— Desculpe? — perguntei, sem entender direito o que acabara de ouvir.— Eu… prefiro mulheres mais magras que você — resmungou o homem, sua voz grossa e embriagada, como se lutasse para se manter ereto no banco. Ele sequer olhava para mim, oscilando de maneira quase patética, e ainda assim seu desdém era explícito. Desviei o olhar, sentindo uma onda de incredulidade — e, antes que percebesse, ajustei o tecido do vestido preto sobre a cintura, subitamente autoconsciente.— Como é? — Minha voz saiu firme, mais para mim mesma do que para ele, tentando digerir a audácia. Mas Sophia, até então absorta, ergueu-se bruscamente, o corpo vibrando de raiva como uma tempestade prestes a estourar. Seu olhar, antes perdido, agora queimava em uma fúria silenciosa.Vi Sebastian mover-se ao lado dela, uma mão firme pousando em seu ombro, talvez tentando segurá-la. Mas então senti uma presença sólida atrás de mim. Uma mão deslizou sobre meu quadril, firme e possessiva, e meu corpo foi puxado de encontro
Ryuu não disse nada quando me deitei ao seu lado, apenas estendeu a mão e me puxou para perto, pousando meus dedos suavemente sobre o peito. Eu tentava não me apoiar demais, temendo machucar seus ferimentos, mas a verdade é que precisava daquele contato. O silêncio entre nós parecia um abrigo, e por um momento, me permiti desmoronar. Os soluços vieram sem controle, afogados em seu ombro. Passei a próxima hora ali, minha cabeça contra o peito dele, sentindo seu coração pulsar, tentando acreditar que aquele espaço era meu refúgio. Saímos do quarto muito mais tarde, encontrando Nitta e Sophia, que nos lançaram olhares preocupados. Alguns primos de Ryuu também permaneciam, insistentes em permanecer aqui enquanto ele se recuperava, e às vezes, eu me pegava conversando com Bion para preencher o vazio que sentia ao seu lado. Ele me avisou que tia Loretta chegaria no final da semana, mas a emoção não se fez presente. Meus dias eram vazios, e só Ryuu parecia capaz de preenchê-los, mas ele pa
Levantei o olhar quando Dario entrou na sala da nova casa — a casa que, um dia, pertenceu a Espósito. Suas roupas estavam manchadas de sangue, e o rosto exibindo hematomas novos e escuros. Meus outros primos estavam em algum lugar na casa, provavelmente tramando entre si, enquanto minha tia havia chegado há poucos dias. Mas naquele momento era só eu e Bion na sala, quando Dario finalmente deu as caras. Quanto tempo fazia desde a última vez que o vi? Nem conseguia lembrar.— Seu imbecil — deixei escapar, com a raiva azedando minha voz antes mesmo que pudesse controlá-la. — Onde diabos você estava?Vi o leve arquear de sobrancelha de Bion, que, embora surpreso, guardava as reações para si, como sempre. Já Dario, pelo menos, teve a decência de parecer desconfortável, erguendo as mãos num gesto de rendição.— Beatrice…— Por que não respondeu minhas mensagens? Achei que você estivesse morto! A última notícia que tive foi de que tinha saído com Ryuu e os irmãos, e depois, nada. Desapareceu
— Quer conversar agora? — A voz grave de Bion ecoou atrás de mim, rompendo o silêncio. Virei-me lentamente, vendo-o parado na entrada da biblioteca. A sala, aquecida pelo crepitar da lareira, era o meu refúgio, um pequeno esconderijo onde eu vinha me perder em pensamentos. Estava ali para buscar alívio, não companhia.— Falar sobre o quê? — murmurei, recostando-me na poltrona de couro, minha poltrona. Foi a única coisa que fiz questão de trazer da mansão Morunaga, e agora me afundava nela, os olhos fechados, deixando a música preencher o vazio ao meu redor. O calor do fogo beijava o lado do meu rosto, e desejei que Bion sumisse tão rápido quanto havia surgido.— Sua mãe.Senti meu corpo endurecer. Apertei os lábios antes de responder, sabendo que minha reação entregava o que eu tentava suprimir.— Uma conversa inevitável, imagino.— Nem tanto — ele disse, aproximando-se com cautela. O sofá rangeu quando ele se sentou, o som como um peso extra sobre mim. — Podemos deixar isso no passad
O cheiro denso de metal e umidade impregnou minhas narinas assim que entrei no porão. O frio, quase tangível, parecia pulsar nas paredes, como uma lembrança viva do que havíamos suportado aqui. À minha frente, Daiki, o homem que me tratou como um objeto descartável na minha juventude, o pai do homem que transformou o sangue da minha mulher em sua ferramenta, estava ajoelhado, os pulsos amarrados nas costas, a expressão oscilando entre medo e desafio.Mateo, Sofia e Nitta cercavam-no, as armas erguidas e apontadas diretamente para o seu peito, um círculo de aço e hostilidade que ecoava o clima na sala. Eu sabia o que ele via: um sobrinho que se erguia diante dele, mas já não o mesmo rapaz a quem ele pisoteou tantas vezes com seu poder e joguetes.— Você não vai sair disso — Daiki disse, a voz trêmula de um riso ácido que ele tentava, em vão, segurar. — E Gojou… Gojou vai destruir você.Dei um passo à frente, fixando meus olhos nos dele. Ele sabia que eu era o único que nunca o temeria.
— Está confiante sobre tudo isso, Ryuu? — Nitta se inclinou, uma expressão de preocupação sincera em seu rosto marcado pelas noites em claro e pelo peso dos últimos meses. — Beatrice… você não acha que toda essa guerra vai acabar afetando ela e o bebê? Seus olhos traziam a preocupação genuína de um irmão, de alguém que estava ao meu lado há tempo demais para que eu o considerasse apenas um soldado. Eu sabia que Nitta não era facilmente impressionável, mas o ataque quase fatal e a iminência de novas traições mexiam com ele.— Essa guerra já está em andamento há muito tempo, Nitta — respondi, minha voz firme. — Não fui eu quem a começou, mas eu quem vai terminá-la. E Beatrice estará protegida. Minha família não será um alvo. Não mais. Não de novo.Nitta conhecia minha determinação, sabia que meu papel era mais do que uma escolha. Era uma maldição. Ele assentiu, a sombra de dúvida esvaindo-se de seu rosto, mas ainda hesitante, como se quisesse dizer mais.A tensão dessas palavras pairou
Ao entrar em casa, encontrei Beatrice no que parecia ser seu pequeno ritual. Ela se movia com leveza pela cozinha, cantarolando algo suave enquanto a fragrância rica da comida invadia o ambiente. Por um instante, deixei-me absorver pela cena: sua figura serena, distraída, concentrada em cada detalhe do jantar.Ela notou minha presença e se virou, lançando-me um sorriso caloroso.— Como foi o trabalho? — Perguntou, mas notei a hesitação em sua voz. Com o tempo, Beatrice aprendera que, quando eu dizia “limpando a casa”, significava que assuntos sombrios tinham sido tratados. Eu não precisava dizer mais nada.— A “casa” ainda não está limpa o suficiente — murmurei, deixando o peso das palavras no ar. Ela apenas assentiu, preferindo não se aprofundar no tema, e voltou ao fogão.— Que cheiro bom é esse? — perguntei, aproximando-me dela e absorvendo o aroma que parecia uma mistura perfeita de tomates maduros e manjericão.— Tortellini al brodo. É o jantar que nos espera hoje — respondeu ela
Eu realmente não queria deixar minha pequena e modesta casa em Palermo. Desde que minha mãe faleceu, tia Loretta era a figura materna mais próxima que eu tinha, e como filha única, valorizava profundamente o tempo que passava com meus primos, que considerava irmãos.Embora fosse severo aos olhos do público, Giacomo Carbone sempre teve meus melhores interesses no coração. Aos dezesseis anos, implorei para frequentar a escola em Palermo, sob o olhar atento de meus primos, e meu pai cedeu quase imediatamente. Ele queria que eu estivesse segura, longe do tumulto de seu trabalho em Los Angeles. Ele temia que algo pudesse acontecer com sua Principessa preziosa. Embora tivesse aprendido o básico de autodefesa com tia Loretta, minha competência era subestimada na nossa família. Os homens eram responsáveis por prover segurança, riqueza e felicidade às mulheres. Com meu vigésimo primeiro aniversário se aproximando, meu pai planejou férias nas Bahamas para comemorarmos juntos. Depois disso, ele