Sozinha. É algo que bem se enquadra no que ela está sentindo-se.
Não está em condições de sair da cama. E assim permaneceu sob cuidados de curandeiras.
Mas quando terminaram seu trabalho e se retiraram, sentiu-se sozinha. Um passado não muito distante povoa sua mente com saudades de pessoas que já se foram.
Algo incomum a faz lembrar-se de sua irmã mais velha. Tão determinada, tão valente. Tão decidida. Estava sempre com ela apoiando-a em qualquer momento, bom ou ruim.
Mas ela se foi.
Por causa de pessoas que sempre assola ao seu redor, como pragas ansiando para dar derrubar, ela perdeu todos que mais amou. E agora, nesse lugar grande e vasto, sente-se sozinha.
Sequer seu instinto de sobrevivência aflora para buscar informações quando sua garganta foi umedecida por água. Uma jarra inteira passou pela garganta até ela quase se afogar no líquido.
Katharyna não importou-se quando as mulheres tiraram sua vestimenta e ajudam-na a entrar em uma banheira de água quente. Não importava.
Não questionou o banho. Realmente precisava de um. Contudo, odiava que tocassem sua pele.
Mas seus cabelos, por outro lado, amou a atenção que teve. São ondulados com o movimento da água e foram lavados com o máximo de cuidado possível. As mulheres permaneciam em silêncio enquanto cuidavam do mínimo detalhe de sua higiene.
Assim, pouco em pouco a água ia escurecendo. Katharyna olhava para aquilo sem importar-se com nada. Só pensava na sua vida.
E nele…
O único que atraia sua atenção além de seus problemas pessoais. O mistério de seus olhos e seu encontro. Quem é e o que pretende?
Como deve se chamar? De onde veio?
Tantas perguntas. Nenhuma resposta.
Estava tão perdida em pensamentos com sua feição catatônica que só voltou a atenção para as mulheres quando sentiu uma dor em suas axilas.
— Perdão… senhora! — A mulher que cuidava de sua depilação é branca. Exageradamente tão branca quanto a neve. Seus lábios eram salpicados num tom mais avermelhado e possuía grandes olhos. Ela volta a atenção ao corpo da mulher e parece sentir nojo do que tem que fazer.
— Q-Quem é você? — A voz de Katharyna é doce. Ela é tímida e gaguejava pela condição de sua saúde.
Sequer era para sair da cama, mas foram ordens superiores o banho da camponesa assim que o sol esquentasse as pedras.
— Sou Mary McLasttair princesa da corte real. — A garota que não parece haver mais do que 18 anos ganha completamente a atenção de Katharyna. Ela arregala os olhos e imediatamente busca uma forma de manter respeito
— Alteza!
— Quieta! — A princesa bufa. — Estou sendo obrigada a fazer esse trabalho e se você ficar movendo-se não vou terminar.
O rosto de Katharyna fica vermelho e, assim, ela fica quieta para a higienização. Nada mais passa pela sua mente exceto o fato de haver uma princesa a depilando.
E assim ela ficou na banheira até sua intimidade sem pelo. Só então é permitido sua retirada.
Ela é secada por panos brancos e felpudos. Logo em seguida, um vestido é-lhe apresentado.
Katharyna não tem condições alguma de trajá-lo sozinha e recebe ajuda para encaixar na seda branca. É uma roupa humana apropriada para dormir. É bem trabalhada e firme nos mínimos detalhes de seu desenho. A roupa é mais pesado do que suas anteriores, mas ficou perfeito em seu corpo.
— É d-da sua família… — Concluiu após ver o símbolo da família real. Uma leão com asas. Mary, por outro lado, torceu o nariz e se afastou sem dizer nada.
E apenas encarou as demais mulheres ajudarem-na a deitar na cama. Estava tão cansada que não demorou a adormecer.
+-+
Está sem fôlego…
Mas contínua!
Corre desesperadamente pela densa floresta escura. Os galhos das árvores cortam-lhe e rasgam suas vestimentas. Seus músculos doem. Mas não para. Está cansada e ofegante. Escuta rugidos atrás de si, mas não atreve-se a olhar.
Fica perdidas em pensamentos enquanto corro.
Desde a adolescência sempre perguntava-se; Para onde realmente vão as almas após a morte? Qual o segredo escondido por trás da vida? Qual o nosso propósito?
Ela tropeça em uma raiz. A dor no tornozelo arranca um grito de sua garganta quando vai ao chão. Além de torcer-lo, cortou. E o cheiro vaga pela floresta até às narinas da fera.
Qual o desconhecido que aguardava-lhe após sua morte?
Pergunta-se em seus devaneios quando olhou aquela enorme fera pulando para abocanhá-la.
Já havia anoitecido quando a visão de afiados dentes fazem-na abrir os olhos. Em uma lufada de ar, Katharyna acordou.
E não se moveu.
Todo seu corpo paralisou instintivamente com o homem em sua frente.
Alto, grande, poderoso. Inabalável e frio. A falta de visão apenas facilitou seu temor.
Mas ele não se movia. Não tinha intenção de sair do lugar. E assim permaneceu. Um encarando o outro. Nenhum dos dois sem dizer nada fazendo nada.
Encarando-o, Katharyna tornou a adormecer.
Foi a última vez que ela o viu em sete dias.
O homem tinha assuntos mais importantes a serem tratados. E isso incluía encontrar sua Lhuna.
— O caçador facilitou. Mas nada, de fato, foi de grande importância. Àrl desapareceu. — A lhycan havia desaparecido como mágica. E encontrá-la não será algo fácil. — Trhøny continuou a busca até Romênia. Ao que tudo indica, as suspeitas eram verdadeiras.
O Alpha encara seu outro Bhetta. A autoridade máxima da Supremacia é o Alpha. Abaixo dele estão quatro grandes lobos de confiança unidos com habilidade precisas. MåæҜሃn não é descendente e muito menos filho de alguns dos antigos Bhettas mas conquistou seu lugar. Rômulo era o nome de seu antecessor e foi gravemente ferido em combate.
Lhycans são extremamente dominantes e ferozes. Não aceitam falhas e muito menos aturam incompetência. Rômulo já foi um grande lobo. Feroz e extremamente inteligente. Era mestre da manipulação e de tortura mental. Mas já não era mais tão poderoso quanto antes. Não depois de perder metade de um braço.
E assim, sem descendente direto para sucedê-lo, foi desafiado por membros mais jovens de seu clã. Um por um eram derrotados. Ele ainda era um grande Bhetta mesmo sem parte de um braço. Mas quando um ano se passou, MåæҜሃn destacou-se mais e mais no intelecto e na força. Enquanto os demais lutavam precipitadamente, o lhycan treinava e estudava seu oponente.
E com classe, escolheu uma lua cheia para desafiar Rômulo que encontrou alguém que poderia tomar-lhe seu poder. É preferível morrer do que ver toda sua grandeza tirada de você. Ver um alguém tornando-se superior em hierarquia por não conseguir defender seu posto. Ele não desistiu ou reconheceu o lhycan como seu novo Bhetta. Rômulo nasceu para a nobreza e lá se manteria até o fim.
Sem nenhuma das partes desistindo, a batalha foi até a morte onde só poderia haver um vencedor.
E não foi ele.
Sua companheira, Henna, morreu três dias após a morte de seu amado. E assim, um novo Bhetta assumiu; MåæҜሃn.
Tem tanto potencial quanto seu antecessor, Rômulo. E aprende, dia após dia. É gênio de estratégia, estuda seus inimigos e toda a situação que é colocada. Engana e trabalha com chantagem, tortura emocional e vários possui várias outras grandezas que fazia Rômulo ser tão temido. Mas esse, não Rômulo. Ele é mais frio e preciso. Não tem a distração de uma companheira e mantém seu objetivo sempre em foco obedecendo fielmente apenas um homem; seu Supremo.
O Alpha é o único homem superior a ele em hierarquia. O único posto que não pode ser tomado devido ao extremo perigo que a fera representa. O Alpha dos Alphas. O Supremo Alpha!
Contudo, nem o mais sagaz dos Bhettas conseguiu prever o sequestro de Àrl. Viggø, seu irmão mais velho, está furioso e anseia pelo momento de arrancar a cabeça de quem ousou fazer algo contra ela.
— Arya estava envolvida. Esse tempo toda é apenas uma traidora de nosso povo. — Arya não é um nome e sim um insulto que fazia-os lembrar de apenas uma pessoa merecedora. — Está desaparecida desde o ataque.
O Alpha nada diz. Apenas permanece escutando-o.
— Quais são suas ordens?
Silêncio. Nada é dito. O Supremo continua a encarar o céu. Está limpo, mas pressente a tempestade.
"Quais são seus ordens?". Nada vem a sua mente exceto a recordação de um cheiro específico.
Doente, mas fértil. Madura, mas virgem. É o cheiro dela por trás de toda podridão humana.
— Convoquem Eäæll, Sልtth e乇hęnzh Ådamhs.
A ideia de ter humanas cuidando de Katharyna não o agrada. Precisa dela saudável se deseja engravidar a humana. As trigêmeas farão isso.
E ela mal faz ideia do que a aguarda seu futuro…
"De onde vieram?"É uma pergunta que persiste a mente dos humanos. Mal sabem. Como poderiam saber? Humanos são incapazes de sobreviver por conta própria na vasta região que essas feras vieram.E não encontram dificuldade alguma em viajar por um oceano demoníaco para chegar a Terras Podres. Terras onde a prosperação humana é permitida são escuras. A terra é infértil e desprovida de beleza genuína. E o pouco valor é arrancado e gasto com tudo de podre que podem fazer.Sequer os pântanos mais tenebrosos do mundo se parecem com terras habitada por humanos. Terras Podres. Pisar nelas é a ter a sensação de nojo.Mas para aqueles que vivem nela, não há nada de especial. Sequer imagina o que há no mundo. Apenas alguns poucos
O dia amanheceu com o presságio de chuva. A umidade estava alta e as nuvens impediram o sol de esquentar a região. Foi quando Katharyna despertou.A cama estava confortável. As cobertas eram pesada em peles finas e escondida todo seu corpo. Encarou a janela entreaberta onde a corrente fria entrava e beijava seu rosto pálido.E então a porta foi aberta atraindo a atenção de seus olhos para três mulheres. Trigêmeas idênticas portadoras de uma beleza deslumbrante. Katharyna sentiu seu sangue congelar e sua barriga contrair-se em uma angústia que conhecia muito bem. Medo.Ela sentiu medo. Não poderia dizer como. As mulheres aparentavam delicadeza e fragilidade pela aparência calma e bela. Como um anjo sem asas. Mas o olhar cinza — como um negro chegado ao branco — é
"Supremo". A palavra não deixava sua mente conturbada por histórias que recebia de sua avó.Supremo Alpha…Lhycans…Sempre adorava ouvir as histórias de grandes feras que tinham forma humana. Muitos os chamavam de bestas e pragas enviadas pelo demônio, contudo é apenas uma forma de recusar a reconhecer sua soberania. Cinco raças, todas lideradas por um governo de uma hierarquia rígida e perigosa.O mais forte sobrevive. É a regra natural de sua forma de viver. Uma sociedade tão perigosa que até mesmo os próprios membros vivem sobre a pressão das consequências de sair da linha. Um povo corajoso e audacioso que aprendem desde cedo o preço de ser parte de uma das mortais sociedade existente.
Três semanas…Três semanas é o tempo que passou-se desde que Katharyna está recuperando-se. Sempre tomando o remédio para melhor mas nunca permitindo que a examinasse. Ela estava ficando rebelde e cada vez mais determinada.A paranóia de seu destino passou a consumi-la dia após dia de modo que sua convivência passou-se a ficar conturbada. Com o tempo, ela não mais desejou tomar nada sem resposta e contentava-se com a comida e água.Estava fechando-se cada vez mais e não tardou a perceber que ninguém daria-lhe resposta de nada. Parecia uma disputa de orgulho onde ela não iria ganhar recusando tudo que pretendem fazer com ela.Perce
Katharyna sente-o observa-la. Ouve os passos pesados ecoarem pelo chão. Tão calmos. Não há mais dúvidas…É ele…Supremo Alpha…Katharyna sente-se ainda mais vulnerável com sua aproximação. E sobre o manto da escuridão, ela vê sua sombra. É a primeira vez que está de pé em frente a ele mas não seu primeiro encontro. Mesmo assim, não consegue deixar de intimidar-se com seu tamanho. Ele é maior que ela. Autoritário e grande.E ela, tão pequena. Sua altura deve estar no meio de seu peito mesmo ela sendo de estatura normal. E mais do que isso. Está perante a uma criatura poderosa que a observa. Sente seu olhar ocultado pela sombra. 
Deus…Deus é um ente infinito e eterno. É um ser sobrenatural e existente por si só. Alguém que os povos recorrem em busca de ajuda. Muitas vezes, apreciado e cultuado como seu criador.Katharyna tem o seu Deus. É o mesmo salvador cultuado pelos humanos. Ela para a capela em busca dele. Somente ele poderia tornar mais suportável a sua existência em um mundo machista dominado por homens.Mas poderia ser considerada uma traidora da igreja. Ela seria uma herege. Alguém que sustenta suas próprias ideias, muitas vezes, contrárias às ideias de um grupo. Na religião, herege é quem professa uma heresia, ou seja, quem professa doutrina ao que foi estabelecido pela igreja e Katharyna tinha outras opiniões sobre o Deus que segue.&nb
Durante o dia, tudo é tão calmo. O sol mesmo triste atrás das nuvens de frio, é radiante. O silêncio natural permite-a escutar o som dos pássaros, bater de folhas das árvores e, até mesmo, ver além da escuridão caótica que é seu mundo tão sem cor.Mas a noite…Os escravos são acordados a base de chibata e gritos. Então começam a trabalhar sob pressão abusiva. Homem ou mulher, começam a reforçar o reforçar as cidades, colher pedras e afiar as asas. Não mais existe a tranquilidade do dia.E Katharyna não mais pode relaxar e dormir. Barulhos tiram seu sono. Uivos tiram seu sossego. E as paranóias tiram sua paz. Ela está com medo.É uma humana tentando dormir em meio a tantos lobisomens ferozes. Não consegue.
Katharyna estava paralisada de medo. Todos estavam. Aquele homem conseguiu lidar com a situação em extrema facilidade. Imobilizou os guerreiros como se fossem adolescentes descontrolados e impunha respeito apenas ao ficar ali, parado, calmo e encarando-a. Katharyna sente sua pele queimar. Suas bochechas devem estar pegando fogo e sequer as lágrimas de seus olhos pagariam. O medo de ver seu olhar frio em direção é ela é maior. Tão gélido que queima. Não havia emoção alguma nem mesmo quando ele deu o primeiro passo em sua direção. Apenas tochas e velas iluminava o local quando o som da bota ecoou pelo corredor e fez todo seu corpo estremecer. Um passo mais próximo. Logo, dois, três e cinco passos calmos como os de um predador o colocam em frente a ela. Katharyna não encara seu olhos. Ela encara sua calça, completamente paralisada. O tecido é levemente brilhoso co