Eu realmente não queria deixar minha pequena e modesta casa em Palermo. Desde que minha mãe faleceu, tia Loretta era a figura materna mais próxima que eu tinha, e como filha única, valorizava profundamente o tempo que passava com meus primos, que considerava irmãos.
Embora fosse severo aos olhos do público, Giacomo Carbone sempre teve meus melhores interesses no coração. Aos dezesseis anos, implorei para frequentar a escola em Palermo, sob o olhar atento de meus primos, e meu pai cedeu quase imediatamente. Ele queria que eu estivesse segura, longe do tumulto de seu trabalho em Los Angeles. Ele temia que algo pudesse acontecer com sua
Principessa preziosa. Embora tivesse aprendido o básico de autodefesa com tia Loretta, minha competência era subestimada na nossa família. Os homens eram responsáveis por prover segurança, riqueza e felicidade às mulheres. Com meu vigésimo primeiro aniversário se aproximando, meu pai planejou férias nas Bahamas para comemorarmos juntos. Depois disso, ele queria que eu voltasse para Los Angeles. A perspectiva de vê-lo novamente me deixava ansiosa, mas eu tinha certeza de que, ao vê-lo, minha inquietação desapareceria. Saber que meu avô também estaria presente ajudava. Ele havia alugado um resort privado por duas semanas.Meu avô, apesar da reputação feroz, sempre foi uma presença constante e tranquilizadora em minha vida. Ele falava pouco, mas suas palavras eram sempre cheias de sabedoria e experiência. Foi ele quem me encorajou a terminar meus estudos em nossa bela terra natal, ao lado de meus primos. Passei os últimos quatro anos visitando-o com frequência em sua casa, apreciando cada momento ao seu lado. Ele tinha uma habilidade única de acalmar minha mente inquieta, e eu desejava que aqueles dias nunca mudassem.
— Papai? — chamei, caminhando cautelosamente pelo corredor da casa onde estávamos hospedados. Meus pés descalços tocavam suavemente o piso de madeira, e observei as paredes pintadas de azul-claro, decoradas com fotografias de paisagens marinhas. Era a primeira vez que meu pai tirava férias tão tranquilas, e não era surpresa encontrá-lo escondido no escritório. Cheguei à última porta e bati firmemente antes de abri-la, sem esperar resposta. A expectativa de vê-lo novamente era grande demais para adiar o momento por mais tempo.
Sentado atrás de uma grande mesa na sala mal iluminada, meu pai apoiava a cabeça nas mãos, imerso em um humor perigosamente sombrio. A visão dele assim instantaneamente levantou minha guarda. Eu sabia que, muitas vezes, um acerto ou um negócio que deu errado abalava seu humor, e eu havia aprendido a manter distância nessas horas. Ele nunca se tornava rude ou violento comigo, mas odiava ver a mudança em seu caráter normalmente impecável.
— Papai… — chamei hesitante, aproximando-me. — Posso entrar?
Ele endireitou a postura imediatamente, e um brilho acendeu em seu rosto envelhecido. Com os braços estendidos, me deu as boas-vindas, o orgulho brilhando em seus olhos enquanto me observava, como se notasse o quanto eu havia crescido.
— Bea, bela como sempre — disse ele, e o som do seu rico sotaque italiano tocou meu coração. Sentia uma terrível falta dele, e toda a gravidade do meu desejo de voltar para casa me atingiu de uma vez.
Corri para seus braços em segundos, enrolando-me em seu colo como se fosse a garotinha de cinco anos novamente, e não uma mulher adulta.
— Sente-se, tenho algo importante para discutir — disse ele, acariciando meus cachos selvagens.
Afastei-me lentamente, estreitando os olhos para a expressão monótona do meu pai. No tempo de separação, ele adquirira profundas olheiras, sua pele empalidecera e seu cabelo, antes brilhante e negro, agora estava salpicado de cinza.
— O que foi? — perguntei cautelosamente, movendo-me ao redor da mesa enorme para afundar na cadeira oposta. Algo no seu tom me disse que precisaria estar sentada para ouvi-lo.
— Bem — suspirou ele, apertando as mãos sobre a mesa, seus olhos escuros se encontrando com os meus, expressando a seriedade de suas próximas palavras. Senti algo em meu estômago cair. — Um parceiro de negócios e eu chegamos a um acordo que sabemos que beneficiará muito a todos os envolvidos. Esse acordo trará força para nossas famílias e garantirá nossa segurança neste mundo perigoso.
Ele suspirou pesadamente, passando a mão lentamente pelo cabelo. Observei seus movimentos tensos, seu tom hesitante, a tensão aguda em seu corpo. Sabia que nada havia de mútuo nesse acordo.
— Como você sabe, sua mãe e eu nos conhecemos no dia do nosso casamento, e não passa um dia que não aprecie o tempo que passamos juntos… — Ele deixou suas palavras pairarem no ar. Não sabia se era a falta de coragem que o impedia de continuar ou se realmente lutava para encontrar as palavras.
Recostei-me na poltrona, minhas sobrancelhas se unindo em uma carranca apertada. Certamente, ele não estava sugerindo que eu continuasse com o mesmo? Era certo que ele me arranjaria um casamento. Mas eu não tinha desejo de me casar tão jovem e não consentiria com um casamento arranjado.
— Papai… — comecei a reclamar, mas ele ergueu a mão, silenciando-me. Instantaneamente, cerrei os dentes, os punhos fechados, odiando a sensação doentia de pavor que se infiltrava em meus ossos enquanto esperava suas próximas palavras.
— Estou ficando velho e minhas operações, meu legado, por si só, não são suficientes para protegê-la, Beatrice. Não quero ouvir nenhuma palavra de reclamação, apenas uma promessa de que considerará a proposta.
Meu pai cerrou um dos punhos e logo o abriu, seus dedos tensos tentando acalmar sua frustração.
— O nome dele é Ryuu Morunaga.
Respirei fundo, completamente horrorizada com a sugestão de meu pai. Exceto que eu sabia que não era apenas uma sugestão. Giacomo não falaria sobre isso se tivesse realmente alguma escolha. Ele não ousaria perguntar se fosse apenas uma opção. Em último caso, gostando ou não, eu me casaria com o homem chamado Ryuu Morunaga. Meu pai estava errado ao comparar isso com seu relacionamento com minha mãe. Não era um casamento arranjado, mas forçado.Eu já ouvira falar do temido herdeiro Morunaga durante minha estada em Palermo. A família Morunaga não residia lá há anos, mas o nome ainda era temido e respeitado. Histórias assustadoras sobre tráfico de humanos, prostituição e outras atividades ilícitas estavam associadas a essa família. Embora trouxessem boa sorte àqueles que seguiam suas regras, a família Morunaga não era minha família e certamente não me amavam. Eles eram estranhos, e eu já temia a maneira como poderiam me tratar caso eu cometesse algum erro aos olhos deles.A família Moruna
Eu não podia estar perto do meu pai agora, não depois dessa quebra de confiança. Ele dizia querer me manter segura, mas aqui estava ele, colocando-me nas mãos de uma das maiores famílias mafiosas existentes. A família Morunaga era o centro da violência e crueldade, e só um tolo se envolveria de bom grado com eles.Segui a música fraca que vazava pela casa, sabendo que vinha do salão. Precisava conversar com meu avô sobre isso. Talvez ele pudesse esclarecer a situação. Que maneira infernal de começar as férias. Nenhuma lágrima caía agora, mas meus olhos ainda ardiam e meu coração doía. Não conseguia imaginar em que tipo de confusão meu pai se meteu para causar esse caos.Ao longo dos anos, fui mantida afastada do trabalho dele, aprendendo a não fazer perguntas. Era irônico que, depois de tantos anos fechando os olhos para o trabalho de meu pai, agindo ignorante durante toda a minha infância e adolescência, fosse agora amaldiçoada a pagar suas dívidas assim que entrei na idade adulta.S
&RYUU&Eu estava sentado em uma cadeira, a camisa desabotoada e as mangas arregaçadas até os cotovelos, contemplando as notícias das minhas próximas núpcias. Fazia apenas dois dias que meu pai havia abordado o assunto. Embora a reunião tivesse sido estritamente profissional, o que ele pedia era profundamente pessoal.Não conseguia entender por que Gojou Morunaga queria que eu me casasse com tanta urgência. Certamente nada tinha a ver com a fusão dos negócios Morunaga e Carbone, como ele alegara. Eu sabia da situação desesperadora em que Giacomo Carbone se encontrava. Meu pai poderia ter tomado a empresa dele facilmente. Mas, ao invés disso, ele tinha claramente um motivo oculto, um plano que tinha certeza de que funcionaria da maneira que Gojou pretendia.Beatrice Carbone. O nome era atraente, combinando perfeitamente com a mulher que eu sabia ser extremamente bela. Eu havia visto uma foto dela antes. Jovem e bonita, mas nada para se envolver emocionalmente. Era o tipo de mulher facil
— O que é tão engraçado? — perguntou Nitta, com um sorriso divertido.— Todos vocês, Morunagas, são facilmente distraídos? — devolvi, com um toque de sarcasmo.— Infelizmente, não — ele respondeu, rindo com vontade. — Ryuu é um homem muito… focado. Você não terá vida fácil. Ele não é exatamente o tipo para um casamento — comentou, arqueando as sobrancelhas infantilmente. — Nem eu.Ignorei seus flertes.— Se ele é tão inadequado para o casamento, então, por que estamos fazendo isso? — perguntei, tentando entender a lógica absurda.Nitta deu de ombros.— É bom para os negócios, imagino. As empresas Carbone e Morunaga estão se fundindo. Você não esperava que seu pai arranjasse um casamento mais cedo ou mais tarde? Afinal, você é a herdeira dele. É assim que as coisas são feitas.Seu tom condescendente me irritou, mas mantive meu temperamento sob controle.— Você vai se sair bem, confie em mim. Pelo que ouvi, tem uma boa cabeça. Ryuu pode parecer duro no começo, mas isso é apenas para aqu
— Seu irmão está certo. Mostre um pouco mais de respeito pela noiva dele! — disse Gojou. Eu preferia que ele tivesse permanecido calado. Não precisava de um lembrete de que agora era a noiva de alguém da família Morunaga.Meus olhos começaram a arder com a ameaça de lágrimas, mas não iria chorar. Repreendi-me silenciosamente e corri de volta para a cozinha para me recompor, usando o pretexto de pegar o vinho. Quando voltei, um silêncio incômodo pairava no ar. Pelas feições sombrias de Nitta, deduzi que palavras mais duras haviam sido trocadas na minha ausência. Toda essa situação era profundamente desconfortável. Eu entendia a necessidade de me familiarizar com Ryuu antes do casamento, mas não gostava nem um pouco daquilo.— Então — disse eu, quebrando o silêncio assim que todos começaram a comer, sem direcionar a pergunta a ninguém em particular —, quando será o casamento?— Não agora, Beatrice — repreendeu meu pai imediatamente.Encolhi-me com o tom afiado de sua voz, um lembrete cl
&RYUU&Eu estava alheio à conversa ao meu redor. Todos, exceto minha futura esposa, tinham se reunido no salão para beber antes de se retirarem para seus quartos. Mas conversar não me atraía.Beatrice ficou retraída durante o jantar, e eu sabia que a culpa era da pressa com que tudo estava acontecendo. Eu podia entender seu medo ao se casar comigo. Não era justo esperar que ela aceitasse uma mudança tão drástica e rápida em sua vida. Não era algo pessoal, e eu não deveria me ofender com sua relutância. Qualquer um sentiria o mesmo, independentemente de quem fosse se casar. Claro que ela estava assustada.Eu também precisava aceitar a perspectiva do casamento. Nunca havia considerado isso antes e, com certeza, não queria pensar nisso agora.Uma dor aguda na nuca me trouxe de volta dos meus pensamentos. Virei-me irritado para encarar o agressor, mas minha expressão esfriou ao perceber que era meu pai.— Estávamos falando com você — resmungou ele.— Papai estava dizendo que você precisa
Esperei em silêncio, torcendo para que ele me dirigisse um olhar ou tentasse puxar conversa, mas isso não aconteceu. Lutei contra a vontade de fechar aquele maldito notebook e jogá-lo pela janela, direto na água lá fora.Observei-o com atenção, analisando cada detalhe: o formato da mandíbula, os lábios finos, a cor penetrante dos olhos, a força do olhar. Seus braços eram musculosos, decorados por tatuagens de dragões que serpenteavam até a camisa bem ajustada ao peito. Não podia negar que ele era bonito, especialmente com aqueles óculos de aro grosso. Não parecia nada com um mafioso. Um leve sorriso ameaçou escapar dos meus lábios, mas balancei a cabeça vigorosamente, tentando afastar pensamentos indecorosos.— Então… — Quebrei o silêncio, estalando a língua em frustração quando Ryuu continuou a trabalhar. — Entendo vagamente por que seu pai pode pressionar por este casamento, mas por que você concordou?Finalmente, Ryuu ergueu os olhos para mim, desviando-se do notebook. Recostou-se
&RYUU&Depois da conversa com Beatrice, concentrei-me no trabalho, mas ela não saía da minha cabeça. Por mais que meu pai e Giorgio me alertassem, eu parecia incapaz de fazer qualquer coisa além de irritá-la, como um garoto provocando sua paixão no pátio da escola. Mas o que sentia por Beatrice não era exatamente afeto.Suspirei profundamente, afastando o notebook e apertando a ponta do nariz na tentativa de aliviar uma dor de cabeça que se aproximava. Ainda tinha muito trabalho a fazer, mas o casamento iminente ocupava todos os meus pensamentos, dificultando a concentração.— Você simplesmente não consegue evitar, não é? — A voz de Nitta quebrou o silêncio, e eu mal contive um gemido. Lancei um olhar irritado para meu irmão, mas isso não o impediu de entrar na sala com aquele sorriso presunçoso no rosto. — Deveria ter ouvido, Ryuu. Ela te chamou de idiota para o avô dela. O que você fez para irritá-la tanto? Você tem sorte que fui eu que ouvi isso, e não o papai.— Isso não tem graça