Ir. Rita da Imaculada Conceição, foi assim, que Helena passou a ser chamada, depois que recebeu o sacramento para a vida consagrada como freira, pois que nessa época as religiosas consagradas mudavam de nome simbolicamente, com o sentido de abandono da vida velha, para uma vida nova. Situação que foi modificava com o Concílio do Vaticano II, passando, portanto, a não ser mais obrigatório.
Ametista via a mãe chamando a amiga freira ainda pelo nome Helena, no início quando não conhecia a amizade entre as duas, achava estranho. Com o transcorrer do tempo, a estranheza deu lugar ao hábito, pois que entendeu que fora assim que Orquídea a havia conhecido quando jovem. Para as crianças Ir. Rita era chamava de tia Branca, pois que usava um imenso hábito branco. Ela, desde que passara a habitar Corumbá, que pediu transferência para Congregação para ficar mais próxima da sua irmã, Dora e, a congregação vendo a necessidade concedeu. E assim também pode ficar próxima da velha amiga, ouvia de Orquídea:
─ Ah, Helena, como eu deveria ter sido freira como você. Teria sido mais feliz.
─ Deixa isso para, lá, Orquídea! Isso é passado, pensa só nos teus filhos.
─ Eu penso, mas o Afonso, você sabe como ele é, né?!
─ Reza apenas pela conversão dele e... ─ Ela respirou fundo. ─ Que Deus o perdoe!
Tia Branca sempre levava para Orquídea a comida que sobrava da escola dos ricos. Geralmente levava banana, frango ou doces, como doce de leite caseiro ou arroz doce que era servido para as internas do colégio. As irmãs sabiam da vida difícil dos filhos de Orquídea, então, deixavam Ir. Rita levar um pouco de comida. Os filhos de Orquídea acabavam num instante com o doce de leite, que vinha num pote grande de vidro.
Na escola Ametista não era exatamente uma menina comportada. Estudiosa sim, sempre tirava notas boas em todas as matérias, mas o comportamento deixava a desejar. E como na pequena cidade do interior onde os novos métodos de ensino não era muito bem aceito. A menina Ametista de pele branca, de olhos e cabelos castanhos, sempre apanhava com a palmatoria de madeira. Era comum Orquídea ser chamada na escola, porque mais uma vez Ametista havia aprontado, era certo que levaria uma surra da mãe quando retornasse para casa, esta logo enfiava a cara nos livros para mostrar de algum modo, que apesar de tudo, era uma menina estudiosa que cuidava dos irmãos, e, lá no fundo, a sua rebeldia era de uma menina que tinha vontade de descobrir a vida além da pequena cidade onde morava; além da sua casa agora de alvenaria, mas simples; de uma menina que queria usar roupas da moda, e, ter os brinquedos mais lindos do mundo. Ametista brincou de boneca até os quatorze anos, só parou quando veio o primeiro namorado.
Um dia brincando de queimada na rua com os irmãos e os primos, brincadeira em que formam dois grupos que devem confrontar-se, cada integrante deve tentar queimar as pessoas do time adversário; no meio disso há uma bola que é passada de mão em mão, no sentido de manter no time; o time que primeiro acabar o número de pessoas porque foram queimados, perde; tal jogo é similar com o futebol americano... Nesse dia Orquídea conheceu Ciro. Ele tinha dezesseis anos, era alto, cabelos aloirados e longos até o ombro, bem magro, possuía lindos olhos amendoados. Logo que foi apresentado por um de seus primos, todas as meninas olharam para ele, pensando “É um príncipe”. O rapaz era realmente muito bonito e, chamava a atenção. Ametista apesar de não possuir muita experiência no assunto, sabia que os olhos dele haviam ficado alguns minutos a fitando, mais do que as outras meninas.
Orquídea assustou-se quando a filha lhe contou que havia um menino que queria namora-la. Achava Ametista tão nova para isso, pois ela só havia tido o primeiro beijo, que foi com Afonso, já passando dos vinte. Orquídea quis primeiramente conhecer o rapaz; gostou tanto, que aprovou, disse para a Ir. Rita:
─ Menino muito educado. Helena. Você precisa ver...
Porém, Orquídea sabia que Afonso jamais iria aceitar que a sua filha já estava namorando, mesmo que às vezes notasse um certo desprezo de Afonso por esta. E Orquídea sabia, mesmo que ele não falasse, o por quê. Por causa de estar grávida de Ametista, teve que se casar com ela. Assim, o namoro de Ametista e Ciro tornou-se escondido, mas com consentimento de Orquídea e dos pais do rapaz. Assim, visitas de Ametista aos sogros passou a ser frequente.
Ametista quando adolescente, sentia uma fome feroz, comia na casa dos sogros, o que não tinha em casa. Ciro e a sua família tinham uma boa situação financeira, para a pequena cidade eram considerados o que podemos dizer, ricos. A família a acolhia bem, até porque a jovem era filha de Afonso, homem muito respeitado na região, conhecido por ser generoso com os moradores locais. O que gerava uma certa ira em Ametista, pois não era assim que ela via o pai carrasco e mão de vaca. Então, quando os sogros falavam das proezas de seu pai, ela apenas ficava calada ouvindo, dizendo:
─ Uhum.
─ Seu pai é um homem muito bom, Ametista. Ele só não deixa você namorar porque você é guria e, filhinha dele, mas é um homem bom.
E ela não dizia nada ante o comentário. Ametista refletia que talvez ninguém soubesse como verdadeiramente era Afonso.
Ciro e ela namoravam sentados no banco que ficava no quintal, próximo a varada da casa da família. Namoro que se limitava aos beijos, até porque os pais ficavam de olho. Um dia Ciro lhe deu um lindo colar de ouro com um pingente de coração. Foi a coisa mais fofa que Ciro já havia feito na vida para ela. Porém, como nem tudo é perfeito... Ela sabia que Ciro permaneceria por pouco tempo na cidade, pois logo iria ter que ir estudar muito distante, precisamente em São Paulo, pois seus pais queriam que ele se tornasse doutor, ou melhor dizendo, advogado, e queriam que tivesse um excelente formação estudando em uma universidade na maior cidade do Brasil. Ciro iria morar com parentes em São Paulo.
Certo dia, antes de se despedirem, juraram amor eterno.
─ Prometa-me que nunca irá namorar outro rapaz e, muito menos casar-se, Ametista?
Ametista sorriu, não acreditando no que estava ouvindo.
─ Eu não sei, Ciro... Ela hesitou.
─ Vamos, logo, Ametista, jure para mim. Rapidamente ele enraiveceu.
Ela olhou nos olhos amendoados do rapaz.
─ Está bem, eu juro!
O rapaz sorriu e, de todo corado disse:
─ Eu também juro, Ametista, nunca amarei outra mulher como você e, não serei de mais nenhuma.
No início cartas de amores apaixonadas trocadas entre os dois. Ametista recebia cada carta de Ciro, com êxtase. Todas as irmãs ficavam em torno dela, enquanto lia.
Minha querida Ametista,
Finalmente depois de alguns meses estou aprendendo a gostar de São Paulo, apesar de não ter muito tempo para passear, pois os meus estudos tomam muito meu tempo e a cidade é muito grande, não imagina quanto! Para se locomover é difícil, são longas distâncias. Morar na casa de meus tios não é igual como morar na casa de meus pais, mas estou feliz mesmo assim, mesmo com a saudade que sinto de você, minha flor. Meus primos tem me apresentado os melhores lugares para conhecer aqui na cidade.
Gostaria que soubesse que ainda me recordo de nosso primeiro beijo, vou sempre me lembrar e, quando for visitar os meus pais em Corumbá, vou lhe dar um presente bem bonito, para ver esse lindo sorriso transparecer outra vez.
De tudo, posso dizer que estou ótimo, fazendo sempre novos amigos, e, mesmo com a correria, me divertindo e feliz. Diga que mandei abraços para as suas irmãs.
Do fundo do meu coração,
Ciro.
Esperar as cartas de Ciro, depois suspirar, passou a ser algo importante na vida de Ametista. Foram seis meses que ambos se correspondiam sem Afonso saber. Ela sempre levava a carta, depois das aulas, de modo que o seu pai não notaria e, lá ela também pegava a carta que o rapaz enviava para ela. Ametista sabia quando deveria fazer isso.
Meu querido Ciro,
Estou te esperando vir me pegar para nós passearmos de mãos dadas em São Paulo. A primeira coisa que vou querer fazer é sair para tomar sorvete e conhecer esses lugares de que tanto fala. Fico boba quando leio as coisas que você diz sobre São Paulo. Tenho um vizinho que tem filhos que moram aí, diz que a cidade é gigante, que já até se perdeu, não gosta muito, mas os filhos sim. Acho que é porque ele sempre viveu em Corumbá, então, é difícil para pessoas mais velhas se acostumarem com uma capital do tamanho de São Paulo.
Sabe, ainda tenho aquele colar que você me deu, eu nunca disse para você, mas foi o melhor presente que já ganhei...
Contudo...
Certo dia, depois de um dia cansativo em que chegou da escola debaixo de um sol quente, ela abriu a carta que havia demorado mais que o normal.
“Eu me apaixonei por ela, não tenho culpa, pois a gente está muito tempo distante um do outro...”
Até o sotaque dele estava diferente, ele a havia esquecido.
Foram apenas essas palavras que Ametista lembrou depois que terminou de ler a carta. “Ele prometeu amor eterno”, “E o juramento?”. Ela não compreendia como ele parou de ama-la e, assim tão de repente. Algumas lágrimas caíram do seu rosto, então, lembrou-se da briga anterior dos seus pais, aliás, do seu pai, porque a sua mãe sempre ficava calada. A humilhou dizendo que tinha que ir para casa de Dolores pois estava com dor de cabeça. No final das contas, o seu príncipe encantando começou a namorar uma princesa do mesmo nível social que o dele. Não que Ciro fosse considerado rico em São Paulo, Ametista não conhecia muitas cidades, mas sabia disso. Ela refletiu... que talvez Ciro fosse como seu pai. Entretanto, com o tempo acabou deixando isso para lá, e, Ciro ficou na sua história como o seu primeiro namorado no qual trocavam cartinhas.
Ametista ansiava por liberdade, estava cansada do que classificava como vidinha, onde via só seu pai reinar em casa e, a sua mãe só abaixar a cabeça como se fosse uma trouxa. Às vezes fazia Orquídea levantar-se três horas da madrugada para fazer o seu café antes dele ir para a feira, já que possuía uma escrava em casa que tinha dez filhos para cuidar. Então, por que não mandava a Dolores fazer seu café, pensava Ametista com raiva. Ametista via que muitas foram as vezes que Afonso, depois do café, ia para casa da amante. Notava a sua mãe cabisbaixa chorando nos cantos depois que ele ia embora para a casa da outra; e, depois ter que acordar para acender o fogão a lenha. Ametista sonhava muito mais do que ter aquela vidinha, queria ter dinheiro para se vestir tão bem quanto a atual namorada de Ciro. Com quinze anos começou a planejar se mudar de cidade.
Orquídea olhava-se no espelho, observava as suas olheiras cansadas, que antes estivera encoberta por muita maquiagem, nada do que fizesse agradava o seu marido, por isso, adquiriu desgosto pelo casamento, somente o mantinha porque era o certo a se fazer a uma mulher decente. Ele não sentia ciúmes dela, nada. Todo ciúme ia para a outra, não que considerasse o ciúme bom, mas significava o desprezo de Afonso por ela. Assim, o amor que um dia sentiu por Afonso havia sido trocado por amargura.
Elas discutiram. Mas não havia nada que fizesse Ametista deixar de ir embora. Fazia cerca de um ano que Ametista trabalhava em uma loja de eletrodomésticos. Depois de juntar dinheiro percebeu que possuía o suficiente para ir morar em Manaus, assim, como a sua mãe o fez certa vez quando era mais jovem, então, ela não entendia porque Orquídea estava implicando tanto com a sua decisão. ─ Como vai morar sozinha? ─ Vou morar com mais duas amigas. ─ E por que tão longe? Você poderia ir para Campo Grande? ─ Porque eu conheço pessoas lá. ─ Meu Deus, presta atenção no que está dizendo... Teu pai não vai deixar. 
Já fazia um tempo que Ametista estava morando sozinha. Estava com dezoito anos de idade e, sentia que ainda algo faltava na sua vida. Queria fazer faculdade e tornar-se Juíza. Para isso precisava voltar a estudar, pois ainda precisava terminar o último ano do ginásio. Assim, precisava reestruturar a sua vida, pois não era fácil trabalhar em uma loja, ainda mais se tivesse que esticar o seu horário para os estudos, mas assim, ela faria se fosse necessário. Era somente um cômodo, num edifício que parecia abandonado, localizado no centro da cidade. Contudo, uma pequena alegria brotava de dentro do seu peito, ela tinha o seu lar, que podia deixar organizado assim como deixou quando saiu antes de ir trabalhar. E foi ali que aprendeu muitas coisas na cama com Bruno. Certa vez, sentiu-se enjoada no trabalho, Beth que era mãe de uma menina logo compreendeu.
Haviam dias que ela sentia vontade de morrer, porque não conseguia dar a coisa mais preciosa que Pedro desejava: ter um filho. Estavam casados há cinco anos e, nada. Entre tantas tentativas fracassadas, Pedro começou a jogar na cara de Ametista porque ela havia feito um aborto, pois toda dificuldade para engravidar, segundo Dr. Santos adivinha disso. Além de quase morrer naquele período, ela ainda por cima tinha que ouvir isso do homem que amava. Chegou a sugerir uma adoção ao marido, porém, ele não queria de modo algum. Ametista não compreendia como ele poderia ter ser tão mal ao recusar uma adoção. − Você sabe como eu me sinto um fracassado que não tem nenhum filho... E o que os meus parentes vão dizer. − Não interessa o que eles vão dizer.
Com dois anos de idade, Estrela foi morar no bairro Santo Antônio, próximo à avenida Júlio de Castilho, com a sua família. A casa era pequena com dois quartos, possuía uma pequena árvore na entrada, mas que cobria a casa com uma sombra, onde era possível às vezes colocar uma cadeira de praia na frente e ficar sentada conversando com a vizinha ao lado, a única que de fato conheciam. Estrela poucas vezes saia, ia para escola, para natação, para igreja ou para jogar vídeo game com Lilian, a filha da vizinha. Estrela quase sempre perdia para Lilian. Lilian não gostava de brincar de boneca, então, Estrela brincava de boneca sozinha. Estrela possuía sonhos incomuns, na infância queria conhecer a Inglaterra, o País de Gales ou a Escócia. E quem sabe, a rainha! &nbs
Estrela permaneceu muda por alguns dias. Quem olhava na sua face via um semblante triste e pesado e, principalmente que queria se esconder. Não quis falar com ninguém, nem com Amestista. Ainda se lembrava daquelas palavras, ele a humilhou, a machucou. E como o seu pai era policial militar foi tão fácil de resolver.Mas tudo antecedeu... “Como ela foi burra!”, remoía nos pensamentos.Victor: oi, linda!Estrela: oi, Victor! Como vc está?Victor: Estou bem! Quero uma foto da minha linda!Estrela: eu não gosto de tirar fotos. Rsrs&
Estrela gostava de animais. Além de Leão, ela tinha um peixe e um raminster. Contudo, a primeira vez que Estrela teve um raminster, ela ficou tão preocupada em cuidar bem do bichinho, que o alimentou muitas vezes e, o ratinho morreu. Foi aí que percebeu que cada animal, assim, como as plantas, tinham um jeito particular de serem cuidados. E a mesma coisa ocorria com as pessoas. Estrela soube que a Congregação era a mesma que a tia Branca fazia parte. Quanta coincidência! Ela refletiu. Com frequência ia visitar as irmãs. Havia começado a fazer o vocacional com as irmãs, contudo, o que ela mais gostava era quando ia para um centro para crianças e jovens com necessidades especiais. Ali ela via risos das pessoas mais carinhosas que existiam, assim, Es
Um dia Estrela compartilhou com a mãe o desejo de estudar fora, aliás foram tantas vezes que se pegou falando sobre tais sonhos. − Minha filha, você precisa amadurecer um pouco a ideia. Não é tão fácil morar em outro país como você pensa. Além da passagem e do curso para você pagar, tem a sua estadia.− Poderia lavar prato.− Estrela!− O que? Eu lavo prato aqui em casa sem ganhar nada, posso lavar prato num restaurante ou numa lanchonete sendo paga.− Vocês jovens acham que é tudo fácil. 
A Porta MágicaBeatriz morava num apartamento junto com a família. Havia muito barulho em volta, uma zona de prostituição e, assaltos eram corriqueiros. Não haviam flores, não haviam árvores, apenas a sua imaginação querendo ter um lindo jardim em volta. Ela já havia lido o livro Alice no País das Maravilhas, Peter Pan, e muitos livros de fantasia, talvez o seu refúgio diante das diversas brigas dos pais. Beatriz era quieta e, havia se tornado mais ainda desde que havia entrado na puberdade. A escola era um lugar que ela não gostava, pois ela tinha quinze anos, era muito magra e, achava que era feia, porque seus próprios irmãos diziam que ela era. Beatriz acreditava e, se importava muito o que pensavam sobre ela. Às vezes, sonhava que um dia abriria a porta e, fugiria de casa, para então, quem sabe morar em outro país