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Capítulo 3 - Beatrice

Eu não podia estar perto do meu pai agora, não depois dessa quebra de confiança. Ele dizia querer me manter segura, mas aqui estava ele, colocando-me nas mãos de uma das maiores famílias mafiosas existentes. A família Morunaga era o centro da violência e crueldade, e só um tolo se envolveria de bom grado com eles.

Segui a música fraca que vazava pela casa, sabendo que vinha do salão. Precisava conversar com meu avô sobre isso. Talvez ele pudesse esclarecer a situação. Que maneira infernal de começar as férias. Nenhuma lágrima caía agora, mas meus olhos ainda ardiam e meu coração doía. Não conseguia imaginar em que tipo de confusão meu pai se meteu para causar esse caos.

Ao longo dos anos, fui mantida afastada do trabalho dele, aprendendo a não fazer perguntas. Era irônico que, depois de tantos anos fechando os olhos para o trabalho de meu pai, agindo ignorante durante toda a minha infância e adolescência, fosse agora amaldiçoada a pagar suas dívidas assim que entrei na idade adulta.

Suspirei novamente antes de levantar a cabeça e puxar os ombros para trás. Eu era uma Carbone, apesar de tudo. Era forte e suportaria o que fosse, como muitas mulheres antes de mim nessa situação. Não era a primeira mulher colocada em um casamento forçado e não seria a última. Claro, esse encorajamento fraco morreu assim que adentrou em minha mente.

Enquanto procurava meu avô, pensava que casar com um homem que não conhecia já era difícil, mas casar com um Morunaga era uma perspectiva totalmente diferente.

Quando entrei no salão, esperava ver o belo sorriso do meu avô, mas, em vez disso, fui recebida com os rostos sombrios de quatro homens incrivelmente familiares. Estavam todos bem vestidos com ternos e gravatas, apesar do clima escaldante. Todos, exceto meu avô, ficaram de pé quando entrei.

Senti o sangue escorrer do meu rosto enquanto olhava assustada para os rostos impassíveis da família Morunaga. Sentado ao lado de meu avô, que estava no centro da mesa, estava Gojou. Ele me fixou com um olhar inquiridor no minuto em que entrei em seu campo de visão.

— Boa tarde, senhor Morunaga — cumprimentei fracamente, me arrastando para a frente. Era evidente em meu rosto o desgosto pelo casamento do qual acabara de ser informada.

— Por favor — ele acenou, dispensando as formalidades, com um sorriso que só podia imaginar ser reconfortante. No entanto, a intensidade de seus olhos negros traía a tentativa amigável. Ele ainda me avaliava, como se decidindo o que fazer comigo. — Me chame de Gojou.

— Claro, senhor Morunaga — respondi, sem me sentir muito confortável.

Meu avô me olhou com censura. Gojou sorriu, mostrando os dentes de uma maneira não muito gentil. Apesar de tê-lo desafiado — mesmo sem intenção — ele não disse nada e continuou com sua expressão de alegria forçada. Gesticulou para os homens ao seu lado, todos permitindo que seus olhos traçassem minha forma tensa enquanto me avaliavam.

— Meus filhos: Fukui, Nitta e, claro, Ryuu.

Mal olhei para os dois primeiros, pois meus olhos foram imediatamente atraídos para meu futuro marido. Sua expressão parecia menos do que satisfeita enquanto me encarava por trás de óculos escuros, sem dúvida caros. Apertei os lábios, segurando qualquer comentário sarcástico que queria escapar.

— Claro — meu avô tossiu, lançando-me um olhar de advertência. Era o segundo do dia. Será que o terceiro seria meu fim?

— Desculpe — comecei, tentando conter a irritação na minha voz. — Como podem imaginar, estou um pouco surpresa com sua presença repentina. — Surpresa, horrorizada, a dois segundos de expelir o café da manhã.

— Entendo. Mas Ryuu achou melhor se conhecerem quanto antes. Afinal, é natural que o noivo queira estar perto de uma noiva tão linda — disse Gojou, avançando e me envolvendo em um abraço apertado. Pisquei, confusa e repelida. Com os lábios perto da minha orelha, ele sussurrou em advertência: — Espero apenas coisas boas de você, Beatrice.

O clima sombrio passou assim que ele deu um passo para trás e aquele sorriso enganoso esticou-se em seu rosto envelhecido mais uma vez. O peso por trás de suas palavras permaneceu, e mordendo os lábios de fúria, não me deixaria enganar novamente pela falsa gentileza daquele homem.

Depois de um tenso momento de silêncio, meu avô finalmente falou:

— Você já conversou tudo com Giacomo? — Seu olhar estava preocupado, e fiquei aliviada ao ver que pelo menos uma pessoa ainda estava do meu lado. Sempre podia contar com meu avô.

— Sim, papai e eu trocamos muitas palavras — respondi secamente e notei o leve sorriso no rosto de Nitta enquanto ele olhava pela janela, fingindo estar interessado em algo lá fora. Todos os outros permaneceram visivelmente sem graça.

Queria revirar os olhos. Se não fosse morta por um dos inimigos dos Morunagas primeiro, então tinha certeza de que morreria de tédio nesta família rígida. Era uma linha de trabalho séria em que todos participavam, mas isso não significava que tinham que permanecer tão estoicos o tempo todo, certo?

— Vou desfazer as malas e colocar algo mais confortável. — Olhei os homens de cima a baixo. Nitta e Fukui não tinham os paletós e as mangas das camisas estavam arregaçadas, mas Ryuu ainda estava vestido com o que supus ser suas roupas de negócios. — Se me permitem — finalizei, virando-me bruscamente e saindo correndo dali, uma carranca profunda já escurecendo minha expressão.

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