Em um sábado como outro qualquer, Fabiana se vê diante de uma situação que a faz questionar sobre a sua tão perfeita vida. O destino exige uma escolha difícil: lutar contra um novo sentimento ou se entregar a ele? Por que estava sendo testada daquela forma? Aceitando que no amor não existe o certo ou o errado, e que seu coração egoísta é o verdadeiro dono de todas as suas decisões, Fabiana deixa a culpa esquecida em algum canto de sua mente, e aceita as transformações. No entanto, o destino, um tanto traiçoeiro, resolver intervir novamente, provando que nem sempre as escolhas são tão simples quanto aparentam. . E você, o que faria? Seguiria seu coração?
Ler maisGratidão. Talvez os meus últimos quinzes anos pudessem ser resumidos nessa palavra, pensando melhor, acho que não. Faltaria mencionar felicidade, amor, compreensão, conversas ao pé do ouvido, ideias divergentes... Ah, provavelmente, uma mescla de tudo um pouco. Mas, uma coisa é certa, não posso reclamar. Na verdade, nem devo. Afinal, de certa forma, eu aceitei o meu destino.Meu casamento com Gustavo aconteceu como ele idealizou, porém, no lugar que eu escolhi. Uma cerimônia simples com a presença das crianças, da família e o mar como testemunha.Levou algum tempo para que a nossa união se concretizasse no papel, um gesto exigido por ele, não por mim. Um documento não chegaria aos pés da verdade: Gustavo era o meu mundo inteiro. Formávamos um elo resistente e poderoso, juntamente aos meus filhos que se tornaram nossos. Uma família com todos os pr
Um ano depois...A casa encontrava-se em silêncio absoluto naquela manhã de domingo. Os meninos saíram cedo com o meu irmão para jogar bola na quadra da escola, já a minha pequena passara o final de semana na casa da Rita, e Gustavo ainda dormia.Enquanto aguardava a fervura da água para o preparo do café, deixei que a mente vagasse pelas lembranças. Quando comecei a contar essa história, o meu único desejo era desabafar confessando as dúvidas, inseguranças e os medos que serpenteavam o coração. Revelar o quanto fui amada pelo Fábio, e a maneira como Gustavo me realizava, também fizeram parte da minha vontade. Talvez, sendo mais objetiva aqui, explicar a minha trajetória da perda ao renascimento.Fui sincera desde o início, ao prevenir uma rejeição, raiva, compaixão, ou, até mesmo, uma possí
Impedir a viagem do Gustavo passou a ser a prioridade daquele dia. Um medo cresceu no peito quando cogitei a possibilidade de ele me esquecer durante os seis meses que ficasse longe, ou pior e, se ele encontrar outra pessoa que acalentasse seu coração machucado?Passei a dirigir o carro com puro terror, no momento que constatei, como algo totalmente fora do comum, as ruas apinhadas de pessoas e veículos, então me perguntei se o destino tentava intervir, outra vez, no meu futuro, criando mais obstáculos para me separar de Gustavo. Minha pulsação forte e agitada forçava a atenção no trânsito desenfreado e na velocidade que eu impunha. Quando estacionei em frente à casa dele, o suor escorria pelas costas, contudo, o celular atrapalhou a minha correria descabida, e xinguei ao pegar o aparelho na bolsa enquanto lutava com a trava da porta.— Oi. — A ansiedade ofuscava as boas mane
Gustavo.— Você tem certeza? — Silvia, minha ex-mulher, me perguntou.— Sim. Agora que o pior já passou e o Mateus está novamente sob os seus cuidados, ficarei um tempo fora.— Vai realmente desistir dela? Por que não a procura mais uma vez?— Eu tive a minha chance e a perdi. Não há motivos para insistir no assunto. — Fui enfático. Reviver aquela conversa não levaria a lugar algum.Depois do meu reencontro desastroso com a Fabiana, desabafei com a pessoa mais improvável possível. No entanto, a minha tristeza exigia uma confissão, e conversar com Silvia acabou fazendo parte das circunstâncias inusitadas da vida.Ela me ouviu com bastante atenção, compreendendo minhas decisões passadas. Culpou-se por ser parte integrante e principal do contexto, mas não permiti mais d
Gustavo, se estiver lendo essa carta, significa que deixei sob sua responsabilidade o bem mais precioso que um dia eu tive: minha família. Não tente entender os motivos que me levaram a escrever para você, muito menos se preocupar com os meus sentimentos. Afinal, sendo meio mórbido aqui, provavelmente, já estarei morto mesmo. Brincadeiras à parte, ponderei durante muito tempo como ceder à realidade e compreendi que eu estava partindo, e não eles. Por essa razão, estou bem consciente da decisão que tomei. Confesso que não foi fácil, mas não havia outra escolha a ser feita. O meu tempo está acabando e eu preciso ter a certeza de que você a fará feliz. Na realidade, você tem como obrigação fazê-los felizes (se aceitar o desafio, é claro). Quero que a minha doce e linda Fabiana sorria mais...; que meus filhos cresçam s
“Eu voltei.” Sabe por quanto tempo esperei para ouvir aquelas palavras? O quanto imaginei o seu retorno? Muitas, ou melhor, milhares de vezes. E agora, Gustavo se encontrava sentado no meu lugar preferido segurando a minha mão em um cenário digno de cinema... e eu não sabia o que fazer.Os pensamentos embaralhados impediam uma resposta objetiva. Por que não conseguia simplesmente me virar para encarar seus olhos e me entregar? No fundo, eu conhecia o motivo. Por que demorou tanto? Ou melhor, com qual intuito me fez sofrer durante todo aquele tempo, para regressar justamente agora, quando minha vida entrava nos eixos? Por que nunca me ligou? As indagações desenfreadas exigiam respostas, porém, a raiva dominou meu corpo que reagiu com um misto de fúria e pavor, e soltei sua mão como se o toque me queimasse.— Fabiana? — Ele se surpreendeu com o meu gesto. — O que está
Algum depois...Abri os olhos quando o toque insistente do telefone atrapalhou o sono. As horas marcavam um número que deveria ser proibido alguém estar acordado em pleno sábado. Meu Deus, quem poderia ser?, resmunguei.— Alô... — A voz rouca camuflava o meu mau-humor.— Mãe! Eu te acordei? — Ouvi a risada do Alex do outro lado da linha. — Desculpe ligar tão cedo, mas sairemos para uma atividade e não sei que horas voltaremos.— Tudo bem, filho! Você pode. E aí, está se divertindo? — Sentei-me na cama, apoiada nos travesseiros.— Sim, tudo ótimo. Queria estar aí, mãe, para comemorar com você. Feliz aniversário!Meu precioso filho, desde a morte do pai, sempre fez questão de comemorar o meu aniversário ao meu lado. Ele compreendia o quanto aquela data era dif
GustavoFabiana estava “pronta” para se entregar de corpo e alma ao nosso amor. Como sabia? Durante todos os meses que vieram após o velório, eu ainda a “vigiava”. Ela havia sofrido muito com a perda, ao ponto de quase se entregar por completo, contudo, a terapia lhe trouxera de volta à vida, e para mim.Não vou negar que o término da espera me deixou aliviado, nem preciso dizer que não tinha a intenção de desistir. No entanto, aguardar por sua volta havia sido uma tortura. Em alguns momentos, quase cedi à tentação e fui procurá-la, mas refutava a ideia sempre que surgia, pois através dos relatórios e das fotos que o detetive me enviava, consegui enxergar o quanto ainda sofria. E o retorno, antes do tempo, afetaria essa recuperação.No começo não entendi muito bem qual seria o tratamento dela. E, para
GustavoDurante quase um ano, os relatórios do detetive amenizaram a saudades de Fabiana. Através deles, tive o conhecimento de como sua vida se voltara para o bem-estar do marido e dos filhos. O emprego abandonado, a felicidade presa a um mundo paralelo e a doença dizimando o corpo do Fábio. Pautado num egoísmo estúpido, peguei-me enciumado em alguns momentos, quando as fotos dela no “nosso” restaurante desapareceram. Contudo, a realidade desse absurdo me batia com violência quando as imagens da debilidade do marido apareciam no montante. Colocar-me no lugar dele deixava um sabor amargo na língua. Imaginar a morte, a solidão dos filhos e mulher, trazia o discernimento de volta. A minha dor pela distância entre mim e Fabiana não se comparava com o padecimento do Fábio.Por essa razão, quando a notícia do falecimento chegou até mim