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Capítulo 5 - Weenny: O Preparo e a Viagem

Me dedico inteiramente à fisioterapia nesses dois meses, trabalhando cerca de treze horas por dia, inclusive fins de semana e feriados, preenchendo intermináveis relatórios e prontuários à noite, dormindo pouco.

Admito que nas poucas horas vagas me exercito para que meu corpo não sinta tanta falta da dança quanto a minha alma sente.

Certo dia aproveito a ausência de uma dos meus pacientes e ligo para Carol e Mayara, imagino que estejam na pausa do almoço.

As duas se alegram ao ouvir a minha voz e logo tratam de contar a novidade, estão terminando de cumprir o aviso prévio, o que me faz lamentar por saber que estão desempregadas.

— Não lamente! Essa é uma chance de encontrarmos algo melhor, acredite nisso. Essa viagem surgiu como uma grande oportunidade em nossas vidas, primeiro vamos descansar, depois Deus é quem sabe. – Carol diz, Mayara concorda e suas palavras me fazem sorrir e refletir.

Elas estão dispostas a usar o pouco dinheiro que economizaram e também o que pegarão na rescisão para gastarmos no Rio de Janeiro, sorte que temos um bom montante guardado. Combinamos mais alguns detalhes da viagem e me despeço delas com a promessa de nos vermos em breve.

Optamos por fazer a viagem de ônibus, procuramos promoções de pacotes de hospedagens e encontramos uma grande oferta em um lindo hotel em Ipanema, uma suíte quadrupla, mas é o suficiente para nós e com certa regalia, poderemos desfrutar de conforto e boa localização com um preço excepcional, assim gastaremos em nossas comemorações e passeios, Carol tem ideias incríveis, ela está cuidando de tudo.

A noite Samara vem rapidamente à minha casa só para avisar que conseguiu arrancar, sim esta é a palavra usada por ela, dinheiro do pai e da avó Severina, está muito animada para a viagem e só pensa no que deve levar e como deve ser o clima e as pessoas no Rio de Janeiro, se são ricas e bonitas, como é o mar e outros pontos turísticos que só tem visto pela televisão nesses anos todos.

Ligo para as empresas que presto serviço e comunico que vou tirar férias, com pouco mais quinze dias de antecedência conforme solicitado por eles, assim posso participar do congresso e descansar um pouco mais, eles vão por algum colega para atender meus pacientes durante o período que estarei fora.

Dia três de Abril.

Esse é um dia muito especial para mim, é o aniversário do meu papaizinho lindo, sim eu sei que é um modo muito infantil de chama-lo, mas não posso evitar, somos muito próximos e unidos, como se fosse uma alma em dois corações que pulsam no mesmo compasso.

Meu pai faz questão de dizer que eu sou o melhor presente de aniversário que ele recebeu, mesmo que eu tenha chegado com atraso, sou a filhinha amada dele.

Todos os anos, sou a primeira pessoa a felicita-lo por seu aniversário, sempre faço questão de escrever uma bela declaração de amor em suas redes sociais e posto sempre meia noite, o texto expressa o amor que é abundante em nossos corações. Logo pela manhã ligo para acordá-lo, canto os parabéns assim que ele atende o telefone, só então começamos a conversar:

— Viva! Oh amor do pai, obrigado, filhinha. — ele diz com euforia.

— O dia mais lindo do ano chegou! Que esse seja o melhor aniversário da sua vida, papaizinho lindo! Eu te amo muito, muito e muito! — digo com a mesma euforia.

— E será! Papai te ama muito, minha riqueza. — ele sempre diz isso e eu sempre adoro ouvir.

— Como você está? — meu pai sempre pergunta.

— Com saudades de você. Vai vir para São Paulo quando?

Não vejo a hora de vê-lo, papai mora em Aracaju há alguns meses.

— Ah filha, estava tentando comprar passagem para agora, mas o dinheiro está curto, acho que só vou conseguir ir em julho. — ele responde com certa tristeza, sempre a falta de dinheiro acaba limitando a nossa vontade.

— Quer que eu compre? Eu posso... — sempre quero solucionar nossos problemas.

— Não, amor do pai. Quero que você gaste seu dinheirinho com você. — ele sempre recusa, mas continuo querendo fazer algo por ele.

— Você está bem, paizinho?

— Claro que estou. Só queria estar perto dos meus filhinhos, mas estou bem sim, em breve estaremos juntos.

— Paizinho, estou querendo ir viajar para um congresso de fisioterapia no Rio de Janeiro.

— Parece ótimo, mas não vá sozinha. Convide algumas amigas.

— Fiz isso, mas vou passar o dia do meu aniversário lá.

— Acho ótimo, filha. Rio de Janeiro é lindo, tem ótimos lugares para você visitar e tirar fotos, mas tenha cuidado. Saiba dosar entre o congresso e a diversão, comemore seu aniversário e divirta-se, você precisa descansar um pouco, tem trabalhado demais.

— Farei isso, pode deixar.

— Amor do pai, diga-me uma coisa, você realmente abandonou o seu sonho?

— Abandonei, mas pretendo voltar a dançar em breve.

— Ah, que noticia maravilhosa. Isso mesmo, vá dançar e vá ser feliz, filhinha. Esse é o maior desejo desse seu velho pai, ver você plena em felicidade, vitoriosa como o nome que escolhi para você, você é a minha pequena vencedora.

— Ainda vou ter dar muitas alegrias, papaizinho. Vou te honrar e fazer você ter orgulho de mim.

— Isso você faz sempre, todos os dias. Tenho muito orgulho da minha Doutora Weenny.

— E eu de você. Te amo papaizinho, estou com muitas saudades.

— Também sinto muita saudade. Nos veremos logo, tenha fé.

—  Está bem. Até mais tarde, pai.

— Até, filha. Papai ama.

— Filhinha ama.

Desligamos. As vezes nossas conversas são breves, mas sempre cheia de carinho e de cumplicidade, meu pai sabe exatamente o que se passa em meu coração e em minha mente, é meu maior incentivador.

Os primeiros dias de abril são corridos para todas nós, pouco conversamos, sigo minha rotina esperando ansiosamente por essa viagem.

Dia quatorze de abril.

Acordo cedo, me arrumo e checo os últimos detalhes para ter certeza se não esqueci de nada, sinto vontade de pegar outros documentos e itens que não são tão necessários e acabo seguindo meu instinto, aproveitando que estou usando uma mala exageradamente grande.

Me despeço da minha mãe e do meu padrasto Tony, pego minhas malas e vou para a rodoviária de uber, encontro com as minhas amigas já no saguão de embarque, estão falantes e animadas, talvez Carol nem tanto assim.

Embarcamos e partimos meio dia rumo a esta viagem que nos obrigará a fazer Escolhas e mudará os nossos destinos.

Durante a viagem colocamos a conversa em dia, já estamos com saudades das nossas longas conversas, chegamos na rodoviária do Rio de Janeiro as seis da tarde, estamos exaustas, pegamos um taxi, em pouco menos de meia hora chegamos ao hotel.

Somos bem atendidas na recepção do hotel, enquanto preenchemos a ficha, fazem questão de dizer que temos direito a usar os recursos do hotel, como o restaurante, lanchonete, piscina, a pequena academia e sala de dança, vão apontando os locais e vamos olhando atentamente e prestando atenção aos horários. Pouco tempo depois somos levadas ao nosso quarto.

É simples e bonito. Tem uma pequena sala com televisão, sofá confortável, frigobar e ar condicionado.

O quarto é bem grande, vemos um painel de madeira bem longo que serve de cabeceira para as quatro camas de solteiro, há também um criado mudo com abajur ao lado de cada cama. Um outro painel está na parede do outro lado do quarto, é o local onde está fixada a televisão e logo baixo há uma mesa longa com duas cadeiras. O guarda roupas é grande e ocupa toda a outra parede. O banheiro surpreende por ser grande e espaçoso.

Uma cortina simples e comprida cobre toda a janela, eu a abro e passo alguns segundos apreciando a bonita vista.

Arrumamos rapidamente nossa roupas no armário e descemos para procurar algo para comer, estamos decididas a comer uma pizza e pedimos a recomendação de um bom lugar, depois caminhamos pelo calçadão.

Pouco tempo depois retornamos ao nosso quarto, as meninas se rendem ao cansaço e pegam no sono, mas eu ainda não consigo domir, estou inquieta com a sensação de que algo vai acontecer.

Observo as minhas amigas, cada uma delas tem seu encanto e qualidades e sofrimentos tão peculiares.

Carol é divertida, paqueradora, às vezes indiscreta, fala o que lhe vem à cabeça e o que acha que deve sem qualquer restrição. É capaz de ganhar qualquer pessoa com seu sorriso largo, a diversão é sempre garantida ao lado dela.

Lembro do quanto me dóia ver a tristeza em seus olhos quando falávamos sobre seu relacionamento com Flavio, na verdade eu só ouvia, porque não queria que ela se afastasse se eu dissesse a verdade sobre o que eu achava dele, queria que ao menos ela pudesse desabafar.

É alta, morena, de cabelos longos, e lisos. Lindíssima!

Mayara é quieta, reservada, tímida, romântica, pensa muito antes de falar e nunca é indiscreta. Quando se sente a vontade mostra quão divertida e sorridente é.

Quando a conhecemos, ela tinha um relacionamento com um rapaz machista que a limitava em todos os sentidos, a obrigava a usar roupas que cobriam o corpo todo, nem maquiagem ele permitia que ela usasse, mas esse infeliz a traía constantemente com outras mulheres bonitas, que usavam roupas com decotes generosos e que marcavam o corpo de modo até vulgar. Infelizmente descobrimos essas traições da pior forma possível, através de fotos exibidas com orgulho por ela nas redes sociais. Mayara foi muito humilhada, quando tentou pedir explicações, quase foi agredida, ela tinha muito medo, mas nós a apoiamos, a fizemos enxergar que não merecia viver aquilo tudo, ela sofreu, mas conseguiu se livrar desse relacionamento torturante.

Ela tem estatura mediana, olhos amendoados e cheios de doçura, cabelos longos e castanhos, é linda!

Samara aparenta ser uma boa e dedicada amiga, um pouco áspera e briguenta, dramática, ciumenta e indiscreta. Quando acha necessário oscila entre agressividade e doçura, principalmente em seus jogos de sedução. Adora namoros casuais e gosta de fazer os homens sofrerem, como se estivesse dando o troco: “ Os homens sempre fazem as mulheres sofrer, por isso devemos fazê-los sofrer primeiro”, “Arranque deles o que vão arrancar de você” essas são as suas filosofias de vida.

Nos divertimos com as besteiras que ela diz, parece ser sincera, mas não concordo com tudo o que diz, sei que há algum sofrimento em toda a sua agressividade, mas vamos relevando.

Ela é baixinha, muito magra, cabelos castanhos claros e olhos castanhos.

Somos muito unidas, compartilhamos todos os tipos de segredos e histórias, elas são as irmãs que meu coração escolheu, estou feliz por poder passar esse tempo ao lado delas.

Quinze de abril de 2013.

Acordo com o celular tocando, meu pai está cantando “parabéns a você”, eu sorrio de felicidade enquanto ouço a voz que tanto amo.

— Vivaaa! Bom dia papaizinho lindo!

— Tenha o melhor e mais abençoado aniversário da sua vida, amor do pai. Deus a faça trilhar o seu caminho de vitória em vitória, que você esteja sempre debaixo da proteção e do amor Dele, assim como está sob as minhas orações e amor. Papai te ama muito.

— O dia não podia ter começado melhor, ouvindo sua voz e tendo suas bênçãos, pai.

— Como foi a viagem? Chegaram bem?

— Sim, foi cansativo, mas tudo correu bem. Daqui a pouco vou para a primeira palestra no congresso... Pera, que horas são?

— Sete. Anda, filhinha, vá se arrumar, depois falamos mais. Papai ama.

— Filhinha ama! – digo rindo.

Desligamos.

Olho para o lado e vejo as meninas sorrindo ao ver o quão alegre eu fico ao falar com meu pai, elas se aproximam, me abraçam e me desejam felicidades, vão em suas malas e pegam presentes, são blusinha, short e biquini, nada mais perfeito para usar aqui, simplesmente adoro e agradeço com mais beijos e abraços.

É tão bom sentir tanto carinho!

Vou me arrumar, não vou ter tempo de tomar o café da manhã, me despeço das meninas e antes que eu saia apressada...

— Pode ir se preparando porque hoje vamos sair, vou encontrar um ótimo lugar pra gente ir. Temos que comemorar o seu aniversário... E não adianta me olhar assim. — Carol diz e logo abre seu sorriso largo.

— Hum... Vamos ver. — respondo com a velha preguiça.

Sempre tento protestar quando elas me chamam para sair, mas nunca adianta, por isso já recebo uma bronca antecipada.

Fecho a porta e saio correndo para o local do congresso, preciso chegar a tempo da palestra de abertura.

O primeiro dia de congresso é tão proveitoso e instrutivo quanto cansativo, me inscrevo em vários mini cursos e palestras.

O sol está se pondo, é ainda mais lindo aqui no Rio de Janeiro, aprecio a cena enquanto caminho de volta ao hotel. 

Ah, que dia exaustivo! Retorno para o hotel desejando que minhas amigas tenham esquecido da comemoração desta noite.

Abro a porta do quarto e elas já começam a exigir que eu me arrume rapidamente, digo que estou cansada, mas elas não se importam ou fingem que não estão ouvindo. Samara ameaça escolher a minha roupa, Mayara pega a minha maquiagem e Carol me joga no banheiro. Eu entendo que só tenho essa opção e obedeço.

Não sei o que devo vestir, experimento muitas roupas até encontrar uma que me deixe razoavelmente segura. É um vestido preto com um leve decote frontal, é generosamente decotado nas costas, pego um delicado blazer curto, da mesma cor do vestido. Deixo meus cabelos soltos e faço a maquiagem do jeito que gosto, os olhos bem marcados e um batom e rosa escuro.

Samara está vestida com uma calça larga preta e uma camisa branca, Mayara está com um vestido creme com flores vermelhas e amarelas e Carol com um vestido longo azul com um fenda bem generosa, elas estão simplesmente divinas de tão lindas.

— Agora sim nossa aventura vai começar. — Carol diz e dá uma piscada para mim.

Sorrimos e saímos rumo ao tal local escolhido para comemorarmos... E então tudo começa com uma linda surpresa do destino

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