Já fazia um tempo que Ametista estava morando sozinha. Estava com dezoito anos de idade e, sentia que ainda algo faltava na sua vida. Queria fazer faculdade e tornar-se Juíza. Para isso precisava voltar a estudar, pois ainda precisava terminar o último ano do ginásio. Assim, precisava reestruturar a sua vida, pois não era fácil trabalhar em uma loja, ainda mais se tivesse que esticar o seu horário para os estudos, mas assim, ela faria se fosse necessário. Era somente um cômodo, num edifício que parecia abandonado, localizado no centro da cidade. Contudo, uma pequena alegria brotava de dentro do seu peito, ela tinha o seu lar, que podia deixar organizado assim como deixou quando saiu antes de ir trabalhar. E foi ali que aprendeu muitas coisas na cama com Bruno.
Certa vez, sentiu-se enjoada no trabalho, Beth que era mãe de uma menina logo compreendeu. Ametista fez o teste de gravidez que comprou na farmácia e, tão logo ela ficou boquiaberta com o que viu, ela estava grávida. Porém, mesmo diante do desespero que estava a sua vida, ela tocou na sua barriga e por alguns momentos imaginou que ter um filho serviria ainda mais para unir Bruno e ela... já que nos últimos tempos ele pouco tinha lhe procurado, como se ela já não lhe parecesse mais tão interessante como antes. Conversou com a vizinha, dona Sandra, que era uma anci’ã, viúva que residia sozinha, depois que os filhos haviam crescido e ido morar fora.
− Ah, é daquele teu namorado... ah, minha filha, fala logo para ele, vai ficar feliz. Disse a vizinha, tão convalescente.
Todavia, o que Ametista ouviu foi:
− Esse filho não é meu. Gritou Bruno, enquanto pegava em dos seus pulsos.
− Como assim, do que tu tá falando, cara?
Ametista pensou não ter compreendido o que Bruno havia dito, por mais que já houvessem se desentendido algumas vezes, ele estava de modo cruel, como se ela que um dia foi a sua princesa, agora fosse uma prostituta.
− Pensa que eu não sei, piranha!
Só se ouviu o estalo no rosto de Bruno... pelo tapa que Ametista havia dado nesse. Bruno logo fez-se o semblante engelhado de raiva e, não hesitou em revidar, deu um tapa no rosto dela... Ametista chorou a noite inteira. Não teve tempo de descansar, pois no outro dia teria que trabalhar. E a vergonha do olho roxo? Antes de sair, ela fez uma maquiagem pesada para disfarçar, com a maquiagem barata que possuía.
Passaram mais alguns meses e, Ametista não conseguia esconder de todos que não estava bem, o seu quadril estava maior, e ela havia engordado bastante... Beth todos dias a indagava e, dizia “menina, menina, se seu Jaime souber vai te demitir...”. Ametista ficava apavorada com a possibilidade de ser demitida, ela precisava fazer alguma coisa. Entre os desmaios, Ametista, tentando recuperar o seu fôlego, confessou então, que estava grávida. Beth imediatamente deu-lhe uma solução.
Ametista sangrava sentada próximo à privada, deitava de modo fetal, enquanto gritava de dor, seus pairavam no corredor do prédio... mas não havia ninguém em volta, porque os dois quartos ao lado não estavam alugados e, dona Sandra havia viajado para visitar a filha que morava na Venezuela.
A embalagem do cytotec estava em cima da pia do banheiro. Beth conseguira com uma amiga que vendia para mulheres abortarem. Remédio que havia sido fabricado para prevenção de úlceras gástricas, era vendido no mercado negro para abortar crianças indesejadas.
Enquanto Ametista gritava sentindo a maior dor que havia sentindo na vida, querendo que alguém a pegasse no colo e, tirasse a sua dor. O sangue nas suas mãos lhe dava pavor. Nunca na vida ela havia sentindo tanta vontade de morrer como naquele momento. Havia saído em pedaços na privada, a cabecinha, os bracinhos, as perninhas... com seus vários meses de gestação... o havia sucumbido, assim, como um sugador de lixo, pois ele havia sido dilatado para expulsar-lhe o ventre, como se Ametista tivesse entrado em trabalho de parto... sem ninguém por perto... Era uma menininha.
Por que Beth não havia lhe informado que era assim? Por que a havia deixado sozinha? Ainda se recordava dela dizendo: “Consegui esse remédio com a minha amiga só porque quero te ajudar, colega... Eu mesma já tomei duas vezes, porque fiquei grávida de dois canalhas por duas vezes... Então, é isso... eu só quero te ajudar”.
Uma infecção uterina deixou Ametista hospitalizada durante dias, não houveram irmãos e nem parentes para socorre-la. Seus pais que moravam no interior do Mato Grosso do Sul, nunca souberam sobre. Quem serviu de acompanhante foi dona Sandra, que chegou da Venezuela no dia seguinte que Ametista ficou hospitalizada. A sorte de Ametista foi que o zelador que passava com um balde e um rodo ouviu os seus gritos de socorro. Dona Sandra disse-lhe:
− Por que fez isso? Se tivesse me contado... Eu teria criado essa criança.
− Como? A senhora já está com uma idade...
− Eu dava um jeito, filha.
Ametista só entornou o rosto, porque inicialmente não tinha palavras para dizer para dona Sandra, só com o tempo pode discernir o que havia feito.
Depois de quase morrer, à noite, tinha frequentes pesadelos. Ouvia choro de uma criança distante, como se houvesse em algum lugar no velho edifício. Ametista chorava sozinha... E assim, foram noites com pouco sono. Ametista começou a sair com amigos para beber, porque assim, só por alguns momentos poderia sentir-se alegre e, não sentir a dor que lhe aniquilava tão disfarçadamente, mesmo que por instantes todos que tivessem a sua volta percebessem. Então, decidiu sair dalí, mudar-se e ter uma vida nova, longe das lembranças sórdidas. Ametista acabou sendo demitida, e se esse era um dos receios de lhe acontecer porque teria um filho... Só dona Sandra para lhe socorrer, demitida, sem direitos trabalhistas, ajudando com alimentação, mas o dono da sua humilde moradia, que era nada mais, nada menos que um único cômodo, deixou-a ficar, até conseguir um novo emprego.
E do silêncio que aprisionou seus sentimentos, Ametista conseguiu recuperar aos poucos a sua vida.
Foi morar numa quitinete, em um bairro próximo ao centro, que possuía somente dois cômodos, tinha que subir duas escadas até o terceiro andar, o que se tornava um suplício quando ela tinha diversas sacolas pesadas de compras para carregar. Sentia-se sozinha, porque a sua mãe nunca ligou, a não ser um dia...
Certo dia ligou para casa de uma vizinha, porque era assim que naquela época ela conseguia ter notícias da família, soube através de uma das irmãs, que seu pai, Afonso padeceu depois de uma briga em um bar. Ametista não chorou e, muito menos viajou até Corumbá para participar do enterro, além do tempo que seria profícuo que perderia até chegar a Corumbá. Ela não se importou por não ter comparecido ao enterro, só lhe veio a recordação das diversas traições e de toda perversidade do seu pai... Entretanto, por tempos por aqueles que conheceram Afonso, ela iria ouvir: “Tu tem um temperamento forte como do teu pai”.
Antes da sua mudança para a quitinete, Bruno quando soube do terrível ocorrido, voltou a lhe procurar e, a questionar por que ela havia feito aquilo.
“Porque me abandonou”. Foram as palavras que surgiram na sua mente.
− O que tu quer de mim? ─ Foi o que ela disse.
− Agente podia ter conversado mais sobre isso, princesa.
“Princesa”, ela havia tornado a ser sua princesa mais uma vez.
− Some da minha vida. Tu foi a coisa mais triste que já me aconteceu.
Discutiram. E entre farpas, Bruno pegou a chave no novo fusca que tinha trocado pela moto e, foi embora. Ametista nunca mais o viu.
E Beth quando soube que ela quase morreu, não se importou. Só respondeu: “Eu não tenho culpa de nada, fez porque quis”. Tão omissa! Por anos, Ametista diria para si: “Foi a melhor coisa o que tu fez, Ametista”.
Ah, a paixão, há momentos que tudo parece ser um sonho, porém, tão brutal é a intenção daqueles que não sabem amar.
Haviam dias que ela sentia vontade de morrer, porque não conseguia dar a coisa mais preciosa que Pedro desejava: ter um filho. Estavam casados há cinco anos e, nada. Entre tantas tentativas fracassadas, Pedro começou a jogar na cara de Ametista porque ela havia feito um aborto, pois toda dificuldade para engravidar, segundo Dr. Santos adivinha disso. Além de quase morrer naquele período, ela ainda por cima tinha que ouvir isso do homem que amava. Chegou a sugerir uma adoção ao marido, porém, ele não queria de modo algum. Ametista não compreendia como ele poderia ter ser tão mal ao recusar uma adoção. − Você sabe como eu me sinto um fracassado que não tem nenhum filho... E o que os meus parentes vão dizer. − Não interessa o que eles vão dizer.
Com dois anos de idade, Estrela foi morar no bairro Santo Antônio, próximo à avenida Júlio de Castilho, com a sua família. A casa era pequena com dois quartos, possuía uma pequena árvore na entrada, mas que cobria a casa com uma sombra, onde era possível às vezes colocar uma cadeira de praia na frente e ficar sentada conversando com a vizinha ao lado, a única que de fato conheciam. Estrela poucas vezes saia, ia para escola, para natação, para igreja ou para jogar vídeo game com Lilian, a filha da vizinha. Estrela quase sempre perdia para Lilian. Lilian não gostava de brincar de boneca, então, Estrela brincava de boneca sozinha. Estrela possuía sonhos incomuns, na infância queria conhecer a Inglaterra, o País de Gales ou a Escócia. E quem sabe, a rainha! &nbs
Estrela permaneceu muda por alguns dias. Quem olhava na sua face via um semblante triste e pesado e, principalmente que queria se esconder. Não quis falar com ninguém, nem com Amestista. Ainda se lembrava daquelas palavras, ele a humilhou, a machucou. E como o seu pai era policial militar foi tão fácil de resolver.Mas tudo antecedeu... “Como ela foi burra!”, remoía nos pensamentos.Victor: oi, linda!Estrela: oi, Victor! Como vc está?Victor: Estou bem! Quero uma foto da minha linda!Estrela: eu não gosto de tirar fotos. Rsrs&
Estrela gostava de animais. Além de Leão, ela tinha um peixe e um raminster. Contudo, a primeira vez que Estrela teve um raminster, ela ficou tão preocupada em cuidar bem do bichinho, que o alimentou muitas vezes e, o ratinho morreu. Foi aí que percebeu que cada animal, assim, como as plantas, tinham um jeito particular de serem cuidados. E a mesma coisa ocorria com as pessoas. Estrela soube que a Congregação era a mesma que a tia Branca fazia parte. Quanta coincidência! Ela refletiu. Com frequência ia visitar as irmãs. Havia começado a fazer o vocacional com as irmãs, contudo, o que ela mais gostava era quando ia para um centro para crianças e jovens com necessidades especiais. Ali ela via risos das pessoas mais carinhosas que existiam, assim, Es
Um dia Estrela compartilhou com a mãe o desejo de estudar fora, aliás foram tantas vezes que se pegou falando sobre tais sonhos. − Minha filha, você precisa amadurecer um pouco a ideia. Não é tão fácil morar em outro país como você pensa. Além da passagem e do curso para você pagar, tem a sua estadia.− Poderia lavar prato.− Estrela!− O que? Eu lavo prato aqui em casa sem ganhar nada, posso lavar prato num restaurante ou numa lanchonete sendo paga.− Vocês jovens acham que é tudo fácil. 
A Porta MágicaBeatriz morava num apartamento junto com a família. Havia muito barulho em volta, uma zona de prostituição e, assaltos eram corriqueiros. Não haviam flores, não haviam árvores, apenas a sua imaginação querendo ter um lindo jardim em volta. Ela já havia lido o livro Alice no País das Maravilhas, Peter Pan, e muitos livros de fantasia, talvez o seu refúgio diante das diversas brigas dos pais. Beatriz era quieta e, havia se tornado mais ainda desde que havia entrado na puberdade. A escola era um lugar que ela não gostava, pois ela tinha quinze anos, era muito magra e, achava que era feia, porque seus próprios irmãos diziam que ela era. Beatriz acreditava e, se importava muito o que pensavam sobre ela. Às vezes, sonhava que um dia abriria a porta e, fugiria de casa, para então, quem sabe morar em outro país
A Congregação utilizava a tradição de ter o sino para acordar as meninas e a todas as irmãs, de manhãzinha. Era a superiora quem o batia rigidamente as cinco horas da manhã. Obviamente que quem estivesse escalada para aprontar o café da manhã, acordava antes do sol nascer. Aos domingos, as meninas podiam dormir meia hora a mais, para então, irem participar da missa. A vida religiosa era assim, regrada. E as irmãs diziam “um grande problema da sociedade atual é que as pessoas não possuem regras”. As regras, às vezes, para Estrela, pareciam tão pesadas de carregar, tão difíceis de conseguir cumprir. E na semana que precisava cozinhar, era tão difícil, porque era algo a mais que precisava fazer. Ela permaneceu salgando a comida por um bom tempo, mas aos poucos estava se aperfeiçoando, melhorando, e, qu
A Metamorfose da BorboletaHá muitos anos atrás, por volta do ano de 1900, havia um povo invisível... Ieda, uma princesa borboleta de asas azuis, nasceu entre o povo Geda que habitava um bosque. O povo Geda era um povo invisível para os humanos, porque elas eram lindas e frágeis borboletas e, era somente assim que os humanos os viam. Eles possuíam traços humanos, contudo, com olhos, cabelos e asas de diversas colorações. Os seres humanos não podiam ver a semelhança. A explicação para isso é que as borboletas no início da civilização precisaram se disfarçar e tornar-se pequenas, pois seus encantos e beleza causavam curiosidade nos humanos daquela época. Porém, alguns humanos tinham a permissão de descobrir esse segredo, se alguma borboleta resolve