Esperei em silêncio, torcendo para que ele me dirigisse um olhar ou tentasse puxar conversa, mas isso não aconteceu. Lutei contra a vontade de fechar aquele maldito notebook e jogá-lo pela janela, direto na água lá fora.Observei-o com atenção, analisando cada detalhe: o formato da mandíbula, os lábios finos, a cor penetrante dos olhos, a força do olhar. Seus braços eram musculosos, decorados por tatuagens de dragões que serpenteavam até a camisa bem ajustada ao peito. Não podia negar que ele era bonito, especialmente com aqueles óculos de aro grosso. Não parecia nada com um mafioso. Um leve sorriso ameaçou escapar dos meus lábios, mas balancei a cabeça vigorosamente, tentando afastar pensamentos indecorosos.— Então… — Quebrei o silêncio, estalando a língua em frustração quando Ryuu continuou a trabalhar. — Entendo vagamente por que seu pai pode pressionar por este casamento, mas por que você concordou?Finalmente, Ryuu ergueu os olhos para mim, desviando-se do notebook. Recostou-se
&RYUU&Depois da conversa com Beatrice, concentrei-me no trabalho, mas ela não saía da minha cabeça. Por mais que meu pai e Giorgio me alertassem, eu parecia incapaz de fazer qualquer coisa além de irritá-la, como um garoto provocando sua paixão no pátio da escola. Mas o que sentia por Beatrice não era exatamente afeto.Suspirei profundamente, afastando o notebook e apertando a ponta do nariz na tentativa de aliviar uma dor de cabeça que se aproximava. Ainda tinha muito trabalho a fazer, mas o casamento iminente ocupava todos os meus pensamentos, dificultando a concentração.— Você simplesmente não consegue evitar, não é? — A voz de Nitta quebrou o silêncio, e eu mal contive um gemido. Lancei um olhar irritado para meu irmão, mas isso não o impediu de entrar na sala com aquele sorriso presunçoso no rosto. — Deveria ter ouvido, Ryuu. Ela te chamou de idiota para o avô dela. O que você fez para irritá-la tanto? Você tem sorte que fui eu que ouvi isso, e não o papai.— Isso não tem graça
Durante toda a semana, engoli minha raiva. Mantive-me educada com meu avô, Gojou e os outros homens Morunaga, enquanto sufocava as lágrimas que ameaçavam cair a cada segundo. A fúria que meu pai pensava sentir não era nada comparada ao tumulto que fervia dentro de mim. Ele estava sofrendo agora por causa dos próprios erros. Um homem que cometera tantos enganos e este não seria o último. Eu estava sofrendo por culpa dele, e isso não esqueceria.Durante dias, estive à mercê de outros, obrigada a obedecer a esses homens, temendo ofender os Morunaga e enfrentar as consequências de sua ira inevitável, como meu avô sempre lembrava. Sem uma palavra ou mesmo um olhar para meu pai, passei por ele e me dirigi à praia, onde risos altos e uma música distante ecoavam. Meu coração acelerou a cada passo, rezando para que minha tia e meus primos tivessem chegado. Precisava do apoio deles mais do que nunca. Sabia que meu avô me amava, mas sua lealdade estava com meu noivo. Se queria alguém ao meu lado
&Beatrice&Dario, o segundo mais velho, sempre fora mais reservado do que os outros irmãos Carbone, e por isso, eu me sentia menos à vontade com ele. No entanto, hoje, sua presença era um alívio. Anton e Lex, com dezenove e dezessete anos, respectivamente, eram mais irmãos para mim do que os dois mais velhos.— Prazer em finalmente conhecê-lo — disse Ryuu, estendendo a mão para Bion. Notei a expressão cansada no rosto do meu noivo, como se estar entre a minha família exigisse mais dele do que podia suportar.Bion apertou a mão de Ryuu com firmeza, respondendo apenas com um grunhido baixo de desaprovação. Era impressionante como Bion conseguia soar desrespeitoso sem dizer uma palavra. Para minha surpresa, Ryuu não reagiu. Ele apenas segurou minha mão e inclinou-se, provocando um arrepio com a possibilidade de seus lábios se aproximarem demais.— Vou deixá-la com sua família — sussurrou Ryuu em meu ouvido, sem maiores explicações, deixando-me entre aliviada e confusa. Não fazia sentido
&Ryuu&O casamento com Beatrice prometia ser mais interessante do que eu jamais poderia imaginar. Havia algo na sua presença que me fazia querer sempre estar alerta, atento para não despertar sua ira silenciosa quando estivéssemos a sós.— Você teve sorte lá fora — comentou um dos meus primos, cambaleando até mim com a bebida quase transbordando do copo. Ele soltou um assobio baixo enquanto seus olhos percorriam a praia até Beatrice, que exibia suas pernas e a curva graciosa das costas naquele vestido.Eu não me preocupei em esconder meu desagrado, mantendo o olhar fixo na minha futura esposa.— Ela é bonita, a neta dos Carbone. Como conseguiu isso? Tenho vontade de disputar sua atenção com você.Desviei os olhos de Beatrice por um instante para fitar meu primo com frieza. Sua súbita inquietação me deu vontade de rir; ele sempre fora um covarde, sem posição ou reputação. Bastava um olhar mais firme para que recuasse, parecendo um rato assustado.— Cuidado — zombou Nitta, surgindo com
&Ryuu& Grunhi, lançando um olhar severo para meus irmãos. Senti Beatrice enrijecer em meus braços, e minha expressão endureceu ainda mais quando percebi que ela evitava olhar para eles.— Por que vocês dois não deixam meu casamento em paz? — minha voz saiu calma e medida, mas a raiva era inconfundível. — Estão começando a esquecer quem está no comando. Só porque estou me casando, parece que minha família inteira acha que pode me desrespeitar.Meus irmãos rapidamente ficaram sérios, e até Beatrice pareceu desconfortável com a mudança súbita na atmosfera. Ela se mexeu no meu colo, e a deixei ir.— Vocês precisam se preparar para o jantar. A comida será servida em breve — disse Beatrice, suas palavras mal passando de um sussurro, enquanto me lançava um olhar cauteloso. Não a encarei; meu foco estava inteiramente em meus irmãos, agora calados e sombrios.Beatrice não hesitou e saiu da sala tão silenciosamente quanto entrou, deixando-nos com o peso da tensão no ar.***&Beatrice&Em pouco
&Beatrice&As mesas estavam começando a esvaziar quando ouvi uma voz arrastada de um dos primos dos Morunaga. A noite já havia se estendido o suficiente para que muitos copos, inclusive o meu, estivessem vazios. Eu não costumava beber, mas a ocasião era uma exceção e o vinho estava suavemente embriagador.— Então, Beatrice — começou ele, a voz embriagada e o olhar carregado de curiosidade. — O que uma jovem tão encantadora está fazendo com um recluso como este homem?Reconheci-o como um dos primos com quem Ryuu e seus irmãos haviam se embriagado, mas ainda não havia sido apresentada formalmente. Mantendo um sorriso cordial e desafiador, respondi com frieza:— Você não acha que seu primo é um bom partido?Estendi a mão até a que Ryuu repousava sobre a mesa e a apertei, inclinando-me para mais perto dele. Continuei, com um tom que era tanto provocador quanto educado:— Prefiro a companhia de homens bem-educados a figuras mais extravagantes.O sorriso que dirigi a Ryuu foi um misto de do
Eu me vi contando as horas naquela noite. O peso do meu casamento com Ryuu Morunaga parecia esmagar cada pensamento e movimento. O medo do que viria a seguir — as restrições e o controle que eu teria que suportar como esposa de um homem da máfia — me assombrava incessantemente.Enquanto a noite avançava, minha mente teimava em voltar a Suniza Morunaga. Por que ela não estava presente no casamento de seu próprio filho? Sua ausência me deixou inquieta, me fazendo questionar se eu mesma estava condenada a um destino semelhante, confinado e controlado, longe da liberdade que sempre conheci.Eram duas da manhã quando, sem conseguir mais suportar a pressão em meu peito e a sensação de sufoco, decidi me levantar. Com muito receio de perturbar os homens Morunaga, caminhei pela casa escura em direção à cozinha. Eu precisava de algo—um pouco de água, talvez. Um simples momento de escape. A visão das ondas do mar batendo suavemente na areia, iluminadas pela lua, parecia um breve alívio, um vislu