"No inverno, quando o sangue da lua vermelha cair e a fera acordar, o devasto surgirá. A primeira humana, fêmea de um Supremo da pura linhagem interrupta, cujas batalhas nunca perde, trará a divindade esperada pelo povo e repudiada pelo mundo."
SÉCULO IX
Não…
Está sem fôlego…
Mas contínua!
Corre desesperadamente pela densa floresta escura. Os galhos das árvores cortam-lhe e rasgam suas vestimentas. Seus músculos doem. Mas não para. Está cansada e ofegante. Escuta rugidos atrás de si, mas não atreve-se a olhar.
Fica perdidas em pensamentos enquanto corro.
Desde a adolescência sempre perguntava-se; Para onde realmente vão as almas após a morte? Qual o segredo escondido por trás da vida? Qual o nosso propósito?
Ela tropeça em uma raiz. A dor no tornozelo arranca um grito de sua garganta quando vai ao chão. Além de torcer-lo, cortou. E o cheiro vaga pela floresta até às narinas da fera.
Qual o desconhecido que aguardava-lhe após sua morte?
Pergunta-se em seus devaneios quando olhou aquela enorme fera pulando para abocanhá-la.
+-+
Massacre da Lua Negra.
É como foi conhecido o primeiro massacre desde o final das eras de paz. Ela nunca esquecerá aquele dia fatídico.
Havia um rei. Havia um príncipe. Havia uma princesa.
E houve um estupro.
Houve uma grávidez. Assim ela nasceu. Filha de dois homens. Filha de seu tio e filha de seu avô.
Mas diferente de sua mãe que foi pega e transformada em escrava por um povo hostil, a menina tinha seu futuro garantido. Foi adotada por feras agressivas que matam tudo aquilo que os desafia. Adotada por lobisomens.
Fora acolhida pelo Alpha e ensinada pelo bando. Cresceu dentro de seus hostis e selvagens costumes ansiando o momento em que completaria 14 anos para transformar-se em uma deles.
Porém, três anos anos, seu destino tomou um rumo diferente do planejado.
Era madrugada véspera de lua cheia.
E a alcateia estava reunida em torno de uma pedreira na fogueira. As crianças lutavam como entretenimento, agitadas. Eram nove crianças e quatro bebês. Mas apenas as mais velhas, naquela madrugada, iriam matar.
Nenhuma tinha mais de dez anos de idade. Mas eram caçadores dominantes. Estavam crescendo e, com o passar dos anos, seus instintos iam aflorando.
As lutas não são agressivas como as de adultos. Eles apenas brincavam sem perceber que os truques e artimanhas que desenvolviam poderiam ser letais em sua maturidade.
Lhycans são caçadores. São predadores que ensinam seus descendentes desde cedo. E como um predador que caça e entrega a presa viva para que seus filhos aprimorarem suas habilidades assassinas, um humano foi levado até a fogueira.
Estava nu, completamente desarmado e limpo. Ninguém daria uma presa suja para seus filhotes, visto que são mais sensíveis às doenças. Mas aquele homem era um caçador que seguiu a alcateia por um mês. Aqueles grandes braços poderia facilmente matar um filhote. Com dez anos de idade, todos tinham a aparência de cinco anos.
E mesmo assim, o caçador seria o brinquedo da nova geração. As mulheres derivadas da humanidade estavam preocupadas. Mas seus companheiros as acalmavam.
A humana tinha onze anos e mal podia esperar para completar 14 e se juntar ao povo. Naquela noite, havia sangrado pela primeira vez e não participou do banquete na fogueira.
E não estava lá quando a rainha da alcateia ficou inquieta. Sentia que algo estava para acontecer. Estava sentindo-se ameaçada e, logo, as demais mulheres responderem a sua inquietação. Estava com medo e, com precisão afirmou:
— Temos que sair daqui! — Sua insistência deixou o bando em alerta.
O homem foi poupado quando as crianças fugiram para junto de seus pais. O tempo acima deles estava fechando e a mulher ficava mais desesperada.
O tempo estava mudando. Raios formava-se no ar e a fria ventania deixava as crianças inquietas.
Era urgente. Os lhycans começaram a assumir sua forma de lobo, junto com os filhotes. Ele abocanham suas crias e estava prestes a correr para a floresta quando a fonte do perigo chegou.
Veio do céu. A mulher. E com ela, a devastação. Fogo consumiu a região. Lhycans lutavam pela sua vida e seguiam seu Alpha. Sua companheira fugiu com os filhotes, abandonado-os. E tudo que a humana incapaz de lutar conseguia pensar é quando será morta. A alcateia não tinha força alguma comparada ao daquela mulher. Dentre o caos, o caçador a pegou. Tirou-a dali e a estuprou. Assim ela engravidou de uma menina.
Seu nome é Kathe Demarttel. Seu nome é de realeza. Princesa pura cujo sobrenome nunca deverá mudar. Nenhum homem é digno de tal feito.
E ninguém sequer tentou. A vida foi cruel demais para ela.
Ela não seria mais humana. Ansiava por deixar de ser parte dessa raça repugnante e tornar-se um lhycantropico.
Maldito caçador. Malditos humanos! Foi vendida a uma casa de prazer e simplesmente chamada de puta. Fora humilhada e desprezada enquanto via sua menina crescer e seguir o mesmo destino ao ser corrompida. Foi assim que chegou ao território daquele que seria seu reino.
Seu pai, irmão de sua mãe assumiu o governo. Zombou delas por terem o sobrenome Demarttel e disse "Não passa de uma puta filha de uma puta!". Então, o rei as pegou como amante. Filha e neta. Não importava. Não acreditou no que Kathe dizia. Seriam putas da realeza.
E assim sua filha engravidou várias e várias vezes. Todos filhos de um homem diferente. Alguns com defeito congênito e defeituosos. Esses foram expostos a morte. Mas nenhum foi assumido e todos desacreditado do sangue que possuíam. Mas uma única criança carregava a marca de nascença da realeza. E quando a esposa do rei descobriu, ordenou sua morte.
Sua mãe deu a vida para impedi-la de matar sua filha. Deu a vida para que Kathe fugisse com as netas para longe.
E encontrou o lugar perfeito na Bulgária. Em uma aldeia distante ela cresceu…
A princesa profetizada…
Tão linda… Tão encantadora…
Os homens da aldeia rogavam pelo dia em que ela seria experimentada assim que tivesse corpo de mulher. E quando teve…
Foi quando eles chegaram…
Sua avó costumava contar histórias assustadoras. Histórias que segundo ela, não são meras histórias, e sim, reais. Porém ninguém acredita em suas palavras. Seus vizinhos a julgam de louca e doente.
Mas sabe que toda história tem um fundo de verdade. Talvez ela simplesmente seja criativa ou já chegou a ver algo. Talvez sejam histórias que ela ouviu, mas não pode dizer que simplesmente não acredita. Sente que pode haver algo além do conhecido.
Uma de suas histórias fala de uma grande fera. Uma fera forte e temido até nas mais distantes das alcatéia. Um Alpha imortal e sanguinário, que vagará pelos cantos mais remotos do mundo em busca daquela que a Lua escolheu para viver ao seu lado. Em busca de sua companheira.
Sua avó diz que esse lobo passará por cima da humanidade para encontrá-la. Mas ninguém acredita, pois todos julgam tais histórias de blasfêmia. Histórias que não passam de contos de velha para causar medo em crianças. Eles não acreditam nela. Pelo menos, até agora…
Recentemente seres misterioso vagam pela imensidão da floresta. Eles matam qualquer homem ou mulher para saciar sua fome por carne humana. Todas as noites eles vem ao nosso vilarejo e matam nosso povo, principalmente idosos e crianças — Suas principais vítimas.
É tudo culpa deles…
Ela avisou-os do que aconteceria. Ninguém escutou.
O quão cruel pode ser a vida? A dela foi deles…
Sua avó não é tola. Disse que se tocassem em suas netas, a aldeia pagaria o preço.
Ninguém acreditou…
Pegaram a mais velha das netas que estava grávida. Estupraram e espancaram-na.
E a aldeia pagou por isso.
Quando a mulher desapareceu, uma poderosa fera de pêlos acinzentados destruiu a aldeia. E para assegurar a paz, uma vítima teria que ser sacrificada a cada lua cheia.
O que Kathe Demarttel não imaginava é que uma de suas netas, destemida a salvar esse povo nojento se voluntária-se a ser o sacrifício.
E assim, a vida de Katharyna Demarttel iria mudar…
Qual o desconhecido que aguarda-lhe após sua morte?
"Eu serei o sacrifício!" Foi o que ela gritou em meio a multidão alarmante. Ela sacrificaria-se pela aldeia para impedir um massacre. "Esse povo não merece sequer o seu tempo, quanto mais seu sangue!" Foi o que sua avó gritava. E antes que a velha começasse a jogar pragas e promessas se algo ocorresse com a neta, a garota foi deixada em plena madrugada pela morte agonizando. Mas eles não vieram… Não naquele povo… Em plena madrugada, quem atreveria-se fora de suas casas? Guardas fazendo a proteção de seu reino? Guerreiros em treinamento? Homens em busca de prostitutas ao sentirem-se cansado de suas mulheres? Feras em busca de carne humana? A lua cheia brilha e uivos são ouvidos provocando calafri
Seu pulso coça, os pés doem e os músculos pesam. Ao tropeçar em uma raiz, cai no chão, machucando sua sensível carne humana. A dor é grande e o cadeado não permite que levante. Ouve alguém chamar por si. É Lúcios, um dos filhos do líder de nossa aldeia. Ele tocar em seu ombro— Estás bem?Não há resposta. Ela permanece quieta. Água. É algo que faz falta desde o momento em que deixou a aldeia acorrenta, sendo levada por essa carruagem."Escravos"… Foi o que afirmou o homem.O quão cruel é a vida? Qual a maldita razão de viver?Ela lembra-se perfeitamente dos gritos. O homem elevou a voz e declarou a serventia da aldeia para seu novo rei. Cada homem foi escravizado. Cada criança foi pega. As mães que lutaram
Uma mulher. Uma humana. Entre milênios de existência, um humano nunca havia sido temido. Até a profecia... Vieram atrás de muito mais do que sangue e sobre a liderança de seu Alpha, foram objetivos ao tomar um grande reino da Bulgária e escravizar qualquer humano que encontraram. Essa raça numerosa ao menos teria alguma serventia que não fosse destruir e corromper tudo que tocam. Contudo, havia um motivo incomum para toda mulher com peculiaridades que diferenciam-na das demais serem levadas diretamente ao pior das feras. Ela... Entre os profetas de variáveis povos, há uma história. Uma temida história de uma lenda onde, pela primeira vez desde a criaç
— O que foi? Qual o problema? — O idioma lhupus não era algo bem compreendido pelos humanos e, por tanto, permitia qualquer grupo de lhycantropico conversar sem que seja entendido.— Nada. — Responde em língua humana. O homem fecha os olhos em sinal de frustração e, em seguida ergue a lâmina a altura de seu rosto. Ele limpa sua adaga encurvada. Não é uma arma extravagante como a de seu Bhetta, mas o ajuda a lutar em sua forma humana. “Os pequenos detalhes fazem a diferença.” É o que acredita. — Esse é o problema. Está tudo muito quieto.— Deseja o caos, irmão? — Zomba em seu idioma o lobisomem em cima de uma rocha afinando a lâmina de seu machado.Os humanos locais os encaram tentando adivinhar o que falam, mas tudo que entendem são palavras sem sentido com uma difícil pronunciação. Sequer tentaria fazer tais palavras sa
O que fazer quando seu corpo permanece exausto mas sua mente sente-se cansada de dormir?O que fazer quando sua mente luta para manter a consciência enquanto seu corpo implora pelo sono.É o conflito que Katharyna lida.Vagas lembranças povoam sua mente. A dor em seu corpo estava tão grande como se nunca tivesse deixado a mata e corrente. Mas um conforto incomum é sentido.Quando abriu os olhos teve uma grande surpresa. Estava em um grande quarto de luxo. Um quarto onde, mesmo aquecida com uma lareira e cobertores finos de pele legítima não está confortável. Sozinha nesse lugar grande, sente-se indefesa.Sente um incômodo em sua cabeça que parece mais pesada que o normal
Sozinha. É algo que bem se enquadra no que ela está sentindo-se.Não está em condições de sair da cama. E assim permaneceu sob cuidados de curandeiras.Mas quando terminaram seu trabalho e se retiraram, sentiu-se sozinha. Um passado não muito distante povoa sua mente com saudades de pessoas que já se foram.Algo incomum a faz lembrar-se de sua irmã mais velha. Tão determinada, tão valente. Tão decidida. Estava sempre com ela apoiando-a em qualquer momento, bom ou ruim.Mas ela se foi.Por causa de pessoas que sempre assola ao seu redor, como pragas ansiando para dar derrubar, ela perdeu todos que mais amou. E agora, nesse lugar grande e vasto, sente-se sozinha.
"De onde vieram?"É uma pergunta que persiste a mente dos humanos. Mal sabem. Como poderiam saber? Humanos são incapazes de sobreviver por conta própria na vasta região que essas feras vieram.E não encontram dificuldade alguma em viajar por um oceano demoníaco para chegar a Terras Podres. Terras onde a prosperação humana é permitida são escuras. A terra é infértil e desprovida de beleza genuína. E o pouco valor é arrancado e gasto com tudo de podre que podem fazer.Sequer os pântanos mais tenebrosos do mundo se parecem com terras habitada por humanos. Terras Podres. Pisar nelas é a ter a sensação de nojo.Mas para aqueles que vivem nela, não há nada de especial. Sequer imagina o que há no mundo. Apenas alguns poucos
O dia amanheceu com o presságio de chuva. A umidade estava alta e as nuvens impediram o sol de esquentar a região. Foi quando Katharyna despertou.A cama estava confortável. As cobertas eram pesada em peles finas e escondida todo seu corpo. Encarou a janela entreaberta onde a corrente fria entrava e beijava seu rosto pálido.E então a porta foi aberta atraindo a atenção de seus olhos para três mulheres. Trigêmeas idênticas portadoras de uma beleza deslumbrante. Katharyna sentiu seu sangue congelar e sua barriga contrair-se em uma angústia que conhecia muito bem. Medo.Ela sentiu medo. Não poderia dizer como. As mulheres aparentavam delicadeza e fragilidade pela aparência calma e bela. Como um anjo sem asas. Mas o olhar cinza — como um negro chegado ao branco — é