sua página.
Estrela: está bem! Só um minuto.
Antes de dormir era imprescindível que eles conversassem por mensagem. Estrela enviou uma foto de perfil, com um sorriso fofo.
Victor: vc está linda, eu quero te ver melhor.
Estrela: Hmmm.
Victor: vamos linda, tira outra melhor.
Estrela: ok. Espera!
Estrela tirou uma foto com a câmera virada para o espelho do banheiro.
Victor: agora está melhor.
No outro dia Victor pediu novamente por mensagem, uma foto, Estrela ainda limpava os cabelos da face.
Estrela: estou toda descabelada. Pode ser depois que eu tomar banho e me arrumar?
Victor: não, linda! Eu quero agora.
Estrela ficou pensativa.
Estrela: ok.
Estrela levantou-se, limpou o rosto com água, arrumou um pouco os cabelos e, bateu novamente uma foto em frente ao espelho do banheiro, sorrindo timidamente.
Victor: vc está linda. Eu quero mais!
Estrela: mais?
Victor: é, mais. Tire a camiseta.
Estrela: o que? Não.
Victor: vamos lá! Tira logo.
Estrela: não.
Victor: vamos logo! Eu estou com tesão.
Estrela: o que?
Victor: vc é o que? Não gosta de sexo?
Estrela permaneceu alguns minutos sem responder a mensagem de Victor, até que ele lhe enviou uma mensagem dizendo:
Victor: desculpa! Vamos, fala comigo!
Estrela: oi, Victor!
Victor: vc é linda.
Estrela ficava tão tímida e feliz em ler isso. Sentia-se a garota mais sortuda do mundo.
E os dias foram passando... Um dia ele enviou a foto do seu pênis. Estrela ficou o final de semana sem conversar com Victor. Até que... ela voltou a conversar. E de tanta insistência, um dia Estrela enviou-lhe uma foto de calcinha e sutiã.
Victor: eu tenho vontade de chupar toda vc.
Estrela sentia constrangida com o comentário, mas ela gostava de ser desejada pelo namorado.
E então ele passou a enviar fotos com o seu pênis. E no outro dia, ela tirou o sutiã e a calcinha, e cobriu-se com um lençol. E fez vídeos provocativos para enviar para ele, e Victor então, enviou uma foto dele se masturbando. Estrela sentiu uma repulsa por ele ter feito aquilo. Excluiu o vídeo. Entre lágrimas, depois ela voltou a conversar com ele.
Mas as marcas ainda permaneceriam, diversas vezes ainda vinha à mente quando ela chegou na casa de Victor, ele deu-lhe uma flor que havia pego no jardim da sua casa, o que fez a estremecer, sentindo-se acanhada pelo lindo presente singelo. Ele colocou uma venda preta nos seus olhos e, disse que tinha uma surpresa para ela. A conduziu até um quarto, e quando ela tirou a venda preta, o viu sem as roupas, completamente nu.
Do seu quarto, Estrela ouvia seus pais brigando. Pedro culpando Ametista pelo ocorrido trágico, por que ela que sempre sabia com quem Ametista andava, não percebeu algo errado? Pedro proibiu Estrela durante alguns meses de sair com qualquer um dos seus amigos. E Estrela? Não se importou, porque ela mesma não queria sair mesmo. Seus sonhos, suas histórias de amor haviam sido esmagadas de uma só vez. Contudo, se não fosse pelo quase, talvez suas lembranças pudessem ter sido piores. Aquela cena não lhe saía da cabeça, por mais que quisesse apagar. Ele tirou as calças, Estrela ficou paralisada por alguns momentos, pensando sobre o que ele estava pensando em fazer, por mais óbvio que fosse suas intenções. Victor não aceitou o “não”. Foi puxando as roupas dela, que não se importou com os seus gritos, porque a casa era grande, o sítio da família se localizava nas Moreninhas e, estavam sozinhos. Ele foi arrancando as suas roupas, até que de repente, a porta escancarou e, era o pai de Victor, que veio por trás e, pegou o rapaz. Ele implorou para que Estrela perdoasse o seu filho, mas a primeira coisa que fez quando chegou em casa foi chorar em cima da cama, com a sua avó por trás insistindo:
− Que diacho que você tem?
Estrela não disse nada, tinha vergonha sobre o que havia acontecido, até que Ametista chegou em casa e, ela desabafou com a sua mãe, com as lágrimas quase a sufocando e, sentindo-se totalmente suja e envergonhada. Depois só lhe restou o silêncio durante dias.
Apesar de literalmente Victor não ter conseguido penetrá-la, foi preso por estupro, com uma pena de seis anos, na qual ele viria só a cumprir cinco. Estrela achou isso pouco, se pudesse queria vê-lo morto, pois uma ferida havia sido aberta dentro dela.
Ametista olhando para a filha absorta sentiu-se culpada. Ela sentou-se na cama e, lembrou-se do que sonhou para a filha logo que nasceu, que ela encontrasse um homem que a amasse verdadeiramente... como ela merecia. Com as mãos sob as pernas, as lágrimas desceram de sua face, porque apesar de saber que Deus a tinha perdoado a muito tempo, o que ocorreu a sua única filha não foi um castigo pelo o que havia feito no passado. Então, certo momento, ligou para uma amiga e, entre lágrimas desabafou sobre o que estava sentindo e ouviu algo que lhe confortou e que já sabia “Deus já te perdoou há muito tempo, Ametista. Isso que aconteceu com a Estrela foi uma fatalidade...”
Um mês depois Estrela voltou para casa transformada, havia ido ao salão próximo de onde moarava, pediu para alisar os seus lindos cabelos cacheados. Quando Pedro a viu, brigou com Ametista.
− Que diabos, Ametista! Você deixou a Estrela alisar os cabelos dela que era tão bonito. Só falta agora ela querer pintar de preto.
− Ela ficou linda assim, Pedro... Vamos parar com esse escândalo por bobagem.
− Eu também achei. Disse Orquídea que talvez no fundo nunca tenha gostado dos cachinhos dourados dela, não porque não gostasse de Estrela, porém, porque lhe fazia lembrar Maria Carolina. Se Estrela mandasse pintar de escuro, provavelmente Orquídea teria gostado mais ainda.
Foi um ano difícil para Estrela, a cada momento que a imagem de Victor a agarrando vinha a sua mente ela procurava ler um livro, estudar, estudava muito... Começou a criar uma meta de que queria estudar em outro país. Na verdade, já havia alguns dois anos que sonhava com isso. Contudo, a partir de então, começou a se pesquisar como faria. Principalmente precisaria juntar muito dinheiro. O seu país dos sonhos era a Itália, porém, teria que aprender italiano. E entre aprender inglês e italiano, Estrela teve que optar por inglês, pois era o que mercado de trabalho pedia e, era assim que ela conseguia conversar com pessoas de outros países. Contudo, chegou a dizer para Pedro que queria aprender italiano, porque queria ir morar na Itália. Pedro somente olhou para Ametista:
− E você apoia esse tipo de loucura também, Ametista? − Disse zombeteiro. − Veja esses cursos gratuitos na internet e, aprenda. Prosseguiu Pedro sem mais conversas.
Ametista ficava chateada com Pedro todo acontecimento ruim que ocorria na família, ele ligava a ela e, nunca chegava a conclusão que isso poderia ser apenas a um acaso.
E Estrela sentiu que a cada dia que passava, ela e Pedro estavam mais distantes e, portanto, não poderiam ser amigos. Talvez porque ele fosse homem e seu ego masculino lhe dizia que ele era superior. Então, Estrela chegou à conclusão que ou iria para os Estados Unidos, Canadá, Irlanda ou Inglaterra. Ela começou a arrumar alguns meios de ganhar dinheiro na internet, todos os dias entrava em vários aplicativos de pesquisas para ganhar algum dinheirinho. Estrela era boa nessas coisas, no entanto, percebia que o dinheiro que conseguia era tão irrelevante para o que realmente ambicionava, pois morar no exterior não era barato. O dólar e o Euro valiam muito mais que o Real.
− Que droga! Por que eu sou pobre?!
Todavia, apesar da raiva e do desânimo, ela persistia e sonhava que um dia conseguiria. Imaginava-se em uma casa na Europa, com um lindo jardim, bebendo um café e lendo um livro.
Mas havia algo mais na vida de Estrela que havia crescido juntamente com a vontade de ir morar no exterior.
Um dia Estrela foi a missa, recordando-se que na noite fatídica, ela praguejou Deus em sua mente. A sensação de estar em oração lhe trouxe um alívio, que lhe confortou com todo o seu alento, num curto momento, para ela não mais chorar. Semanas depois, ela voltou a participar da missa. E foi em uma missa que certo dia seus olhos deram de encontro com um lindo sorriso e um hábito branco, depois outras freiras sentaram-se ao lado da religiosa. Estrela observou-as por quase toda a missa, era como de algum modo carregassem uma paz dentro de si.
Estrela chegou em casa, abriu o notebook e, começou a pesquisar sobre o estilo de vida de uma irmã. Atualmente, algumas usavam hábitos, outras não. Estrela chegou a se imaginar usando um longo hábito, todo preto, entrando na sua cela, acendendo uma vela e, depois de um longo dia de jejum, rezando. Pareceu-lhe aquela ser uma vida atraente. Entre as buscas no Google, Estrela notou inúmeras diferenças entre as congregações. Leu também sobre a história da vida religiosa; sobre mosteiros corruptos... Por mais que Estrela soubesse que haviam congregações e ordens que maltratassem as freiras, ela sabia, que na verdade, eram casos isolados. Pois desde criança ela habituou-se a ver a tia Branca indo visitar Orquídea ou Ametista. O hábito das freiras que viu na igreja, era similar da tia Branca. Algo chamou a atenção de Estrela, em outros tempos, quando as mulheres ficavam sob o julgo do marido, muitas iam para conventos para não casarem e, para estudarem.
Estrela foi para cama pensando sobre tudo o que havia lido e, pensou que talvez pudesse ser bom ser uma freira. Talvez... ela pudesse ser feliz.
Estrela, então, voltou na mesma igreja, no mesmo dia da semana e na mesma hora. Observou novamente as freiras no banco da frente, eram quatro. Duas estavam sérias olhando em direção ao altar, e as outras duas conversavam entre si. Então, Estrela imaginou-se usando o mesmo hábito branco, e conversando com outra irmã.
Na terceira semana Estrela mesmo com a timidez lhe imperando, pois até então, a única freira que já havia realmente conversado era com a tia Branca. O que ela diria para uma freira?
“Olá, meu nome é Estrela, gostaria de conhece-las melhor! ”.
Era simples, só se aproximar e falar. Ela foi até as freiras, no final da missa, enquanto todas saiam aglomerados na porta de entrada. “Olá, irmãs...” Era difícil falar com elas, pois haviam muitas pessoas na frente. Até que...
− Olá, irmãs!
Primeiramente uma irmã lhe olhou séria, mas as outras sorriram.
− Sim, minha jovem! Disse a irmã séria, que se chamava Ir. Maria.
− Eu...
Estrela não sabia exatamente o que dizer. Diria: “Eu achei o hábito de vocês bonito e, gostaria de ser freira também”. Claro que não, ela não falaria assim, pois as irmãs iam pensar que ela era uma louca. Estrela sorriu.
− Diga!
As outras irmãs olharam entre si, sorrindo também.
− Eu vi vocês dali, sabe do banco de trás, e eu queria saber sobre a vida de vocês... sabe... pode ser? Disse Estrela receosa.
Ir. Maria sorriu. Não foi tão simples dizer o que Estrela precisava, assim como imaginou. Quando chegou em casa, ficou se perguntando, se as irmãs haviam achado que ela uma boba. Havia pegado o telefone delas, e recebido um formidável convite para um dia lanchar com elas. Estrela ficou por alguns minutos parada observando aquele pequeno pedaço de papel, escrito o número de telefone das irmãs. Ligaria ou não ligaria?
Foi nesse dia, que Estrela teve uma atitude que mudaria surpreendentemente a sua vida.
Estrela gostava de animais. Além de Leão, ela tinha um peixe e um raminster. Contudo, a primeira vez que Estrela teve um raminster, ela ficou tão preocupada em cuidar bem do bichinho, que o alimentou muitas vezes e, o ratinho morreu. Foi aí que percebeu que cada animal, assim, como as plantas, tinham um jeito particular de serem cuidados. E a mesma coisa ocorria com as pessoas. Estrela soube que a Congregação era a mesma que a tia Branca fazia parte. Quanta coincidência! Ela refletiu. Com frequência ia visitar as irmãs. Havia começado a fazer o vocacional com as irmãs, contudo, o que ela mais gostava era quando ia para um centro para crianças e jovens com necessidades especiais. Ali ela via risos das pessoas mais carinhosas que existiam, assim, Es
Um dia Estrela compartilhou com a mãe o desejo de estudar fora, aliás foram tantas vezes que se pegou falando sobre tais sonhos. − Minha filha, você precisa amadurecer um pouco a ideia. Não é tão fácil morar em outro país como você pensa. Além da passagem e do curso para você pagar, tem a sua estadia.− Poderia lavar prato.− Estrela!− O que? Eu lavo prato aqui em casa sem ganhar nada, posso lavar prato num restaurante ou numa lanchonete sendo paga.− Vocês jovens acham que é tudo fácil. 
A Porta MágicaBeatriz morava num apartamento junto com a família. Havia muito barulho em volta, uma zona de prostituição e, assaltos eram corriqueiros. Não haviam flores, não haviam árvores, apenas a sua imaginação querendo ter um lindo jardim em volta. Ela já havia lido o livro Alice no País das Maravilhas, Peter Pan, e muitos livros de fantasia, talvez o seu refúgio diante das diversas brigas dos pais. Beatriz era quieta e, havia se tornado mais ainda desde que havia entrado na puberdade. A escola era um lugar que ela não gostava, pois ela tinha quinze anos, era muito magra e, achava que era feia, porque seus próprios irmãos diziam que ela era. Beatriz acreditava e, se importava muito o que pensavam sobre ela. Às vezes, sonhava que um dia abriria a porta e, fugiria de casa, para então, quem sabe morar em outro país
A Congregação utilizava a tradição de ter o sino para acordar as meninas e a todas as irmãs, de manhãzinha. Era a superiora quem o batia rigidamente as cinco horas da manhã. Obviamente que quem estivesse escalada para aprontar o café da manhã, acordava antes do sol nascer. Aos domingos, as meninas podiam dormir meia hora a mais, para então, irem participar da missa. A vida religiosa era assim, regrada. E as irmãs diziam “um grande problema da sociedade atual é que as pessoas não possuem regras”. As regras, às vezes, para Estrela, pareciam tão pesadas de carregar, tão difíceis de conseguir cumprir. E na semana que precisava cozinhar, era tão difícil, porque era algo a mais que precisava fazer. Ela permaneceu salgando a comida por um bom tempo, mas aos poucos estava se aperfeiçoando, melhorando, e, qu
A Metamorfose da BorboletaHá muitos anos atrás, por volta do ano de 1900, havia um povo invisível... Ieda, uma princesa borboleta de asas azuis, nasceu entre o povo Geda que habitava um bosque. O povo Geda era um povo invisível para os humanos, porque elas eram lindas e frágeis borboletas e, era somente assim que os humanos os viam. Eles possuíam traços humanos, contudo, com olhos, cabelos e asas de diversas colorações. Os seres humanos não podiam ver a semelhança. A explicação para isso é que as borboletas no início da civilização precisaram se disfarçar e tornar-se pequenas, pois seus encantos e beleza causavam curiosidade nos humanos daquela época. Porém, alguns humanos tinham a permissão de descobrir esse segredo, se alguma borboleta resolve
A casa era grande, possuía inúmeros quartos. Os quartos das meninas ficavam em um corredor, os das irmãs outros. Conceição e Luiza sempre diziam que tinham medo de caminhar a noite pela casa, já com luzes apagadas, tal como já se sabe, tal lugar havia sido um hospital. Obviamente que só podiam caminhar até antes de dar a hora delas irem dormir. Estrela não tinha medo desse tipo de coisa. No entanto… certo dia, à noite, depois do jantar, enquanto ela estudava em uma das salas, subitamente a luz apagou. Havia faltado energia elétrica na casa. Estava sozinha, no último quarto. Um medo repentino apoderou-se dela. Estrela com passos rápidos e pesados, foi em direção ao salão e subiu as escadas no escuro, sem ter que cuidado que poderia tropeçar. Ela ouviu barulhos estranhos, o que lhe apavorou mais ainda. Então, depo
Depois de quase dois anos em formação, Estrela olhava-se no espelho, e via olheiras por causa das poucas noites de sono, do seu cansaço e, do seu sim, diário, que era cumprido a duras penas.O segundo ano, era o Postulantado. Ela ingressou neste de tal modo como ingressou no Aspirantado. Fizeram três dias de retiro de silêncio. Três dias sem conversar.Agora elas haviam mudado de cidade, e da pequena cidade foram para uma capital. A partir de então, a vida de oração era focada principalmente no Ofício das Horas. E Estrela passou a ter que acordar às quatro e meia da manhã. O que era tão doloroso. Então, a sua nova formadora, Ir. Tassila, dizia a ela que se um tivesse tido a experiência de trabalho, não re
O Grande AmorDora tinha vinte anos, era filha de uma família com cinco irmãos contando com ela. Seu pai era fazendeiro e, a sua situação financeira era muito boa. Ela era linda, possuía olhos azuis e, os cabelos loiros. Era desejada pelos homens da pequena cidade, no oeste do Pará, que viam da moça descendente de holandeses uma beleza diferente das outras moças do local. Todos os seus irmãos eram bonitos, mas nenhum com a mesma formosura que a dela, chamava atenção dos homens quando caminhava na rua, com lindas roupas elegantes. Ela também era a mais diferente, por isso, ela e a sua irmã Helena que queria ser freira constantemente discutiam. Mas vamos para antes dos seus vinte anos. Dora era uma jovem viva e alegre, que sempre frequentava os bailes da cidade. O melhor ano para el