Capítulo 8CassandraOs dois dias com o celular desligado haviam sido um alívio. Estar distante de tudo e de todos, sem me preocupar com mensagens ou ligações, me dava uma sensação de liberdade temporária. No entanto, ao ligar o aparelho naquele momento, o alívio logo se desfez quando vi a tela acesa, com várias notificações e uma chamada perdida.Eu não sabia por que o coração começou a bater mais rápido, mas, ao ver o número na tela, algo dentro de mim se acelerou. Não era um número que eu reconhecia, pois nunca era, mas o tom de urgência do aviso na tela me fez hesitar. Olhei para Cristian, que estava sentado na cama, aparentemente distraído, mas eu podia sentir seus olhos em mim, mesmo sem ele olhar diretamente.A ansiedade tomou conta de mim e, sem pensar duas vezes, saí da sala e fui até a sacada. O ar frio da noite não ajudou a aliviar a tensão que sentia. Respirei fundo antes de atender.— Alô? — Minha voz saiu mais tremida do que eu esperava.Do outro lado da linha, uma voz g
Capítulo 9CassandraO silêncio no quarto se tornou quase ensurdecedor. Mesmo com a leve tensão pairando entre nós, era difícil negar que algo havia mudado, algo que eu não conseguia controlar. Olhei para Cristian, e os olhos dele estavam fixos em mim, mas havia algo diferente no modo como me observava, como se ele estivesse tentando ler cada pedaço daquilo que eu estava escondendo.Eu sabia que ele desconfiava de que algo estava errado. Mas, por mais que eu tentasse, não podia deixá-lo se envolver de maneira alguma, em meio ao meu caos, essa vida de fuga é só minha.Não podia deixá-lo ser parte dessa tempestade. O risco de ele ser arrastado para o meu mundo... eu não podia suportar isso.Respirei fundo, sentindo o peso da decisão que tinha que tomar. Era hora de partir. Não posso mais ficar aqui, menos ainda ao lado dele. Por mais que a ideia de ir depois desse fim de semana me quebrasse por dentro, a realidade da minha vida é essa...— Cristian — comecei, minha voz falhando um pouco
Capítulo 10 CassandraAs noites aqui na Irlanda são tão silenciosas que o som da chuva contra a janela parece um sussurro em meus ouvidos. A pequena vila parecia um refúgio perfeito, onde o tempo corre devagar e as pessoas não fazem perguntas. Para todos aqui, eu sou apenas uma fotógrafa estrangeira, extremamente reservada, alguém que prefere fotografar, e observar o mundo à distância.Mas, enquanto a vila dorme, eu vivo na minha escuridão, me escondida atrás da luz azul do meu laptop. Não havia descanso para quem vive em ritmo de fuga. Cada conexão que faço, cada código que quebro é uma luta para permanecer invisível.Mas nessa noite, meu foco está em um novo firewall que detectei em uma base de dados de um banco do FBI. Não deveria ser nada mais do que rotina, mas então um nome surgiu na tela, destacando-se como um grande sinal de alerta: Cristian HillsMeus dedos pararam de digitar, congelados sobre o teclado. O coração começou a bater mais rápido, e um
Capítulo 11 CristianAs luzes da sede do FBI em Nova York nunca se apagavam. Era como se o prédio se recusasse a descansar, espelhando o turbilhão de pensamentos que me atormentavam. Jogava-me no trabalho como um náufrago se agarra a um pedaço de madeira, tentando escapar de uma tempestade.O caso de Ghostred consumia meus dias e noites. Cada linha de código que ela escrevia, cada sistema que invadia era um desafio lançado diretamente a mim. Ela era brilhante, talvez até a melhor que já enfrentei. E, ironicamente, isso tornava minha obsessão por ela ainda maior.Nas últimas semanas, novas pistas começaram a surgir. Pela primeira vez em anos, conseguimos algo concreto: Ghostred era uma mulher. A descoberta veio através de uma imagem captada por câmeras de segurança. A foto era embaçada, mas mostrava uma figura de cabelo preto estilo chanel, usando óculos de armação grossa e um casaco pesado. Claramente um disfarce — o cabelo parecia uma peruca, e os óculos exagerados criavam um contr
Capítulo 12 CassandraA fila do embarque parecia interminável, cada passo que eu dava era uma eternidade. O aeroporto estava lotado, mas, mesmo cercada por tantas pessoas, a sensação de estar sendo observada não desaparecia.Eu me forcei a manter a calma, fingindo ser apenas mais uma passageira cansada. Minha aparência era cuidadosamente planejada: cabelos castanhos presos em um coque simples, lentes de contato verdes e um blazer azul discreto. Mais um disfarce. Mais um nome, mais uma personalidade. Mais uma tentativa de desaparecer.Com o passaporte falso em mãos, revisei mentalmente os próximos passos. Meu destino era Amsterdã, onde tinha uma nova identidade esperando. De lá, outro plano seria traçado. Mas, enquanto avançava na fila, algo no ambiente mudou.Primeiro, foi o silêncio repentino, como se o som ao meu redor tivesse sido abafado. Depois, veio aquela sensação inquietante, como um frio percorrendo minha espinha. Como se algo me chamasse, olhei por cima do ombro, e foi quan
Capítulo 13 CristianO voo para a Irlanda foi longo, mas minha mente não estava no tempo ou no conforto. Eu estava distante dos meus colegas, mas dentro da minha cabeça, o peso de uma missão urgente me acompanhava. O caso de Ghostred não era mais uma busca comum. Agora, tudo parecia se entrelaçar de forma tão íntima e complexa que eu não sabia mais se estava perseguindo uma hacker brilhante ou tentando entender algo muito mais profundo.Durante a viagem, tentei me manter focado no trabalho, em cada detalhe que poderia ser importante, em cada possível pista que me separava de encontrá-la. Mas, a verdade é que, mesmo com toda a experiência que eu tinha, nunca estive tão dividido.Cassandra... ou Ghostred... Como se faz para lidar com isso? Quando a linha entre o trabalho e o pessoal se apaga e você não sabe mais quem está caçando e quem está sendo caçado?Eu me forçava a não pensar nela, mas a cada momento, a imagem de Cassandra surgia na minha mente. Ela era tudo o que eu não esperav
Capítulo 14CristianChegamos à Irlanda com uma sensação de urgência que eu não conseguia dissipar. A cidade estava enevoada, e a umidade penetrante do clima europeu tocava minha pele enquanto eu saía do carro. Eu sabia que não poderia perder tempo. Os últimos sinais de Ghostred vinham desta região, e a missão estava perto de se concluir — ou pelo menos era o que eu achava.A investigação me levou a um bairro tranquilo, quase suburbano. Depois de andar por ali e fazer algumas perguntas, chegamos a um pequeno edifício de três andares que se destacava entre os outros. Ele parecia inofensivo à primeira vista, mas era ali que as pistas me levaram. Uma padaria ocupava o térreo, com um cheiro de pães frescos tão delicioso que me fez questionar por um momento se tudo o que estava acontecendo não era um pesadelo, ou se realmente estava a um passo de encontrar Ghostred.Entrei, disfarçando a tensão, e observei as prateleiras repletas de doces e pães. Não era o tipo de lugar onde eu esperava en
Capítulo 15CristianO perfume ainda pairava no ar, doce e sutil, mas inconfundível. Minha mente recusava-se a aceitar o óbvio, mas meu instinto sabia: Cassandra havia estado ali. Cada detalhe do apartamento parecia carregado da sua presença, como se ela tivesse saído às pressas, mas deixado muito dela para trás.Olhei ao redor. O lugar era simples, funcional, sem nada que denunciasse quem realmente o ocupava. Uma mala fechada, ao lado do pequeno closet, abri mais estava vazia...Sobre uma pequena estante, algo chamou minha atenção: uma foto emoldurada, virada para baixo, parecia ter sido esquecida ali. Virei-a, curioso, e encontrei uma imagem de um grupo de crianças em algum lugar ao ar livre. Não havia nada explícito, mas atrás da moldura, rabiscado à mão, estavam números que pareciam coordenadas.Anotei as coordenadas rapidamente no meu caderno e devolvi a moldura ao lugar. A tensão no peito só aumentava. Cassandra, ou Ghostred, era cuidadosa demais para deixar algo tão direto. Se