Os dias se passaram e a saudade de Gustavo só aumentava, o sentimento exigia sua voz sussurrando no meu ouvido, o sorriso contagiante e o calor de seu corpo junto ao meu.
Pensei, durante toda aquela semana, em responder à mensagem de texto, porém, por medo, me contive. O ideal seria apagá-la, contudo, a paixão nos torna irresponsáveis diante de alguns atos e, baseada nesse princípio, fiz questão de salvá-la no computador do trabalho. Às vezes, ela se revelava um bálsamo para a saudade.
Verificar o celular em busca de recados não lidos ou, quem sabe, de coragem para demonstrar o meu amor, virou uma rotina. Compreendi o quanto seria difícil continuarmos às escondidas, me preocupar em ser vista ao seu lado, nos nossos almoços; deixar o telefone visível para ser descoberta, caso alguém mexesse nele; esconder de todos a minha ansiedade; controlar os m
Depois de uma noite maldormida, precisei dos recursos da maquiagem para disfarçar as olheiras, me peguei várias vezes olhando para as crianças e lembrando-me de uma época em que tirar notas boas na escola era o maior dos meus problemas.Meu marido saiu antes do horário habitual, após receber uma ligação que o deixou apreensivo e inquieto. O egoísmo ofuscou o bom senso, a ponto de eu ignorar o bem-estar do pai dos meus filhos.Fui ao trabalho com a angústia serpenteando mais um dia que, antes do Gustavo, seria rotina. Sempre fui uma pessoa confiante e prática, mas aquela situação me colocava à prova de todas as maneiras. O medo de ele não aparecer no almoço como havíamos marcado controlava a forma robótica como desenvolvi o serviço naquela manhã. E, infelizmente, meus instintos me avisaram do perigo, esperei por uma hora no &l
Você conseguiria dormir sabendo que o dia seguinte seria essencial para concretizar a sua decisão? Então, eu não consegui. Passei a noite em claro imaginando mil cenários divergentes. Situações em que tudo saía exatamente como planejado ou nada daria certo.Pensei na roupa que usaria e, claro, na lingerie também. Minha inocência perdida compreendia exatamente qual seria o final daquele encontro. E, mesmo que fosse totalmente errado, desejei que terminasse nos braços do Gustavo.Levantei-me antes do toque do despertador, preparei o café da manhã e o lanche das crianças. O meu marido havia saído antes do amanhecer para não pegar trânsito na estrada. A distância da sua viagem não era longínqua, porém, não arriscaria chegar atrasado no compromisso. Estava tão concentrada no que aconteceria naquela tarde, que não
Cheguei à casa de Rita com a sensação de ter dentro do peito o brilho de todas as estrelas. Lógico que minha cunhada percebeu a diferença, afinal elas não pareciam nada sutis. O sorriso esfuziante, o caminhar leve, os suspiros perdidos... Deixei a minha resposta seguir dentro da simplicidade que o momento oferecia: “estou bem”. Seu olhar questionador era um prelúdio do que viria a seguir, contudo, naquela noite, não havia réplicas a serem dadas. Sempre existiria o dia seguinte.A agitação dos meus filhos não atrapalhava a minha felicidade. Seus gritos, as risadas exageradas, as brigas costumeiras entre os três. No entanto, a Nicole foi a única que realmente prestou atenção em mim, me perguntou o motivo da minha alegria. Engraçado como as mulheres – até mesmo as inocentes – são sensíveis. Outra vez, a resposta veio c
Fábio. Esse era o nome do meu marido, o pai dos meus filhos e do meu destino. Fábio, Fábio, Fábio. Durante muito tempo, não consegui pronunciá-lo sem que a culpa acompanhasse as palavras.Parado na minha frente, indefeso e inseguro, seus lábios revelavam sua doença. Minha mente misturava as informações do presente com as imagens do nosso passado. Um filme antigo mostrava nossos melhores momentos: o casamento, as crianças, o futuro e tudo aquilo que parecia suspenso, ou melhor, retirado de nossas vidas.Fábio repetia as palavras do médico, porém, as questões que se formavam em minha mente me impediam de assimilar o relato. Por quê? Ele sairia ileso daquela doença? E os nossos filhos? Eles precisavam de um pai, precisavam do Fábio. A impotência pesava em meu estômago, assim com a raiva, o nojo, o arrependimento e, por fim, a vergonha. C
Gustavo Eu acompanhei a fuga de Fabiana, enquanto tentava entender o que havia acontecido. Em menos de um minuto, ela me deu um beijo que nunca mais seria esquecido, entregou-me um envelope e saiu da minha vida.A percepção de que algo estava errado me ocorreu no momento que recebi a mensagem dela. A forma como suas palavras foram obscuras, deixaram meu corpo em alerta, porém, nunca poderia imaginar que o nosso encontro cimentaria o término da relação. Até a sua chegada, os cenários divergentes ganhavam vida: seu marido reagindo como um homem apaixonado; sua insegurança com o futuro; o medo... mas nada comparado ao meu coração destruído pela sua ausência.Fabiana era a mulher certa para construir um futuro ou, como dizem por aí, minha alma gêmea. Não havia dúvidas e compreend
Precisei dos serviços de uma babá, uma vez que não levaríamos as crianças ao jantar. Quando chegamos à casa dos meus pais, todos já nos esperavam. Fábio e eu tínhamos combinado de contar somente após a refeição, para isso tentamos não transparecer o nosso medo. Necessitávamos de um pouco da calmaria, antes da turbulência se instalar.Além da minha família, Sérgio, o único parente próximo ao Fábio, também se encontrava presente. Há quase cinco anos os pais do meu marido tiveram suas vidas interrompidas em um acidente de carro. Todos ficaram devastados diante da escolha do destino, um dia estavam ao nosso lado, no outro, enterrados. Mesmo que a compreensão dos fatos fosse evidente, falta de controle sobre vida ou morte, a revolta da perda nos acompanhou durante um tempo. E quem somos nós para julgar esses e
Minha imaginação não fez jus aos acontecimentos, muito menos ao meu despreparo em lidar com as dificuldades. A primeira fase do tratamento foi dividida em três ciclos com duração de cinco dias cada um. Naquele período, Fábio ficou internado para receber a medicação através de um cateter inserido no início da quimioterapia. Durante aqueles dias, fiquei ao seu lado, o ajudei a enfrentar os efeitos colaterais angustiantes, mas, apesar dos sintomas que derrubavam seu ânimo, manteve-se forte. Em nenhum momento reclamou, nem mesmo uma simples menção ou expressão de dor. Meu marido possuía determinação, era destemido o suficiente para enfrentar sua doença de cabeça erguida.Aproveitamos nossos momentos juntos, para matar o tempo relembrando o início do namoro, o susto com a gravidez e o medo de nossos pais. Recordamos hist&oacu
— Então é aqui que você se esconde? — Virei-me num rompante, quando a voz profunda do meu irmão Alexandre me atingiu, o semblante austero dando a premissa daquele encontro.— Bom, como você me encontrou, acho que não estou escondida — O tom jocoso tentava abrandar a fera que se postou na minha frente. — Você não quer se sentar? — Ofereci um espaço no banco.— Você vem sempre aqui? — Ignorou meu convite e ficou na minha frente, tampando a visão mais bonita e preferida do dia, o pôr-do-sol.— Sim, quase todos os sábados. Como me achou?— A mamãe me contou. Por acaso está esperando alguém? Estou atrapalhando algum encontro? — Seu deboche não combinava com as mãos cerradas ao lado do corpo.— Não estou entendendo, Alexandre. Eu venho aqui para pensar