A História de Ametista
Ametista desde muito pequena começou a odiar o seu nome. Sofria bulling na escola, na rua, com os irmãos e, com os primos. Jurou para si mesma que não iria dar um nome esquisito para nenhum dos filhos que viesse a ter.
Quando foi morar em Corumbá, talvez a adaptação tenha sido mais fácil para ela e para os irmãos, do que para Orquídea. Foi uma nova vida, de uma cidade que ela gostava, mas que sentiu que tão longe poderia realizar os seus sonhos.
Tão cedo começou a cuidar dos irmãos, com apenas nove anos de idade, acordava quatro e meia da manhã para cuidar de algum irmão mais novo, além de depois ir fazer o café no fogão a lenha, o que dava muito trabalho acender o fogo. Já existia fogão a gás há muito tempo, mas como eram pobres, não possuíam. Sentia às vezes, na sala de aula, seus olhos pesarem, queria dormir só mais um pouquinho.
─ Isso vai vir a sustentar tu e a tua família, Ametista. ─ Disse a avó Ana quando foi a Croumbá.
Ametista pensava que não queria passar o resto da vida costurando para outras pessoas, como muitas de suas tias faziam, sonhava mais além... Queria ser médica cirurgiã, casar com um príncipe, e, quem sabe morar numa casa bem bonita.
Olhava para sua casa, de madeira tão mau acabada, a água ficava em um pote de barro, não havia geladeira como na casa dos seus colegas de sala de aula; ela dividia a cama com outra irmã e, todos os meninos dormiam em redes. Até mesmo depois que foram para Corumbá, continuaram a dormir assim. Tudo isso porque seu pai, que aliás, diga-se de passagem, era um homem que bebia muito e era carrasco, dificilmente comprava móveis para casa, já que tudo o que era bom ia para a sua amante, Dolores, mulher que se mudou também para Corumbá, para continuar ‘sendo a sua prostituta’, como dizia Ametista e os irmãos. O odiava mais ainda quando via a sua mãe chorar sozinha no quarto, segurando o terço na mão, depois que ele ia para a casa de Dolores. E o seu ódio aumentava mais ainda quando Afonso levava os irmãos e, ela para a fazenda para trabalhar no roçado de milho.
Nunca se esqueceu do dia, que de madrugada, o pai chegou bêbado, cheirando a cachaça e, pegou o pote de barro e, jogou no chão, gritando:
─ Orquídea, onde tu tá? Vem aqui servir a minha janta.
Orquídea foi amedrontada pelos gritos do marido e pelo estrondo no pote que caiu no chão e, o serviu.
Ele continuou gritando como se fosse uma cabra. E começou a xingar dizendo:
─ Cadê aquelas pestes dos teus filhos?
“Dos teus filhos”, “pestes”.
Todos estavam escondidos.
─ Estão dormindo, Afonso! Deixa eles dormirem.
Na verdade, estavam todos amedrontados, assim, como ela, que disfarçava.
─ Dormindo uma merda. Cadê o respeito nessa casa, que ninguém vem cumprimentar o pai? O primeiro que vir aqui, eu sento a mão.
Maria, que só tinha cinco anos de idade, começou a chorar com medo do pai. Orquídea, então, a abraçou para consolar e, para que chorasse baixo, pois se ouvisse...
Orquídea, serviu o jantar do marido. Logo ouviu-se:
─ Que droga é essa, Orquídea, tu tem o que nessa mão para cozinhar tão mal. Tu é uma mulher imprestável mesmo, não sabe fazer comida, assim como não sabe fazer sexo.
Na verdade, quanto a ‘fazer sexo’, Afonso usou de uma gíria grosseira para falar disso.
Um ódio foi tomando conta de Orquídea, teve vontade de matar o seu pai. Sem que ao menos se desse conta do que estava fazendo, levantou-se com toda fúria e, foi até o pai que estava na cozinha:
─ Não fale assim com mamãe.
─ Ametista, vá para cama. ─ Repreendeu a mãe que temia pelo o que viria acontecer.
─ Não calo, ele está te maltratando.
Afonso apenas levantou-se muito sério, tirou o cinto de couro das calças, e bateu tanto em Ametista, que as marcas puderam ser vistas durante meses. Ametista tinha apenas onze anos de idade e, gritava enquanto o seu pai lhe espancava, com a dor que se calou porque senão apanharia mais.
Um dia, a jovem Ametista, quando tinha doze anos foi ao cinema assistir um filme romântico com os irmãos. O galã, tinha os olhos azuis, cabelos castanhos escuros, e a tez de uma beleza que muito fazia a cabeça das mulheres. Contava a história de um amor, de uma jovem professora, bela e recatada que se apaixona por um jovem milionário, o seu amor é impossível, pois os pais não permitem que ele se case com uma pobretona. Depois de muitas reviravoltas, ele larga todo o dinheiro que possui para casar-se com a professora. São felizes mesmo na pobreza, até que enfim, seus pais decidem pedir perdão ao filho. E terminam felizes fazendo uma viagem num transatlântico. Albert era o nome do personagem galã.
Depois do filme, Ametista levantou-se no meio da noite, foi para o pequeno quintal que havia nos fundos da sua casa e, ficou por alguns minutos suspirando, enquanto olhava para a lua que estava cheia, sonhando em um dia encontrar o seu Albert como aquele do filme, e, que seria capaz de fazer tudo por ela e, ela se livraria da situação de terror em que vivia. Ah, mas este sonho lhe parecia tão distante da realidade simples em que vivia.
Ir. Rita da Imaculada Conceição, foi assim, que Helena passou a ser chamada, depois que recebeu o sacramento para a vida consagrada como freira, pois que nessa época as religiosas consagradas mudavam de nome simbolicamente, com o sentido de abandono da vida velha, para uma vida nova. Situação que foi modificava com o Concílio do Vaticano II, passando, portanto, a não ser mais obrigatório. Ametista via a mãe chamando a amiga freira ainda pelo nome Helena, no início quando não conhecia a amizade entre as duas, achava estranho. Com o transcorrer do tempo, a estranheza deu lugar ao hábito, pois que entendeu que fora assim que Orquídea a havia conhecido quando jovem. Para as crianças Ir. Rita era chamava de tia Branca, pois que usava um imenso hábito branco. Ela, desde que passara a habita
Elas discutiram. Mas não havia nada que fizesse Ametista deixar de ir embora. Fazia cerca de um ano que Ametista trabalhava em uma loja de eletrodomésticos. Depois de juntar dinheiro percebeu que possuía o suficiente para ir morar em Manaus, assim, como a sua mãe o fez certa vez quando era mais jovem, então, ela não entendia porque Orquídea estava implicando tanto com a sua decisão. ─ Como vai morar sozinha? ─ Vou morar com mais duas amigas. ─ E por que tão longe? Você poderia ir para Campo Grande? ─ Porque eu conheço pessoas lá. ─ Meu Deus, presta atenção no que está dizendo... Teu pai não vai deixar. 
Já fazia um tempo que Ametista estava morando sozinha. Estava com dezoito anos de idade e, sentia que ainda algo faltava na sua vida. Queria fazer faculdade e tornar-se Juíza. Para isso precisava voltar a estudar, pois ainda precisava terminar o último ano do ginásio. Assim, precisava reestruturar a sua vida, pois não era fácil trabalhar em uma loja, ainda mais se tivesse que esticar o seu horário para os estudos, mas assim, ela faria se fosse necessário. Era somente um cômodo, num edifício que parecia abandonado, localizado no centro da cidade. Contudo, uma pequena alegria brotava de dentro do seu peito, ela tinha o seu lar, que podia deixar organizado assim como deixou quando saiu antes de ir trabalhar. E foi ali que aprendeu muitas coisas na cama com Bruno. Certa vez, sentiu-se enjoada no trabalho, Beth que era mãe de uma menina logo compreendeu.
Haviam dias que ela sentia vontade de morrer, porque não conseguia dar a coisa mais preciosa que Pedro desejava: ter um filho. Estavam casados há cinco anos e, nada. Entre tantas tentativas fracassadas, Pedro começou a jogar na cara de Ametista porque ela havia feito um aborto, pois toda dificuldade para engravidar, segundo Dr. Santos adivinha disso. Além de quase morrer naquele período, ela ainda por cima tinha que ouvir isso do homem que amava. Chegou a sugerir uma adoção ao marido, porém, ele não queria de modo algum. Ametista não compreendia como ele poderia ter ser tão mal ao recusar uma adoção. − Você sabe como eu me sinto um fracassado que não tem nenhum filho... E o que os meus parentes vão dizer. − Não interessa o que eles vão dizer.
Com dois anos de idade, Estrela foi morar no bairro Santo Antônio, próximo à avenida Júlio de Castilho, com a sua família. A casa era pequena com dois quartos, possuía uma pequena árvore na entrada, mas que cobria a casa com uma sombra, onde era possível às vezes colocar uma cadeira de praia na frente e ficar sentada conversando com a vizinha ao lado, a única que de fato conheciam. Estrela poucas vezes saia, ia para escola, para natação, para igreja ou para jogar vídeo game com Lilian, a filha da vizinha. Estrela quase sempre perdia para Lilian. Lilian não gostava de brincar de boneca, então, Estrela brincava de boneca sozinha. Estrela possuía sonhos incomuns, na infância queria conhecer a Inglaterra, o País de Gales ou a Escócia. E quem sabe, a rainha! &nbs
Estrela permaneceu muda por alguns dias. Quem olhava na sua face via um semblante triste e pesado e, principalmente que queria se esconder. Não quis falar com ninguém, nem com Amestista. Ainda se lembrava daquelas palavras, ele a humilhou, a machucou. E como o seu pai era policial militar foi tão fácil de resolver.Mas tudo antecedeu... “Como ela foi burra!”, remoía nos pensamentos.Victor: oi, linda!Estrela: oi, Victor! Como vc está?Victor: Estou bem! Quero uma foto da minha linda!Estrela: eu não gosto de tirar fotos. Rsrs&
Estrela gostava de animais. Além de Leão, ela tinha um peixe e um raminster. Contudo, a primeira vez que Estrela teve um raminster, ela ficou tão preocupada em cuidar bem do bichinho, que o alimentou muitas vezes e, o ratinho morreu. Foi aí que percebeu que cada animal, assim, como as plantas, tinham um jeito particular de serem cuidados. E a mesma coisa ocorria com as pessoas. Estrela soube que a Congregação era a mesma que a tia Branca fazia parte. Quanta coincidência! Ela refletiu. Com frequência ia visitar as irmãs. Havia começado a fazer o vocacional com as irmãs, contudo, o que ela mais gostava era quando ia para um centro para crianças e jovens com necessidades especiais. Ali ela via risos das pessoas mais carinhosas que existiam, assim, Es
Um dia Estrela compartilhou com a mãe o desejo de estudar fora, aliás foram tantas vezes que se pegou falando sobre tais sonhos. − Minha filha, você precisa amadurecer um pouco a ideia. Não é tão fácil morar em outro país como você pensa. Além da passagem e do curso para você pagar, tem a sua estadia.− Poderia lavar prato.− Estrela!− O que? Eu lavo prato aqui em casa sem ganhar nada, posso lavar prato num restaurante ou numa lanchonete sendo paga.− Vocês jovens acham que é tudo fácil.