&Ryuu&O casamento com Beatrice prometia ser mais interessante do que eu jamais poderia imaginar. Havia algo na sua presença que me fazia querer sempre estar alerta, atento para não despertar sua ira silenciosa quando estivéssemos a sós.— Você teve sorte lá fora — comentou um dos meus primos, cambaleando até mim com a bebida quase transbordando do copo. Ele soltou um assobio baixo enquanto seus olhos percorriam a praia até Beatrice, que exibia suas pernas e a curva graciosa das costas naquele vestido.Eu não me preocupei em esconder meu desagrado, mantendo o olhar fixo na minha futura esposa.— Ela é bonita, a neta dos Carbone. Como conseguiu isso? Tenho vontade de disputar sua atenção com você.Desviei os olhos de Beatrice por um instante para fitar meu primo com frieza. Sua súbita inquietação me deu vontade de rir; ele sempre fora um covarde, sem posição ou reputação. Bastava um olhar mais firme para que recuasse, parecendo um rato assustado.— Cuidado — zombou Nitta, surgindo com
&Ryuu& Grunhi, lançando um olhar severo para meus irmãos. Senti Beatrice enrijecer em meus braços, e minha expressão endureceu ainda mais quando percebi que ela evitava olhar para eles.— Por que vocês dois não deixam meu casamento em paz? — minha voz saiu calma e medida, mas a raiva era inconfundível. — Estão começando a esquecer quem está no comando. Só porque estou me casando, parece que minha família inteira acha que pode me desrespeitar.Meus irmãos rapidamente ficaram sérios, e até Beatrice pareceu desconfortável com a mudança súbita na atmosfera. Ela se mexeu no meu colo, e a deixei ir.— Vocês precisam se preparar para o jantar. A comida será servida em breve — disse Beatrice, suas palavras mal passando de um sussurro, enquanto me lançava um olhar cauteloso. Não a encarei; meu foco estava inteiramente em meus irmãos, agora calados e sombrios.Beatrice não hesitou e saiu da sala tão silenciosamente quanto entrou, deixando-nos com o peso da tensão no ar.***&Beatrice&Em pouco
&Beatrice&As mesas estavam começando a esvaziar quando ouvi uma voz arrastada de um dos primos dos Morunaga. A noite já havia se estendido o suficiente para que muitos copos, inclusive o meu, estivessem vazios. Eu não costumava beber, mas a ocasião era uma exceção e o vinho estava suavemente embriagador.— Então, Beatrice — começou ele, a voz embriagada e o olhar carregado de curiosidade. — O que uma jovem tão encantadora está fazendo com um recluso como este homem?Reconheci-o como um dos primos com quem Ryuu e seus irmãos haviam se embriagado, mas ainda não havia sido apresentada formalmente. Mantendo um sorriso cordial e desafiador, respondi com frieza:— Você não acha que seu primo é um bom partido?Estendi a mão até a que Ryuu repousava sobre a mesa e a apertei, inclinando-me para mais perto dele. Continuei, com um tom que era tanto provocador quanto educado:— Prefiro a companhia de homens bem-educados a figuras mais extravagantes.O sorriso que dirigi a Ryuu foi um misto de do
Eu me vi contando as horas naquela noite. O peso do meu casamento com Ryuu Morunaga parecia esmagar cada pensamento e movimento. O medo do que viria a seguir — as restrições e o controle que eu teria que suportar como esposa de um homem da máfia — me assombrava incessantemente.Enquanto a noite avançava, minha mente teimava em voltar a Suniza Morunaga. Por que ela não estava presente no casamento de seu próprio filho? Sua ausência me deixou inquieta, me fazendo questionar se eu mesma estava condenada a um destino semelhante, confinado e controlado, longe da liberdade que sempre conheci.Eram duas da manhã quando, sem conseguir mais suportar a pressão em meu peito e a sensação de sufoco, decidi me levantar. Com muito receio de perturbar os homens Morunaga, caminhei pela casa escura em direção à cozinha. Eu precisava de algo—um pouco de água, talvez. Um simples momento de escape. A visão das ondas do mar batendo suavemente na areia, iluminadas pela lua, parecia um breve alívio, um vislu
&Beatrice&— Porque eu não escolhi isso — retruquei, a voz firme apesar do medo que me apertava o peito. — Estou sendo forçada a isso. Não tenho ilusões sobre o que me espera se recusar. Não deixaria o medo silenciá-la, não agora. Esta era minha última chance antes do casamento para convencê-lo a pôr fim a esse absurdo, e eu não a desperdiçaria.— É isso que você pensa?— Eu não sou estúpida, Ryuu Morunaga — lancei, a frustração evidente em meu tom. — Sei quem é meu avô, sei quem é seu pai e sei bem quem é você. Conheço o destino das mulheres que negam homens como você!Ele apertou meus tornozelos com força, suas mãos como grilhões de pedra me mantendo imóvel. Seu silêncio era uma expectativa; ele sabia que eu não havia terminado de expor minha argumentação.— Eu não sou a esposa ideal para você. Não serei… obediente — expliquei, procurando uma palavra que pudesse capturar a essência do que eu queria dizer.As regras para uma esposa da máfia eram implacáveis e rígidas. Uma vez imersa
&Ryuu&O celular vibrou em meu bolso, uma interrupção indesejada que me fez encarar a tela com um misto de frustração e tensão. A mulher adormecida em meu colo não se moveu, e eu, cuidadoso para não a despertar, atendi.— Morunaga — respondi em um sussurro, mantendo os olhos fixos no rosto sereno de Beatrice.A voz do meu subordinado veio carregada de urgência. — Chefe, é o Julius. Encontramos outra nota. Outro morto.Suspirei, o peso das palavras ressoando em meus ouvidos. Um de nossos homens estava morto, e uma nova ameaça se manifestava com o corpo. A primeira nota havia surgido apenas um dia antes de nossa partida para as Bahamas, uma clara provocação. — Quero que os responsáveis sejam encontrados e eliminados — disse, a raiva contida em cada palavra. — Hoje é o dia do meu casamento. Não me fale sobre isso novamente até meu retorno. Se precisar de algo, fale com Fukui. Entendeu?— Sim, senhor! — O rapaz gaguejou, sua voz traindo a nervosismo. Recém-formado e com dezoito anos, el
— Não esperava encontrar você com Ryuu esta manhã — disse minha tia do outro lado do quarto. Ouvi objetos sendo colocados na mesa, mas mantive meu rosto escondido nas mãos.— Nem eu queria. Nada aconteceu — murmurei, minha voz abafada.— E não importaria se tivesse acontecido. Não é da conta de ninguém.Depois de uma semana inteira contendo minhas emoções, as lágrimas que tanto lutei para segurar finalmente romperam. Soluços profundos e doloridos sacudiam meu corpo enquanto as lágrimas deslizavam quentes pelas minhas bochechas.— Oh, querida… — Loretta murmurou no meu ouvido, seus braços me envolvendo com um calor reconfortante.Virei-me de lado, permitindo que minha tia visse meu rosto manchado e os olhos inchados de tanto chorar. O rosto dela suavizou-se ao me ver naquele estado, e com delicadeza, ela afastou as mechas úmidas de cabelo grudadas na minha pele molhada.— Estou com medo, tia — funguei, apertando o travesseiro contra o peito. — Estou com medo de me casar… e do homem com
&Beatrice&— Bea! — A voz do meu avô tremeu, os olhos brilhando, úmidos com lágrimas mal contidas. — Você está deslumbrante.Permaneci em silêncio, meu olhar fixo, impenetrável. O sorriso que ele esperava nunca veio. Percebi a hesitação em seu semblante, talvez pela primeira vez, ao ver esse olhar duro no rosto de sua neta. Não era a expressão de uma noiva, mas a de alguém prestes a entrar em uma batalha. Por um breve instante, notei um brilho de orgulho em seus olhos, como se admirasse essa força, ainda que inapropriada para o momento.— Querida, esse semblante sombrio não combina com um dia tão bonito. — Ele se aproximou, pousando a mão no meu ombro, o toque quente contrastando com o gelo que me envolvia por dentro. — Não pode sair por aí assim. Gojou pode pensar que está desafiando-o, como se quisesse tomar seu império. — Tentou brincar, mas o humor se perdeu entre nós. Talvez, em outra circunstância, eu risse também. Mas a ideia de que meu rosto sombrio poderia causar uma hesitaçã