Capítulo 4
A luz da manhã invadia o quarto pelas cortinas mal fechadas. O som distante da cidade começava a dar sinais de vida, mas dentro do quarto o silêncio era confortável, apenas interrompido pela respiração leve de nós dois. Abri os olhos devagar, sentindo o peso do corpo dele ao meu lado. O lençol cobria nossos quadris, e ele estava deitado de lado, me observando. Seus olhos claros tinham um brilho tranquilo, e um leve sorriso brincava em seus lábios. — Bom dia, ruiva — ele disse, sua voz rouca ainda marcada pelo sono. Senti meu rosto esquentar. Não porque estava envergonhada, mas porque ainda me surpreendia o quanto ele era atraente. A noite passada tinha sido... intensa. Algo que eu não esperava. Respirei fundo e sorri de volta, esticando o corpo como uma gata manhosa e preguiçosa. — Bom dia, loiro — respondi, minha voz carregada de uma diversão quase infantil. Nos olhamos por alguns segundos, sem necessidade de palavras. Não havia constrangimento, apenas aquela certeza implícita de que nenhum dos dois estava arrependido. Era raro encontrar alguém que não complicasse as coisas. Não precisávamos saber mais do que aquilo: ele era "o loiro", e eu era "a ruiva". E era isso, isso bastava. — Algum compromisso hoje? — ele perguntou casualmente, enquanto esfregava os olhos e se espreguiçava, revelando ainda mais daquele corpo que eu já havia explorado na noite anterior. Neguei com a cabeça, sorrindo. — Não. E você? — Nada que não possa esperar — respondeu, com um tom leve, quase provocador. Houve um momento de silêncio, mas não era incômodo. Era a pausa exata antes de uma decisão que nenhum de nós queria verbalizar primeiro. Então, ele falou: — Que tal... passarmos o final de semana juntos? Sem pressão, sem compromisso. Só... aproveitar. Eu arqueei uma sobrancelha, analisando-o, pensando na proposta? Talvez... — Como uma pequena fuga da realidade? — Exatamente. Sorri, gostando da ideia mais do que deveria. Era insano, mas também podia ser algo libertador pra mim, um escape da ghostred para ser apenas Cass... Ou melhor a Ruiva... — Sem perguntas pessoais? — perguntei. — Sem perguntas. Só a ruiva e o loiro. Inclinei-me sobre ele, com um sorriso provocador. — Parece tentador. — Então temos um acordo? — Ele estendeu a mão como se fosse selar um trato. Ri, apertando sua mão. — Temos um acordo! Assim que apertei sua mão, ele sorriu de lado, aquele sorriso travesso que já me fazia arrepiar. Antes que pudesse reagir, ele puxou minha mão, me trazendo para perto. Nossos rostos ficaram a centímetros de distância. — Acordos precisam ser selados, não é? — ele murmurou, antes de tomar minha boca em um beijo quente e lento. Seu beijo era como uma extensão da noite que havíamos tido. Suas mãos deslizaram pelas minhas costas, e antes que eu percebesse, ele me virou na cama. — Você não cansa? — perguntei, rindo e ofegante, enquanto ele subia sobre mim, os olhos brilhando de desejo. — Com uma deusa como você? Nunca. Suas mãos firmes seguraram meus pulsos acima da minha cabeça enquanto seus lábios percorriam meu pescoço, meu ombro, e depois desciam pelo meu corpo. Ele me devorava como se quisesse me decorar, cada detalhe, cada suspiro. E, mais uma vez, nos perdemos um no outro, como se o tempo tivesse parado. Depois, deitados lado a lado, nossas respirações ainda aceleradas, ele me puxou para mais perto. Seu corpo quente contrastava com o frescor dos lençóis. — Você já esteve nas praias da Califórnia? — ele perguntou de repente, o tom casual, mas com um brilho de expectativa nos olhos. — Não — respondi, curiosa. — Por quê? — Então é isso está decidido. Vou te mostrar. Ergui uma sobrancelha, surpresa com a ideia. — Assim, do nada? — Por que não? — Ele deu de ombros, como se fosse a coisa mais simples do mundo. — Eu tenho uma casa em uma praia afastada. É perfeita para fugir da realidade, exatamente como combinamos. O convite me pegou de surpresa, mas havia algo em sua expressão que fazia com que qualquer receio desaparecesse. Era insano, mas eu queria ir. — Está bem, loiro. Me impressione. Ele sorriu, levantando-se da cama com a energia renovada. — Então se arrume, ruiva. Vou no meu apartamento pegar algumas coisas, pegar as chaves e volto te buscar... O trajeto até a casa foi tranquilo, com ele dirigindo de forma relaxada enquanto a paisagem se transformava aos poucos. Logo, deixamos a movimentação da cidade para trás, e as ruas deram lugar a estradas cercadas por árvores e, mais adiante, o som das ondas quebrando se tornou cada vez mais audível. Quando chegamos, fiquei sem palavras. A casa era grande, mas não ostentadora, com grandes janelas de vidro que davam uma vista privilegiada para o oceano. O cheiro salgado do mar misturado ao vento fresco me atingiu de imediato. — Uau — murmurei, enquanto ele estacionava e saía do carro para abrir a porta. — Acha que serve para o nosso acordo? — ele perguntou, segurando minha mão e me puxando para fora. — Serve mais do que eu esperava. Ele riu, me guiando para dentro da casa. Tudo era simples, mas elegante. O ambiente tinha uma sensação acolhedora, com móveis de madeira clara e detalhes que combinavam com o cenário da praia, vi ele retirando o que parecia ser alguns porta retratos mas não perguntei nada sobre, afinal é sem perguntas pessoais... — E agora? — perguntei, me virando para ele. — Agora... — Ele puxou minha cintura, colando nossos corpos. — Nós aproveitamos. Passamos o dia explorando a praia, caminhando descalços pela areia, comendo frutos do mar frescos que ele preparou, e rindo de coisas simples. Ele parecia diferente ali, mais leve, mais solto. Não era apenas o homem que havia me dominado na cama, mas alguém que sabia como aproveitar o momento sem pressa. À noite, enquanto o sol se punha, pintando o céu de tons alaranjados e rosados, ele me puxou para perto de uma fogueira que havia acendido na areia. Sentados lado a lado, com o som das ondas ao fundo, ele se inclinou, seus lábios encontrando os meus mais uma vez. Naquele instante, éramos apenas a ruiva e o loiro. Dois estranhos fugindo do mundo. E nada mais importava.Capítulo 5O domingo chegou com uma leveza que me fez sentir uma pontada de desconforto. A brisa suave da manhã invadia a casa, o cheiro de sal do mar penetrava a cada respiração que eu tomava. A luz do sol iluminava a praia lá fora, mas algo dentro de mim se sentia pesado.Eu estava ali, vivendo esse fim de semana da forma mais intensa possível, mas a verdade era que, no fundo, sabia que tudo tinha um prazo de validade. A bolha que criamos nesse final de semana estava prestes a estourar, e, ao voltar para a realidade, eu teria que lidar com o peso do que significava tudo aquilo.Mas o pior de tudo era que, à medida que o tempo passava, a ideia de voltar para minha vida normal se tornava mais e mais insuportável. Eu sabia que, ao me despedir da "ruiva", voltaria para o vazio da minha rotina, que, por mais que estivesse cheia de compromissos, parecia cada vez mais sem propósito, sem rumo...Ela estava ali, ao meu lado, tão livre, tão distante do que eu estava vivendo. E eu me sentia co
Capítulo 6— Está tudo bem? — a "ruiva" perguntou, a voz carregando suavidade e firmeza ao mesmo tempo.Antes que eu conseguisse dizer qualquer coisa, ela segurou minha mão, um gesto inesperado que me desarmou.— Vem comigo — disse simplesmente, seus olhos brilhando com algo que eu não conseguia decifrar.Deixei-me ser guiado até a cozinha, onde o sol já iluminava o espaço, destacando a desordem que ela tinha começado a causar no balcão. Ingredientes estavam espalhados, e ela parecia genuinamente empolgada.— Pensei que a gente podia fazer panquecas e bacon — anunciou, sorrindo, enquanto apontava para uma tigela com massa que claramente tinha levado mais farinha do que deveria.— Você sabe fazer panquecas? — perguntei, arqueando uma sobrancelha.— Eu sei fazer... uma bagunça. Mas não é para isso que você está aqui? Para ajudar? — retrucou, cruzando os braços, mas com um sorriso brincando nos lábios.Ri baixo e fui até a bancada.— Tudo bem, ruiva. Vamos lá. Primeiro, você colocou fari
Capítulo 7CristianO carro parecia mais silencioso do que o normal enquanto seguíamos de volta para o hotel. A conversa que tínhamos acabado de ter, a de Sophie e Martin, ainda pairava no ar, e eu sabia que Cass estava tentando entender tudo o que havia acontecido. Ela tinha o direito de saber, e eu não queria que ela ficasse com a sensação de que precisava fazer suposições. Então, antes que o silêncio entre nós se tornasse desconfortável demais, tomei coragem para falar.— A mulher que você viu lá... — comecei, sem saber exatamente como as palavras sairiam. — Ela é minha ex-esposa.Cassandra virou a cabeça na minha direção, surpresa, e eu pude ver a expressão dela mudar, um misto de curiosidade e compreensão.— Ex-esposa? — repetiu, tentando digerir a informação. — Então... aquele cara com ela?— Sim. Ele é um velho amigo. Martin E... — Respirei fundo, ciente de que o que eu estava prestes a dizer poderia ser pesado para ambos. — Ele foi o motivo do fim do meu casamento.Ela não res
Capítulo 8CassandraOs dois dias com o celular desligado haviam sido um alívio. Estar distante de tudo e de todos, sem me preocupar com mensagens ou ligações, me dava uma sensação de liberdade temporária. No entanto, ao ligar o aparelho naquele momento, o alívio logo se desfez quando vi a tela acesa, com várias notificações e uma chamada perdida.Eu não sabia por que o coração começou a bater mais rápido, mas, ao ver o número na tela, algo dentro de mim se acelerou. Não era um número que eu reconhecia, pois nunca era, mas o tom de urgência do aviso na tela me fez hesitar. Olhei para Cristian, que estava sentado na cama, aparentemente distraído, mas eu podia sentir seus olhos em mim, mesmo sem ele olhar diretamente.A ansiedade tomou conta de mim e, sem pensar duas vezes, saí da sala e fui até a sacada. O ar frio da noite não ajudou a aliviar a tensão que sentia. Respirei fundo antes de atender.— Alô? — Minha voz saiu mais tremida do que eu esperava.Do outro lado da linha, uma voz g
Capítulo 9CassandraO silêncio no quarto se tornou quase ensurdecedor. Mesmo com a leve tensão pairando entre nós, era difícil negar que algo havia mudado, algo que eu não conseguia controlar. Olhei para Cristian, e os olhos dele estavam fixos em mim, mas havia algo diferente no modo como me observava, como se ele estivesse tentando ler cada pedaço daquilo que eu estava escondendo.Eu sabia que ele desconfiava de que algo estava errado. Mas, por mais que eu tentasse, não podia deixá-lo se envolver de maneira alguma, em meio ao meu caos, essa vida de fuga é só minha.Não podia deixá-lo ser parte dessa tempestade. O risco de ele ser arrastado para o meu mundo... eu não podia suportar isso.Respirei fundo, sentindo o peso da decisão que tinha que tomar. Era hora de partir. Não posso mais ficar aqui, menos ainda ao lado dele. Por mais que a ideia de ir depois desse fim de semana me quebrasse por dentro, a realidade da minha vida é essa...— Cristian — comecei, minha voz falhando um pouco
Capítulo 10 CassandraAs noites aqui na Irlanda são tão silenciosas que o som da chuva contra a janela parece um sussurro em meus ouvidos. A pequena vila parecia um refúgio perfeito, onde o tempo corre devagar e as pessoas não fazem perguntas. Para todos aqui, eu sou apenas uma fotógrafa estrangeira, extremamente reservada, alguém que prefere fotografar, e observar o mundo à distância.Mas, enquanto a vila dorme, eu vivo na minha escuridão, me escondida atrás da luz azul do meu laptop. Não havia descanso para quem vive em ritmo de fuga. Cada conexão que faço, cada código que quebro é uma luta para permanecer invisível.Mas nessa noite, meu foco está em um novo firewall que detectei em uma base de dados de um banco do FBI. Não deveria ser nada mais do que rotina, mas então um nome surgiu na tela, destacando-se como um grande sinal de alerta: Cristian HillsMeus dedos pararam de digitar, congelados sobre o teclado. O coração começou a bater mais rápido, e um
Capítulo 1 - Cassandra Moretti O sol mal se ergue no horizonte, e eu já estou acordada. Às vezes, penso que o dia nunca vai começar realmente. Eu fui obrigada a aprender a acordar sozinha, a fazer as coisas por mim mesma. Não que alguém tenha me ensinado, mas, após tantas tentativas de achar um lugar para chamar de lar, acabei por descobrir que a única pessoa em quem posso confiar sou eu mesma.Fui uma órfã comum, se é que isso existe. Meus primeiros anos foram no orfanato, onde, em vez de brinquedos, eu aprendi a me proteger. Fui colocada em várias casas adotivas, cada uma pior que a outra. Eles me queriam boa, educada, quieta. Mas eu não era isso. Eu tinha um fogo dentro de mim, algo que nunca deixei apagar. Então, fugi. Fugi das regras, fugi das famílias, e, quando eles desistiram de me colocar em outra casa aos 15 anos, eu já sabia o que fazer: sobreviver.Aos 18, finalmente me vi livre, com um punhado de dólares e o notebook que sempre guardei. Estudei programação, hackeamento,
Capítulo 2 O som da última transferência ecoa na minha mente enquanto desligo o laptop. A tela se apaga, e por um momento, me sinto como se tivesse completado mais uma missão. Mas, ao mesmo tempo, o peso da responsabilidade e a constante necessidade de desaparecer começam a surgir. Decido que, por agora, posso dar uma pausa. Não um descanso completo, mas o suficiente para me manter fora das redes por algum tempo.Destino? Califórnia! As luzes de Los Angeles são um convite ao anonimato, e eu preciso disso. Preciso respirar sem o peso de ser "Ghostred" por um tempo. Depois de horas de voo, chego ao meu hotel, tomo um banho quente e, exausta, apago na cama. Quando acordo, as horas passaram rápido demais. O relógio marca a tarde, e o cansaço ainda persiste, mas decido que preciso sair, caminhar, deixar o peso da viagem para trás.Caminho pelas ruas agitadas de Los Angeles, absorvendo a energia da cidade, tentando me distrair. As luzes e sons me envolvem, e encontro um barzinho que parece